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architexts ISSN 1809-6298


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CRISTOFANI, Guillermo; CONDE, Gloria. A nova Confeitaria do Moinho. 130 anos de uma Empresa e seu Edifício, 1868-1998. Arquitextos, São Paulo, ano 01, n. 004.05, Vitruvius, set. 2000 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.004/984>.

O edifício da Confeitaria do Moinho está situado na esquina noroeste da Praça dos Dois Congressos, Av. Rivadavia e Av. Callao. Vizinho à sede do Poder Legislativo da Nação, ambos edifícios configuram emblematicamente o arremate oeste do eixo cívico da cidade de Buenos Aires.

Trata-se de um dos dois pontos culminantes da Avenida de Mayo, avenida projetada no final do século passado em resposta ao fenômeno de crescimento e progresso que experimentava a antiga cidade colonial que tornava-se a Capital da República.

Você sabia que a primeira Confeitaria do Moinho foi fundada por Don Constantino Rossi, italiano, na esquina das ruas "das Torres" e "Somavilla", hoje Av. Rivadavia e Rodriguez Peña?

De fato, desde 1821, se falava de um estabelecimento conhecido como "Confeitaria do Centro" que anos depois, seria rebatizado como "Antiga Confeitaria do Moinho", tomando seu nome do moinho de vento situado sobre o terreno de uma quadra bem próxima da praça Lorea, duas quadras da rua das Torres (2). Em 1886 o jovem Gaetano Brenna adquire a Confeitaria e a padaria, que funcionaria neste edifício até 15 de dezembro de 1903, ano no qual, devida a construção da Praça do Congresso e atraído pelo novo e monumental edifício do Congresso, a Confeitaria vai ser obrigada a mudar de lugar, adquirindo várias propriedades sobre Rivadavia e Callao e estabelecendo-se provisoriamente na esquina das mencionadas artérias.

Em 1916 se inauguraria "A Nova Confeitaria do Moinho" – ano do Centenário da Independência – o qual dá conta do eco e do fervor ante este acontecimento que sentia esta família de imigrantes italianos pela pátria de adoção, cumprindo com uma de suas metas básicas destacar-se e serem reconhecidos.

O edifício é uma obra que podemos muito bem definir como primeiro traço de uma busca do arquiteto Francisco Gianotti por um racionalismo inquietante, que seria anos mais tarde chamado de "modernismo gianottiano".

Com esta idiossincrasia o autor manterá, como em todas suas obras posteriores, a maior sobriedade de linhas no desenvolvimento da fachada, e se reservará o direito de empregar os maiores avanços tecnológicos na busca de um rigoroso estudo das necessidades de funcionamento e de engenharia que, segundo ele, toda obra deveria observar.

No caso do edifício da Confeitaria do Moinho isto se comprova no uso do concreto armado, tanto em formas como em peças pré-moldadas como sistema construtivo de última geração, com escassos antecedentes de emprego no mundo, ousando apoiá-lo sobre a estrutura de alvenaria e perfis de ferro dos edifícios existentes, cujo funcionamento não deveria ser alterado pelas obras de ampliação.

Com esta ambição sobre a possibilidade de reunir em sua obra os últimos signos do progresso, compatibilizará necessidades de imagem e simbolismo com soluções surpreendentes no embasamento, na esquina e no arremate do edifício, atento às necessidades colocadas pelos pontos de vista de interesse na percepção do objeto arquitetônico que criava, assim como a necessidades de identidade para a empresa panificadora que abrigava.

Segundo manifestará em suas memórias (3), tentou obter uma imagem que não passasse desapercebida para o público, daí recorrer a soluções inéditas como é o caso do alpendre e dos artefatos de vitrô no térreo, na torre-mirante com seus vitrôs de desenhos alusivos às nuvens e ao vento no arremate e uma réplica de um jogo de aspas do Moinho na ferragem, símbolo de identidade do comércio desde sua criação, na esquina.

Com um espírito comparável ao do "art nouveau", esta obra pareceria produto de um desejo de constituição de um estilo verdadeiramente moderno (4), capaz de somar progresso e racionalidade de projeto com fortes signos de identidade e singularidade para a obra.

Até 1997, ano de seu fechamento definitivo, é conhecido que entre seus frequentadores habituais, se encontravam os generais Justo e Uriburu, e o Doctor Alvear, que em suas conversas de café preparavam a estratégia que provocaria a queda de quem seria mais tarde lembrado no nome da rua contígua ao edifício, Hipólito Yrigoyen.

Entre os ilustres estrangeiros que visitaram o Moinho se encontra o Príncipe Humberto da Itália, o Príncipe de Gales e a Infanta Isabel de Borbón. Dentro do mundo artístico seus hóspedes mais ilustres foram o tenor Tito Schippa, Beniamino Gigli e Lilí Pons, sendo Amado Nervo – embaixador em Buenos Aires e Montevidéu – quem entabulou em suas mesas apaixonadas discussões com seu amigo José Ingenieros. Oliverio Girondo, em versos irônicos, comparou os confeitos do Moinho com os olhos das garotas de Flores (5).

Uma anedota mais ruidosa diz que certo dia um grupo de pessoas que levou à Confeitaria um gramofone que tocava tangos e começou a bailar entre as mesas. Os presentes logo reconheceram entre os bailarinos as figuras de Pedro Lopez Lagar, Pepe Arias, Enrique Santos Discépolo, Homero Manzi, Aníbal Troilo, Tita Merello e Olinda Bozán. Além disso, as famílias mais tradicionais celebravam no primeiro piso suas reuniões e festas, como a Sra. Querubina Centrone de Cristofani, proprietária da Marmoraria José Centrone e Hijo, encarregada da restauração do térreo depois da destruição que sofrera após a Revolução de 30.

Atualmente, e depois do esforço que fizeram seus proprietários para sustentá-lo nos últimos anos, este magnífico edifício sofre um processo de envelhecimento e deterioração que se agrava dia a dia, ao encontrarem-se suas portas fechadas. Desde 1992 integra o Catálogo de edifícios de Valor Patrimonial da Cidade de Buenos Aires, sendo em 24 de outubro de 1997 declarado Monumento Histórico Nacional através do Decreto 1110/97 do Poder Executivo Nacional.

Com esta breve resenha queremos dar conta que por detrás de todo grande monumento se esconde uma rica história, nem sempre conhecida, povoada de situações que nascem muito antes da aparição do objeto que admiramos e que misteriosamente perdura em nossa memória década após década, e mais além de toda circunstância.

Quem sabe uma maneira de provocar a reabilitação tão desejada deste edifício seja começar por difundir sua história e suas características, com o maior luxo de detalhes, visando contar com um livro que instale um profundo conhecimento sobre ele ou reconhecimento concreto que a sociedade inteira tem sobre a importância desta peça.

notas

1
Este texto está baseado no trabalho de pesquisa desenvolvido pelos autores para o Instituto Italiano de Cultura, em 1995, e que foi exibido na Sala para a Memória de Buenos Aires da Casa da Cultura, em outubro de 1998 e publicado no livro Francisco T. Gianotti , Do Art Nouveau al Racionalismo en la Argentina, CEDODAL Centro de Documentação Latinoamericana, organização de Ramón Gutierrez. julho de 2000.

2
El último Moinho de viento,
Jorge Ochoa de Eguileor. Revista Gestión de Consorcios, n° 24.

3
El arquitecto Francisco T. Gianotti en Buenos Aires 1909-1960, Francisco T Gianotti.

4
No sentido mais amplo, o vocábulo modernismo designa toda tendência a acolher e a exaltar "o moderno"; isto se refere ao atual, ou a uma época relativamente recente. Cada época qualifica de moderno, no sentido de "contemporâneo ou inovador" aquilo que se opõe à tradição.

5
Hunter Solsona e Conde arqs. La Avenida de Mayo, un proyecto inconcluso, p. 141.

sobre o autor

Gloria Isabel Conde (Buenos Aires, 1961), arquiteta (FADU, UNBA, 1985). Docente entre os anos 1986 e 1992 da Pós-graduação em Economia Urbana pela Universidad Torcuato Di Tella. Entre 1986 e 1990 produziu para a Cadeira de Desenho a pesquisa publicada no livro "La Avenida de Mayo, un proyecto inconcluso". Em 1991 foi selecionada pela Embaixada da Espanha para integrar a equipe de arquitetos do Programa de Revitalização da Avenida de Mayo, na Secretaria de Planejamento Urbano e Meio Ambiente do Governo da Cidade de Buenos Aires.

Guillermo Cristofani (Buenos Aires, 1969), arquiteto (FADU, UNBA, 1992), pós-graduado em Projeto Urbano (FADU e UPC Barcelona). Entre 1995 e 2000 pesquisou para o Instituto Italiano de Cultura. Associa-se em 1993 à arquiteta Gloria Conde em escritório independente. Em 1996 foi contratado pela Secretaria de Desenvolvimento Social (hoje Ministério de Desenvolvimento Social e Meio Ambiente) para integrar a equipe de projeto do Programa de Racionalização de Espaços Físicos.

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