Mostra "Los 24 escalones y Joan Miró" apresenta diálogo entre os trabalhos dos artistas contemporâneos Javier Arce, Raúl Belinchón, Diana Larrea, Abigail Lazkoz e Juan López com a obra do grande artista espanhol

Um título que faz alusão a dois fatos. De um lado, o suspense: 24 escalones é nome inspirado em Os trinta e nove degraus, romance de John Buchan levado às telas por Alfred Hitchcock. Só que neste caso, a surpresa do suspense final é artística. De outro, o número de degraus que conduzem ao Espai 13, o conceituado laboratório de experimentação e investigação da Fundação Miró de Barcelona. Assim nasceu LOS 24 ESCALONES Y JOAN MIRÓ, uma exposição realizada pela Sociedad Estatal para la Acción Cultural Exterior da Espanha (SEACEX) e pela Fundação Joan Miró, da Espanha, em parceria com o Museu Nacional da República. Sob curadoria de Jorge Díez, estão reunidas peças relevantes do grande mestre catalão e a obra de cinco jovens artistas espanhóis contemporâneos, que conceberam trabalhos especialmente para a exposição, gerando diálogos inesperados. LOS 24 ESCALONES Y JOAN MIRÓ abre as portas no dia 29 de setembro e pode ser vista até 25 de novembro, no Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, em Brasília.

A exposição apresenta 18 obras de Joan Miró, entre pinturas, litografias, esculturas e até mesmo um filme e um livro. Dialogando com o universo estão trabalhos de cinco jovens artistas espanhóis – Javier Arce, Raúl Belinchón, Diana Larrea, Abigail Lazkoz e Juan López – que tiveram oportunidade de mergulhar na obra de Miró e buscar inspiração para seus próprios trabalhos. O resultado é bem variado: uma série de murais, instalações, fotografias e desenhos, criados especialmente para a mostra.

Los 24 escalones y Joan Miró retoma um projeto concebido pelo próprio artista. Ao criar a Fundação Miró de Barcelona, em 1975, Joan Miró declarou que seu propósito era que o local se transformasse em centro dinamizador da cultura e promotor de novas tendências nas artes, um lugar que permanecesse atento e aberto ao pulsar de novas propostas artísticas. Foi assim que surgiu o conceituado Espai 13, herdeiro do legendário Espai 10 (1977-1987), um laboratório de investigação e experimentação onde são acolhidas as propostas mais inovadoras e arriscadas. O local tem atuado ao longo das últimas três décadas, recebendo alguns dos artistas mais destacados da atualidade e servindo como plataforma de visibilidade para seus primeiros trabalhos, assim como funcionando como centro de profissionalização.

A Exposição

A mostra homenageia um grupo de jovens artistas, participantes de um ciclo que relembrou o aniversário de 25 anos de morte de Miró. Os jovens foram estimulados a criar peças específicas inspiradas no trabalho do mestre. Para isso, tiveram a oportunidade de realizar um minucioso passeio pelos diferentes espaços da Fundação Miró de Barcelona, locais que normalmente não são expostos aos visitantes. Também tiveram acesso aos livros da biblioteca pessoal do artista catalão. Desta imersão surgiram projetos que fogem a uma leitura banal do universo mironiano e incorporam, criticamente, diferentes linguagens.

Juan López (nascido em Alto Maliaño, 1979), realizou uma série de murais que nascem das colagens de Miró para adentrar-se na cultura jovem contemporânea. Diana Larrea (Madrid, 1972) parte das constelações mironianas para construir uma instalação de luz que sugere um caminho a ser percorrido pelo visitante. Raúl Belinchón (Valencia, 1975) fotografou as formações geológicas de um cânion no Arizona em clara alusão ao interesse do surrealista pela terra. Abigail Lazkoz (Bilbao, 1972) desvela seu método de trabalho estendendo seus cadernos de esboços para evidenciar as coincidências que descobriu com o sistema que o próprio Miró seguia. E Javier Arce (Santander, 1973) brinca com seus desenhos tridimensionais das Brillo Boxes de Andy Warhol, com os limites entre o que é o que não é considerado arte, para diluir as fronteiras entre a alta e baixa cultura, entre a arte feita para poucos e a arte para as massas.

A exposição oferecerá a chance de o público ver de perto 18 obras de Joan Miró, especialmente cedidas pela Fundação Miró: La primera chispa del día II (1966 - Acrílico e óleo sobre tela, 146 cm x 114 cm), Letras y cifras atraídas por una chispa I (1968 - Acrílico sobre tela, 145,9 cm x 114 cm), Dos aves de presa (1973 - Acrílico sobre lona, 258,5 cm x 210,5 cm), Personaje en la noche (1974 - Acrílico e óleo sobre tela, 73 cm x 91,9 cm), Mujer (1969 - Técnica mista sobre papel de embalar, 64 cm x 55 cm), Sin título II (1973 - Nanquim, aquarela, acrílico e lápis de cor sobre papel, 44,7 cm x 57,5 cm), Sin título I (1973 - Nanquim, aquarela e acrílico sobre papel, 44,5 cm x 57,5 cm), Sin título III (1973 - Nanquim, aquarela e acrílico sobre papel, 44,7 cm x 57,6 cm), seis litografias da Serie Barcelona (1, 2, 19, 25, 32 e 37), criada por Joan Miró em 1944 (69,9 cm x 52,3 cm), o Proyecto del pavimento de cerámica del Pla de l´Os, Barcelona (1976 - Nanquim, lápis de cera e pastel sobre papel, 90 cm x 104,5 cm), Personaje (1949 - Cobre, 19 cm x 27 cm x 23 cm), o filme Jeux d´efants, de 1932, e Constellations, um livro de Miró, escrito em 1959.

O projeto é realizado em parceria entre a Fundação Miró, a Sociedad Estatal para la Acción Cultural Exterior da Espanha (SEACEX), que têm atuado juntos para promover a circulação internacional da exposição, e o Museu Nacional da República. A SEACEX é um órgão público que trabalha para difundir a cultura espanhola. No Brasil, já promoveu diversas exposições em espaços como o MASP, MIS/SP, Pinacoteca de São Paulo, Dragão do Mar/Fortaleza e vários outros. Em Brasília, recebe a parceria do Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, que tem forte atuação na capital brasileira, no campo da arte contemporânea, sempre buscando oferecer exposições de grande qualidade artística – muitas delas inéditas no País.

Segundo o curador, Jorge Díez, a mostra promove o diálogo entre temas como cosmos e terra, desenho e colagem, diferentes maneiras de fazer arte: “Vinte e quatro são os degraus que é preciso descer até o Espai 13 dentro do percurso pela coleção permanente de Miró e conduzem o espectador desprevenido a um enfrentamento com as novas práticas criativas, provavelmente estranhas a sua visita e que lhe oferecem a possibilidade de descobrir outras propostas artistas. Propostas que se potencializaram ao adaptar a exposição ao esplêndido espaço do Museu Nacional da República, em Brasília, tensionadas pela presença e a confrontação com as pinturas, desenhos, litografias e escultura de Joan Miró, junto com distintas obras e documentos videográficos sobre o artista e seu trabalho”.

O Curador

Jorge Díez nasceu em Madri, em 1954 e atua como curador e gestor cultural. Licenciado em Filosofia e Letras pela Universidad Complutense de Madrid, é diretor do programa internacional de arte pública Madrid Abierto e do MBA em Empresas e Instituições Culturais de Santillana Formación/Universidad Complutense de Madrid.

Foi diretor geral de Promoção Cultural da Junta de Comunidades de Castilla-La Mancha (2004-05), chefe do Serviço de Cultura e diretor da Sala Amadís do Instituto de la Juventud (Injuve) (1997-2004), e assessor executivo nos gabinetes dos ministros de Cultura Carmen Alborch (1993-96) e Jordi Solé Tura (1992-93).

Organizador dos Encuentros Internacionales Avantcomic, foi curador da exposição ¡Viaje con nosotros!, que circulou pela América Latina (2009-2010), e, junto com José Ignacio Roca (Colombia), também do projeto de intervenções artísticas Cart[ajena], organizado por SEACEX, para o IV Congreso de la Lengua Española en Cartagena de Indias y Välparaiso: InTERvenciones (Valparaíso, Santiago de Chile).

É autor de textos em distintas revistas especializadas e catálogos de exposições e editor da publicação Madrid Abierto 2004-2008.