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my city ISSN 1982-9922

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PORTELLA, Adriana Araújo. Arquitetura versus Interesses econômicos: A proposta de extensão da última plataforma da Torre Eiffel em Paris. Minha Cidade, São Paulo, ano 09, n. 104.02, Vitruvius, mar. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/09.104/1861>.


Proposta de extensão da última plataforma da Torre Eiffel [http://www.serero.com/index_en.htm]


A Torre com sua silhueta original projetada pela Firma do engenheiro Gustave Eiffel [Wikipédia]

Simulação de como a silhueta da Torre ficará após a conclusão do projeto de extensão da última plataforma [http://www.serero.com/index_en.htm]

 

Inaugurada em 31 de março de 1889, a Torre Eiffel foi construída para representar o desenvolvimento tecnológico durante a Exposição Mundial em Paris de 1889 e para celebrar o primeiro Centenário da Revolução Francesa, ocorrida em 1789. O Governo da França planejou a Exposição e anunciou uma competição arquitetônica para um monumento que seria construído no Champ-de Mars, no centro de Paris. Vários projetos foram submetidos ao concurso e o comitê do Centenário escolheu a proposta da Firma do engenheiro Gustave Eiffel. A proposta era de uma torre com uma estrutura metálica que se tornaria, então, a estrutura mais alta do mundo naquele período.  A Torre Eiffel simbolizou uma era conhecida como a belle époque, onde beleza e inovação na arte e na arquitetura eram celebradas no século 19. Quando o contrato de vinte anos do terreno da Exposição Mundial expirou em 1909, a Torre Eiffel quase foi demolida, mas o seu valor como uma antena de transmissão de rádio a salvou. Hoje, a Torre, símbolo das inovaçoes tecnológicas do final do século 19, é reconhecida internacionalmente como o símbolo de Paris. Sua estrutura não é apenas um ponto de referência reconhecido no mundo inteiro, mas também uma das mais populares obras arquitetônicas do mundo ocidental, um emblema da modernidade francesa.

Atualmente há uma grande discussão acerca da provável extensão da terceira plataforma da Torre Eiffel. Há uma polêmica em torno de ter havido ou não uma competição arquitetônica internacional organizada pela “Societe Nouvelle d’exploitation de la Tour Eiffel” (SETE, empresa responsável pela Torre) para a seleção de um projeto relativo ao aumento da capacidade da última plataforma da Torre Eiffel. Esta competição teria sido parte das preparações do 120º Aniversário da Torre em 2009. Entretato, o escritório francês de arquitetura Sereno Architectes em seu website (2) afirma ter apresentado a SETE em 13 de março de 2008, de forma espontânea, sem ter havido uma competição arquitetônica, uma proposta a qual ainda estava em processo de aprovação. De qualquer modo, a possibilidade da silhueta estética da Torre Eiffel ser alterada vem despertando a atenção de muitos arquitetos não só na Europa mas também no Brasil.

De acordo com o Sereno Architectes, a extensão da última plataforma da Torre Eiffel objetiva melhorar o fluxo de turistas que desejam visitar essa plataforma durante as comemorações do 120º aniversário da Torre, as quais começam em 31 de março de 2009. Os arquitetos responsáveis pela proposta afirmam que a extensão da plataforma diminuirá a espera nas filas que, atualmente, nos meses de julho e agosto, pode chegar a 2 horas. A proposta visa aumentar a área atual da plataforma de 280m² para 580 m² possibilitando acesso a 1.700 turistas por hora. Considerando que atualmente cada adulto paga em média 12 euros para visitar o último andar da Torre, esta extensão possibilitará uma renda de 20.400 Euros por hora.

Inicialmente a extensão da plataforma é proposta como uma estrutura temporária sendo instalada em março de 2009. A questão é que estruturas desta magnitude que foram construidas para serem temporárias passaram a ser permanentes, como é o caso do London Eye em Londres, construido para a celebração do novo milênio em 2000, e da própria Torre Eiffel construída para ser mantida por um período de 20 anos. Nada contra o London Eye e a própria Torre, já que essas foram novas estruturas construídas na malha urbana. O problema é quando alterações estéticas em estruturas já reconhecidas como símbolos arquitetônicos internacionais se tornam permanentes.

Durante 120 anos a silhueta da Torre Eiffel foi mantida conforme o design inicial proposto pela firma de Gustave Eiffel. Alterações foram realizadas desde sua inauguração, já que a cidade é um organismo vivo cujas estruturas devem se adaptar a novas necessidades. Entretanto, todas alterações até então foram realizadas de modo a respeitar a estrutura estética original da Torre, a qual é mais do que um monumento, é o símbolo de Paris. Restaurantes, galerias para exposições, espaços cobertos para refúgio contra ventos e chuvas e uma nova antena de rádio e televisão instalada em sua cúpula em 2000 foram incluídas a sua estrutura original.

As discussões acerca desta nova proposta de intervenção na Torre se dá devido ao fato que a silhueta estética da Torre Eiffel será alterada significativamente. O conceito estético projetado pela empresa de Eiffel (de que a área em metros quadrados de cada plataforma da Torre diminui a medida que se aproxima do ponto mais alto) é ignorado. Os interesses que definem a forma estética da proposta de extensão da última plataforma estão diretamente ligados ao fator econômico: mais turistas significa mais renda. O argumento de que o tempo de espera dos turistas nas filas para visitar a Torre diminuirá significativamente devido a nova extensão é fraco a medida que o aumento da capacidade da última plataforma provavelmente atrairá mais visitantes querendo subir ao último andar do que o verificado atualmente; consequentemente as longas filas continuaram.

Além disso, o fato do aumento da capacidade de turistas passar a ser aceita como uma variável dominante no re-design de símbolos arquitetônicos torna-se um alerta para os arquitetos, planejadores urbanos e a sociedade como um todo. Aceitar a idéia de que interesses econômicos ligados ao lucro promovido pelo turismo urbano possa interferir na estética de símbolos arquitetônicos reconhecidos internacionalmente abre as portas para futuras propostas tais como: construção de plataformas no topo do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, da Estatua da Liberdade em Nova Iorque, do Big Ben em Londres, e até mesmo das Pirâmides no Cairo. Temporárias ou não, estou certa de que esse tipo de proposta afetaria a imagem que as pessoas têm destes locais.

O escritório Sereno Architectes compara as críticas negativas recebidas ao seu projeto com as críticas negativas recebidas ao projeto original da Torre Eiffel proposto pela empresa de Gustave Eiffel. De acordo com Ian C. Mills (3), durante o processo de construção da Torre, uma petição incluindo nomes consagrados como o de Maupassant, Emile Zola, Charles Garnier e Dumas the Younger, foi apresentada as autoridades locais como uma forma de protesto contra a construcao da Torre. Este documento afirmava que: “Nós, os escritores, pintores, escultores e amantes da beleza de Paris, protestamos com todo vigor e indignação, em nome do estilo francês e da já comprometida arte e história francesa, contra a inútil e monstruosa Torre Eiffel”. No entanto, releva destacar que as mencionadas críticas eram todas relacionadas com a criação de uma estrutura arquitetônica a partir de uma concepção nova, derivada da Revolução Industrial (a arquitetura do ferro), que seria integrada a uma malha urbana tradicional. Já as críticas concernentes à ampliação da última plataforma da Torre são relacionadas ao fato de que uma intervenção estética descaracterizadora da forma original de um monumento Mundial, justificada somente por interesses econômicos, não pode ser de modo algum admitida.

De acordo com o artigo “Eiffel Tower Redesign a Hoax”, publicado no jornal ArchitectOnline, o arquiteto David Serero, da firma responsável pelo projeto da extensão da plataforma, afirma que: “a maioria das pessoas em Paris ignoram a Torre. Eles não observam a Torre e geralmente não conseguem vê-la, já que a malha urbana da cidade é densa (...) Uma vez construída a extensão da plataforma, eu estou certo que as pessoas irão dar valor a Torre como esta era antes... isto é portanto uma estratégia para aumentar a atenção a esse monumento” (4).

Partindo do pressuposto de que esta afirmação é verdadeira, questiona-se o valor científico deste argumento: a) será que foi realizada alguma pesquisa para saber o que os residentes em Paris, como também os turistas, pensam da Torre Eiffel?; b) será que eles realmente ignoram este símbolo arquitetônico?. Eu particularmente não acredito que a sociedade ignore esse monumento e tão pouco suporto a idéia de que a extensão da última plataforma atrairá a atenção das pessoas de um modo positivo. Acredito sim que esta extensão, caso construída, fará com que arquitetos, planejadores urbanos e a sociedade contemporânea perceba a negativa interferência de interesses econômicos nas formas arquitetônicas e nos símbolos das cidades. Arquitetos e planejadores urbanos, levando em conta a percepção dos usuários em relação a cidade, tem o dever de proteger símbolos arquitetônicos de intervenções promovidas por interesses meramente lucrativos. Portanto, a extensão proposta para a última plataforma da Torre Eiffel, mesmo que temporária, é prejudicial a estética urbana e a imagem de Paris.

Ademais, caso construída a extensão da última plataforma, tanto os parisienses, como os visitantes do mundo inteiro, serão impedidos de apreciar a silhueta original da Torre Eiffel justamente no seu 120º aniversário, o que parece um modo incoerente de celebrar esse símbolo internacional.

notas

1
Este artigo contou com a colaboração de Roberto Padilha Guimarães, Auditor do Trabalho e ex-professor de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

2
Sereno Architectes <www.sereno.com>.

3
MILLS, Ian C. ”The Eiffel Tower, Paris” <www.discoverfrance.net/France/Paris/Monuments-Paris/Eiffel.shtml>.

4
SERERO, David. “Eiffel Tower Redesign a Hoax”, ArchitectOnline <www.architectmagazine.com>. 

sobre o autorAdriana Portella, Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas, Brasil (2008). Pós-Doutora em Urbanismo pela Bartlett School of Planning, University College London (UCL), Inglaterra (2007-2008). Doutora em Desenho Urbano pela Oxford Brookes University, Inglaterra (2003-2007). Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil (2001-2003). Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal de Pelotas, Brasil (1996-2000)

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