Os trabalhos exibidos, estabelecem um íntimo diálogo com a arquitetura e o imaginário de Rino Levi, inclusive por serem, em geral, contemporâneos à casa, edificada no final da década de 1950.

A exposição

Que uma galeria de arte contemporânea ocupe uma residência modernista tombada constitui um projeto inovador, que permite tanto o acesso público a um espaço antes privado e de incontestável valor histórico, quanto a abertura a novas formas de pensar e exibir arte. Face a este contexto, a própria concepção da exposição deu-se de forma experimental e orgânica, a partir da interação estendida dos artistas com esse espaço denso, repleto de camadas. 

O deslocamento do modelo tradicional do cubo branco não significa, afinal, apenas ocupar uma arquitetura repleta de interferências visuais e paisagísticas, mas engloba uma relação com as estratificações simbólicas que a sustentam: as especificidades do momento histórico em que foi edificada; a herança modernista brasileira; as pesquisas e propostas de Rino Levi e Burle Marx; as vidas das famílias que a ocuparam; a transfiguração de um espaço de vida em um espaço de arte; o embate entre público e privado; entre outros desdobramentos. 

A partir de encontros, intersecções e dissensos entre suas pesquisas e a Residência Castor Delgado Perez – compreendida como mais que uma casa, ou seja, como um ponto complexo de convergências narrativas histórico-sociais –, Caio Reisewitz, Héctor Zamora, Pablo Lobato, Rafael Carneiro, Regina Silveira, Rochelle Costi e Tiago Tebet conceberam distintas formas de ocupação dos espaços da casa, de suas salas, adega, jardins, copa, lareira, armários... Como decorrência disso, “Residência Moderna” é majoritariamente composta por obras inéditas e projetos site-specific. Aos artistas mencionados, somam-se obras do núcleo histórico da Galeria: Gaspar Gasparian, Geraldo de Barros, Thomaz Farkas e Waldemar Cordeiro.

Os trabalhos exibidos, selecionados junto aos representantes dos espólios, estabelecem um íntimo diálogo com a arquitetura e o imaginário de Rino Levi, inclusive por serem, em geral, contemporâneos à casa, edificada no final da década de 1950.

Mostra coletiva

A mostra coletiva reúne trabalhos de 11 artistas que dialogam com a nova sede da galeria, uma casa modernista projetada por Rino Levi na Avenida Nove de Julho.

Caio Reisewitz, Gaspar Gasparian, Geraldo de Barros, Héctor Zamora, Pablo Lobato, Rafael Carneiro, Regina Silveira, Rochelle Costi, Thomaz Farkas, Tiago Tebet, Waldemar Cordeiro.

abertura domingo, 3 de abril, das 11 às 19h
visitação de 5 de abril a 21 de maio

O espaço expositivo

Quinze anos depois de inovar a cena artística paulistana com seu espaço na Vila Olímpia – um dos primeiros a ser projetado por um escritório de arquitetura já tendo em vista as necessidades de uma galeria de arte contemporânea –, a Luciana Brito Galeria se transfere para a Residência Castor Delgado Perez, no Jardim Europa, projeto do arquiteto Rino Levi (São Paulo, SP, 1901 – Lençóis, BA, 1965) com paisagismo de Burle Marx (São Paulo, SP, 1909 – Rio de Janeiro, RJ, 1994). Com a troca de endereço, o modelo expositivo do cubo branco é deixado para trás, dando início a um projeto em que a herança arquitetônica modernista e questões urbanísticas integram-se à produção visual contemporânea, em busca de novas formas de perceber e mostrar arte, retomando os preceitos modernistas de integração entre arte e vida.

Tombada como patrimônio cultural, a Residência não pôde sofrer alterações estruturais, mas foi completamente revitalizada para receber a galeria. O projeto foi realizado pelo estúdio Piratininga Arquitetos Associados, sob direção de José Armênio de Brito Cruz e com coordenação de equipe de Bruno Rossi. A recuperação do projeto paisagístico original e sua complementação, em espaços não tombados, foram realizadas por Klara Kaiser, Koiti Mori e André Paollielo.

Rino Levi buscou desenvolver propostas que alinhassem o caráter universalista do projeto modernista com as especificidades brasileiras. Ele criou, ao longo de sua trajetória, uma arquitetura que visava ao conforto (visual, térmico, sonoro) e era decorrente da interpretação do clima, natureza e costumes brasileiros – preocupação ausente em muitos de seus contemporâneos. A Residência Castor Delgado Perez é um projeto de 1958/59 que integra uma série de casas introspectivas concebidas pelo arquiteto, com paisagismo assinado por Burle Marx, com quem manteve uma parceria profissional de vida toda.