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architectourism ISSN 1982-9930

Valletta, Malta. Foto Silvana Romano Santos

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A exposição Ibirapuera: modernidades sobrepostas– traz desenhos, fotos e modelos tridimensionais que apresentam as comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo e o significado histórico da construção do Parque Ibirapuera.


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CAMARGO, Mônica Junqueira de. Muito além do Ibirapuera. Exposição revela a origem do projeto maior de Niemeyer em São Paulo. Arquiteturismo, São Paulo, ano 08, n. 091.02, Vitruvius, out. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/08.091/5306>.


“um poeta hoje sábio, que já sabe o que não sabemos, após dez anos de sua partida da terra onde estamos morando provisoriamente, sem a dúvida que mata os homens desta nossa triste Paulicéia, que hoje não é mais desvairada, mas sim avoada, cheia de arranhacéus, de viadutos, de dois para três milhões de habitantes que brotaram não sei de onde. [...] Depois que você partiu inventaram o Ibirapuera, o Parque das exposições, uma verdadeira festa de coisas que se podem mostrar para os outros” Carta póstuma de Anita  Malfatti a Mario de Andrade (1).

A exposição Ibirapuera: modernidades sobrepostas (2) traz a público pela primeira vez importante documentação sobre a história da cidade de São Paulo e do Parque Ibirapuera em particular. Desenhos, fotos e modelos tridimensionais, sob a cuidadosa curadoria dos arquitetos e professores Ana Barone e Rodrigo Queiroz, revelam parte da imbricada trama à qual esse fantástico conjunto arquitetônico se integra – as comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo –, permitindo a recuperação do significado histórico da construção desse equipamento e da sua relação com a cidade.

Projetado e construído nos anos de 1950, um período rico de transformações para a sociedade e a cidade paulistana. Sob a expectativa nacional de se colocar o Brasil a par das grandes potências, o evento do IV Centenário da fundação da Cidade de São Paulo se apresentava como um oportuno pretexto para a consolidação da hegemonia do seu Estado no panorama nacional e para a maior integração nas relações internacionais. Tratava-se de uma investida estratégica para a modernização do estado, de base industrial, que deveria afirmar as potencialidades das suas forças produtivas, e principalmente promover sua diversificação.

O crescimento era o fenômeno mais impressionante da vida urbana. Ainda que desordenado e de futuro imprevisível, havia um consenso de que era a chave para o progresso. Mesmo com o agravamento dos problemas na exata proporção da expansão urbana, acreditava-se que, com tempo e esforço, esses seriam revertidos. Orgulho para uns e desafio para outros – a cidade que mais cresce no mundo – pareceria ser a condição inexorável a nos equiparar às grandes potências, que não deveria ser reprimida, pelo contrário estimulada, como deixou claro Sergio Milliet:

“O progresso torna-se então vertiginoso, e São Paulo metrópole arrebenta os laços de seu colete urbano. Municípios vizinhos se agregam à massa enorme da cidade, povoam-se os vales, canalizam-se rios e ribeirões, constroem-se viadutos, abrem-se avenidas em todos os sentidos e as novas plantas apresentam um aspecto de imensa aranha de pernas estendidas em numerosas direções. (...) Sua milagrosa curva ascensional, de que com razão tanto se orgulha, distancia-se demasiado das curvas de desenvolvimento das soluções administrativas. Nem puderam segui-la as remodelações urbanísticas, nem a acompanharam os serviços públicos. Mas a sua adolescência truculenta não se arrefecia do futuro. Há mil e um obstáculos a se vencerem, não serão porém empecilhos que se não se afastem com tenacidade e trabalho” (3).

O espetáculo do IV Centenário deveria ser, nesse contexto, uma eufórica manifestação do progresso e da modernidade, que deveria celebrar, antes, o futuro, que se vislumbrava rico e grandioso, e amenizar o passado, que remetia a tempos difíceis de uma sobrevivência tosca e provinciana, que, felizmente, havia ficado para trás. No setor Metrópole em expansão (1926-1954), os documentos selecionados por Barone ilustram as condições e os desafios metropolitanos frente às conquistas da arquitetura.

A comemoração do  IV Centenário foi um empreendimento de quase uma década, cuja magnitude faria inveja aos grandes eventos esportivos do século 21. A autarquia criada especialmente para a organização e realização do evento, sob a presidência de Francisco Matarazzo Sobrinho – Ciccilo – que acumulava a direção do MAM e a presidência da Fundação Bienal de São Paulo, tinha escritórios de representação no Rio de Janeiro, Washington e Paris para o contato com os possíveis participantes da exposição industrial e das inúmeras atividades artístico-culturais programadas.

Apesar do substancial corte das verbas previstas com a mudança de governo, ainda assim foram realizados sob os auspícios da Comissão dezenas de concursos artísticos; centenas de congressos científicos, entre os quais o de arquitetos, que contou com a participação de Walter Gropius, Alvar Aalto, Jose Luis Sert e Ernest Nathan Rogers; os Festivais Internacionais de Cinema e de Teatro; a II Bienal Internacional de Artes Plásticas, com mais de cem obras expostas, entre elas Guernica, de Picasso; uma exposição internacional de arquitetura e uma retrospectiva da arquitetura brasileira organizada por Lucio Costa e Alcides da Rocha Miranda.

Foram muitos os projetos subsidiados: centro para a feira internacional; auditórios para os congressos; teatros para os espetáculos culturais; ginásios para as atividades esportivas; hotéis para a hospedagem dos visitantes e uma certa maquiagem para a cidade, de modo a lhe garantir uma aparência condigna à grandiosidade do evento. Entretanto, o maior investimento foi o complexo urbanístico do  Parque Ibirapuera  que abrigaria as exposições: industrial, histórica e de artes plásticas e deveria constituir um marco da modernidade e do progresso do Estado de São Paulo. Uma proposta arquitetônica digna da ousadia com que se planejava o futuro da capital paulista.

Dentre as várias hipóteses levantadas para a localização do parque de exposições – bairro da Casa Verde, Interlagos, campus da cidade universitária no Butantã – optou-se pela área que compreenderia ao Parque Ibirapuera, dada sua privilegiada localização: a menos de dez minutos da área central, nas proximidades do Jardim América, um nobre bairro residencial. O terreno, remanescente de uma antiga área rural, com mais de três milhões de metros quadrados abrigava àquela época um viveiro público de plantas para cultivo, pesquisa e divulgação dos conhecimentos técnicos da natureza, chegando a ter 100.000 mudas de essências, e a partir de 1938 passou a se chamar Viveiro Manequinho Lopes. Frente à divergência de alguns estudos elaborados, que suscitaram o debate na imprensa e provocaram um pioneiro manifesto ecológico, por parte da associação Campanha de Proteção à Natureza, que reivindicava a área para um grande parque público, com o máximo de preservação da área verde e com o mínimo de construções, essas propostas inicias foram descartadas e contratou-se Oscar Niemeyer – o arquiteto brasileiro compatível com a grandeza do evento, já reconhecido internacionalmente, com obras de grande peso político, que saberia dar ao conjunto a devida dimensão, conforme a apresentação do anteprojeto:

“A comissão organizadora do IV Centenário de São Paulo encontra, portanto, nesse conjunto arquitetônico a indicação perfeita e adequada, a linguagem ideal para transmitir a quantos quiserem saber, a importância e o grau de desenvolvimento técnico e industrial do grande Estado, através de quatro séculos de existência” (4).

Coordenando uma numerosa equipe de arquitetos – Eduardo Kneese de Mello, Hélio Uchoa Cavalcanti, Zenon Lotufo e os colaboradores Carlos Lemos e Gaus Estelita – Niemeyer aproximou-se do meio arquitetônico paulista, tendo construído o maior número de obras nesta capital, que o levou a ter um escritório na cidade. A exposição do projeto nas duas suas versões permite ao observador acompanhar o processo de criação de Niemeyer, no qual se verifica, como muito bem apontou Queiroz, "a progressiva simplificação da linha", quando "a gestualidade excessiva dá lugar a um movimento lento e contínuo, caracterizado pela relação de precisa concordância entre curva e reta" (5).

O Parque Ibirapuera consolidou-se com o passar dos anos em um dos marcos mais populares da cidade de São Paulo que, mesmo tendo sido objeto de algumas investigações científicas, ainda estava por merecer uma análise mais abrangente da sua história, à altura de sua importância para a cultura paulistana, que a exposição Ibirapuera: modernidades sobrepostas soube resgatar com maestria.

notas

1
MALFATTI, Anita. Caminho do Céu – Estrada da Saudade. In: ANDRADE, Mário. Cartas a Anita Malfatti. Org. Maria Rossetti Batista. Rio de janeiro, Forense Universitária, 1989, p. 38.

2
Exposição Ibirapuera: modernidades sobrepostas, Oca, Parque Ibirapuera, São Paulo, curadoria de Ana Barone e Rodrigo Queiroz, de 30 de agosto a 01 de fevereiro de 2015.

3
MILLIET, Sérgio. Plantas da Cidade. In COMISSÃO DO IV CENTENÁRIO. São Paulo Antigo. Plantas da Cidade. São Paulo: Comissão do IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo, 1954.

4
CARDOZO, Joaquim. Anteprojeto Parque Ibirapuera. Documento não publicado, 1952.

5
QUEIROZ, Rodrigo.  O conjunto arquitetônico do Parque Ibirapuera: a dimensão urbana da forma moderna. São Paulo, Exposição Ibirapuera: Modernidades Sobrepostas, 2014.

sobre a autora

Mônica Junqueira de Camargo, arquiteta, professora-doutora da FAU/USP.

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