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architectourism ISSN 1982-9930

Stonehenge, planície de Salisbury, condado de Wiltshire, Inglaterra. Foto Victor Hugo Mori

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O litoral sul de Santa Catarina é um destes locais onde a riqueza da geomorfologia, o cromatismo acentuado pelas límpidas atmosferas do sul e as texturas que pincelam as paisagens se acumulam por toda parte, numa sucessão estonteante de belezas


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TABACOW, José. Litoral do sul de Santa Catarina. Região de Garopaba. Arquiteturismo, São Paulo, ano 05, n. 056.01, Vitruvius, out. 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/05.056/3857>.


Uma das melhores surpresas que o viajante pode encontrar em suas andanças é o acúmulo de atrações das mais variadas origens. Muitas vezes inesperadas, paisagens e situações fascinantes podem concentrar-se numa região e sua descoberta provoca admiração e êxtase. O litoral sul de Santa Catarina, a partir de Florianópolis, é um destes aglomerados onde a riqueza da geomorfologia, o cromatismo acentuado pelas límpidas atmosferas do sul, as texturas que pincelam as paisagens, a presença de urbanidades onde a escala humana ainda está preservada e em que as marcas do passado são dádivas que se acumulam por toda parte fazem, do caminhar, uma sucessão estonteante de belezas.

Não há como racionalizar a descrição de uma paisagem tão rica, sem incorrer na inadequação de um texto desapaixonado. Há dez anos viajo semanalmente entre Florianópolis e Tubarão (130 km ao sul), para dar aulas no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unisul – Universidade do Sul de Santa Catarina. Há dez anos, no interior de um veículo, passo a poucos quilômetros de um conjunto deslumbrante de costões, lagunas, dunas, pequenos vilarejos, sambaquis, restingas e uma infinidade de praias, que se sucedem nesta transição entre um ambiente tropical e as amenidades do clima subtemperado. Há dez anos, viajo absorto, lendo, dormindo, ouvindo música ou preparando alguma aula, sem suspeitar das belezas que me circundam, que ali estão, muitas vezes quase ao alcance do olhar, não fossem os morros circundantes ou os cartazes que obstruem e reduzem nossas paisagens a meros planos secundários, a panos de fundo valorizando a mídia rodoviária.

Mas chega a circunstância em que sou chamado a participar de um levantamento das potencialidades litorâneas de Santa Catarina, e o trecho de litoral que me cabe é exatamente este. Enquanto viajo por tais cenários, penso que é a primeira vez que me pagam para eu olhar lindas paisagens: a formação de infinitas lagunas, de todos os tamanhos que pontilham as áreas litorâneas, Rio Grande do Sul adentro, têm, em suas margens, uma flora muito rica de epífitas, em que sobressaem as bromélias, em especial as do gênero Aechmea. Mas também muitas outras famílias botânicas aqui estão representadas. As orquídeas, piperáceas, cactáceas do gênero Rhipsalis, entre muitas outras, revestem os troncos e galhos das árvores. Os sangradouros de tais lagunas formam canais de grande diversidade de fauna marinha, prestando-se às atividades de pescadores que, daí, tiram seu sustento.

Enriquecendo as paisagens como pinceladas de tons quase brancos, as areias das dunas formam grandes manchas, constrastando vivamente com o denso verde das matas ripárias que acompanham estes canais até seu desaguadouro no oceano. Por trás das praias, estendem-se as faixas de restingas, talvez a vegetação mais sofrida do litoral, eliminada pela ocupação desenfreada da costa por turistas e especuladores que fragmentam o solo em lotes-partículas com taxas de ocupação insanas. Mas as orquídeas que aí insistem em vicejar podem significar a esperança que, finalmente, o homem vai conseguir conviver com a natureza, em vez de sobrepujar seus valores.

Nestas paisagens, já tão degradadas, destacam-se os calhaus de granito, cujas variadas tonalidades contrastam com as largas extensões de areias ou com as verdejantes matinhas das encostas, permanentemente aparadas pelos ventos constantes. Também nelas se percebe a interferência nefasta do homem: nas abas de morros e nos grotões, a vegetação indígena vai sendo substituída pelos Pinnus subespontâneos que se espalham descontroladamente e poluem as cenas, fazendo prevalecer sua condição espúria. A vegetação original apresenta-se infinitamente fragmentada, as manchas de pastagens ou de gramíneas invasoras dominando as elevações.

Nas baixadas costeiras, ainda é possível encontrar formações expressivas de vegetação das restingas, em que bromélias, filodendros e cactos dão aquele aspecto peculiar, inconfundível, quase como assinaturas das paisagens praianas. Tais ilhas de originalidade contrastam dramaticamente com os indefectíveis bosques de casuarinas, outras invasoras que, introduzidos pelo imediatismo humano, tendem a padronizar os quase oito mil quilômetros do outrora diverso litoral brasileiro. Pode-se prever o negro destino que terão as rubras Aechmea ou as palmatórias (Opuntia) com suas numerosas flores amarelas, que tanto identificavam a vegetação costeira. Talvez o homem préhistórico que, há cerca de cinco mil anos deixou suas marcas nas inúmeras oficinas líticas (polidores) que se espalham pelo litoral não suspeitasse que as paisagens das praias e costões, secundadas por uma riquíssima e expressiva vegetação em que sobressaem as adaptações aos fortes e constantes ventos, pudessem ser tão vilipendiadas por seus descendentes mais evoluídos, nós.

sobre o autor

José Tabacow é arquiteto paisagista, formado pela FAU UFRJ, especialista em Ecologia e Recursos Naturais pela UFES e Doutor em Geografia pela UFRJ. É professor das disciplinas de Paisagismo e Coordenador da Pós-graduação em paisagismo do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unisul.

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