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architectourism ISSN 1982-9930

Santos, vista do Monte Serrat. Foto Victor Hugo Mori

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português
A autora discute a atividade turística hoje e foca o turismo de massa que, segundo ela, problematiza aspectos como a ansiedade do homem contemporâneo em perceber e apreender espaços através da imagem, do óptico e do regime contraído do tempo


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CHAGAS CAVALCANTI, Ana Rosa. Simulacro + Turismo = ?. Arquiteturismo, São Paulo, ano 03, n. 030-034.05, Vitruvius, ago. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/03.030-034/1549>.


O turismo implica em uma percepção de espaço e tempo. Interessa a este texto problematizar acerca desta atividade na contemporaneidade. Uma de suas possíveis de acontecer, o turismo de massa, é uma experiência que problematiza alguns apontamentos que o conjunto formado pela tecnologia, técnica, espetacularização e cultura de massa, atribui à relação sujeito/objeto na contemporaneidade. Como por exemplo, a ansiedade do homem contemporâneo em perceber e apreender espaços através da imagem, do óptico e do regime contraído de tempo.

Simulacro + Turismo = ?

Podemos interpretar as dinâmicas do espaço sob o crivo da segmentação assinalada por Deleuze e Guattari em Mil Platôs – capitalismo e esquizofrenia. O espaço sofre constantes “estriamentos” que implicam na sua disciplinarização, programação, ordenação e tecnocratização. Com isto, parece que produzimos objetos e dispositivos espaciais distintos para várias atividades: para comer, sentar, deitar, subverter, descansar, conviver, trocar, não trocar... Eles implicam regras: quando e onde devem acontecer certas atividades.

As aspirações de “ordem, pureza e limpeza” (Bauman, p. 18) foram eproduzidos de modo extasiante a serviço de um homem cuja ideologia primordial era encontrar “um local para cada coisa”. A ação projetual atual, ainda parece estar sob estes auspícios: queremos organizar a cidade, encontrar o lugar para cada coisa, pessoa ou situação. Os fazeres urbanos não cessam de produzir espaços fechados, segmentados e direcionados a funções especificas.

O ato de morar, trabalhar e circular ou até mesmo de fazer turismo pelos espaços pode ser entendido como ato de segmentação. Quando um arquiteto-urbanista propõe em seus projetos segmentar cômodos ou setores da cidade, ou ainda um lugar para turismo e outro não, ele não pode perceber, mas está reproduzindo a segmentação do vivido socialmente e espacialmente.

Mesmo diante de diversas críticas para com o funcionalismo excessivo da experiência moderna que acarretou na ressaca pós-moderna, a tentativa de organizar o mundo, o espaço e o tempo em múltiplos compartimentos – como em “estojos”, segundo Benjamin – produz aquilo que parece nos causar um “mal-estar” (Bauman).

A relação do turismo e espaço parece ditar tais preceitos, quando propõe uma organização e demarcação de simulacros de lugares ou dispositivos espaciais programados para fruição e prazer, diga-se de passagem: vendáveis temporariamente. São os resorts, cruzeiros, hotéis dos pacotes turísticos...

A indústria de massa propagandeia estas experiências como fuga da rotina de trabalho – tratado como extasiante e enfadonho – e sob lemas que propõem a exploração de lugares. Assim, o turismo propõe alguns momentos de “desterritorialização material” (Deleuze e Guattari), ou seja: de saída do “estojo/espaço do trabalho” para o “estojo/espaço de lugares desejados” ainda não explorados, conhecidos...

O turista deixa de flanar e derivar no espaço que à priori desconhece, para consumi-lo. Ele divide o tempo em pequenas parcelas: hora para dançar, para tirar fotografias, para comer, e reduz o que poderiam ser lógicas nascentes de descobertas de lugares, para fruir o que seriam experiências artificiais, porque em espaços ou dispositivos programados para suas atividades, ou ainda, porque em “não lugares” (Carlos, p. 216). Uma lógica de apreensão de espaços que propõe ao turista um aprendizado de fácil absorção, ou seja, um aprendizado que faz a partir da leitura de imagens, dadas “de graça”, principalmente, pelos roteiros turísticos.

Nesta fruição programada, conhecer os espaços se faz a partir da visão. Não se tem tempo para ouvir, tocar, perder-se... Têm-se normas a seguir, espaços previamente escolhidos para serem vistos... Entrada e saída de “estojos”.

Guy Debord afirma que sociedade espetacular e de consumo troca relações com o espaço através de imagens, muito mais que dos outros sentidos. Não é à toa que mídias como a televisão e a internet tenham tanta ressonância em tempos atuais: a visão que se superpõe aos demais sentidos, está bastante relacionada ao que parece uma espécie ansiedade do homem contemporâneo perante tempo. Enquanto isto, o lastro concreto e material entre homem e espaço, caminha para tornar-se cada vez mais tênue.

Voltamos, então à questão concernente ao turismo como atividade que busca por perder-se, fugir de si mesmo e da rotina... Será que ao consumirmos pacotes turísticos não estaríamos a comprar outras rotinas, contrariando a primeira ideação apontada no corpo de texto? Como bem defende Bauman acerca da modernidade: o homem contemporâneo tem sua vida regrada por três palavras: a ordem, a limpeza e a beleza. Fugir delas seria, na terminologia de Deleuze, fugir de um dos seus atuais “devires-mundo”?

A tecnologia a serviço deste homem que “quer ver” nos ensina – através de ferramentas distintas como o Google Earth e a fotografia – que podemos nos dispor de diferentes maneiras de estudar e conhecer outras culturas. O turismo no espaço corporificado, materializado e vivido acaba sendo uma opção, como faz o turista – halocentrico e irreverente – do livro On the Road do escritor beat Jack Kerrouac, que decide explorar espaços de seu país de forma inusitada, imprevisível e independente.

Percebemos que a discussão sobre aproximações da atividade do turismo com as ideologias da modernidade propiciam a formulação de perguntas das mais variadas. Este texto pretendeu abordar o turismo sob o viés conceitual, seu esforço está em muito mais em perguntar que em responder. Ele parece conduzir à seguinte afirmação: a experiência do turismo problematiza muito bem discussões contemporâneas acerca do espaço.

referências bibliográficas

AUGÉ, Marc. Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas, Papirus, 2004.

BAUMAN, Zygmunt. O mal estar da modernidade. São Paulo, Jorge Zahar, 1999. Capítulo 1, 2 e 3.

BENJAMIN, Walter. Der Destruktive Charakter. In: G.S., IV , p. 396-98.

CARLOS, Ana Fani Allesandri. O lugar no/do mundo. São Paulo, Hucitec, 1996.

DEBORD, Guy (1967). A sociedade do espetáculo. São Paulo, Contraponto, 1997.

DELEUZE, Gilles. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo, Editora 34, 1995.

KERROUAC, Jack. On the Road – o manuscrito original. São Paulo, L&PM, 2008.

sobre o autor

Ana Rosa Chagas Cavalcanti, arquiteta e urbanista, é mestranda no Programa de Pós Graduação em Dinâmicas do Espaço Habitado da Universidade Federal de Alagoas. Em 2009, em uma individual na Pinacoteca de sua universidade na exposição “Afetos e Ruinas do Corpo”, participou de coletiva no III Encontro de Artes da Comunicação com série “regras de Uso”

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