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Para o início do projeto de restauração do Pavilhão, a fundação apoiou a renovação da atual reserva técnica do museu, com incentivos para a readequação das atuais salas expositivas, garantindo melhores condições mesológicas de exibição para a obra

Com patrocínio da Fundação Marcos Amaro (FMA), o Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro, incorporará a seu espaço expositivo um dos Pavilhões da antiga Colônia Juliano Moreira, hospital psiquiátrico onde viveu, por muitos anos, Arthur Bispo do Rosário, um dos expoentes da arte contemporânea brasileira. A edificação que será restaurada abriga a cela ocupada por Bispo, que a encarava como uma espécie de ateliê.

"As paredes da cela onde viveu Bispo do Rosário estão completamente tomadas por desenhos que foram cobertos por camadas de tinta ao longo dos anos. Vamos retirá-las pouco a pouco, em um processo de restauração da camada original de tinta, na tentativa de revelar todo o universo criativo do Bispo impresso naquelas paredes", afirma Ricardo Resende, curador do Museu e também da FMA. Depois de restaurada, a cela funcionará como espaço expositivo permanente para as obras do artista sergipano. "A ideia é justamente apresentar ao público seus trabalhos em sua ambiência natural, onde foi criada – até mesmo porque a obra do Bispo ganha sentido, significado e potência de proporções imensuráveis quando contextualizada naquela paisagem do manicômio", comenta.

Diagnosticado como esquizofrênico paranoico, Bispo viveu por quase 50 anos entre entradas e saídas, como interno de hospícios do Rio de Janeiro. Aproveitou-se dos materiais precários que o cercavam para recriar o mundo e registrou em mantos e estandartes tudo que sua memória foi capaz de recordar e guardar. Apesar de ter sua genialidade reconhecida tardiamente, é hoje considerado um dos expoentes da arte contemporânea brasileira, compondo a tríade dos mais importantes nomes do período ao lado Lygia Clark e Hélio Oiticica.

Para além do cômodo onde dormia Bispo do Rosário, todo o Pavilhão será restaurado (recuperação do telhado, do piso, aberturas e instalações hidráulicas e elétricas) para abrigar a sede do Museu, que atualmente funciona em um prédio administrativo do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, complexo de saúde mental instalado na Colônia. Os ambientes passarão por reformas e readequações, buscando sempre com as condições ideais de preservação de sua arquitetura original e a conservação da obra.

Para o início do projeto de restauração do Pavilhão, a Fundação Marcos Amaro doou à instituição carioca o montante de R$ 350 mil. Em 2017, a fundação apoiou a readequação e renovação da atual reserva técnica do Museu. No início de 2018, os incentivos foram para a readequação das atuais salas expositivas, garantindo melhores condições mesológicas de exibição para a obra.

"Com esse apoio, a FMA reafirma o seu propósito em não somente impulsionar a produção contemporânea com criação de prêmios e residências voltados a jovens artistas e em atividade, mas também pela preservação e conservação da arte contemporânea brasileira", afirma Raquel Fayad, diretora geral da fundação.

Falecido em julho de 1989, a obra do artista vem sendo, desde final de 2016, revisitada, restaurada, higienizada e catalogada. Em setembro deste ano, o acervo de Arthur Bispo do Rosário foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em decisão unânime de seu conselho consultivo.

Atualmente, a coleção passa por um processo de desinfestação atóxica em atmosfera de anóxia, realizado pela Stephan Schafer Conservação e Restauração. O trabalho volta-se a obras de grande escala em ambientes criados dentro dos museus, bibliotecas, arquivos e acervos.

"Esse procedimento é o maior já realizado em obras de arte contemporânea no Brasil. O método consiste na retirada do oxigênio de estrutura construída justamente para este fim, uma bolha hermeticamente fechada, onde foi acomodada em sua primeira etapa a metade da obra de Bispo do Rosário. De lá, através de um mecanismo, foi retirado de seu interior todo o oxigênio deixando apenas o hidrogênio. Esse processo garante uma eficaz eliminação de cupins, fungos ou qualquer outro microrganismo por asfixia. Trata-se de uma tecnologia que não afeta a obra, que é extremamente frágil, e requer o máximo de cuidado", comenta Ricardo Resende.

Catálogo Raisonné

Em 2019, ano em que se completa 30 anos do falecimento de Arthur Bispo do Rosário, o artista ganhará um catálogo raisonné. Idealizado pelo Museu que leva seu nome e patrocinado pela galeria Almeida e Dale – que em 2017 doou R$ 400 mil – o projeto de catalogação é coordenado por Ricardo Resende. Sua publicação impressa e digital, que também será patrocinada pela mesma galeria paulistana, será lançada pelo selo da Editora Capivara.

O catálogo, que terá tiragem de 1.000 exemplares, reunindo imagens, dados técnicos, histórico de exposições e bibliografia referentes a mais de 900 trabalhos realizados pelo artista, trará o primeiro texto escrito sobre sua obra de autoria do crítico de arte Frederico Morais. Para contextualizá-lo na arte contemporânea, a

crítica de arte e curadora Lisette Lagnado foi convidada para contribuir. A publicação será distribuída a instituições e bibliotecas de acesso público e terá uma versão digital, que será disponibilizada em site vinculado ao Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea.

O artista

Arthur Bispo do Rosario nasceu em 1909, na cidade de Japaratuba, em Sergipe. Nordestino, negro e semianalfabeto, alistou-se como marinheiro no Quartel Central do Corpo de Marinheiros Nacionais, no Rio de Janeiro, em 1926. Sete anos depois, foi desligado da Marinha por indisciplina.

Em 1938, teve seu primeiro surto. Na noite de 22 de dezembro daquele ano, saiu em uma espécie de peregrinação para uma apresentação na igreja da Candelária. Foi dado como louco e encaminhado ao Hospital Nacional dos Alienados, na Praia Vermelha, onde o diagnosticaram como portador de esquizofrenia paranoide. Tempos depois, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá e alojado em uma ala reservada aos pacientes mais agressivos e agitados, o Pavilhão Ulisses Viana, o edifício preservado que entrará em restauração.

Após uma série de idas e vindas a instituições psiquiátricas diversas, Bispo retornou definitivamente à Colônia em 1964 e, a partir daí, iniciou sua extensa produção de objetos. Ainda naquele ano, após ser preso em uma solitária, ouviu uma voz, que lhe deu sua missão: a de representar "os materiais existentes na Terra para o uso do homem". Com o aumento de sua produção, expandiu seu espaço para as dez solitárias do pavilhão.

Ao longo de 50 anos, Bispo produziu mais de 900 objetos em um processo contínuo de criação. Nesse processo, aproveitou-se de tudo que tinha às mãos para a produção de bordados, objetos e esculturas. Em um trabalho meticuloso, desmanchava os uniformes dos internos, retirando deles as linhas que serviriam como matéria-prima para a trama de suas peças. Talheres, tênis e garrafas - tudo era reaproveitado pelo artista que, ordenado por um deus, era incumbido a inventariar o mundo.

O Museu

Inaugurado em 1992, o Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea está situado dentro do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, complexo de saúde mental popularmente conhecido como Colônia, vinculado à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da cidade do Rio de Janeiro. A instituição é responsável pela preservação, conservação e difusão da obra de Arthur Bispo do Rosário – um dos expoentes da arte contemporânea, de reconhecimento nacional e internacional. Seu acervo é composto por mais de 1.500 peças, sendo mais de 900 de autoria de Bispo e outras, cerca de 250, provenientes do acervo da Casa Dr. Eiras Hospital de Paracambi e Ateliê Gaia. O Museu mantém ainda um coletivo de criação livre de arte.

Em 2017, o Museu conseguiu ainda a nominação da estação do BRT (serviço de transporte rápido de ônibus da cidade do Rio de Janeiro), dentro do antigo hospício, de Estação Colônia – Museu Bispo do Rosário.

Vista do Pavilhão que será incorporado ao Museu do Bispo do Rosário<br />Foto divulgação  [Museu Bispo do Rosário]

Vista do Pavilhão que será incorporado ao Museu do Bispo do Rosário
Foto divulgação [Museu Bispo do Rosário]

Fundação Marcos Amaro apoia recuperação de cela de Bispo do Rosário em museu carioca que homenageia o artista sergipano

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São Paulo

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