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architectourism ISSN 1982-9930

Montepulciano, Itália. Foto Victor Hugo Mori

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Jane Jacobs é um tipo de heroína da defesa das cidades para os cidadãos, algo difícil de ser materializado e vivenciado, porém ao percorrer os vários caminhos, por onde ela circulava muitas pessoas celebram nas ruas, a sua memória


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LACOMBE, Octavio. Jane's Walk. Passeando com Jane Jacobs. Arquiteturismo, São Paulo, ano 05, n. 049.01, Vitruvius, mar. 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/05.049/3809>.


Jane Jacobs [1916-2006] completaria 95 anos em maio. A americana que nunca estudou formalmente urbanismo ou planejamento escreveu o mais conhecido tratado moderno sobre as cidades do século 20: Morte e vida das grandes cidades (1).

Jacobs nasceu na Pensilvânia e mudou-se para Nova Iorque durante os anos da grande depressão. Em 1944 casou-se com o arquiteto Robert Hyde Jacobs, morou no Greenwich Village, onde criou os filhos e colaborou com a revista Architectural Forum. Durante a guerra do Vietnã, contrária a posição americana e temerosa por seus filhos que poderiam ser convocados para a guerra, mudou-se para Toronto, onde viveu por 38 anos. Segundo ela, Toronto, apesar dos problemas, era um modelo de cidade que funciona – vital e diversa. Pouco tempo depois de mudar para a cidade, Jane participou efetivamente do movimento que impediu a construção da Spadina Expressway, via expressa que cortaria a cidade e abriria uma cicatriz no bairro The Annex, onde ela morava.

Em maio de 2007, um grupo de amigos de Jane se reuniu com o objetivo de encontrar um meio de celebrar suas idéias e seu legado. E o meio que encontraram foi simples, efetivo e coerente com as idéias dela: passeios a pé por bairros da cidade, gratuitos e guiados voluntariamente por moradores. O conceito se mostrou um sucesso e vem se espalhando ao redor do mundo por diversas cidades. No primeiro ano, foram 27 passeios. Em 2010 a idéia estava espalhada por 9 países em 424 passeios em diferentes bairros de 68 cidades. A maioria dos passeios ainda acontece em cidades do Canadá e dos EUA, mas aos poucos a idéia vai se espalhando por cidades como Dublin, Madri ou La Paloma, no Uruguai.

Conheci o projeto Jane’s Walk no ano passado, quando, entrando na biblioteca do bairro onde moro, dei de cara com uma mesa repleta de títulos sobre Jane Jacobs e de sua autoria. Ao lado, um pôster explicando o que era o evento e divulgando os passeios que aconteceriam na cidade no mês de maio. Recém chegado a Calgary, achei que não haveria melhor maneira de conhecer algumas regiões da cidade. Chegando em casa, acessei o website, vi a lista de passeios, li sobre o que eram e escolhi dois: “Arquitetura Moderna em Brentwood”, bairro vizinho ao meu, e “Descobrindo Mission”, um dos bairros mais antigos da cidade. Para participar não é preciso se inscrever, pagar taxa, nada. Apenas comparecer com o desejo de compartilhar com outros dos mesmos interesses sobre um certo bairro ou região da cidade.

Lá fui eu, num sábado de manhã, ao ponto de encontro, a biblioteca, ver do que se tratava aquela proposta. E para minha surpresa, encontrei umas 25 pessoas no primeiro passeio. Moradores do bairro, gente de bairros vizinhos e vindas do outro lado da cidade. Curiosos, urbanistas, artistas, donas de casa, aposentados, crianças e recém chegados, como eu. A guia, voluntária, era Filomena Gomes, filha de portugueses nascida na cidade. Por uma hora e meia andamos pelo bairro observando o desenho das casas, suas características, o tamanho do lote, a metragem da construção, os materiais, as referências arquitetônicas, a relação do bairro com os edifícios institucionais e uma série de outras questões. No final, café com bolo e um bate papo na biblioteca, e a indicação de outras fontes sobre a arquitetura e o desenvolvimento urbano do período que compreende dos anos 1940 aos 1970.

Dia seguinte, me mandei para o ponto de encontro em Mission, o café da esquina. Entrei, sentei, tomei um café e 15 minutos depois havia umas 20 pessoas interagindo por causa do passeio. O guia era David, morador do bairro, urbanista contratado pela prefeitura. Dentre os 40 participantes vários moradores antigos do bairro e muitos ativistas que lutam por preservar o bairro como patrimônio histórico. Andamos por 2 horas e meia e, entre tantas coisas, descubro que o bairro era ocupado por pequenas propriedades rurais e ainda hoje resta em pé um celeiro daquele tempo, hoje incorporado por uma casa. Próximo ao centro, Mission passa por grandes transformações urbanas, mostra cicatrizes profundas, mas procura preservar suas raízes.

As idéias de Jane Jacobs continuam influenciando as práticas do planejamento urbano. Seu legado permanece vivo por meio desses passeios. Os Passeios de Jane acontecem sempre no início de maio, para comemorar seu aniversário. Em 2011 vão acontecer nos dias 7 e 8. Agora é o período em que os voluntários estão inscrevendo suas cidades e seus passeios. Ainda há tempo de inscrever sua cidade.

O website Jane’s Walk abriga um passeio guiado pelo bairro onde Jane viveu. Recomendo que acompanhem esse passeio através do áudio e do mapa disponíveis nos links seguintes. O áudio conta com depoimentos sobre a participação de Jane no movimento que derrubou a construção da Spadina Expressway e de amigos de Jane, antigos moradores sobre as características do bairro (2).

notas

1
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo, Martins Fontes, 2000. Publicação original: The Death and Life of Great American Cities (1961).

Sobre o livro de Jane Jacobs, ver: SEGAWA, Hugo. Vida e morte de um grande livro. Resenhas Online, São Paulo, n. 01.001, Vitruvius, jan. 2002 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/01.001/3259>.

2
Ver os seguintes domínios de interesse:
Website Jane’s Walk
Passeio guiado pelo bairro de Jane Jacobs
Passeio
Mapa

Áudio

sobre o autor

Octavio Lacombe é arquiteto e urbanista pela FAU PUC-Campinas, mestre em multimeios pela Unicamp e doutor em arquitetura pela FAUUSP. Atualmente mora em Calgary, no Canadá.

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