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architectourism ISSN 1982-9930

Ilha Bela. Foto Pedro Gorski

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Conhecidas pela alegria da suas populações e pela abundância de pubs em sua ruas, as cidades irlandesas são locais perfeitos para o turista que gosta do caráter local. A cara e o cheiro do lugar, é a busca de Lu Cury, quando conhece um novo lugar


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CURY, Lu. A cara e o cheiro do lugar. Arquiteturismo, São Paulo, ano 01, n. 005.05, Vitruvius, jul. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/01.005/1342>.


Olfato e visão. Esses são meus sentidos mais apurados. Cheiros e imagens atiçam minha curiosidade quando viajo, principalmente quando vou para lugares onde nunca estive.

Não raro me pego perdida em cidades que visito pela primeira vez por conta da sedução visual: uma cena diferente, uma fachada colorida, uma placa ou mesmo um logo são capazes de desviar minha atenção e me fazer atravessar a rua ou virar a esquina.

Não foi diferente na Irlanda, mais especificamente em Dublin, costa leste, cidade que se desenvolveu às margens do rio Liffey.

O labirinto das ruas do centro me desnorteou várias vezes. E estar perdida é um prato cheio para se deixar levar pelo estímulo visual.

Qual não foi minha surpresa ao encontrar pela primeira vez algo escrito em gaélico. Não estou falando de tipologia. A escrita e os acentos agudos até nos são bem familiares, mas a frustração foi imediata ao tentar decifrar o que estava escrito (não maior por conta da versão em inglês, que vinha logo abaixo).

Diferentemente de línguas nas quais a grafia nos é totalmente estranha – como o sânscrito, o árabe ou o chinês – ao nos depararmos com o gaélico, fica uma vontade louca de saber o que está ali. Ainda mais depois de saber que mala, é mala mesmo. O português e o gaélico têm algo em comum lá nas raízes.

Outros estímulos visuais me chamaram bastante a atenção em Dublin: as fachadas dos pubs, santuários de irlandeses e turistas sedentos por um pint da famosa Guinness, e cartazes de shows e eventos pela cidade afora.

Acho que em Dublin existem pelo menos 3 pubs por quarteirão. Como escreveu Joyce em Ulisses, “good puzzle would be cross Dublin without passing a pub” (um bom desafio seria atravessar Dublin sem passar por um pub). Com suas fachadas coloridas e janelas de vidro para as calçadas, têm sempre interior bastante escuro, clima intimista e revestimento de madeira curtida em cheiro de cevada e malte, o que ajuda a referenciar o autêntico pub irlandês.

Alguns deles até servem café da manhã (irish breakfast) e aí o cheiro muda: bacon, salsichas, black pudding (algo como o nosso chouriço, feito com sangue de porco, bem temperado), feijão, ovos, tomate e pão caseiro (soda bread).

Registrei várias fachadas de pubs em Dublin e depois em Galway, na costa oeste. As placas quando existem são discretas e mostram a data de fundação e o nome – em geral um sobrenome de família –, numa tipologia que remete aos manuscritos celtas (atenção: tudo isso pintado à mão, nada de lonas plotadas, nem letras adesivas cortadas milimetricamente a laser).

Os pubs guardam um ar de nostalgia boêmio-intelectual e seduzem pela aparência. Se a comunicação visual é uma ferramenta de tradução de conceitos, as placas e fachadas dos pubs irlandeses são um grande exemplo do bom uso dessa ferramenta. Impossível não querer entrar e tomar um pint no balcão, ouvindo a história da família que nomeia o pub ou de clientes fiéis, famosos ou não. Os irlandeses são muito bons de papo.

Andando pela cidade, também percebi concentrações de cartazes de shows e eventos, em tamanho padrão sempre colados dentro de uma moldura verde, em locais determinados – por exemplo, longos muros de fábricas ou terrenos. O diferencial entre eles? O design gráfico: a composição, a tipologia, a combinação de cores. Lembrei de São Paulo e seu caos visual, informação em cima de informação, cartazes, uma placa chamando mais a atenção que outra, lonas gigantes em empenas de prédios. Coincidentemente, quando voltei, encontrei a cidade bem mais limpa, mostrando as construções, não necessariamente mais belas.

Agora um lugar impressionante de Dublin: a biblioteca da Trinity College. Dezenas de estantes de madeira enormes e enfileiradas guardam livros antiqüíssimos (ainda em uso pelos estudantes da universidade), numa seqüência de encher os olhos. E o nariz. Após ficar maravilhada com as iluminuras de The Book of Kells – a versão celto-saxã dos quatro Evangelhos visualmente mais rica e a mais famosa –, numa sala pequena e super monitorada, subi as escadarias que levam à biblioteca. A perspectiva é digna de foto, mas fotos são proibidas ali dentro.

Isso só para citar alguns exemplos do que mais me chamou a atenção nessa cidade cosmopolita, repleta de história pra mostrar, seja através da arquitetura, de seus museus ou de seus habitantes e seus costumes.

Dublin surpreendeu pelo respeito aos olhos de quem mora ou visita: uma cidade limpa visualmente, com construções baixas, céu aparente e rio que corre limpo e lindo pelo centro da cidade.

sobre o autor

Lu Cury é formada em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP e trabalha como designer gráfica em São Paulo desde 1998.

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