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SEGRE, Roberto. Tomás Sanabria. Arquiteto venezuelano da velha-guarda. Arquitextos, São Paulo, ano 02, n. 016.03, Vitruvius, set. 2001 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.016/849/pt>.

No dia 1º de agosto passado o arquiteto Tomás Sanabria (1922) proferiu uma conferência na sede do IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil, seção do Rio de Janeiro, para um público de profissionais e estudantes. Sua presença foi fruto de uma visita realizada ao Brasil – com duas dezenas de arquitetos, prefeitos, administradores e ativistas sociais venezuelanos – para participar de um seminário de integração urbana Rio-Caracas, organizado pelo arquiteto Jorge Jáuregui e pelo venezuelano Alberto Vollmer, e conhecer as recentes experiências de intervenção urbanística e arquitetônica nas favelas, que conformam o habitat informal da cidade.

Foi uma grande emoção para as gerações mais jovens conhecer um dos mestres da arquitetura latino-americana, cuja obra, infelizmente, foi pouco divulgada em nosso meio. Na realidade, apesar de serem Brasil e Venezuela países limítrofes, o conhecimento mútuo no âmbito da arquitetura e o urbanismo é muito reduzido. Com exceção dos próceres já consagrados, como Carlos Raúl Villanueva, Lucio Costa ou Oscar Niemeyer, poucos são os nomes familiares em ambos países: talvez, devido às conferências feitas pelo Brasil, se tenha ouvido falar de Fruto Vivas; enquanto seguramente seu homólogo brasileiro, o arquiteto João Filgueiras Lima, não seja lembrado em Caracas.

De início, o que causou impacto à platéia foi a modéstia de Sanabria, a ponto de o público ficar ansioso para conhecer em detalhes as poucas obras mostradas, ao evitar estender-se na apresentação de suas próprias realizações. Acostumados aos shows mediáticos dos atuais membros do star system, a humilde exposição – mais um diálogo com o público que uma conferência acadêmica –, demonstrou que o mais importante são as idéias e os conceitos, mais do que a fascinação do espetáculo o a exibição de griffes sofisticadas: ninguém pôde perceber se Sanabria era fã de algum estilista da moda: Valentino, Prada ou Pierre Cardin.

Formado na Graduate School of Design da Universidade de Harvard na década quarenta, foi aluno de Walter Gropius, Martin Wagner, I.M. Pei, Hugh Stubbins e Marcel Breuer em um período de escassa atividade construtiva nos Estados Unidos devido à Segunda Guerra Mundial, que permitiu o intercâmbio estreito entre os mestres e um reduzido número de alunos. Ali Sanabria recebeu lições inesquecíveis sobre os valores humanos da arquitetura, a necessidade de satisfazer como primeiro objetivo as condições ambientais para obter o conforto cotidiano para os usuários, e a indispensável articulação entre arquitetura e natureza, ou entre arquitetura e cidade. Mesmo que naquele momento não se falasse de desenho urbano, nem de desenho ambiental, se colocavam as premissas de uma metodologia de projeto baseada na articulação das escalas do desenho, cujo paladino era Gropius, já desde sua atividade docente pioneira na Bauhaus, e logo prolongada em Harvard, ao definir os termos da arquitetura ”integral”.

Naqueles anos imediatos ao pós-guerra circulavam poucos livros de arquitetura – ao contrário de hoje, submergidos que estamos por uma avalanche de espetaculares imagens cromáticas, já impossíveis de memorizar ou conservar na retina –, de modesta apresentação, com fotos em branco e preto, de memorável conteúdo: os que exerceram uma influência sobre ele foram os livros de Le Corbusier e o volume de Philip Goodwin, Brazil Builds, com as primeiras ilustrações da nova arquitetura moderna brasileira. Segundo Sanabria, o impacto do livro não se exerceu somente sobre sua obra, mas também sobre o mestre Villanueva, cuja obra assimilou a liberdade formal, espacial e cromática das de Niemeyer, Costa, irmãos Roberto e outros, que sem dúvida influenciaram o projeto da Cidade Universitária da UCV em Caracas.

Ao regressar à Venezuela abriu com Diego Carbonell um escritório de projeto em Caracas, tornando-se também o primeiro diretor da nova Faculdade de Arquitetura. Até os anos cinqüenta, a atividade profissional dos arquitetos estava dependente da dos engenheiros. Sanabria fez parte da segunda geração de arquitetos modernos, com José Miguel Galia, Martín Vegas, Guido Bermúdez, Fruto Vivas, Henrique Hernández, Guinand, Benacerraf e outros. Desde suas primeiras obras, o tema da proteção solar e o condicionamento climático baseado na arquitetura, e não nas instalações de ar condicionado, foi um dos leit motiv básicos. O estudo da ventilação, das grelhas protetoras nas fachadas, dos sistemas de sombras, definiram as obras da década de cinqüenta, opondo-se radicalmente ao International Style e aos edifícios de vidro que começavam a difundir-se sob a influência de Mies van der Rohe, SOM, etc.

Uma das obras mais importantes realizadas na década do cinqüenta foi a Central Açucareira El Palmar. Construída em aço, com revestimento em alumínio, seus planos horizontais de fachada estavam organizados para permitir a ventilação por faixas livres de recobrimento. A nitidez e precisão formal do conjunto colocaram o projeto entre as principais construções industriais da América Latina. Posteriormente, realizou os escritórios da Empresa Elétrica de Caracas e a sede do Banco Central da Venezuela. Dois conjuntos que constituíram um work in progress ao largo de várias décadas, buscando Sanabria, não só a qualidade de projeto dos edifícios mas também a articulação com o espaço urbano. Sua tese é que não há arquitetura sem cidade e os edifícios devem gerar espaços urbanos. Este princípio se evidencia em pleno centro de Caracas, na proximidade dos poucos edifícios coloniais ainda existentes, ao projetar o Banco Central (1961), uma obra prima de Sanabria. Trata-se de um banco cuja imagem é alheia às tipologias monumentais tradicionais. Na torre de escritórios de trinta andares a linguagem brutalista dos painéis de concreto armado aparente, foi desenvolvida a partir de superfícies texturizadas nas empenas cegas e com tramas para filtrar a luz e o ar. Finalmente em 1998, se completou uma praça urbana com estacionamento subterrâneo, na qual, a comprida pérgula de concreto estabelece um espaço de sombra para o pedestre urbano.

Sanabria finalizou sua conferência com um breve panorama do que ocorre atualmente no mundo desenvolvido, expressando seu assombro ante o desperdício de recursos tecnológicos, aplicados nos recentes monumentos contemporâneos, como os que se estão sendo construídos em Berlim ou em outras capitais européias. Mencionou o formalismo gratuito e o gigantismo que impera em algumas obras realizadas em Tóquio e em Xangai, onde proliferam as torres de vidro de mais de oitenta andares, com formas totalmente gratuitas. Evidentemente são soluções cada vez mais alheias à nossa realidade atual, definida pela habitação espontânea e marginal que envolve as grandes capitais latino-americanas. Tal como as favelas do Rio de Janeiro, os ranchos de Caracas crescem a um ritmo mais acelerado do que a cidade formal: o conjunto de ranchos de Petare possui mais de 600 mil habitantes. Por isso nossos arquitetos, ao invés de maravilhar-se com as impactantes obras alheias, publicadas em revistas com papel couchet, deveriam olhar para a realidade circundante e imaginar novas soluções para os problemas da habitação e dos serviços sociais dos estratos mais necessitados da população, cuja dimensão crescente pressiona de forma angustiante as estruturas urbanas.

[agradecimento a Jorge Jáuregui pela cessão das imagens de Sanabria]

sobre o autor

Roberto Segre, arquiteto e crítico de arquitetura, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

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