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architectourism ISSN 1982-9930

Fazenda Babilônia em Goiás, antigo Engenho São Joaquim, final do século 18. Foto Victor Hugo Mori

abstracts

português
Uma das heranças mais significativas da arquitetura produzida no século 20. Suas construções com motivos vegetais, elementos em ferro e formato arquitetônico orgânico são características que mantêm viva a lembrança da Belle Epoque na capital francesa.

english
One of the most significant legacies of the architecture produced in the 20th century. Its constructions with vegetal motives, iron elements and organic architectonic format are characteristics that keep alive the memory of Belle Epoque in Paris.

español
Una de las herencias más significativas de la arquitectura hecha en el siglo 20. Sus construcciones con motivos vegetales, elementos en hierro y forma arquitectónica orgánica son características que mantienen viva el recuerdo de la Belle Epoque en Paris.


how to quote

COSTA, Thiago Augusto Ferreira da. Art Nouveau, a arquitetura de Paris. Arquiteturismo, São Paulo, ano 11, n. 128.04, Vitruvius, nov. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/11.128/6763>.


Desde as obras provindas da Exposição Universal de 1900, o Grand Palais e a Torre Eiffel, por exemplo, até a contemporânea Fundação Louis Vuitton, exemplos clássicos da organicidade das formas mostram que o Art Nouveau nunca deixou de ser “novo”, e nunca o deixará.

Um novo século chegou depois que a Europa viu dinastias de direito divino em apogeu e queda. Passou-se a Revolução Francesa e a burguesia viu a tomada e a perda do poder de Napoleão Bonaparte, além de uma série de consequentes conflitos que culminaram na Primeira Guerra Mundial. Houve ainda a supremacia inglesa nos sete mares e a sua consequente Revolução Industrial, trazendo à Europa novas tecnologias e a mudança no "gosto" artístico e nas relações sociais.

O cenário era paradoxal. Prosperidade versus exploração do trabalhador industrial, progressos intelectuais versus briga por colônias na África, Sudeste Asiático e Pacífico, dentre outras incoerências. Apesar disso, houve o período da Belle Epoque, antes mesmo da Primeira Guerra, marcado pelo aumento do poder de compra e que suplantou o Fin-de-siècle, justamente aquele período antecessor conhecido pelo medo de uma “Nova Revolução Francesa” e surgimento de novas teorias sociais, segundo Eugène Weber (1).

Os motivos decorativos começavam a alinhar-se com as novidades tecnológicas da engenharia e novos clientes despontavam: as indústrias. Eles almejavam fábricas funcionais, mas ao mesmo tempo, não abriam mão do pensamento progressista. Assim surgiam novos ambientes mais adequados ao conforto e segurança dos operários, como já havia sido feito na Chocolateria Menier (1870) com sua estrutura em aço autoportante aparente, nos arredores de Paris.

Chocolateria Menier, Região de Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Pesquisas sobre a resistência dos materiais desde o século 17 lavaram às inovações do século 19. Em Paris, o metal foi utilizado na estrutura da Biblioteca Nacional (1868) nos mais de 300m de altura da Torre Eiffel (1889) e em Les Halles (demolido em 1971). No entanto o Art Nouveau não queria um retorno ao passado lírico, mas uma "nova arte" que utilizava novas possibilidades para o desafio da explosão populacional e do desenvolvimento econômico. Refusava-se a simetria e explorava-se o efeito das curvas, frequentemente com motivos fitomórficos, orientais e femininos, utilizando o material como elemento ornamental. Ferro e vidro eram materiais excelentes para a arquitetura, deliberadamente lançados na construção de edifícios.

Salão Oval da Biblioteca Nacional, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Torre Eiffel, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

O Art Nouveau teve muitos nomes. Lançado pelo belga Victor Horta, em Bruxelas, a partir da inauguração do Hôtel Tassel, em 1894, o movimento arquitetônico da riqueza decorativa e renúncia ao passado ganhou seu nome a partir da loja do alemão Samuel Bing. Aberta em Paris, em 1895, dedicava-se à venda de produtos artísticos de vanguarda, criados por Toulouse-Lautrec, Lalique, Beardsley, Will Bradley (ilustrador americano), Gallé, Tiffany, dentre outros. Era a ideia de romper com o passado e com as academias dos séculos 18 e 19. Nesse contexto, a chamada "arte pela arte" fez do Art Nouveau uma "doença decorativa", como era conhecido à época. Suas formas sinuosas, explorando motivos naturais e estamparia japonesa, foram imediatamente associados ao Art Nouveau.

Em 1902, Auguste Perret (1874-1954) lançou moda na arquitetura da capital francesa, pois saía do papel o primeiro edifício residencial cujo esqueleto era feito inteiramente em concreto armado, na 25-bis Rue Franklin e a sua decoração inteiramente ornamentada com motivos fitomorfos. Segundo Janine Casevecchie (2), faltava aos jovens arquitetos do fim do século 19 a autorização para modificar os gabaritos definidos pelo Barão de Haussmann (1809-1891) aos edifícios de Paris. Assim, durante vinte anos, o Art Nouveau abandonou essa função estética do imóvel, e a capital francesa foi o centro desse movimento, muito mais por seu status de cidade mundial das artes do que pela superioridade de seus artistas.

Edifícios com gabarito definido por Haussmann, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Edifício 25-bis Rue Franklin, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Em Paris, Hector Guimard foi quem melhor e mais impôs um estilo Art Nouveau na arquitetura, mas não somente por ter desenhado suas 167 entradas para o metrô. Influenciado por Viollet-le-Duc, admirador da arte japonesa, realizou o Castel Béranger com apenas 27 anos. Ele assim concebeu mais de trezentos imóveis nos arredores de Paris, nas cidades de Passy e Auteuil.

Outro arquiteto, mas de imaginação delirante, Jules Lavirotte, quase inventou o imóvel ''vestido'', graças às cerâmicas de Alexandre Bigot, segundo Janine Casevecchie (3). Lavirotte cobria fachadas inteiras de imensos painéis cerâmicos e os decorava com figuras de animais fantásticos ou esculturas, nas quais se podiam ver diversos símbolos sexuais, como por exemplo na 29 Avenue Rapp.

A seguir, vamos conhecer melhor quatro ícones dessa época, além das duas principais obras já citadas de Guimard – as entradas do metrô e o Castel Béranger – e aquela de Lavirotte, ainda a suntuosa cúpula das Galeries Lafayettes.

Hector Guimard fez uma casa para uma jovem viúva, Elisabeth Fournier. Um imóvel de trinta e seis apartamentos, pequenos e confortáveis, conhecido como Castel Béranger. Segundo Casevecchie (2014), a arquitetura é livre à imaginação de Guimard, utilizando-se diferentes materiais e não hesitando à mistura de cores, o que não era somente novo, mas impensável na época. Outra inovação foi a utilização do ferro forjado, o que era exclusivo às estações de trem e usinas. Na fachada, uma surpresa, a pedra esculpida e duas colunas que ornam a porta de ferro fundido e placas de cobre. Esse projeto foi mantido em segredo por bastante tempo, visto a concorrência da época que obrigava os arquitetos a isso.

Para Guimard, a estrutura metálica de ferro fundido, que corresponde à escada de serviço e aos balcões são tão úteis quanto decorativas. Há figuras de diabos e máscaras por todos os lugares, nas portas, nas janelas e nos balcões, fazendo-a ser conhecida também como "casa dos diabos".

Castel Béranger, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Porta principal do Castel Béranger, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Apesar de um rígido concurso de arquitetura, o diretor da Companhia Geral de Transportes Parisienses delegou à Guimard a responsabilidade de projetar diversos tipos de entradas para o metrô de Paris, como relata Casevecchie (2014). Aquela de Porte Dauphine, em formato de edícula, é a única que resta nessa forma, com estrutura em ferro fundido, baldrame de pedra e vidro na cobertura. Ela ainda conserva seus painéis de metal esmaltado de cor laranja.

Entrada da Estação Porte Dauphine, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Lavirotte teve mãos livres para realizar o imóvel na Avenue Rapp (Figura 10), adornando-o com um simbolismo erótico também manifesto na sua exuberância e na decoração. No entanto, Alexandre Bigot teve um papel crucial na realização dessa fachada inteiramente coberta de cerâmica. Os lintéis cruzados, as colunas e as janelas em bolha, as balaustradas, todas em cerâmica, de cores variadas de acordo com cada pavimento. Os balcões em ferro fundido em "golpe de chicote" fazem parte do processo. O talento de Alexandre Bigot e de Jean-Baptiste Larrivé, escultor, contribuíram largamente para a atribuição, em 1901, de uma recompensa do concurso de fachadas de Paris.

Especialistas, segundo Casevecchie (2014), evocaram as características eróticas da fachada, a começar pela porta de entrada, comparada a um membro viril. A representação de uma Adão um pouco triste, ao lado de uma Eva totalmente chateada, traz à tona os fantasmas da arquitetura. Mas o humor é longe de ser ausente dessa exuberância.

Edifício na 29 Avenue Rapp, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Detalhe da porta principal do Edifício 29 Avenue Rapp, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Detalhe da fachada do Edifício 29 Avenue Rapp, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Inscrição do Arquiteto Lavirotte na fachada do Edifício 29 Avenue Rapp, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Somente quatro lojas sobreviveram à época gloriosa descrita por Emile Zola em "Alegria das Mulheres". Nos anos 1900, viu-se florir a Printemps, a Samaritaine, o Bon Marché e as Galeries Lafayette, todas no estilo Art Nouveau, segundo Janine Casevecchie (4). A Samaritaine desapareceu e o Bon Marché foi luxuosamente modernizado. Somente a Printemps e as Galeries Lafayette guardam as lembranças dos “anos loucos”.

Quando entramos nessa magnífica loja, não podemos deixar de admirar, no alto, a vidraçaria à 33 m de altura, de inspiração Art Nouveau e bizantina. O arquiteto Fernand Chanut, em 1908, imaginou essa obra constituída de dez faces de vidraria pintada, encerrada em uma armadura metálica, ricamente esculpida de motivos florais. Para as balaustradas, os pavimentos inferiores e a grande escadaria, Chanut chamou Louis Majorelle, que o ajudou a pôr de pé essa glória.

Assim como Jules Lavirotte pensou na forma humana na concepção de seus projetos, também outros o fizeram em Paris nos anos que se seguiram. Inspirado ou não no Art Nouveau, as curvas sensuais desenhadas por Oscar Niemayer percorreram o mundo até chegar à capital francesa, na Sede do Partido Comunista da França (1971)  e compuseram também a organicidade das formas na cidade luz. Essa sinuosidade é quase uma alusão ao barroco, em se tratando da inspiração religiosa, ou ao próprio Art Nouveau, quando a inspiração é o homem e a sua relação com a natureza. O fato é que Niemayer, carioca, ateu, nascido à época do auge do movimento, em 1907, e ainda exilado em Paris por mais de 20 anos, não pode negar a sua inspiração Art Nouveau.

Sede do Partido Comunista Francês, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

A arquitetura orgânica fitozoomórfica está bastante presente em Paris desde a época dos "anos loucos". Atualmente vemos as forma livres na Cité du Design (2008), na recém-inaugurada Philarmonie de Paris (2015) ou mesmo na glamorosa Fondation Louis Vuitton (2014). Mas a pedra talhada, do começo do século 20, cede lugar aos materiais contemporâneos que imitam plantas e animais – como o besouro que Frank Gehry fez no Bois de Boulogne.

Entrada principal da Fondation Louis Vuitton, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Fondation Louis Vuitton, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

Philarmonie de Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015

notas

1
WEBER, Eugène. France Fin-de-Siècle, Harvard University Press Cover. Boston, 1988.

2
CASEVECCHIE, Janine. Paris Art Nouveau, Hachette Livre, Éditions du Chêne. Paris, 2014.

3
Idem, ibidem.

4
Idem, ibidem.

sobre o autor

Thiago Augusto Ferreira da Costa é arquiteto e urbanista pela UTFPR (2017) e Bacharel em Segurança Pública pela APMG (2009), trabalhou no IBGE (2010) e foi Pesquisador no Observatório de Conflitos Urbanos de Curitiba (2012-2014). Além disso, estagiou em Planejamento Urbano no IPPUC (2016) e, em 2014/2015, foi bolsista Capes/CNPq em Paris, desenvolvendo como projeto final uma intervenção em edifício do século 13.

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128.04 paisagem construída
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