Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

architexts ISSN 1809-6298


abstracts


how to quote

ARRUDA, Ângelo Marcos. O Hotel Campo Grande, de Botti & Rubin. Arquitextos, São Paulo, ano 01, n. 012.09, Vitruvius, maio 2001 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.012/895>.

Este foi o primeiro hotel de grande porte de Campo Grande e possuía, no programa, uma agência bancária no pavimento térreo. Inaugurado em 1971 com grande festa na cidade, foram gastos na obra o equivalente a 20 mil cabeças de gado, segundo a imprensa da época. Proposta estrutural modular, vedações com painéis lisos ou esquadrias e vidro, vigas e colunas "esculturais" formando a transição estrutural, modulando os espaços criados e definindo tanto os visuais como a volumetria. A solução, segundo os autores, seguiu o less is more de Mies van der Rohe, dos quais os arquitetos eram adeptos fervorosos na época. A transparência estrutural, a elegância da torre sobre o embasamento e a discrição dos recursos plásticos faz com que o edifício ainda se destaque na paisagem do centro da cidade e permaneça como referência visual.

O acesso ao saguão do hotel, com pé-direito alto se dá pela lateral e em patamares sucessivos interligados por escadaria. No nível da rua predominava a agência principal do Banco Financial, dos mesmos proprietários do hotel. O edifício está implantado em dois lotes de terreno remembrados de formato retangular, com frente para a Rua 13 de Maio com 31,50 m, quase na esquina com a Rua Cândido Mariano Rondon, na área central de Campo Grande. A profundidade é de 40,00m.

O perímetro da torre é retangular, com maior comprimento no sentido leste-oeste, alinhado com a frente do lote; a base do edifício, com o pavimento térreo e a sobreloja, ocupa todo o lote e apenas uma subtração de 11,00 x 11,00m, que atravessa estes dois pisos, abre espaço para uma área de jardim. Quanto aos recuos, a torre está afastada 4,00m na parte norte e 17,50m na face sul; esse afastamento sul, no plano térreo, permite a organização de um conjunto de funções programáticas, principalmente a garagem e os espaços da agência. O recuo frontal do pavimento térreo, que define a massa dos volumes assentados no terreno, é de 2,00m, muito embora a torre que contém os andares-tipo, esteja no alinhamento do terreno.

A área total construída do edifício é de 8.776,00m², sendo 1.260,00m² para o pavimento térreo e outros para o subsolo; 776,00 m² para os espaços da sobreloja; 5.213,00m² para os andares-tipo e o restante, 167,00m ² para a casa de máquinas. Com esta área total construída, o edifício aproveitou o terreno em quase sete vezes e a taxa de ocupação – projeção do andar-tipo no terreno –, ficou em 32%. O entorno do edifício é totalmente ocupado com atividades comerciais e de serviços e quase todo edificado – há no quarteirão apenas um lote vago, ao lado sul do terreno em questão e usado para estacionamento de hóspedes do hotel. Os vizinhos imediatos do edifício são dois edifícios de agências bancárias com três pavimentos; o prédio do hotel é o mais alto do quarteirão, com quase 50 metros e o segundo mais alto da área central.

Os elementos e composição e as idéias geradoras

O corpo principal do edifício é constituído por uma torre que adota uma solução expressa através de um grande prisma de base retangular, apoiado sobre uma base formada por um sistema de vigas-pórtico apoiadas em 12 pilares de seção quadrada. Um outro corpo prismático, mais compacto, também de solução retangular, ocupa a base da torre e por um processo de subtração é criado um vazio de formato quadrado, constituindo uma perfuração neste prisma.

Em termos formais, houve uma clara intenção compositiva de dissociar o prisma da torre do prisma da base, quando examinamos a presença, na elevação frontal e norte, de uma grande platibanda cega que define o elemento da base, enquanto que a torre, através de um artifício projetual de vigamentos e de transição estrutural, se desprende do prisma base, fazendo essa dissociação. Portanto, o que se percebe no nível do passeio, é a presença de dois elementos de composição: o prisma da torre, em barra, no sentido transversal do terreno e o prisma da base, que ocupa todo o espaço, sendo o primeiro em destaque.

A estratégia compositiva adotada de utilizar um prisma alto, como uma barra sobre uma base mais alargada, com base, corpo e coroamento, enfatizando a elevação, parece ter sido o conceito formal gerador deste projeto. Ainda como princípio do projeto há a adoção das empenas cegas da torre e a simetria usada com um certo rigor, nas elevações norte e sul, cujos elementos presentes nos faz lembrar a volumetria do Ministério de Educação e Saúde elaborado em 1936, por Lúcio Costa e equipe.

A ortogonalidade é também um princípio que rege todo o aspecto planimétrico do edifício e a volumetria reforça e enfatiza os elementos de composição, tratando-os como prismas. Na torre, embora haja uma subdivisão interna do andar-tipo, quando cria os espaços para os dormitórios e sanitários dos apartamentos do hotel; a planta é livre e o pavimento possui uma independência formal, com a adoção de elementos estruturais que se misturam às placas verticais de concreto, localizados na linha externa do pavimento-tipo.

O sistema construtivo e estrutural

A técnica construtiva procura demonstrar os diferentes materiais utilizados na construção do edifício. A estrutura, corporificada através de lajes, vigas e pilares é em concreto armado aparente, deixando transparecer ao máximo sua textura.

A vedação se dá através de alvenaria de tijolos com reboco chapiscado nas empenas laterais e recebem pintura branca na cobertura, quando utilizados nas paredes das divisas e no peitoril das janelas dos pavimentos-tipo. O ambiente interno, no saguão e no grande hall, deixa também transparecer a plasticidade do concreto aparente, tanto nos pilares, quanto nas lajes e vigas. As esquadrias utilizadas são em alumínio natural e os vidros lisos com espessura de 6mm. Um detalhe construtivo nos chama a atenção: a alvenaria do peitoril das esquadrias do pavimento-tipo possui uma pequena reentrância, na altura do contramarco e define um painel cuja base é mais larga que a parte superior, criando uma sensação de profundidade no edifício e nas peças verticais de concreto das fachadas norte e sul.

A concepção estrutural é a principal fonte de geração formal deste projeto, que procurou aproveitar, ao máximo, a verticalidade, evidenciado o prisma da torre. O sistema estrutural usado na torre é modular com 3.40 x 10,00m, apoiado sobre um sistema de 12 pilares de seção quadrada de 0,80m de lado, com modulação dupla, ou seja, há uma transição projetual trabalhada para diminuir o número de pilares nos pavimentos ao nível do solo, com a clara intenção de não prejudicar os espaços. Como suporte entre as lajes da torre e os pilares, há uma viga-pórtico, cujo vão é variável – mais esbelta na parte central e mais robusta nos balanços do apoio – ver descrição nas fachadas norte e sul.

As peças verticais em concreto que definem uma espécie de "falsos protetores" das fachadas norte e sul, na realidade se alternam com os pilares de sustentação da laje-tipo, e possuem a mesma seção daqueles, dando uma sensação de que todas as peças são estruturais ou que funcionam com barras verticais que intercalam as esquadrias e, portanto não seriam estruturais. Por outro lado, a rigidez dos elementos fixos da caixa de escada e dos elevadores, na porção central de todos os pavimentos, garante o equilíbrio e o balanço estrutural. Já o sistema estrutural que suporta o pavimento térreo e a sobreloja é menos complexo, pois apoia lajes de menor seção, mas que mantém uma modulação de malha quadrada de 6,80 m.

As elevações

Uma característica das elevações do prisma da torre deste edifício é a sua simetria. As elevações norte e sul possuem o mesmo tratamento, independente dos espaços internos dos pavimentos, e que são marcadas pela verticalidade dos elementos modulados de concreto existentes entre os vãos das esquadrias, dando uma sensação de funcionarem como protetores solares na realidade, nem pela sua espessura muito menos pelo seu posicionamento, estas barras verticais não são e não foram projetadas como brises soleil; outros elementos que marcas estas fachadas são o peitoril – forma e posicionamento com pintura branca e as vigas aparentes.

Tanto a base quanto o coroamento do edifício possuem tratamento em concreto aparente. A volumetria é ortogonal salvo o formato da viga-pórtico que está posicionada na laje do primeiro pavimento, que faz a transição entre a torre e os pilares da base do edifício, cujo desenho é bastante apropriado para a sua função, com seção central mais esbelta que a seção mais próxima do pilar, num conjunto de linhas inclinadas, demonstrando os esforços recebidos pelos pilares.

Quanto às elevações leste e oeste, formadas pelas empenas cegas com demarcação das vigas aparentes de cada pavimento-tipo e da alvenaria de vedação, se diferenciam porquanto a primeira é a elevação frontal e, no conjunto, agrega elementos dos pavimentos no nível do solo. Assim a elevação leste é marcada na base por um corpo horizontal – uma placa de platibanda do térreo e sobreloja em concreto aparente com 4,50 m de altura com 31,50 m de largura, e que avança até o limite do alinhamento predial.

No plano do pavimento térreo, a elevação ainda é marcada pela linha dos pilares frontais que sustentam a torre e as lajes dos primeiros pisos, com um pano de vidro temperado de piso a teto, que vedam a agência bancária da rua e um outro pano, ainda mais recuado, que limita as lojas do térreo. Outro elemento presente nesta elevação é uma escada de formato helicoidal em concreto aparente, localizada ao lado do acesso ao hotel.

Conclusão

O edifício do Hotel Campo Grande foi a única obra projetada pelo escritório Botti & Rubin na capital do Estado de Mato Grosso do Sul e representa um momento da riqueza da bovinocultura estadual, expresso em uma obra de grande vulto para a cidade. A arquitetura do edifício expressa através dos seus elementos, mostra a trajetória da arquitetura moderna brasileira fora do eixo Rio – São Paulo e a difusão dos elementos de composição e de arquitetura presentes nos fundamentos projetuais. Campo Grande, em 1966, ano do projeto, era a principal cidade do Estado de Mato Grosso, com um contigente populacional de 138 mil habitantes, maior que a capital, Cuiabá.

Com a sua riqueza econômica, houve imenso espaço para a construção de diversos edifícios de arquitetura moderna, a partir dos anos 50, até os anos 80, projetados por arquitetos de renome nacional, como Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, Jorge Wilheim, etc., contratados pelos empresários locais, abrindo assim, a possibilidade de um imenso intercâmbio com os arquitetos locais, enriquecendo a o conhecimento e a discussão acerca do papel da arquitetura brasileira em cidades que não eram capitais.

ficha técnica

Projeto: Arquitetos Alberto Rubens Botti e Marc Bores Rubin
Ano de Elaboração do Projeto: 1966
Proprietário: Banco Financial S/A
Construção 1970/71: Engenheiro Walmor Rocha Soares
Local: Rua 13 de Maio 2825 – Centro

sobre o autor

Ângelo Marcos Arruda é arquiteto, professor e pesquisador da Uniderp. Campo Grande-MS.

comments

012.09
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

012

012.00

A arquitetura consumida na fogueira das vaidades (editorial)

Edson Mahfuz

012.01

Desaprendiendo de Las Vegas

Eduardo Subirats

012.02

A casa da flor

Fernando Freitas Fuão

012.03

Modernismo recifense:

uma escola de arquitetura, três paradigmas e alguns paradoxos (1)

Luiz Manuel do Eirado Amorim

012.04

O Brasil em Valência

Ane Mae Barbosa

012.05

Não menos que três, do urbano contemporâneo

Jorge Mario Jáuregui and Eduardo Vidal

012.06

O Rio e o mar

A influência da orla marítima na formação do imaginário da cidade do Rio de Janeiro (1)

Nara Iwata

012.07

A idéia de função para a arquitetura: o hospital e o século XVIII – parte 3/6

Disciplina ou formação do pensamento: a Razão das Luzes, Tenon e o hospital (1)

Kleber Pinto Silva

012.08

De prêmios e concursos de design

Ethel Leon

012.10

A expressão sócio-cultural na imagem da arquitetura do ocidente de finais de séculos XIX e XX

Luciane Siqueira

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided