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architectourism ISSN 1982-9930

arquiteturismo

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O coletivo de artes visuais Fora das Bordas realizou a exposição urbana BH Elegante, em Belo Horizonte, no mês de dezembro de 2013, com totens emoldurando fotografias em diversos pontos de ônibus da cidade.


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MORTIMER, Junia. A possibilidade de afetar na cidade. Projeto BH Elegante do Coletivo Fora das Bordas. Arquiteturismo, São Paulo, ano 06, n. 070.02, Vitruvius, dez. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/06.070/4624>.


De 10 a 25 de dezembro de 2012, o coletivo de artes visuais Fora das Bordas realizou a exposição urbana Bh Elegante, em Belo Horizonte (1). A exposição consiste em 15 imagens espalhadas por 30 totens publicitários de abrigos de ônibus no centro da capital mineira (2). Essas 15 imagens, que misturam retrato e mensagem de cidadãos comuns, são resultado de uma curadoria coletiva dentre as mais de 300 imagens que o Fora das Bordas reuniu em seis sessões fotográficas realizadas em agosto e setembro deste ano em praças e outros espaços públicos do hipercentro (Praça Rui Barbosa, Praça da Liberdade, Praça Sete de Setembro, Praça da Rodoviária, Mercado Novo e Feira de Artesanato da Afonso Pena).

As sessões fotográficas consistiam na instalação de um set provisório de fotografia para realizar os retratos dos cidadãos. Os que se aventuravam diante das lentes recebiam gratuitamente o retrato impresso na hora e eram entrevistados para deixarem uma mensagem, de qualquer natureza, com ou sem destinatário específico. O ponto de partida do coletivo foi a tentativa de desdobrar a ideia de um correio elegante por imagens, utilizando-se de suportes tradicionalmente ocupados pela mídia para divulgação de produtos – os totens publicitários de abrigos de ônibus.

A experiência da rua, a experiência da cidade fez o projeto tomar outras formas. No processo de captura das imagens variaram desde reconsiderações técnicas, como iluminação e enquadramento, ou organizacionais, como distribuição de tarefas, até revisões mais conceituais da proposta do projeto, do que ele se propunha, do que nos propúnhamos, o que cada etapa significava. Ficou quase evidente, arrisco dizer, para todos os que participaram dessas intervenções urbanas para fazer os retratos, que a reação do público transformou – e muito! – a nossa própria relação com o projeto, seus horizontes, suas limitações, seus desafios. Arrisco mais um pouco em dizer que as experiências da rua nos afetaram a todos. Afetaram não no sentido de afetação como fingimento, simulação. Mas sim no sentido de atingir, de fazer movimentar. E também no sentido – e se não existir, inventamos – de produzir afeto. Essas experiências me fizeram produzir, criar, inventar ou resgatar afeto: pelas pessoas, pelos lugares, pela cidade. Hoje, já passado algum tempo desde as sessões fotográficas, a experiência com a rua é outra: agora são as imagens que já estão nas ruas, resultados de um processo longo e tumultuado de elaboração. Vão aparecendo na paisagem e ocupando finalmente os abrigos de ônibus.

O que difere este projeto de um correio elegante tradicional é talvez não garantir a chegada da mensagem a um destinatário único e específico. Mas poder atingir a vários, pela identificação de quem as percebe com algumas situações colocadas, e que reconhecemos atravessar nosso cotidiano: tem o grito político da juventude, que eu endosso, por “ocupar a cidade”, em frente ao Rainha da Sucata, de Éolo Maia e Sylvio de Podestá; do outro lado, tem um pedido de um pai para uma filha que me faz pensar nos delicados fios de relações familiares; na avenida Amazonas, um sorriso largo e vermelho pede perdão ao amado, e do outro lado a senhora, catadora de papel, mistura sua saudade com a voz de um passado musical e dá boas notícias à mãe; no parque uma mensagem de força aos que lutam contra o câncer; na esquina, uma lembrança aos parentes que se distanciaram por preconceito; da janela do ônibus, dá pra ver o ciclista que sugere mais educação no trânsito, e subindo a Brasil damos de cara com um sorriso simpático que declara um amor maduro de 37 anos de convivência. Belo Horizonte de repente é sobreposta por uma malha de fulgurações, de iluminações, mais ou menos como as Passagens de Walter Benjamin – conto com a liberdade do leitor em me permitir aproximações que podem parecer gananciosas, mas que são palpites artísticos não verificados.  O que me faz relembrar as Passagens é pensar que as imagens deste projeto na cidade – como os trechos variado de Benjamin – são pontos de luz sobre o tecido de relações, sejam elas de natureza privada ou pública, afetiva ou política, que compõem o espaço diverso, fragmentado e impressionante de uma cidade. Nesse sentido, não há por parte do coletivo nenhuma tentativa em unificar os discursos dos entrevistados ou dar uma homogeneidade às mensagens: elas são diversas e de diferentes tons, como diversos e diferentes somos os que habitamos a cidade.

Essas fulgurações despertam para a complexidade de relações interpessoais, intergeracionais, interculturais que constituem e que realizam cotidianamente esse espaço que convencionamos chamar cidade. E que não é um substantivo abstrato nem um conceito somente. Mas que são as sobreposições de tempos, espaços, pessoas, ideias, forças: esse espaço de existência nosso.

A linguagem fotográfica que utilizamos, a dos retratos, evidencia a pessoa, uma identidade, e a brevidade das mensagens é um fator importante na comunicação. Isso não só viabiliza identificações – e catarses, como em Aristóteles – mas também oferece um terreno grande à imaginação de quem as percebe nas ruas, à criação de narrativas, misturando pedaços de realidade objetiva e bocados de gentileza poética.

Uma feliz coincidência, a exposição urbana acontece na mesma época em que Belo Horizonte comemora seus 115 anos. Apesar de não intencional ou previamente planejada, acreditamos sim que essa “sincronicidade” nos privilegia: não somente em termos de divulgação do trabalho, mas especialmente porque se trata de uma manifestação artística toda pensada a partir da cidade, a partir dos seus cidadãos, e que agora se volta para essa mesma cidade, para seus cidadãos, para os que por ela passam, por ela ficam. Nela existem. Cidadãos daqui e de alhures. De Porto ou de Montes Claros. O que não deixa de fazer da exposição um presente. Mas um presente – no seu duplo sentido – independente de data. Um presente no presente.

nota

1
O artigo se refere à exposição “BH Elegante – Exposição de rua”, realizada coletivo Fora das Bordas, de 10 a 25 de dezembro de 2012 em 30 pontos de ônibus da região central de Belo Horizonte. Os fotógrafos participantes do coletivo são Antônio Fragoso, Flávio Valle, Junia Mortimer e Priscila Musa. Ver www.foradasbordas.com.

2
Locais dos pontos de ônibus que abrigaram a exposição: 01. Avenida Afonso Pena, n. 367, bairro Centro; 02. Avenida Afonso Pena, n. 540, bairro Centro; 03. Avenida Afonso Pena, n. 749, bairro Centro; 04. Avenida Afonso Pena, n. 1537, bairro Centro; 05. Avenida Afonso Pena, n. 1901, bairro Centro; 06. Rua da Bahia, n. 126, bairro Centro. Praça Rui Barbosa; 07. Avenida dos Andradas, n. 310, bairro Centro; 08. Avenida dos Andradas, n. 640, bairro Centro. Parque Municipal Américo Renné Giannetti; 09. Avenida Amazonas, n. 478, bairro Centro; 10. Avenida Amazonas, n. 527, bairro Centro; 11. Avenida Amazonas, n. 655, bairro Centro; 12. Avenida Amazonas, n. 713, bairro Centro; 13. Avenida Amazonas, n. 860, bairro Centro; 14. Avenida Paraná, n. 336, bairro Centro; 15. Rua São Paulo, n. 642, bairro Centro; 16. Rua Santa Catarina, n. 201, bairro Centro; 17. Rua Tupinambás, n. 214, bairro Centro; 18. Rua Carijós, n. 150, bairro Centro; 19. Rua Tamóios, n. 212, bairro Centro; 20. Rua Curitiba, n. 1264, bairro Centro; 21. Avenida Augusto de Lima, n. 590, bairro Centro; 22. Avenida Augusto de Lima, n. 138, bairro Centro; 23. Avenida Álvares Cabral, n. 594, bairro Centro; 24. Rua Guajajaras, n. 176, bairro Centro; 25. Rua Pernambuco, n. 286, bairro Centro; 26. Avenida João Pinheiro, n. 607, bairro Funcionários; 27. Rua da Bahia, n. 1870, bairro Funcionários; 28. Praça da Liberdade, sem número, bairro Funcionários; 29. Avenida Brasil, n. 2023, bairro Funcionários; 30. Avenida Cristóvão Colombo, n. 650, bairro Funcionários.

sobre a autora

Junia Mortimer é arquiteta, mestre em Artes e Humanidades pelo programa Erasmus Mundus (U. of Sheffield, U. de Perpignan e U. Nova de Lisboa) e doutoranda em História da Arquitetura na UFMG, onde é Professora Substituta de Estética.

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