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architectourism ISSN 1982-9930

Paraty. Foto Abilio Guerra

abstracts

português
Uma ilha socialista incrustada na América, com a misteriosa fama de “A Esfinge do Caribe”, Cuba é detentora de uma história fascinante, uma cultura rica e um povo acolhedor. Apenas recentemente o país vem sendo alvo, porém, das atenções do mundo.

english
Owner of a fascinating history, rich culture and friendly people, just recently Cuba has attracted, however, the attention of the world. A socialist island, with its peculiar way of being, which earns him the mysterious reputation as The Caribbean Sphinx.

español
Una isla socialista en América, con la misteriosa reputación como “La Esfinge del Caribe”, Cuba es dueña de una historia fascinante, rica cultura y gente amable. Hace poco, Cuba ha sido el objetivo, sin embargo, de la atención del mundo.


how to quote

REIS, Patrícia Orfila Barros dos; DARIN, Thiago Henrique. Cuba, a esfinge do Caribe. Arquiteturismo, São Paulo, ano 09, n. 100.01, Vitruvius, jul. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/09.100/5615>.


Em seu livro seminal de poemas, Alguma poesia, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade dizia que era preciso escrever algo sobre a Bahia, mas que nunca tinha lá estado. Se essa premissa for verdadeira, o que dizer então de um lugar em que já se esteve? Revisitá-lo com a ponta da pena seria, mais do que uma opção, um dever? E quando se trata de uma geografia peculiar, um povo exótico, uma cultura rica e única?

Plaza de la Revolución, Havana, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

Hotel Nacional, Havana, janeiro 2015
Foto: Thiago Darin

Sim, é preciso escrever algo sobre Cuba... E aí reside um novo problema! Será possível, imerso numa experiência diferente e sob uma ótica "estrangeira", proclamar isenção sobre uma realidade até há pouco intocada, quase que cultivada em cativeiro? O que se poderá dizer, de forma imparcial, de um sistema e de um modo de vida que nos são completamente estranhos? É necessário, ou mesmo possível, despir-se de qualquer abordagem ideológica, em suma?

O que leva à primeira – e talvez única – conclusão deste texto: as seguintes palavras são tão-somente "verdades" de viajantes, nascidos e criados num país capitalista, de contradições econômicas e extremas desigualdades sociais. A visita à ilha caribenha acorreu após período de eleições presidenciais no Brasil, momento em que suscetibilidades estavam feridas e tendências ideológicas polarizadas se acirraram e um dos lados redarguia em revolta um “então vai pra Cuba!”.

Fortaleza de São Carlos, Havana, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

Plaza Vieja, Havana, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

À primeira vista Havana parece ser pacata, muito diferente datumultuada cidade que recebeu, no dia 8 de janeiro de 1959, a triunfante Caravana da Liberdade comandada pelos irmãos Raúl e Fidel Castro, Camilo Cienfuegos, Che Guevara, Célia Sanchez e Hubert Matos.

A chegada ao Aeroporto José Martí teve um sabor especial, degustado por olhos ávidos que anotavam na retina passo-a-passo do sobrevoo às águas caribenhas ao pouso tranquilo em terras cubanas. No caminho até o famoso, e kitsch, Hotel Deauville, antigo reduto da máfia dos jogos de Havana, são incontáveis os outdoors da propaganda revolucionária do regime castrista, segue imponente a Plaza de la Revolución, vigiada pelas silhuetas de Ernesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos nos edifícios governamentais, duas arestas do triângulo revolucionário de Cuba. Tudo sob o olhar atento e desconfiado dos bustos do prócer José Martí, presentes em quase todas as repartições públicas.

Habana Vieja, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

Habana Vieja, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

A brisa caribenha do Malecón é uma recepção e tanto, palco dos principais eventos da vida política cubana nas últimas décadas, com direito à vista do Hotel Nacional e da Fortaleza de San Carlos de la Cabaña, onde acontece o célebre cañonazo das 9 horas da noite, evento histórico em que o barulho do canhão avisava a sonolenta cidade de San Cristóbal de La Habana, em meados do século 18, da necessidade de fechar os portões da cidadela.

A culinária é uma curiosidade à parte, um dos pratos principais oferecidos ao turista – mas pouco presente nos dos cubanos – amiúde fazia companhia nos cardápios às carnes de frango e porco, ao popular moros y cristianos (muito similar ao Baião de Dois daqui), e a outras delícias da cozinha nativa. Há um constrangedor apartheid, porém, entre os lugares frequentados por turistas, cuja moeda de troca é o Peso Conversível (CUC), e pelo cidadão cubano, que recebe em moeda nativa o equivalente a 30 dólares por mês e está restrito a consumir em estabelecimentos bem inferiores aos dos turistas.

Plaza de la Catedral de San Cristobal de La Habana, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

Entrada do Cemitério Cristóvão Colombo, Havana, janeiro 2015
Foto Thiago Darin

Habana Vieja ostenta um conjunto arquitetônico eclético composto por prédios nos estilos barroco, neoclássico, art déco, art nouveau e modernista, que, apesar dos evidentes problemas de manutenção e das dificuldades impostas às ações de restauração e conservação realizadas pela Oficina del Historiador de la Ciudad, consegue guardar a mesma elegância dos seus automóveis históricos. O respeito pelo gabarito, a diversidade de estilos e a pátina do tempo conferem à arquitetura cubana o signo de relíquia, características que se estendem à belíssima necrópole havanesa da segunda metade do século 19, o Cemitério Cristóvão Colombo.

Interior do Cemitério Cristóvão Colombo, Havana, janeiro 2015
Foto Thiago Darin

Interior do Cemitério Cristóvão Colombo, Havana, janeiro 2015
Foto Thiago Darin

Havana é uma cidade encantadora e misteriosa. Seus automóveis charmosos, que desafiam o tempo, conferem um ar retrô e até garboso à velha paisagem. Entre a caravana de carros norte-americanos do período pré-revolucionário e soviéticos do período castrista, irrompem novos modelos e os já famosos cocotáxis, a atração entre os turistas. A figura mitológica de Che Guevara geralmente atrai o turista a Santa Clara, onde está o mausoléu que guarda os restos mortais do guerrilheiro heroico e seus seguidores, mas é possível conciliar a viagem com atrações artísticas que acontecem no Teatro de La Caridad, que naquela ocasião recebia o show da cantora espanhola Ángela Cervantes, na comemoração dos 50 anos do grupo cubano Los Fakires – uma emocionante mostra musical cubana.

No entanto, parodiando Câmara Cascudo, a quem o maior produto do Brasil é o brasileiro, o bem mais valioso de Cuba é o povo cubano. Sua composição étnica, uma mistura entre o europeu, o africano e o indígena, muito lembra o processo de formação social do Brasil. Mas não é só isso! Sua cultura extremamente musical, sua expressão religiosa de matriz africana, com seus orixás e exus, e sua festividade tropical fazem o curioso brasileiro se sentir em casa.

Carros de Havana, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

Carros de Havana, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

A tirar pela cultura musical presente nos bares de Havana, imagina-se que Cuba inteira seja, o a imagem cantante e dançante de seu grupo mais conhecido Buena Vista Social Club, com seus músicos apetrechados com claves, maracas, shekerés, congas, guatacas, passando o chapéu religiosamente ao final de cada apresentação como uma forma mais lúdica de ganhar a vida, depois de entoados os versos iniciais de Guantanamera:

Guantanamera, guajira guantanamera
Yo soy un hombre sincero
De donde crece la palma
Y antes de morirme quiero
Echar mis versos del alma
.

Cocotáxi, Havana, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

Carro em Trinidad, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

A receptividade do cubano é algo inédito aos olhos míopes a qualquer proximidade. De garçons a escritores, todos se mostram dispostos a uma conversa amigável, terna e franca, regada a mojito, a principal bebida do país, em La Bodeguita del Medio, a Daiquirí em La Floridita e até mesmo ao charuto cubano, um dos melhores do mundo.

Como parte do Programa de actividades del Instituto Cubano del Libro, acontecia na Livraria Fayad Jamis o lançamento simultâneo de duas obras de escritores cubanos: Orlando Carrió (La isla del buen humor – crónicas costumbristas cubanas) e Leonardo Depestre Catony (Cien mujeres cérebres em La Habana). Após autógrafos das obras, os escritores dialogam com admiradores locais e turistas curiosos, uma aproximação que possibilita o estreitamento de futuros laços de amizade.

Bodeguita del Medio, Havana, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

Livraria Fayad Jamis, Havana, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

As livrarias de Cuba, muitas delas localizadas na Calle Obispo, exibem uma minguada variedade bibliográfica; a maioria das obras aborda o tema da Revolução Cubana e os feitos de seus guerrilheiros heroicos, poucas sobre literatura universal e ciências em geral estão nas prateleiras e nenhuma que faça críticas ou contrapontos ao regime. E ainda que seja acessível o preço do livro, esse artigo de primeira necessidade acaba relegado a segundo ou terceiro plano em comparação a outras prioridades mais urgentes, como alimentação e vestuário.

O principal assunto do país, claro, não poderia ser outro: a histórica reaproximação com um inevitável vizinho, distante 160 km da costa cubana. Inevitável, mas nem por isso indesejável! Em suas conversas, muitos cubanos manifestavam há algum tempo a esperança de retomada das relações diplomáticas com os Estados Unidos, suspensas desde a infame Crise dos Mísseis de 1962, origem do não menos abjeto embargo econômico. Outros percebem essa movimentação com certa desconfiança, tendo em vista não ter sido esta a primeira tentativa de diplomacia entre esses dois inimigos históricos.

Livraria Fayad Jamis, Havana, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

Varadero, janeiro 2015
Foto Patricia Orfila

Cuba é deveras um país misterioso. Como o Brasil, não é para principiantes. Ao turista que não se contentar apenas com as águas calmas e as areias cristalinas de Varadero, com o encanto histórico e bucólico de cidades como Trinidad (declarada pela Unesco como Patrimônio da Humanidade), com a aura revolucionária de Santa Clara, por exemplo, cabe a missão pessoal de decifrá-la em todas as suas minudências, sob pena de, qual a esfinge edipiana, ser devorado por reducionismos abstratos e proselitismos ingênuos, sem descobrir o verdadeiro tesouro escondido na Ilha de Fidel – a mesma ilha de Ernest Hemingway, Pablo Milanés, Paul Lafargue e Yoani Sánchez: sua rica e profunda identidade cultural.

Trinidad, Cuba, janeiro 2015. Patrimônio da Humanidade, Unesco
Foto Patricia Orfila

nota

NE – Publicação original: ORFILA, Patrícia; DARIN, Thiago Henrique. Cuba: a esfinge do Caribe. Caderno Arte & Vida, Jornal do Tocantins, 22 mar. 2015, p. 1.

sobre os autores

Patrícia Orfila Barros dos Reis é arquiteta e urbanista/UFPa, mestre em Engenharia Urbana/PPGEU/UFSCar, doutora  em História Social IFCS/UFRJ e professora do Curso de Arquitetura da Universidade Federal do Tocantins/UFT.

Thiago Henrique Darin é amanuense formado em Filosofia pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e Mestre em Estudos Clássicos pela Universidade de Lisboa.

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