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LEON, Ethel. Bienal de St. Étienne, França. Arquitextos, São Paulo, ano 01, n. 007.08, Vitruvius, dez. 2000 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.007/948>.

Em sua segunda edição, a Bienal Internacional de St. Étienne (6 a 15 de outubro) se afirmou como um grande espaço de convivência multicultural. Aberta sobretudo a jovens, a pequenos empreendedores e a nacionalidades periféricas, geralmente excluídos das grandes mostras mundiais, a Bienal, montada em St. Étienne, pequena cidade a 40 minutos ao sul de Lyon, traduz a mentalidade francesa de resistência cultural à globalização.

Países como Chipre, Líbano, Tailândia, Porto Rico, Peru, Senegal, Gabão e tantos outros (mais de cem representados), conformaram na Bienal um panorama bem distante dos circuitos Elizabeth Arden ou ainda do eixo Itália/Japão/Alemanha e de suas fantásticas feiras industriais.

"Mostrar criadores de todas as origens é afirmar que eles existem", disse Jacques Bonnaval, diretor da Escola de Belas Artes de St. Étienne e grande articulador político da mostra, que tem apoio da prefeitura da cidade, da Associação Francesa de Ação Artística (aquela que promove intercâmbios de jovens artistas de todo o mundo), do Ministério da Cultura da França e de um grande número de apoiadores, instituições oficiais, empresas e personalidades.

No entanto, a existência de gente do mundo inteiro não quer dizer um design de respostas formais e funcionais a questões regionais. A mediatização crescente do design e seu estatuto muito próximo da moda, a necessidade de renovar, cada vez mais depressa, os objetos do cotidiano toma conta do mundo e ninguém mais se espanta ao ver um banco de plástico tailandês devidamente inspirado na obra do francês Philippe Starck ou um estande de produtos industrializados na Índia que pouco acrescentam à gama dos eletrodomésticos produzidos na Europa.

Crítico, Jacques Bonnaval diz que "ao folhearmos as revistas de design temos a impressão de viver num mundo de luxo, calma e volúpia", contrariando a realidade de nossas cidades massacradas pelo automóvel, da terra sendo expurgada de seus recursos, do aumento mundial do desemprego, de violência urbana e de conflitos regionais. A tal voluptuosidade, a calma e o luxo não têm grande espaço em St. Étienne.

Concebida de forma frugal, com estandes padronizados e muito simples, a exposição confrontou sem preconceitos, peças brutais de mobiliário, enormes e totêmicas como as de Bandia Camara, do Senegal, construídas com enormes cabaças, ossos e chifres de animais mortos a projetos altamente tecnológicos como o equipamento para banheiros do francês Gérard Passi que reutiliza a água limpa desperdiçada das torneiras, fazendo-a voltar a um reservatório transparente economizando água e conscientizando seu usuário quanto à necessidade de poupar recursos.

Como é fácil perceber em qualquer exposição de design, o fio condutor dos projetos contemporâneos, ou pelo menos, seu ponto de partida são os materiais. O boom do feltro se fez presente em diversos países, atestando que a estética simplória e industrial desse tecido non-woven (não tecido), que dispensa costuras e grandes sofisticações no acabamento, apareceu em objetos de vários países, mostrando a importância da redução de custos nos projetos industriais de pequeno ou grande porte. A arquiteta e engenheira japonesa Masayo Ave se destacou na pesquisa de materiais, apresentando uma extensa linha de objetos de feltro, todos com grande sentido utilitário, e móveis monoblocos feitos de espumas - poliéster CFC free à prova de fogo, lavável e reciclável - pesquisadas junto à empresa suíça Atrox.

Mas os projetos que mostram a filiação da Bienal a conceitos de melhoria da qualidade de vida urbana e ao incremento do design nas pequenas e médias empresas foram os que mais trouxeram substância para uma discussão do design contemporâneo.

Na área externa do pavilhão de exposições várias instalações exemplificam essa opção política. Jean Pierre Charbonneau, consultor na área de urbanismo da cidade, chamou-as de intervenções efêmeras: uma horta construída sobre pilotis de garagem, um espaço para a siesta na rua, grandes almofadas para sentar-se nas calçadas, um pequeno elemento divisório construído em madeira com um banco em seu interior que dá privacidade a uma conversa a dois e tantos outros móveis urbanos apenas corroboraram o trabalho que vem sendo feito pela Prefeitura local. Trata-se de contratar jovens arquitetos, designers e artistas da cidade para trabalhar num ateliê, coordenado por Charbonneau, onde se projetam e executam equipamentos urbanos e onde se planejam micro-intervenções na cidade, capazes de mudar a qualidade de vida de seus habitantes.

Diferentemente, portanto, de tantas outras cidades européias, que pensam na renovação urbana a partir de grandes obras com poderes irradiantes, St. Étienne escolheu o caminho da vizinhança, da comunidade e de um contato muito íntimo dos profissionais de projeto com a população.

A outra face dessa mesma política é que graças aos efeitos benéficos da Bienal sobre a cidade, empresas tradicionais passaram a ver no design caminhos de ampliação. É o caso da indústria Weiss, tradicional fabricante de chocolates e fornecedora de matéria prima a muitos dos sofisticados chocolatiers franceses. A empresa encomendou a estudantes de design locais dois projetos de embalagens para seus pequenos tabletes, renovando sua tradicionalíssima imagem e abrindo uma pequena loja de venda direta de produtos dentro do Pavilhão de Exposições.

Além da imensa mostra – dois pavilhões totalizando 26 mil m2 , com direito a passarela onde se apresentavam continuamente jovens criadores de moda de todo o mundo (como da Estônia, da Indonésia, da Argentina, Colômbia, Eslováquia e Cambodja, entre outros) e mais de 2500 designers – a Bienal montou exposições e visitas organizadas integrando boa parte do circuito cultural da cidade e dos arredores ao evento. O Museu de Arte Moderna, cujo prédio data de 1987 e é assinado pelo arquiteto Didier Guichard, apresentou sua recente coleção de objetos industriais, conectando-os de maneira criativa e didática com peças da excelente coleção de arte do acervo – entre elas obras de Picasso, Kandinsky, Fernand Léger, Andy Warhol e Pierre Soulages.

O complexo arquitetônico projetado pelo mestre do modernismo Le Corbusier, construído na cidade vizinha de Firminy, foi especialmente preparado para receber os visitantes, destacando as peças de mobiliário e iluminação projetadas por Pierre Guariche, um dos colaboradores de Corbu, cujos projetos foram exaustivamente copiados em todo o mundo.

E o impressionante Museu da Mina, instalado nas antigas dependências das minas de carvão desativadas depois da Segunda Guerra, sediaram a exposição de Eduardo Souto de Moura, um dos expoentes da arquitetura portuguesa atual.

Além disso, colóquios em torno da arquitetura contemporânea, design e ecologia, diversidade cultural, design e negócios, design e imprensa, colóquios de urbanismo e arquitetura reuniram conferencistas de várias partes do mundo, entre eles o filósofo francês Jean Baudrillard, o cineasta e arquiteto Dominik Rimbaud e muitos outros. Ciclo de cinema sobre design, apresentação diária de instalações artísticas de várias partes do mundo no happy-hour (como a dos finlandeses Teuvo Tuomivaara e Jaakko Heikklä que mostraram o amor ao fogo dos lapões finlandeses em esculturas que se incendiavam) e jantares que reuniam expositores, conferencistas, organizadores, seguidos de noitadas que mudaram a face da cidade fizeram da Bienal um grande ponto de encontro de gente do mundo inteiro.

Contribui para esse fenômeno o tamanho da cidade (185 mil habitantes), a extrema cordialidade da população stéphanoise (um contraste vivo ao famoso mau-humor parisiense) e a celebração da diversidade que tornou durante muitos dias a mistura de línguas e os gestos de quem procurava se entender por meios não-verbais um contraponto ao império do inglês dos grandes encontros internacionais.

Brasil

Presente desde a primeira edição, o Brasil se fez representar (sem qualquer ajuda oficial) por um grupo de designers escolhidos pelo curador Eric Jourdan em sua visita ao Brasil em dezembro passado. Os consagrados irmãos Campana tiveram como companheiros de show Jacqueline Terpins e seus objetos de vidro; Carlos Motta com poltronas de madeira; Kimi Nii e sua cerâmica; Camila Fix com biombos, jarras e outros produtos que reúnem peças produzidas industrialmente e maestralmente bem-acabados; Maria Pessoa e Vera Lopes e suas esculturas de velas sobre suportes de ferro; Hugo França com móveis escultóricos feitos com sobras de madeira maciça; Fernando Jaeger e suas peças racionais; Patrícia Bowles com as camisetas baseadas na pintura corporal Kaxinawá e vasos que resultam de uma recente pesquisa sobre as formas criadas pelas abelhas; E o estúdio E27, de Fábio Falanghe e Giorgio Giorgi Jr. que mostrou suas belíssimas luminárias em policarbonato; Robison Baldança e seus vasos de vidro, além de Bernard Doizé, belga-pernambucano, que produz cadeiras simples e acessíveis em MDF. Francisco de Abreu apresentou objetos feitos a partir de garrafas de PET numa atitude provocativa com relação à cultura do use-e-jogue fora; e Mirla Fernandes expôs um objeto de bambu.

A grande ausência brasileira foi a de objetos industrializados em grandes séries que demonstrariam a coexistência de diversos modos de produção no país. Mesmo assim, a delegação nacional destacou-se no mezzanino consagrado às Américas, segundo o curador Eric Jourdan. "O Brasil surpreende pela quantidade e pela qualidade dos profissionais", declarou Bonnaval em entrevistas à imprensa francesa.

sobre o autor

Ethel Leon é jornalista, editora da revista Design Belas Artes e participou da Bienal de St. Étienne como conferencista convidada do seminário Design e Imprensa.

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