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architectourism ISSN 1982-9930

Ilha Bela. Foto Pedro Gorski

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Em viagem por outras partes do mundo, Paul Meurs, um holandês tropical, só pensa nas cidades brasileiras. Principalmente depois de dezenas de viagens ao Brasil acompanhando grupos de arquitetos, paisagistas, urbanistas e outros profissionais holandeses


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MEURS, Paul. Um holandês tropical. Arquiteturismo, São Paulo, ano 01, n. 005.03, Vitruvius, jul. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/01.005/1340>.


Como nasceu seu interesse pelo Brasil?

Formei-me na Holanda nos anos 80 com um TGI sobre o Pelourinho em Salvador, que na época estava arruinado. Ainda não entendo porque escolhi um lugar tão longe, mas foi o início de uma paixão, um amor e uma confusão contínuos que permanecem na minha vida. Fiquei interessado pelo Brasil por causa das amizades, da alegria de cada chegada no país e dos desafios que vejo no Brasil na minha área de trabalho. Holanda e Brasil não têm aparentemente nada de parecido, mas ao mesmo tempo têm muito em comum. No Brasil eu posso ter um olhar “estrangeiro” sobre a Holanda. Prefiro conhecer dois países razoavelmente bem a voar pelo mundo todo sem entender nada.

Você têm sido um arquiteturista profissional?

Somente no Brasil. Só falta conhecer o Chuí, no sul. Na Europa faço pouco turismo arquitetônico além dos projetos que nós temos. Fiz turismo com arquitetos na China. Fiquei com muitas saudades de São Paulo em Shanghai e do Rio de Janeiro em Hong Kong.

Chega da China! Depois que virei professor em Delft, estou visitando lugares distantes como convidado. Isto é uma experiência nova e bacana. Conheci a Rússia, Israel e o Suriname nos últimos meses, em missões diversas. Cada país tem o seu jeito para receber os estrangeiros e mostrar sua beleza. Na Rússia, o nosso ônibus era acompanhado pela polícia, que parava o trânsito!

Qual seria o balanço do aprendizado e ensinamento dos diversos grupos que vieram ao Brasil?

Uma coisa positiva é a relação entre as áreas de conhecimento. Curitiba por exemplo é uma cidade que consegue reunir políticos, arquitetos, transporteiros, ecologistas, sociólogos e urbanistas no mesmo ônibus, visitando os mesmos lugares. Na Holanda, essas categorias dificilmente se comunicam entre elas. Outra é entender os projetos em um contexto urbano, social e econômico distinto do seu.

Coisas curiosas a dizer sobre as viagens em grupo?

A viagem mais curiosa foi um tour com 14 holandeses para Serra do Navio, no Amapá. Tinha uns 5 arquitetos e urbanistas mais velhos. Ao sair da Holanda, eram homens fortes, independentes, saudáveis e orgulhosos. Mas a cada dia no Brasil ficavam mais velhos. Um perdeu passaporte e dinheiro. Outro sofreu de trombose na perna. O terceiro se apaixonou por uma mulata no Rio. E o solteiro nunca tomava banho. Chegamos no Amapá com um desfile de idosos, sofrendo de idade, calor, desorientação e choques culturais. Não conseguiram fazer mais nada sozinhos.

A arquitetura contemporânea redesenhou o interesse turístico na Europa?

Turismo e arquitetura são fortes na Europa. Há muitos motivos para visitar certas cidades. Arquitetura é um trunfo a mais, além da praia, gastronomia, arte e compras.

O que falar da relação entre arquitetura e turismo?

Turismo de arquitetos faz parte de nossa profissão. No século 19 os arquitetos holandeses em início da carreira faziam uma viagem para Roma ou uma “grande viagem” pelos países da antigüidade para conhecer as referências eternas. Ainda temos o Prix de Rome para artistas jovens, que antes era uma viagem para Roma e hoje em dia vale uma fortuna. Hoje todos os arquitetos viajam e usam as fotos como referências nos projetos. Uma outra relação é o turismo arquitetônico.

Cansado das praias e dos centros comerciais, o turista contemporâneo deseja experiências culturais. Quer andar pelas cidades, visitar monumentos clássicos, mas também quer conhecer a arquitetura recente. Bilbao é o exemplo óbvio. Arquitetura (e marketing) viraram argumentos para atraírem turistas. Será que o Brasil tem arquitetos além de Aleijadinho e Niemeyer, que possam seduzir os turistas?

Como fazer turismo na Holanda?

O melhor turismo na Holanda se faz de bicicleta. É mais rápido e menos cansativo, além de ser uma experiência mais agradável do que ir de carro ou de trem. Pode se alugar bicicletas em qualquer lugar e tem uma infra-estrutura muito boa, com pistas exclusivas.

Conhecer Amsterdã ou Roterdã de bicicleta é sensacional. Mas também dá para pedalar pela paisagem, nos pôlderes e nas áreas dos diques. E inexiste o perigo de se perder na mata!

Como viajar na Europa ocidental?

Carro, trem e avião servem. Em geral a Europa ocidental é receptiva e fácil para se virar. Mas ninguém fala português, a não ser em Portugal!

O quê um brasileiro deve olhar na paisagem européia?

A convivência com a história é uma das coisas interessantes. E também constatar que riqueza não precisa obrigatoriamente ser a versão norte-americana. Europa é uma alternativa, embora não seja um paraíso.

Mas a paisagem passa sempre por mudanças: cada lugar é diferente, fala um outro idioma, tem outra cultura e outra história. Europa é um Galápagos urbano: um arquipélago que retrata a evolução urbana em toda sua diversidade.

O quê um europeu deve olhar na paisagem brasileira?

O céu do Brasil, o tamanho das coisas, as misturas de tudo. A Europa é um universo de coisas diferentes. No Brasil há um universo em cada coisa.

Quais as vantagens e desvantagens em se viajar em grupo?

Viajar em grupo tem duas grandes vantagens: é mais fácil organizar visitas, entrar em residências e chegar nos lugares mais longes; e é uma das poucas maneiras para se conhecer colegas e conversar com calma. Os arquitetos se cruzam toda hora na Holanda, mas ninguém nunca tem tempo para nada.

Uma viagem cria uma situação excelente para refletir, discutir, falar besteira e ampliar o seu horizonte. Viajando com grupos multidisciplinares é uma maneira de ter olhos emprestados e ver uma mesma realidade de várias maneiras.

Comparar as fotos tiradas pelos arquiteturistas em Brasília é sempre divertido. O paisagista olha para os espaços livres da cidade e os prédios são meros figurantes nas suas imagens. O arquiteto fotografa composições formais, evitando a intromissão de pessoas nas imagens.

O técnico, sempre minucioso, tira fotos de materiais, detalhes e soluções técnicas. O sociólogo fotografa gente e as interações humanas. E sempre tem um fulano que tira fotos apenas de mulheres bonitas. Assim, dá para fazer muitas viagens ao mesmo tempo.

A grande desvantagem de viajar em grupo é o perigo de ficar o tempo todo em meio à multidão dentro de um ônibus grande. É necessário planejar todo o tempo e até os momentos e lugares para curtir a solidão. Às vezes é preciso ignorar a pressão do grupo e andar sozinho.

É uma arte possibilitar que as visitas a eventos e destinos de difícil acesso sejam feitas em grupo, mas que sobre tempo suficiente para que cada um possa fazer coisas de seu interesse em pequenos grupos ou mesmo individualmente.

sobre o autor

Paul Meurs, arquiteto, é titular do escritório Urban Fabric, em Schiedam. Professor da cadeira de Restauração na Delft University of Technology, é pesquisador e consultor sobre transformações urbanas e arquitetônicas, conceituando o lugar do passado na paisagem urbana do futuro. É PhD com trabalho sobre transformação das cidades holandesas no período de 1883-1940. Liderou dezenas de viagens de estudo de profissionais holandeses ao Brasil.

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