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CASTRO, Celso. Monumentos públicos no Rio de Janeiro. Resenhas Online, São Paulo, ano 08, n. 087.01, Vitruvius, mar. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.087/3048>.


Este livro trata do fenômeno histórico que levou ao erguimento de esculturas públicas, marcos permanentes e onipresentes da paisagem urbana das sociedades ocidentais. Na primeira parte a autora descreve os diferentes tipos de monumentos – estátuas, arcos e colunas triunfais, mausoléus e obeliscos – e traça seus desenvolvimentos entre o final do século XVIII e as primeiras décadas do século XX. O cuidado na descrição complementa-se com um necessário glossário, ao final, para os termos técnicos. A segunda parte trata da cultura visual republicana brasileira, em particular do monumento a Benjamin Constant, inaugurado em 1926 no Rio de Janeiro, então capital federal.

Profundamente influenciados pela “estatuomania” da Terceira República francesa iniciada em 1870, os monumentos cívicos construídos no Brasil durante a Primeira República (1889-1930) têm a ver com a luta pela afirmação simbólica do regime republicano no país. Isso não se fez sem a ocorrência de divergências profundas entre os próprios republicanos. Elementos de verdadeiras “batalhas pela memória”, os monumentos destinavam-se a rememorar algo – um evento, um personagem, uma doutrina – de uma determinada forma, num espaço específico. Pretendia-se, também, que o monumento se tornasse ponto focal de cerimônias públicas periódicas, que reafirmassem e atualizassem, na posteridade, o sentido original que se pretendeu imprimir.

No caso do monumento a Benjamin Constant, seus “empresários” foram os positivistas ortodoxos, representados pelo pequeno grupo da Igreja Positivista do Brasil liderado por Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes. A idéia de erguer um monumento a Benjamin Constant surgiu logo após sua morte, em 1891. A pedra fundamental foi lançada em 1894, mas a construção do monumento foi iniciada apenas em 1923 – significativamente no dia 14 de julho – aniversário da tomada da Bastilha e principal data cívica francesa. As três décadas e meia que vão da proposta do monumento, em 1891, à sua inauguração, em 1926 (também num 14 de julho!), marcam o período que vai do apogeu da influência dos positivistas ortodoxos no Brasil até seu virtual desaparecimento como atores políticos relevantes. A morte de Teixeira Mendes, em 1927, encerra esse ciclo.

O monumento procurava associar a figura do “Fundador da República” – e, por extensão, o regime republicano – à doutrina positivista, atribuindo-lhe força cívica e poder político. Um amplo conjunto de frases e símbolos presentes no monumento resume, no essencial, todo o catecismo positivista.

O que mais me chama a atenção, da leitura desse precioso livro, é como a imagem de Benjamin Constant, personagem supostamente central do monumento, foi apropriada pelos positivistas ortodoxos, tornando-se parte de uma grande obra pedagógica, de uma peça de propaganda da doutrina positivista. Ele aparece em trajes militares – que não gostava de usar – e como membro ardoroso da Religião da Humanidade – que cedo deixara de professar. Benjamin rompeu com a Igreja Positivista em 1882 e a ela nunca mais se filiou. As relações pessoais de Benjamin com os líderes positivistas ortodoxos deterioraram-se a ponto de cessarem completamente em 1885, após Teixeira Mendes criticar publicamente, num panfleto, “a profanação das obras de Augusto Comte” por Benjamin Constant, que apontara alguns erros e lacunas em seus escritos. Para Teixeira Mendes, isso constituía “um crime de lesa Humanidade”. No entanto, com o sucesso do golpe republicano, os diretores do Apostolado Positivista correriam a procurar Benjamin Constant para manifestar seu apoio ao governo instaurado pela insurreição da qual estiveram completamente alheios.

Em 1947, duas décadas após sua inauguração, o monumento foi transferido da frente do antigo Quartel General, palco principal onde teve lugar a Proclamação da República, para o acanhado interior do Campo de Santana. Isso se deveu à construção do “panteão” dedicado ao Duque de Caxias, que lhe tomou o lugar. Para os militares de então a estátua de Benjamin Constant, que representava o incômodo modelo do “soldado cidadão” republicano, devia ceder lugar à estátua do “pacificador” do Império – o “patrono” disciplinador do Exército – ponto culminante de um culto que vinha sendo institucionalmente afirmado no Exército desde o início da década de 1920 (2). Na disputa por símbolos e espaços não havia a menor dúvida de quem detinha mais poder. Esvaziado de sua relevância política, de seu significado cívico e de importantes características estéticas, o monumento tornou-se, afinal, objeto de análise deste livro.

Hoje, no dia-a-dia da vida urbana, passamos indiferentes diante desse e de vários outros monumentos. Muitos de seus significados originais não são mais legíveis, e eles permanecem, em grande medida, corpos estranhos, “fora de lugar”, sendo re-significados em função de apropriações mais cotidianas. Tornaram-se, no entanto, parte de um “patrimônio” histórico que cumpre ao poder público preservar. Cabe aos pesquisadores reconstituir, em toda sua densidade, os vários sentidos dessa história feita de pedra e bronze.

notas

1
O presente texto foi publicado como prefácio do livro

2
Sobre o culto a Caxias, ver Celso Castro, A invenção do Exército brasileiro (Jorge Zahar, 2002).

sobre o autor

Celso Castro, Professor/pesquisador e diretor do Centro de Pesquisa e Documentação Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getulio Vargas

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resenha do livro

De pedra e bronze

De pedra e bronze

Um estudo sobre monumentos. O monumento a Benjamin Constant

Valéria Salgueiro

2008

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