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architectourism ISSN 1982-9930

Sao Luís do Maranhão. Foto Victor Hugo Mori

abstracts

português
O artigo aborda questões contemporâneas pertinentes ao desenvolvimento da urbe e sua remodelação atual. A realização de projetos assinados por estrangeiros também é destaque, ressaltando a possível perda da identidade arquitetônica local em alguns anos.

english
The article approaches the contemporary issues related to the city development and its renewal. The attainment of projects developed by foreigners is also emphasized, stressing the possible loss of the local architectural identity within some years.

español
El artículo trata de los problemas contemporâneos relacionados con el desarrollo de la ciudad y su renovation. También enfatiza la consecución de los proyectos hechos por los extranjeros, estresando la possible pierda de la identidad arquitectonica local


how to quote

CASTELLO, Leonardo Ferreira. Beirute, o novo parque dos “Star-Architects”. A remodelação da cidade e a perda de identidade arquitetônica. Arquiteturismo, São Paulo, ano 06, n. 071-072.01, Vitruvius, jan. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/06.071/4642>.


Com a proximidade do fim de 2012, a cidade de Beirute passa por dias de incógnita e tensão gerada pelas constantes tranformações da região em função da primavera árabe. Essa tensão que a urbe vivencia não é novidade, sempre existiu, com a cidade desenvolvendo-se associada a incertezas políticas e conflitos de interesse no Oriente Médio.

Alheio a essa ansiedade atual, o mercado imobiliário continua em expansão, com valores cada vez mais exorbitantes e novas construções surgindo em diversos bairros. Infelizmente relíquias da arquitetura local vêem sendo demolidas para dar espaço a novos empreendimentos, um modelo já conhecido mundo afora. A maior transformação acontece no centro da cidade, principal canteiro de obras do período pós-guerra civil e que é motivo de muita polêmica junto a sociedade. Apesar de ter sido uma zona altamente bombardeada, especula-se que a empresa a cargo do projeto – Solidere, antes uma empresa pública e agora privada – colocou abaixo cerca de oitenta e cinco por cento dos edifícios, muitos sendo prédios importantes ou sítios arqueológicos que faziam parte do patrimônio otomano da região.

O fato curioso é que Beirute, vítima da política aleatória de seu planejamento urbano que vem descaracterizando diversas partes da cidade, vítima também dos anos de guerra civil aonde muitas construções vieram abaixo e outras ainda hoje seguem como esqueletos; a cidade é agora vítima dos Star-Architects e outros famosos. Alguns projetos começam a serem inaugurados ou tomam forma, entrando para a identidade da urbe com assinaturas de alguns dos profissionais mais renomados mundialmente.

Place de l’Etoile, Downtown Beirut
foto Leonardo Castello


Sobreviventes e esqueletos

A cidade perde seu charme a cada dia e descaracteriza-se com o descuido dos arquitetos que projetam por aqui. A atuação dos estrangeiros é constantemente polêmica devido a falta de indentidade dos projetos, independentemente de avanços arquitetônicos que os mesmos propõem. É sempre difícil julgar, pois devido ao mundo globalizado de hoje, profissionais de diversos países têem quase que livre acesso para atuar em qualquer mercado. Entretanto, em Beirute, a presença de muitos destes estrangeiros foi imposta pela empresa Solidere, que é responsável pelo planejamento da reestruturação do centro da cidade. Por ter adquirido praticamente todos os lotes desta área, a empresa impõe aos inquilinos uma lista de arquitetos libaneses e estrangeiros a serem selecionados.

Beirut Souks, Rafael Moneo
foto Leonardo Castello

Beirute mantém amostra os resquícios da guerra civil, prédios atacados e bombardeados se mesclam com as transformações urbanas e entram em sintonia com o entorno. A arquitetura mantém viva a memória da guerra e do patrimônio urbano, porém a tendência é a sua diluição em benefício de uma ”nova” arquitetura. Algumas relíquias resistem apesar do apetite faminto das imobiliárias, que por meio de manobras políticas, alteração de regulamentações e brigas judiciais restringem e dificultam as reformas de algumas construções, tais como os hotéis Saint George e Holiday Inn. Outro caso é o do antigo cinema, também conhecido como ”The Egg”, que com sua forma ovalada em concreto armado, ainda se mantém como uma referência do modernismo local desde sua inauguração em 1968, todavia a sua preservação é incerta.

Os projetos

Hoje em dia a maioria dos projetos de grande expressão concentra-se num raio de um quilômetro a partir do centro da cidade, muitos destes envolvendo “Star-architects”. Entretanto a atuação de arquitetos estrangeiros renomados no Líbano vem de longa data. Alguns dos pioneiros foram Alvar Aalto e Alfred Roth com o projeto para o Centre Sabbagh, em 1966. O empreendimento continua em pleno funcionamento e suas fachadas permanecem contemporâneas em meio a uma diversidade de estilos ao redor. Em meados da década de oitenta ficou pronto o Centre Sofil, fruto da parceria entre os americanos do Skidmore Owings & Merrill com o libânes Pierre Neema. Este conjunto se mantém atemporal e destaca-se por suas fachadas corridas e seus terraços jardins extensos e escalados, uma prova que a arquitetura moderna esboçava um pouco de sustentabilidade. O empreendimento serviu de referência a muitos outros projetos, tanto pela tipologia quanto pela linguagem. Até Oscar Niemeyer esteve aqui perto, com o projeto da feira internacional Rashid Karami, na cidade de Tripoli, infelizmente inacabado devido a guerra civil.

Tapume do Plus Towers, Arquitectonica
foto Leonardo Castello

A partir do novo plano diretor da Solidere para o centro, um dos primeiros projetos a ser concluído após a guerra foi a torre Marina Towers, em 2008, projeto de Kohn Pedersen Fox Associates. O projeto fica de frente para o mar e é a principal referência do skyline de Beirute – o segundo mais alto do país. É um projeto contemporâneo e arrojado, ilustrando bem o recorte pré e pós-guerra civil, aonde a arquitetura passou a ser mais internacional em aparência e programa também. Logo ao pés da torre foi construída a baía de Zeitouna, desenvolvida por Steven Holl em parceria com o libanês Nabil Gholam. Eles projetaram restaurantes e lojas ao longo do passeio da marina e a nova sede do Beirut Yacht Club. A partir da rua, plataformas com jardins e espelhos d´água escondem o burburinho e servem de mirante para as docas dos barcos, criando níveis articulados e diversos acessos com rampas e escadas a marina, que ao fim se estendem formando a cobertura-jardim do yacht club. Nabil Gholam também se associou como parceiro local ao espanhol Ricardo Bofill na concepção da Platinium Tower, hoje o prédio mais alto do país e que se situa na faixa que cerca a baía de frente ao mediterrâneo. É um prédio rígido e monótono para a enseada e que ilustra a falta de identididade em alguns projetos contemporâneos.

Logo ao sul da marina e num segundo grupo de lotes, Herzog & De Meuron e Norman Foster têem seus empreendimentos residenciais lado a lado e em fase inicial de construção, chamados de “Beirut Terraces" e “3 Beirut” respectivamente. O desafio do “Beirut Terraces” é conseguir materializar a proposta de residências cercadas por jardins suspensos, apartamentos arejados e boa utilização dos estimados seis metros de varandas. Já o projeto de Foster – que não poderia faltar – nasce com a expectativa de um projeto inteiramente verde na cidade, e com grande atenção ao piso térreo, propondo uma integração de rotas e a livre circulação de pedestres.

The Beirut Gardens em construção, Arata Isosaki
foto Leonardo Castello

Uma das atrações da cidade hoje são os Souks – tradicional bazaar – que foram revitalizados e chamam atenção devido a seus diversos blocos, lojas de grife e projeto arrojado de profissionais como Rafael Moneo e Kevin Dash. O projeto tem uma essência completamente diferente dos tradicionais bazares orientais ou árabes, sendo um shopping mall de luxo parte a céu aberto e com um certo requinte de acabamentos, porém sem a vivacidade, complexidade e mistura de cores, texturas e aromas que caracterizam tais locais. Alguns novos blocos ainda estão em estudo e incluem profissionais como Richard Rogers e Zaha Hadid. Ao redor dos Souks encontram-se mais dois projetos com pedigree. Ao sul o “The Landmark” leva a assinatura de Jean Nouvel para um complexo multiuso e uma torre. Já a leste Arata Isosaki criou um prédio residencial com fachada no estilo origami.

Situada em um terreno de frente para o mediterrâneo, a Universidade Americana de Beirute deixou de lado sua identidade clássica para apostar em intervenções contemporâneas. Os primeiros reflexos foram no complexo esportivo do escritório VJAA, pronto em 2008, e na escola de negócios Olayan, projetada por Machado & Silvetti, pronta em 2009. Os dois são exemplos de novos edificios que se mantiveram dentro do contexto da universidade. Porém, a maior polêmica gira em torno do Instituto Issam Fares, projeto de Zaha Hadid que está em fase final. O prédio traz o arrojo e linhas peculiares aos projetos de Zaha, porém provoca uma assintonia com o entorno do campus.

O 486 Mina El Hosn talvez seja uma das propostas mais audaciosas e criativas. A proposta da LAN inclui uma torre principal com partes de suas fachadas refletindo especificamente certos monumentos, apresentando uma recostituição visual da cidade.

Os projetos continuarão brotando e novos arquitetos sendo importados, daqui a alguns anos Beirute saberá se conseguiu implantar um modelo de sucesso como Barcelona – que mesclou bem a preservação do patrimonio com intervenções pontuais de profissionais estrangeiros –, ou se seguirá como mais uma cidade repleta de estrelas como Dubai e Xangai, ficando sem identidade e descaracterizada pelos excessos.

Mina El Hosn, proposta, LAN Architecture [acervo LAN Architecture]

sobre o autor

Leonardo Castello é arquiteto e urbanista graduado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro (2002). Também foi docente da mesma instituição entre 2006 e 2007 na qual lecionou a disciplina “Projeto de Arquitetura”. Ao final do ano 2000 teve sua primeira experiência de trabalho fora do país ao residir e trabalhar na cidade de Barcelona, Espanha. A partir daí começou a focar sua carreira fora do Brasil, o que o levou a China em 2005, aonde passou um ano trabalhando em diversos projetos de média e larga escala, em sua maioria complexos residenciais, comerciais e de uso misto. Atualmente reside na cidade de Beirute, Líbano, aonde trabalha para a empresa Dar Al-Handasah Shair and Partners, uma consultoria multinacional de planejamento, design e implementação de projetos e que possui destaque internacional com sua atuação no Oriente Médio, África e Ásia desde 1956.

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