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my city ISSN 1982-9922

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ROCHA, Ricardo. Rio Grande: jóia art nouveau ameaçada. Minha Cidade, São Paulo, ano 03, n. 032.01, Vitruvius, mar. 2003 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/03.032/2046>.


Prédio Art Nouveau em Rio Grande


Prédio Art Nouveau em Rio Grande

Residência art nouveau em Santa Maria (1912), obra do arquiteto alemão Theodor Carstein, demolida nos anos 70

 

 

Para começar com um clichê depois do título um tanto piegas: "viagem de arquiteto é sempre viagem de estudos" – ou trabalho. Uma tarde em Rio Grande (que ainda não conhecia), algo como uma irmã mais velha de Pelotas, com um patrimônio edificado que não deixa nada a dever a caçula. Sob um sol inclemente, roteiro improvisado – mapa turístico e tudo – pontuado por torres de igrejas neogóticas – há até mesmo armazéns e uma loja maçônica nesse estilo. Praça, monumento, calçadão, igrejas neogóticas, capela/catedral coloniais, prédio neoclássico aqui, eclético acolá, dobra ali dobra lá, noiva e cunhada já ficando cansadas, quando de repente, não mais que de repente... um prédio art nouveau!

Até onde sei, algo raro. Têm-se notícias do estilo em algumas capitais, São Paulo, Rio, Salvador, Belo Horizonte, Fortaleza, Belém, Manaus. Em São Paulo existe a Vila Penteado de C. Ekman – havia algumas casas de Victor Dubugras; no Guia da Arquitetura Eclética no Rio de Janeiro são citadas dez edificações: Cine Íris, Confeitaria Colombo (interiores), Casas Franklin, Estação Marítima de Passageiros (vitrais), quatro residências (ornamentação), uma obra de A. Virzi e outra de H. G. Pujol Jr – já que as de Silva Costa desapareceram; das outras – capitais – conhece-se (ou, pelo menos, tenho conhecimento) de pouca coisa (1).

Entre o inusitado da "descoberta" (2), a intenção de registrá-la e a ação de sacar a máquina, um caminhão do corpo de bombeiros para em frente ao prédio e fecha a rua. Outro susto: "houve um desabamento" – sou informado. Mas, na verdade, o correto seria dizer houve outro desabamento. Parte do prediozinho art nouveau já havia caído antes; agora era a vez da edificação vizinha, número 61 (?).

Saio dali e sigo até a Prefeitura, onde sou bem atendido, mas não consigo nenhuma outra informação além do que me diz a arquiteta Letícia Estima. Coincidências. Flânerie, descoberta, desabamento e a arquiteta que acabava de falar com o IPHAN. Entretanto, num ano (2002) em que Porto Alegre e Pelotas recebem verbas do Monumenta (não estou emitindo opiniões críticas, só elencando fatos); ambas cidades tendo sediado ateliers SIRCHAL (Seminários Internacionais de Reabilitação em Centros Históricos da América Latina e do Caribe) patrocinados pela Caixa Econômica Federal / Governo Francês; quando São Miguel, Rio Pardo e Santa Maria, entre outras, também se candidatam ao mesmo seminário (nessa última, são criadas ainda uma Direção e um Conselho de Patrimônio); ainda é possível acontecer coisas desse tipo? – e não estou, de modo algum, criticando ou menosprezando o esforço de pessoas ligadas às prefeituras ou institutos de patrimônio.

Mas nesse ano que começa, talvez seja uma obrigação pensar GRANDE, coletivamente, socialmente. A preocupação exagerada com algo pontual pode parecer pequena. Não obstante, sabendo das dificuldades da Prefeitura de Pelotas para encontrar profissionais capacitados para a recuperação da estátua de Mercúrio que encimava a Torre do Mercado; lembrando o número de pessoas (arquitetos, artesãos, artistas) mobilizado na restauração do Teatro Solís na capital uruguaia; tendo ouvido falar na escola de restauro para jovens carentes criada em meio às ações de recuperação do "Casco Histórico" de Buenos Aires; soam como música as palavras do novo Ministro da Cultura: preocupado com Ouro Preto (e Brasília?!) ele menciona projetos como o que tenciona unir a recuperação de "monumentos" e o programa Primeiro Emprego. Talvez assim, a preservação de nosso patrimônio possa acontecer paralelamente ao fim de nosso drama social – infelizmente, havia pessoas no desabamento do número 61 da R. Fernando Duprat em Rio Grande.

notas

 1
Ok, o(s) sobrado(s) 65/ 67 da Rua Fernando Duprat da Silva em Rio Grande pode(m) não ser "um Ekman" ou "um Virzi" (?!), os balcões sem trabalho em ferro e as esquadrias simples não contribuem, tampouco o volume e o tratamento (neo)clássico (por motivos óbvios não cheguei a ver os interiores), mas trata(m)-se provavelmente de casa(s) de aluguel em terreno de meio de quadra, não de palacete com jardins. Nesse sentido, não tenho dúvidas quanto a necessidade de "tombamento" – diga-se de passagem o(s) imóvel(eis) está(ão) à venda.

2
Não sou gaúcho (brasiliense graduado em Vitória) nem conhecedor profundo da arquitetura sul riograndense, só sei que segundo informações da arquiteta Letícia Carneiro Estima (Secretaria de Planejamento da Prefeitura de Rio Grande), o prédio não é tombado, embora faça parte de uma lista de obras, primeiro passo de um inventário que deverá ser realizado com orientação do IPHAN.

sobre o autor

Ricardo Rocha é professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSM, mestre pelo PROPAR-UFRGS e doutorando pela FAU/ USP. É membro do DOCOMOMO e do Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico de Santa Maria – RS.

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