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architectourism ISSN 1982-9930

Vale do Anhangabaú, São Paulo. Foto Victor Hugo Mori

abstracts

português
A autora descreve a cidade oitocentista da imigração italiana no Espírito Santo e enfoca seus imóveis de interesse histórico.

english
The author describes the nineteenth century city of the Italian immigration in the state of Espírito Santo and focuses on its buildings of historical interest.


how to quote

LORDELLO, Eliane. Santa Teresa, Espírito Santo. Um convite ao passeio. Arquiteturismo, São Paulo, ano 07, n. 082.01, Vitruvius, dez. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/07.082/5001>.


Praça Augusto Ruschi, vendo, ao fundo, a Escola Santa Catarina, Santa Teresa ES
Foto Eliane Lordello

Santa Teresa é um município da região centro-oeste do Espírito Santo. Junto com São Roque do Canaã, Itaguaçu, Itarana, Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina, Santa Teresa compõe a região dos imigrantes no mapa turístico do Espírito Santo. Este texto é um convite a conhecer essa bela cidadezinha do interior do Espírito Santo.

A cidade é pequena, circundada de farta vegetação, e tem na Praça Augusto Ruschi o seu núcleo paisagístico de lazer. Em torno da praça estão dois belos colégios locais: a EMEI Pessanha Póvoa, antigo grupo escolar fundado em 1929, e a Escola Santa Catarina, fundada em 1946.

Recuperando o histórico da fundação da cidade, Maria Izabel Perini Muniz (1), citando Renato Pacheco, rememora que “um caminho, entre o Porto de Cachoeiro de Santa Leopoldina em direção a Minas, atravessando o rio Timbuy” (2) facilitou a implantação de um povoado de italianos que viria a se tornar a atual cidade de Santa Teresa. Conforme a mesma autora, a abertura desse caminho fora iniciada em 1848, pelo Presidente da Província, Antônio Pereira Pinto. O nome Santa Teresa, complementa Muniz, foi dado em homenagem à Imperatriz Tereza Cristina.

Muniz prossegue por afirmar que “muitos colonos italianos que receberam terras pouco férteis junto ao núcleo de Timbuy abandonaram seus lotes e estabeleceram-se em terras devolutas no vale do rio Santa Maria do Rio Doce e do rio Santa Joana.” Segundo a autora, “esses italianos, e os que chegaram nos anos seguintes, povoaram o Vale do Canaã e outros pequenos vales, como o dos Espanhóis, o Valsugana, o Tabocas e o de São Sebastião do Rio Perdido” (3).

Vale do Canaã, Santa Teresa ES
Foto Eliane Lordello

Os primeiros italianos a se fixarem junto ao rio Timbuy, que ampliaram a ocupação da zona de colonização antiga e contribuíram para a formação do atual município de Santa Teresa foram os advindos da colônia Nova Trento. A colônia Nova Trento foi um empreendimento malsucedido Piero Tabacchi. Os italianos que vieram para essa colônia foram os da Expedição Tabacchi, de 1874 – os primeiros italianos que vieram para o Espírito Santo em grupo (4).

A vida dos colonos europeus em Santa Teresa inspirou livros como o Canaã, ambientado no vale de mesmo nome, do escritor modernista Graça Aranha. Páginas desse livro foram reproduzidas no belvedere do Vale do Canaã, na atual cidade de Santa Teresa. Mais especificamente voltada para a primeira leva de imigração italiana em Santa Teresa é a obra Karina, de Virgínia Tamanini.

Santa Teresa promove a Festa do Imigrante Italiano, em junho, quando a cidade se enfeita com as cores da bandeira da Itália. Nessa época, é comum ver nas janelas da cidade cortinas com as cores da bandeira italiana e bonecos vestidos com roupas de danças típicas do folclore italiano.

Casa enfeitada para a festa do Imigrante Italiano, Santa Teresa ES
Foto Eliane Lordello

Santa Teresa tem três imóveis tombados pelo Conselho Estadual de Cultura do Espírito Santo. São eles: a residência de Virgílio Lambert, na Rua São Lourenço, nº 578, tombada pela Resolução nº 07/1985; a Capela de Nossa Senhora da Conceição, Rua São Lourenço, s/n, tombada pela Resolução nº 07/1985; a residência Augusto Ruschi, na Avenida Jerônimo Monteiro, nº 115, Centro, tombada pela Resolução nº 09/1990.

A residência de Virgílio Lambert foi projetada e construída em 1875 (5), sendo uma das primeiras casas construídas na região. Nascido em 1836, Virgílio Lambert chegou ao Espírito Santo em 1875, no navio Rivadávia, com o irmão Antonio e a filha Ermínia. Como relembra Renata Hermanny (6), enquanto Virgílio, com sua forte personalidade foi definido como o líder intelectual dos colonos, Antonio, pintor e escultor, que frequentara cursos na Academia de Belas Artes de Veneza, era o artista. Foi Antonio que projetou a casa do irmão, construída na técnica de taipa, hoje um museu da cidade.

Casa Lambert, Santa Teresa ES
Foto Eliane Lordello

Localizada defronte à Casa Lambert, a Capela de Nossa Senhora da Conceição foi traçada e construída em 1899, por Antonio Lambert (7). Suas paredes, de cinquenta centímetros de espessura, são em alvenaria de pedra e barro. O altar é de madeira e o teto abobadado e pintado com motivos religiosos. Segundo Hermanny, a imagem de Nossa Senhora ali presente, feita em 1896, foi esculpida a quatro mãos pelos irmãos Antonio e Virgílio Lambert.

Casa Lambert e Capela de Nossa Senhora da Conceição (à esquerda), Santa Teresa ES
Foto Eliane Lordello

Capela de Nossa Senhora da Conceição, Santa Teresa ES
Foto Eliane Lordello

A residência Augusto Ruschi é um imóvel onde residiu o naturalista Augusto Ruschi. Segundo Hermanny, a edificação foi construída em 1876 pelo imigrante Antônio Roatti, avô materno do naturalista. Sendo uma das primeiras casas construídas na localidade, é também um dos últimos remanescentes de edificações construídas pelos imigrantes italianos em Santa Teresa. A cidade tem também o museu Casa Augusto Ruschi, que fica na Rua Coronel Avancini, 51.

Residência Augusto Ruschi, Santa Teresa ES
Foto Eliane Lordello

Inspiradora da história e da literatura, patente na gastronomia, nos costumes e práticas locais, o legado da imigração italiana ainda se faz presente na arquitetura do campo e da cidade de Santa Teresa. A seguir, são destacados alguns exemplares da arquitetura de interesse histórico da cidade, inclusive os que revelam o influxo da imigração italiana.

A primeira edificação enfocada fica na Rua Coronel Bonfim Junior, também chamada de Rua de Lazer, nº 209. Construção residencial, ladeada por jardim, essa casa apresenta características da transformação havida na implantação dos edifícios nos lotes, que se liga aos esforços de libertação das construções dos limites do terreno. Essa solução consiste na manutenção da fachada frontal na testada do lote, recuando o edifício em relação a um dos lados do terreno (8). Tal transformação se opera sob influência do Ecletismo e “com o apoio dos hábitos diferenciados das massas imigradas” (9), durante a segunda metade do século 19. Eis o porquê de ser tão significativa essa residência, em tudo singela em suas feições ecléticas. Sua composição plástica repercute ainda as características do Ecletismo. Entre elas, destacam-se os adornos que contornam os vãos das janelas na fachada frontal, os goivetes nas paredes da fachada, lembrando a chamada cantaria de alvenaria, a cimalha bem marcada, a platibanda decorada de ocultação do telhado. A cobertura é em telhas cerâmicas do tipo francesa.

Residência na Rua Coronel Bonfim Junior, n. 209, Santa Teresa ES
Foto Eliane Lordello

Outra edificação relevante na arquitetura de interesse histórico da cidade é a casa da Rua Coronel Bonfim, nº 88. Imóvel residencial, essa construção se insere na tipologia de chalé. Tal tipologia foi introduzida no Brasil graças à importação de novas técnicas e materiais, facilitada pelas novas linhas de navegação e instalação das ferrovias, durante a segunda metade do século 19. A propósito dessa influência do transporte ferroviário na difusão de uma nova maneira de construir, Reis Filho escreve: “Novas soluções arquitetônicas e construtivas eram assim difundidas pelo interior, influindo sob vários aspectos na arquitetura. Como uma consequência dessas transformações deve ser reconhecido o chalé” (10).

A caracterizar o chalé, conforme Reis Filho, estão as empenas voltadas para o lado menor da construção, e as águas voltadas para a maior extensão, o uso de beirais, o uso da madeira em forros, portas e janelas, e também no arremate do telhado com lambrequins, peças de madeira recortada. O chalé da Rua Coronel Bonfim, nº 88, apresenta todas as características antes descritas com Reis Filho. Sua fachada frontal é organizada de modo simétrico, com duas portas e duas janelas no térreo, e uma janela central no sótão, sendo todas essas esquadrias em madeira. As portas apresentam bandeira fixa de vidro, dividido em três partes, e duas folhas de madeira almofadada. As janelas do térreo apresentam a mesma bandeira fixa das portas, e duas folhas de vidro e veneziana de madeira. A janela do sótão difere em desenho das demais, sendo em arco pleno, com bandeira fixa de madeira, e duas folhas de vidro e veneziana de madeira. A janela do sótão está no centro do frontão triangular, marcado por um triângulo interno em frisos pintados. Dividindo a fachada entre térreo e sótão há uma cimalha decorada com três retângulos em frisos pintados. Cobertura em telhas onduladas de fibrocimento.

Chalé na Rua Coronel Bonfim n. 88, Santa Teresa, ES
Foto Eliane Lordello

Por fim, destaca-se um imóvel que repercute influências da arquitetura produzida em Santa Teresa pelos imigrantes italianos. Trata-se de uma edificação na Rua Coronel Bonfim Junior, nº 47. A construção apresenta composição diferenciada entre os dois pavimentos. O térreo é marcado por três aberturas de porta em arco abatido, com molduras em ressalto de alvenaria, bandeira fixa em serralheria, duas folhas de madeira. Uma dessas portas é guarnecida por guarda-corpo entalado em madeira recortada.

O pavimento superior apresenta duas janelas retangulares, de vidro e veneziana de madeira, com marcos de madeira aparente. A separar as duas janelas, no centro da fachada, esse pavimento tem uma porta com bandeira fixa de vidro, duas folhas de madeira, e marcos aparentes de madeira. Essa porta se abre para um pequeno balcão de madeira, guarnecido por guarda-corpo de madeira recortada.

Esse balcão repercute o influxo da arquitetura do norte da Itália, região de origem dos italianos imigrados para Santa Teresa no século 19, assim lembradas por Muniz: “Nos beirais da cobertura de alguns exemplos, e, sobretudo, nos gradis dos balcões, a madeira trabalhada em cortes e recortes marcava as lembranças da terra de origem, o que o imigrante desejava conservar” (11).

Imóvel na Rua Coronel Bonfim Junior, n. 47
Foto Eliane Lordello

Além de a cidade por si mesma ser interessante, os arredores de Santa Teresa revelam gratas surpresas, pelo que passa-se a abordá-los de agora em diante. Bem próximo da cidade, está o Vale do Caravaggio, onde fica a igrejinha de mesmo nome, em cujo jardim encontram-se placas com os nomes dos primeiros imigrantes italianos.

Vale do Caravaggio, Santa Teresa ES
Foto Eliane Lordello

A cinco minutos do centro do município, está o Country Club de Santa Teresa, com sua deslumbrante cachoeira. O município tem comunidades rurais muito bonitas, como Aparecidinha, a somente dez minutos do centro da cidade e Alto Santo Antonio, acessível pela linda estrada para Nova Lombardia. No percurso para Nova Lombardia, aliás, passa-se pelas belas reservas biológicas ligadas ao naturalista Augusto Ruschi.

Paisagem em Aparecidinha, Santa Teresa ES
Foto Eliane Lordello

Área residencial da Reserva Biológica Augusto Ruschi. Estrada para Nova Lombardia, Santa Teresa ES
Foto Eliane Lordello

Santa Teresa é acessível a partir de Vitória pela BR 101, derivando para a estrada estadual na altura do município de Fundão. É também acessível a partir de Santa Leopoldina, pela Estrada Bernardino Monteiro. Aberta em 1919, a Estrada Bernardino Monteiro desvela, em seu percurso, cachoeiras, cascatas, o Rio da Prata, muitos sítios, lindas paisagens.

Cachoeira na Estrada Bernardino Monteiro, Santa Teresa ES
Foto Eliane Lordello

Santa Teresa tem clima frio, boa e diversificada gastronomia, e eventos musicais. Anualmente, em maio, a cidade sedia um festival de Jazz e Bossa, confirmando sua vocação musical, tão bem antecipada nas páginas do livro Canãa, de Graça Aranha.

Assim é Santa Teresa, literária, musical, gastronômica, receptiva. Na sua próxima viagem ao Espírito Santo, não deixe de conhecê-la.

notas

1
MUNIZ, Maria Izabel Perini. Cultura e Arquitetura: a casa rural do imigrante italiano no Espírito Santo. Vitória: EDUFES, 1997.

2
Idem, ibidem, p. 49.

3
Idem, ibidem, p. 49-50.

4
Idem, ibidem, p. 62-63.

5
HERMANNY, Renata. In: SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA. Patrimônio cultural do Espírito Santo: arquitetura. Vitória: SECULT, 2009.

6
Idem, ibidem.

7
Idem, ibidem.

8
Cf. REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo, Perspectiva, 2004.

9
Idem, ibidem, p. 44.

10
Idem, ibidem, nota vi, p. 156-157.

11
MUNIZ, Maria Izabel Perini. Op. cit., nota i.

sobre a autora

Eliane Lordello é doutora em Desenvolvimento Urbano na área de Conservação Integrada (UFPE, 2008), e atua como arquiteta na Gerência de Memória e Patrimônio da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo.

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