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AMARAL, Izabel; NASLAVSKY, Guilah. Praça Fleming: um conjunto residencial orgânico?. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 038.08, Vitruvius, jul. 2003 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.038/672>.

Neste artigo analisamos o projeto do conjunto residencial da Praça Professor Fleming (1954), em Recife, de autoria do arquiteto carioca Acácio Gil Borsoi (2), importante figura da consolidação da arquitetura moderna em Pernambuco. O referido conjunto, aprovado sob o título de “Conjunto Residencial do Banco Hipotecário Lar Brasileiro”, demonstra a enorme competência do mestre Acácio Gil Borsoi em lidar com um assunto que lhe era familiar, e que era estimado pelos mestres modernistas, o tema habitacional. Neste conjunto, o arquiteto buscou combater a homogeneidade usual em projetos de casas em série, através de soluções criativas, utilizando um mesmo tipo e diferentes modelos arquitetônicos (3). Neste sentido cabe avaliar como o arquiteto desenvolveu em um mesmo padrão, unidades residenciais e soluções de implantação diferentes que nos levam a pensar na problemática da repetição e da padronização das unidades habitacionais (4), um dos maiores motivos de críticas ao modernismo.

Levantamos questões sobre a relação diversidade/ homogeneidade, tipologia e a adoção de modelo urbanístico orgânico. A análise deste conjunto poderá contribuir para o entendimento da produção da Arquitetura Moderna em Pernambuco. Nosso enfoque tem o objetivo de avaliar o conjunto da Praça Fleming no universo da obra do arquiteto e da arquitetura moderna pernambucana nos anos 50 sendo aqui desenvolvido em quatro aspectos:

  • A produção de Borsoi nos anos 50;
  • O conjunto da praça Fleming nos anos 50;
  • Borsoi e as novas tendências de revisão do pós-guerra;
  • O problema das unidades habitacionais.

A produção de Borsoi nos anos 50

A produção arquitetônica de Acácio Gil Borsoi desde o início de sua carreira compreende edifícios comerciais, públicos, residenciais e um sem número de residências. A produção habitacional ocupa um lugar de destaque em sua obra, principalmente nas décadas de 50 e 60, pois a clientela rica e ansiosa por modernização é a primeira clientela por excelência da arquitetura moderna e a principal promotora deste arquiteto que vem do Rio de Janeiro, capital federal.

Assim, o primeiro projeto de Borsoi no Recife, a residência Lisanel de Melo Motta (1953) ocorreu dois anos após sua chegada à capital pernambucana e representa um pouco do que vem a desenvolver durante a década de 1950: diversos projetos residenciais para famílias de classe alta, alguns deles em outras capitais do Nordeste. Estes projetos traziam reflexos do aprendizado do autor junto à Escola Carioca, sua formação no Rio de Janeiro e o contato direto com Lúcio Costa e Affonso Edouardo Reidy, como por exemplo, o tema da coberta em duas águas ou as referências à arquitetura do período colonial.

Nos anos 50 projeta também importantes edifícios públicos, dentre eles o Pronto Socorro do Recife (1955, atual Hospital da Restauração), o Museu de Arte Moderna (1955, não construído), sua produção se estende a outros programas modernos e ultrapassa a cidade do Recife, como projeto para o Clube Cabo Branco (João Pessoa).

Este período que coincide com o pós-guerra europeu, consolidou no Brasil, a hegemônica do grupo carioca, o talento de Oscar Niemeyer influenciou esta geração de jovens arquitetos, assim como, os ensinamentos sobre arquitetura tradicional e nosso passado colonial do célebre arquiteto e urbanista Lúcio Costa.

Não só a Arquitetura Moderna Brasileira se difunde na mídia internacional e inúmeras revistas dedicam números especiais a Arquitetura Brasileira (5), como também, o debate amplia-se e a hegemonia da Escola Carioca vai sendo aos poucos contestada por jovens arquitetos que na intenção de se diferenciarem de seus professores, enveredavam por novos caminhos ou novas correntes. A posição de funcionalista já não servia aos novos arquitetos que desejavam ser organicistas, oposicionistas, enveredando por novos caminhos e novas correntes de inspiração.

As novas experiências do pós-guerra serviram de inspiração para estes jovens arquitetos, não só as iniciativas da reconstrução européia, como também a arquitetura orgânica de Frank Lloyd Wright e a obra de Richard Neutra, influenciaram as novas gerações, impulsionadas pela polêmica entre organicistas e racionalistas estabelecida por Bruno Zevi (6).

O conjunto da Praça Fleming nos anos 50

Durante a década de 50, o arquiteto Acácio Gil Borsoi manteve em Recife uma parceria de inúmeros projetos para o Banco Hipotecário Lar Brasileiro (BHLB), entre eles o conjunto da Praça Fleming (1954), objeto deste estudo.

O projeto inicial da Praça Fleming partiu da necessidade do BHLB de lotear três grandes terrenos contíguos de sua propriedade, situados na Av. Rui Barbosa próximo ao Rio Capibaribe e ao Parque da Jaqueira, no bairro dos Aflitos, região nobre, importante parque e pulmão verde da cidade do Recife. (Figura 1a).

O arquiteto foi encarregado de um projeto global, o arruamento, o estudo volumétrico e o projeto das residências individuais de dois pavimentos. Além das residências, também foi projetado para o local um edifício de apartamentos com três pavimentos (7), que seria implantado no centro da praça, com volume prismático elevado sobre pilotis.

O que foi finalmente construído, um conjunto de vinte e seis casas unifamiliares com 2 pavimentos (térreo e 1o pavimento), cujo conjunto de plantas pesquisamos nos arquivos da Prefeitura Municipal do Recife. Esta pesquisa reconstitui o conjunto final projetado por Borsoi, uma vez que o edifício de apartamentos no centro da praça restringiu-se a um anteprojeto não aprovado na Prefeitura Municipal. O conjunto da Praça Fleming encontra-se hoje quase totalmente destruído, restando apenas poucos exemplares com as características originais.

Nos anos 50, alguns bairros periféricos como Tamarineira, Aflitos, Parnamirim e Casa Forte são locais privilegiados para expansão urbana e são ocupados pela burguesia em ascensão que anseiam por viver em residências modernas, sinais das novas demandas de uma sociedade que se moderniza. Alguns bairros remanescentes de antigos engenhos, grandes áreas desocupadas inseridas na malha urbana, são loteados e ocupados com mais intensidade por estas habitações unifamiliares a exemplo do bairro de Aflitos, área nobre devido à proximidade com o Parque da Jaqueira.

 Segundo Pessoa de Melo (8), o arruamento proposto pela Prefeitura (Figura 1b) não atendia aos pré-requisitos necessários para a ocupação residencial unifamiliar, portanto, a área verde pública e a equivalência de condições em todos os lotes foram fatores determinantes para a definição do sistema viário da proposta de Borsoi (9). Neste projeto Borsoi parcelou o enorme terreno do Banco em uma quadra, uma praça e o restante da área tornou-se um dos lados da quadra que contém o Parque da Jaqueira. (Figura 1c), tornando desnecessária a abertura da rua proposta pela Prefeitura. O loteamento totalizou trinta e um lotes, para os quais foram encontrados projetos aprovados de casas nos anos de 1954 e 1955, para cada um dos lotes desde o número 3 até o número 28 (10). O loteamento proposto por Borsoi procurou padronizar os tamanhos da maioria dos lotes, até onde o contorno externo do terreno permitia (11). A forma do parcelamento além de atender às necessidades iniciais do loteamento e ser direcionada pelo próprio formato irregular do terreno original, remete de alguma forma aos projetos das cidades-jardim e do urbanismo revisionista do segundo pós-guerra.

Borsoi e a revisão do pós-guerra

A reconstrução do pós-guerra na Europa traz a ascensão de correntes humanistas, organicistas, entre outras que visam a revisão dos modelos racionalistas dos anos 20.

Nos países escandinavos que permaneceram periféricos ao conflito a construção de novas habitações populares no segundo pós-guerra reflete características de busca de uma espontaneidade advinda da utilização de materiais regionais e tradicionais e da integração do edifício com a paisagem. A palavra “spontanietet” foi utilizada pelo crítico inglês De Maré para definir em 1948 esta tendência dos jovens suecos: “os edifícios casam-se com o terreno e a paisagem, a disposição das árvores faz parte integrante da composição” (12), cujos projetos de habitação popular foram solucionados com métodos adequados (13).

O neoempirismo dos jovens suecos foi uma “reação ao rígido formalismo e se busca a espontaneidade e adaptação do edifício aos materiais tradicionais e ao lugar. Tenta-se recuperar a comodidade doméstica, o sentido comum, a textura e a cor tradicionais, a fantasia e o gosto pela decoração, o valor do bom artesanato” (14).

Estes questionamentos são parte de um período mais global de revisão dos preceitos racionalistas dos anos 20 que permeou as iniciativas do segundo pós-guerra de uma forma global, não só os países envolvidos diretamente na reconstrução (Itália, Inglaterra, Alemanha e França, etc.), mas também, aqueles periféricos ao conflito, tais como os países da Escandinávia, da Península Ibérica, da América do Norte, inclusive no Brasil vemos questionamentos em relação aos parâmetros estabelecidos pelas vanguardas racionalistas dos anos 20.

Em que modelos o arquiteto Borsoi teria se inspirado para realizar o projeto da Praça Fleming? Teria o urbanismo revisionista dos anos 50 servido de modelo para este conjunto na ausência de outros modelos nacionais? Que conjuntos similares elaborados pelos mestres modernistas teriam servido de inspiração?

Em 1947, Lúcio Costa constrói o conjunto Parque Guinle no Rio de Janeiro, edifícios residenciais para a classe média onde aliou os aspectos da tradição brasileira a uma linguagem inovadora e moderna. Esta experiência coincide com os anseios de novos modelos no campo da habitação e diferencia-se dos modelos racionalistas de blocos repetidos dos anos 20. Nas habitações propostas por Lúcio Costa para o Parque Guinle podemos verificar semelhanças com as posturas de revisão do pós-guerra e com as considerações dos jovens suecos em relação ao entorno e a paisagem.

De fato, Lúcio Costa desde o início de sua carreira busca esta identidade entre arquitetura moderna e tradição nacional que pode ser identificada na revisão do pós-guerra europeu, a aliança entre modernidade e tradição local, é um dos fatores determinantes que destacaram a Arquitetura Moderna Brasileira na crítica internacional.

Por outro lado, a reconstrução do pós-guerra na Inglaterra trouxe os jovens arquitetos recém formados para trabalhar no Architect’s Department of the London County Council introduzindo o modelo das novas cidades inglesas inspiradas no movimento de cidades-jardim. Nestas cidades, a individualidade das habitações foi preservada pelo uso de tipos variados de projetos habitacionais. No caso, por exemplo, da Harlow New Town, foram executados mais de 200 tipos diferentes de casas para bairros que variam de 100 a 400 casas, além de áreas verdes, escolas primárias e secundárias, lojas, correios, edifícios municipais, bibliotecas públicas, campos de esportes, entre outros equipamentos urbanos (15). O próprio Walter Gropius no conjunto Siemensstadt (1930) em Berlim diferenciou alguns dos blocos sob sua responsabilidade para evitar uma extrema monotonia.

As novas posturas inglesas ou o neoempirismo escandinavo iniciam um processo de revisão dos modelos racionalistas introduzindo um modelo de bairro original integrado à paisagem, que poderia ter sido utilizado por Borsoi no projeto da Praça Fleming diante da ausência de outros modelos (16).

O problema das unidades habitacionais

No projeto da Praça Fleming o arquiteto Acácio Gil Borsoi buscou evitar a monotonia de um conjunto e a mera repetição de um único modelo. Adotou, como era comum em muitas residências modernas, a solução de dois pavimentos, o que deu ao conjunto um fator de distinção em relação ao padrão construtivo popular, individual ou em série (17). Para isso elaborou cinco modelos de habitações, mas apenas um único tipo arquitetônico, implantados de acordo com a melhor orientação do sol e dos ventos (figura 2). Todas as casas do conjunto mantêm uma série de características em comum (invariantes):

  • Inserção no lote;
  • Programa;
  • Disposição da planta;
  • Número de pavimentos;
  • Coberta;
  • Técnica e materiais construtivos.

Todas as residências obedecem a um mesmo padrão de implantação, com muros baixos, e jardins no recuo de 5,00m da divisa até o pórtico onde estão os portões de acesso e os abrigos de automóvel, e também no recuo de 3,00m até a edificação. Este pórtico, uma laje plana em concreto armado de largura aproximadamente de 0,50m, que se alarga para cobrir as garagens de automóveis, concede unidade ao conjunto por ser o elemento de ligação entre os volumes das construções. A integração da massa edificada das residências com o espaço urbano se dá de forma gradual: com muros baixos e jardins no primeiro plano, o pórtico no segundo e a residência no terceiro, sendo que a maior parte do volume edificado das residências está solta das laterais do lote; mas em alguns modelos apenas os volumes dos pavimentos superiores colam nas divisas laterais (figuras 5 e 6).

O programa das habitações é basicamente o mesmo, variando apenas o número de quartos (3, 4, 5, além da dependência de empregada). A distribuição dos setores funcionais se repete: área social e garagem voltadas para a rua; cozinha e serviço voltados para o quintal e área íntima no primeiro pavimento. Os quartos voltam-se para a rua, para a lateral ou para o fundo do lote, dependendo do modelo.

Todas as residências foram projetadas tendo por base a mesma técnica construtiva e o uso dos mesmos materiais: alvenaria de tijolos cerâmicos com revestimento em massa na cor branca, telhados cerâmicos, painéis em azulejos decorados, elementos vazados pré-fabricados (cobogós, brises), treliças em madeira, aberturas cilíndricas para exaustão, esquadrias de madeira pintadas com venezianas, gradis de ferro. O uso destes materiais reflete a tradição moderna brasileira e sua constante preocupação com a questão climática.

Existe uma preocupação especial com a fluidez espacial no projeto das residências, com o princípio da planta livre, marcado pelos elementos construtivos estruturais diferenciados dos septos de fechamento (figuras 5, 6, 7 e 8). Neste caso, devido às limitações construtivas e as exigências da clientela local, não observamos uma continuidade espacial da natureza das obras de Mies van der Rohe, nem tampouco daquela de Gerrit Rietveld em Utrecht, onde os septos são todos praticamente móveis. No entanto, pode-se observar uma nítida vontade de marcar a continuidade espacial, dada por uma ligação entre os diversos ambientes no plano do mesmo pavimento, bem como na integração vertical entre os dois pavimentos com o recurso do vazio interno e o aproveitamento do pé direito inclinado.

Os percursos a serem percorridos nas residências são cuidadosamente estudados, com atenção às circulações e acessos íntimo e de serviço, e em especial com o acesso do visitante e da família. A escada interna da casa constitui elemento focal no percurso social, não na mesma dimensão das rampas de outras residências contemporâneas projetadas por Borsoi, mas com intenção de introduzir a promenade architecturale da rampa da Ville Savoye de Corbusier.

O conjunto da praça: um exemplo de urbanismo neoempirista?

As considerações aqui apresentadas nos sugerem que o arquiteto Acácio Gil Borsoi buscava realizar um conjunto de habitações unifamiliares modernas cujo modelo apresentasse características da arquitetura tradicional brasileira. Estaria ele seguindo uma postura semelhante aos arquitetos suecos do movimento neo-empirista?

Muito embora a situação sueca seja diferente da nossa realidade, sabemos que estes questionamentos em relação às doutrinas do movimento moderno e da busca da identidade nacional para a Arquitetura Brasileira são discutidas neste período.

Relativizando estas questões e ainda verificando que na ausência de outros modelos de conjuntos semelhantes neste período, as experiências mais produtivas no campo da habitação popular no segundo pós-guerra, (aprox. entre 1947-1954) foram as escandinavas, inglesas e italianas. Portanto, neste caso, são estas experiências as mais importantes a serem seguidas quando os programas tratavam-se de habitações populares e conjuntos habitacionais.

A engenheira Carmem Portinho, sócia do arquiteto Affonso Edouardo Reidy, com quem trabalhou durante longos anos narrou sua experiência como engenheira na reconstrução inglesa, em 1946 no imediato pós-guerra (18). De volta ao Brasil é possível que tenha influenciado Acácio Gil Borsoi, estagiário do escritório do arquiteto Affonso Eduardo Reidy. Ainda que o jovem arquiteto não tenha tido contato direto com a engenheira e mesmo que tenha bebido de segunda mão as informações sobre a reconstrução inglesa e sobre os novos conjuntos populares elaborados pelo L.C.C., estas iniciativas de repensar a habitação com características locais não passam despercebidas. As revistas internacionais, a exemplo da Architectural Review, divulgaram estes projetos.

O desafio de projetar um conjunto de residências modernas para classe média, muito embora não populares, em um bairro nobre da cidade, demanda ao arquiteto o desafio de pensar a questão da habitação em série. Como compatibilizar a construção em série, a racionalização do canteiro e a economia de meios com os anseios individuais da classe média moderna?

Estas residências em número de 26 deveriam prever uma certa repetição, uma vez que este artifício além de viabilizar o empreendimento, concederia uma maior unidade de conjunto. No entanto, a individualidade deveria ser preservada, uma vez que residências para classe média em um bairro nobre da cidade não deveriam ser repetidas, padronizadas e uniformizadas. Cabia, portanto, ao arquiteto buscar uma situação intermediária entre a repetição total à diversidade absoluta, uma situação que pudesse conceder a unidade do conjunto e uma certa padronização à obra, capaz de viabilizar os processos construtivos, cabia também ao arquiteto oferecer diversidade de áreas e planos de residências (3, 4 e 5 quartos) de modo a satisfazer as demandas dos futuros moradores.

Portanto, relativizando a questão e verificando as referências aos contextos internacional e nacional vigentes, podemos afirmar que a intervenção na Praça Fleming tem relações diretas com a obra de Lúcio Costa e com a reconstrução do pós-guerra europeu, não só devido à contemporaneidade às experiências dos bairros ingleses do tipo cidade –jardim, mas também, devido à semelhança aos bairros escandinavos e as habitações suecas de Arne Jacobsen (19), as quais, o arquiteto, em viagem de estudos patrocinada pelo Itamaraty entre 1958-59, embora já posteriormente a elaboração do projeto (1954), teve oportunidade de visitar (20).

Apesar disto tudo, será impossível afirmar categoricamente, uma vez que a questão das influências em arquitetura depende de outros fatores como o método de análise ou mesmo o reconhecimento do próprio autor, o que até agora não ocorreu nas entrevistas feitas pelas autoras.

Portanto, o conjunto da Praça Fleming é um exemplo singular de heterogeneidade dentro da homogeneidade na produção habitacional moderna brasileira.

notas

1
Este texto é fruto do trabalho conjunto das arquitetas Izabel Amaral, mestranda da UFRN que atualmente desenvolve pesquisa sobre a obra do arquiteto Acácio Gil Borsoi e Guilah Naslavsky, doutoranda da FAUUSP que desenvolve pesquisa sobre o tema da Arquitetura Moderna em Pernambuco, 1950-1970.

2
Acácio Gil Borsoi, nascido no Rio de Janeiro em 1924, neto de imigrantes italianos, iniciou seus conhecimentos de desenho no ateliê de seu pai, autor de inúmeros encargos importantes no ramo da marcenaria. Formou-se arquiteto pela Faculdade Nacional de Arquitetura no Rio de Janeiro em 1949, tendo inúmeras influências do movimento moderno carioca e estagiado no escritório de Affonso Eduardo Reidy. Veio a Recife em 1951, contratado como professor no Curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes da Universidade do Recife (fundado em 1932 e oficializado em 1948).

3
Cf. definição de Quatremère de Quincy sobre tipo e modelo:“A palavra ‘tipo’ não representa tanto a imagem de uma coisa a ser copiada ou imitada perfeitamente quanto a idéia de um elemento que deve ele mesmo servir de regra ao modelo (...) o modelo, entendido segundo a execução prática da arte, é um objeto que se deve repetir tal qual é; o tipo é, pelo contrário, um objeto segundo o qual qualquer pessoa pode conceber obras que não se assemelharão em nada entre si. Tudo é preciso e dado no modelo; tudo é mais ou menos vago no tipo. Assim vemos que a imitação dos tipos nada tem que o sentimento e o espírito não possam reconhecer (...).” apud ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e destino.São Paulo: Editora Ática,2000. 334p. p.66

4
Como exemplo, temos o método desenvolvido por Alexander Klein e muito utilizado pelos modernistas. (DE FUSCO, Renato. História de la Arquitectura Contemporanea. Madrid: Blume Ediciones, 1981. p.280)

5
Architectural Forum. ed. Brazil. New York, nov. 1947.192 p.; Architecture d’Aujourd’hui. ed. Brésil. Bolugne (Seine): Architecture d’Aujoud’hui set.1947, ago., 1952; WERK, Architektur und Kunst. Modern Architektur und Kunt in Brasilien. Bern , BSA, 1953 ago. 1953. CF. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: Edusp, 1998. 224 p.

6
Em 1945, o crítico e historiador italiano Bruno Zevi publica “Por uma arquitetura orgânica” e propõe (...) um programa de revisão da herança cultural de antes da guerra (...) começam as polêmicas entre “orgânicos” e “racionalistas”(...) Zevi dá a este termo uma definição teórica e ampla (arquitetura orgânica= arquitetura humana).” Cf. BENÉVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Perspectiva, 1989. pp.667-8.

7
Informação do arquiteto Vital Pessôa de Melo, que na época, com 16 anos, era desenhista de Borsoi e responsável pelos desenhos da Praça Fleming.

8
MELO, Ricardo Jorge Pessôa de. A arquitetura do edifício na arquitetura da cidade. Um estudo sobre a interface urbana da arquitetura. Dissertação de Mestrado: UFPE, Recife, 2002.199p.

9
Idem Ibidem p.104.

10
Existe um projeto aprovado pela Prefeitura da Cidade do Recife – 3ª Regional para cada um dos lotes de número 4 a 16 no dia 28/08/1954, e os lotes de número 17 ao 28 têm projetos aprovados no dia 18/10/1954, e o lote 3 tem um projeto aprovado no dia 28/07/1955. No levantamento executado nos arquivos, até o ano de 1958, não consta nenhum projeto para os lotes 29, 30 e 31. Neste ano o arquiteto José Norberto aprova um projeto de uma residência para os lotes 1 e 2.

11
Os quatro primeiros lotes possuem dimensões irregulares e são de maior porte que os demais. Na seqüência, o lote 5 tem testada circular de 12,00m de frente, para adaptar-se ao traçado; os lotes de número 6 a 9 possuem 12,50m de testada frontal, enquanto os lotes da seqüência de 10 a 15 possuem 12,00m de frente, e o lote 16 por ser de esquina, tem 13,50m de frente. Na quadra criada pelo projeto, os lotes possuem em sua maioria 12,00 x 28,00m, os lotes de esquina tem 15,00m de largura, e os últimos lotes 29, 30 e 31 são gerados de forma a adaptar-se ao formato estreito da quadra na parte norte.

12
DE MARÉ, E. Architectural Review, jan.1948 apud. in: BENÉVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1989. p.656.

13
BENÉVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1989. p.656.

14
MONTANER, Josep Maria. Después del movimiento moderno. Arquitectura de la segunda mitad del siglo XX. Barcelona: Editorial Gustavo Gili. S. A.,1993:p.84.

15
VENZIANI, Guido.The experinece of Harlow New Town. Casabela Continuitá, Revista Internazionale di architecttura. Milano, Julio-Agosto, 1955, nº 206.

16
É possível que o arquiteto tenha travado conhecimento com a tendência neoempirista através da Revista Architectural Review que entre 1947-1948 divulgou o trabalho dos arquitetos suecos.

17
Solução de habitação popular ou semi popular em dois pavimentos são raras, por exemplo, o projeto de Delfim Amorim para o Conjunto Habitacional da Fábrica Tacaruna de 1952/53.

18
Depoimento da Engenheira Carmem Portinho. In: Seminário de Documentação e Conservação do Movimento Moderno, Salvador: Mestrado de Arquitetura e Urbanismo, UFBA, Setembro de 1997.

19
Cf. casas enfileiradas de Arne Jacobsen em Söholm, nos arredores de Copenhague, 1950-1955.BENÉVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna.São Paulo: Perspectiva, 1989, p. 669.

20
Entrevista da autora ao arquiteto e prof. Marco Antônio Borsoi, filho de Acácio Gil Borsoi em 22/10/2002.

sobre os autores

Izabel Amaral é arquiteta, UFPE, mestranda do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN, atualmente desenvolve trabalho de pesquisa sobre a obra do arquiteto Acácio Gil Borsoi, sob a orientação da Professora Doutora Sonia Marques.

Guilah Naslavsky é arquiteta, UFPE, mestra e doutoranda em História da Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, desenvolve pesquisa sobre Arquitetura Moderna em Pernambuco entre 1950-1970.

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