“Somos brasileiros”, é o que respondem os filhos do artista britânico Marcus Lyon quando lhes perguntado de onde eles são. “Apesar de terem nascido na Inglaterra, com pai inglês e mãe brasileira, a resposta é quase uma escolha afetiva pelo Brasil”, diz Iatã Cannabrava da Editora Madalena. Foi a partir daí, que Lyon e a equipe da organização ImageMagica, responsável pela produção do projeto, seguiram em busca de um grupo plural de pessoas que mais ou menos representassem o país na sua diversidade. O resultado é o livro Somos Brasil, co-editado pela Editora Madalena e ImageMagica, dia 9 de março, no Centro Brasileiro Britânico, em São Paulo.
Seis meses depois, tendo percorrido 22 mil quilômetros, 104 pessoas foram retratadas no livro e exposição que fica em cartaz até dia 23 de abril. “O mais interessante dessa pesquisa é que além dos retratos e entrevistas, que poderão ser ouvidas nas vozes dos personagens, Marcus mapeou o DNA dos fotografados, que no livro é apresentado com o belo design de Jim Sutherland. Esse cruzamento de ciência e arte sempre nos traz bons resultados, ainda mais com a delicadeza e elegância do britânico. O livro é grandioso não só em suas dimensões, mas na energia e na sua honestíssima e límpida pesquisa”, completa Cannabrava.
Entre os fotografados estão jovens, adultos e idosos, das mais variadas profissões, como o político Eduardo Suplicy, a designer industrial Paola de Orleans e Bragança, a jornalista Eliane Brum e a Monja Coen; selecionados pelos chamados nomeadores, pessoas que, em formato de rede, foram agregadas ao projeto, fazendo com que essa visão plural do Brasil tivesse um resultado bem abrangente. “Este processo nos permitiu acesso a indivíduos de todos os estratos sociais e, apesar deste esforço, senti que de alguma forma estávamos deixando de lado as ‘pessoas invisíveis’ que jamais seriam encontradas através de nominação. Fizemos com que isto se tornasse realidade ao pedir que um retratado sugerisse outras pessoas durante as próprias sessões de fotografia, e então encontramos um grupo de jóias escondidas”, diz Lyon.
Para contar a história de cada um deles, foram adicionadas análises genéticas de ancestralidade - para cada retrato, uma página do livro se abre para identificar as origens baseadas em marcadores informativos de ancestralidade obtidos de várias populações nativas testadas pelos parceiros do projeto Family Tree DNA - e áudios que o fotógrafo britânico chama de “estrutura emocional” de todo o projeto. “Parecia poderoso e transgressor dar um papel aos sujeitos ao incorporar a palavra falada nos formatos de exposição. Eu acreditava que isto auxiliaria a construção de um certo nível de intimidade na exposição e no livro que permitiria uma conexão mais profunda entre a audiência e os sujeitos. Diferentemente da interface habitual entre retrato e observador, o retratado teria validação nesta relação”, explica ele. Para ouvir as histórias, uma a uma, basta apontar o celular para o retrato de cada página, que o aplicativo Somos Brasil, desenvolvido especialmente para o projeto, dá sequência ao áudio, em português em inglês, de cada voz contando sua história.
Sobre a escolha pelos retratos com fundo branco, Marcus Lyon explica: “Fotograficamente, o projeto consistia em criar retratos simples, focando na pessoa, destacados de seu entorno. Muitos argumentavam que viajar para as áreas mais remotas de um dos países mais bonitos do mundo e negar a realidade das belezas naturais era loucura. Mas meus anos como retratista em estúdio haviam me ensinado a força do pano branco ao fundo e a pureza da luz natural refletida”, conta o autor.
Sobre o artista
Marcus Lyon (n. 1965) é um artista Britânico. Nascido e criado na Grã-Bretanha rural, Lyon estudou Ciência Política na universidade. Como artista, o início de sua carreira na Anistia Internacional e na International Children’s Trust foi a inspiração para seus trinta anos de exploração de questões centrais da sociedade moderna. Seus trabalhos e publicações foram comissionados e expostos em todo o mundo, e fazem parte de acervos significativos, privados e internacionais, incluindo o Instituto de Artes de Chicago, o Conselho de Artes da Grã-Bretanha e o Museu Smithsonian em Washington DC. No início da década de 1990, fundou o Glassworks, ateliê e galeria multidisciplinar para a produção e exibição de arte original e colaborativa. Como retratista, fotografou diversas figuras públicas, da Rainha Elizabeth II a Bill Nighy e os quatro últimos Primeiros-ministros Britânicos. Suas fotografias ganharam inúmeros prêmios e indicações, incluindo o Prêmio Aesthetica, Fotógrafo do Ano Agfa, um B&H Ouro, Prix Pictet e um D&AD Prata. Fora do escopo da arte, Lyon é empreendedor social determinado e orador público ativo nos campos de fotografia e desenvolvimento. Como palestrante Ted, integrou os conselhos da Somerset House e da Leaders’ Quest, e é Embaixador Fundador da Home-Start UK, Photovoice, Blesma e do laboratório global de ideias Consórcio para Crianças de Rua. Lyon vive entre Londres e São Paulo com sua esposa brasileira Bel e seus filhos Florence e Arthur.
