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architexts ISSN 1809-6298


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NEDELYKOV, Nina; MOREIRA, Pedro. Pierre Vago, 1910-2002. Arquitextos, São Paulo, ano 02, n. 021.00, Vitruvius, fev. 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.021/806>.

Pierre Vago faleceu no último dia 27 de janeiro, em sua casa em Noisy-sur-Ecole, nas proximidades de Paris. Arquiteto, publicista e ativista político da arquitetura, foi um dos fundadores da revista L´Architecture d´Aujourd´hui, da Union Internationale des Architectes (UIA) e de diversas outras entidades internacionais, visando o intercâmbio profissional e o estabelecimento da Arquitetura Moderna enquanto fenômeno sócio-cultural relevante nas diversas regiões do globo. Em reconhecimento a seu trabalho como Arquiteto e Político da Arquitetura, Pierre Vago recebeu, entre outros títulos, os de Membro Honorário do RIBA (1946), da AIA (1952), do BDA (1954), do IAB (1965), e Membro da Akademie der Künste de Berlim (1970). Recebeu no Brasil a Ordem do Cruzeiro do Sul em 1961, tendo diversas vezes visitado as obras de Brasília, experiência que reportou a estes autores em entrevista em 1994. Em 1962 ele co-organiza o seminário da UIA sobre Arquitetura Industrial, realizado no Rio de Janeiro, em Salvador e Brasília. Ele era desde 1969 Presidente de Honra da Union Internationale des Architectes.

Pierre Vago nasceu a 30 de Agosto de 1910 em Budapest, filho do Arquiteto Jozef Vago e da cantora lírica Ghita Lenart. Em 1919, com o término da guerra e a dissolução do Império Austro-Húngaro, a Família Vago muda-se para Roma. O pai Jozef realiza uma obra sólida dentro dos princípios racionalistas da Escola Vienense derivada de Otto Wagner, e, como muitos de sua geração, sobrevive com dificuldades os anos de recessão do pós-guerra. Somente em 1927 vem a obter reconhecimento profissional ao ser premiado no grande Concurso para a Liga das Nações em Genebra. Seu projeto dará as diretrizes ao edifício, finalmente construído por equipe internacional dez anos depois.

Em 1928 o jovem Pierre Vago emigra a Paris, conseguindo matricular-se na concorrida Ecole Nationale Superieure des Beaux-Arts, que profundamente o desagrada por sua rigidez e dogmatismo. Busca então a opinião de profissionais que lhe parecem mais compromissados com seu tempo, entre eles Le Corbusier, Roux-Spitz, Auguste Perret e Henri Sauvage, e por sugestão deste transfere-se para a Ecole Speciale d´Architecture. Ali, estuda com Mallet-Stevens e Perret, com quem virá a cultivar uma profunda amizade e a compartilhar uma sensibilidade e ética como profissional.

Ainda enquanto estudante, Pierre escreve sobre música e arquitetura para a revista italiana La Festa. Em fins de 1930, a convite do engenheiro e publicista André Bloc, Pierre Vago e Julius Posener iniciam as atividades da Revista L´Architecture d´Aujourd´hui. Já em 1932, Vago torna-se Redator-Chefe, e como tal assina nesse ano artigo entitulado “Contra um novo Formalismo”, no qual, com grande lucidez, alerta os colegas modernistas contra o excesso de zelo quanto às aparências da obra arquitetônica e a ansiedade de fornecer “material fotográfico impressionante”, à custa de lógica, economia e de princípios estruturais. Acima de tudo, alerta para “a urgência das necessidades materiais e espirituais da população em geral”, e pleiteia por uma Arquitetura compromissada com as idéias e a técnica, as aspirações e emoções de seu tempo. Foi editor da revista até 1948, e permanece como Presidente da Banca Editorial de 1949 a 1968.

Vago inicia suas atividades com escritório próprio em Paris em 1933, apresentando no ano seguinte sua “Unidade Habitacional pré-fabricada em aço” na 1° Exposition de l´Habitacion au Grand Palais á Paris . Em 1936 ele é responsável pelo Pavilhão Francês na Triennale de Milão, projeto racionalista cujo elemento principal é uma grande vitrine linear de 40 metros de extensão. Em 1937 constrói à beira no Sena o Club des Architectes e o Pavillion de L´Art, para a Exposition Internationale des Arts et des Techniques Apliqués dans la Vie Moderne em Paris.

Ao graduar-se em 1932, Pierre Vago funda a RIA, Reunions Internationales d´Architectes, e organiza viagens de grupos de Arquitetos Modernos. A primeira visita foi à URSS em setembro de 1932, a segunda no ano seguinte à Itália de Mussolini, “com o intuito de se obter um ponto de vista oposto”, e a terceira à Hungria, Áustria e Tchecoslováquia em 1935. Em 1937, o encontro da RIA acontece durante a Feira Mundial de Paris, juntamente com o CIAM, e Vago escala Le Corbusier como orador principal.

Em 1936 participa da fundação da Union pour L´Art, que congrega arquitetos e artistas plásticos como Perret, Toni Garnier, Le Corbusier, Pierre Chareau, Bonnard, Braque, Derain, Picasso, Léger, Matisse e Pierre Colombier. Vago é nomeado seu Secretário, mas a existência da Union é no entanto breve: diferenças individuais e vaidades dentro do grupo afloram com rapidez e causam sua dissolução. Estas incursões no entanto proporcionam a Vago experiência para o esforço de congregação dos arquitetos, logo após a guerra.

Por ter-se naturalizado em 1933, Pierre é requisitado em agosto de 1939 pela Marinha Francesa, atuando no submarino Chasseur II até 1940. Nos anos seguintes, vive na clandestinidade junto aos gaulistas de Marselha, organizando a resistência. Chega a ser preso pela Gestapo em 1943, permanecendo no cárcere por 6 meses. Por estas atividades recebe diversas Ordens do Governo da França, entre elas a Médaille de la Résistance em março de 1945 e Chevalier de la Légion D´Honeaur (1958). Com a libertação de Paris, Vago volta à redação de L´Architecture d´Aujourd´hui e consegue publicar 3 números da revista ainda em 1945. No primeiro, de maio/junho (!) Vago conclama os colegas para o esforço de reconstrução “após o apocalipse”, anunciando “o início de uma era dos Arquitetos”. Nos anos seguintes, ele leva a revista a assumir papel fundamental nos debates sobre a nova Arquitetura e o futuro das cidades, mas também atua como publicista para outros órgãos.

A II Guerra Mundial interrompe a série de Congressos das organizações da avant-garde e desarticula muitos dos processos iniciados nos anos 20. Neste momento de letargia, em que tudo se relativiza frente aos horrores da guerra, Vago percebe uma nova chance, acreditando que só o Internacionalismo pode fazer contraponto às tendências nacionalistas que causaram a catástrofe, e usa as conexões do RIA para uma articulação maior, apoiado por Perret.

A fundação da Union Internationale des Architectes (UIA) toma lugar em Londres em 1946, a cerimônia inaugural sendo presidida por Sir Patrick Abercrombie. É consenso a necessidade de ancoragem de uma consciência sobre a planificação territorial, de posicionamento em relação às condições de vida da populações, e da reformulação do papel dos Arquitetos na sociedade pós-guerra. Deseja-se integrar à UIA as instituições mais representativas da classe profissional em cada país, e inicialmente três grupos supra-nacionais são também convidados: RIA, CPIA e CIAM. Le Corbusier resiste à participação de “seu” grupo, alegando desejo de independência, mas em verdade defendendo os anseios elitistas dos membros dos CIAM. Finalmente, os CIAM aderem-se à UIA, que realiza seu primeiro Congresso em Lausanne (devido à neutralidade da Suíça) em 1948, com a participação inicial de 22 nações (nenhuma delas da América Latina). Pierre Vago é confirmado como Secretário-Geral, permanecendo como tal até 1965.

Seu escritório é reativado em 1945, funcionando no edifício que abrigara o atelier do pintor Ingres. Vago elabora os Planos de Reconstrução para Arles e Lavera (1945-52), constrói nos anos seguintes a Escola em Tarascon (1948), o Banco Central da Argélia (1948-49), o Banco Central da Tunísia (1957), e diversos edifícios eclesiásticos. Realisa o Masterplan para o Distrito Les Seblons em Le Mans (1954-57), convocando diversos colegas para projetos de edifícios individuais. Ao final dos anos 50 atinge o auge de sua atividade como Arquiteto, ao construir o edifício habitacional do Hansa Viertel em Berlim (1957, ao lado dos de Alvar Aalto, Walter Gropius e Oscar Niemeyer), o edifício da Rue Erlanger em Paris (1957), a Biblioteca da Universidade de Bonn (1956-60, juntamente com Fritz Bornemann), a Clínica St. Michel em Toulouse (1959), e o complexo da Basílica de Lourdes (1956-58), talvez sua principal obra.

Ele já havia iniciado trabalhos em Lourdes anos antes, construindo a Casa de Banhos e o Altar da Grota (1954), e executa até 1972 vários outros edifícios, entre eles a Hospedaria de Peregrinos e o Museu de Lourdes. O partido arquitetônico que adota para o gigantesco templo promove sua perfeita integração com a modesta com a paisagem do “local do milagre de Lourdes”. Trata-se de uma basílica subterrâneo de planta elíptica (220 x 80 m) com capacidade para 25.000 pessoas, cuja estrutura de concreto protendido cria um espaço sem colunas de 200 x 60 m, com somente 9 m de altura , e suporta uma laje gramada. O Arquiteto convoca dois calculistas a elaborar propostas distintas, Pier Luigi Nervi e Eugene Freyssinet. Vago elogia a virtuosidade plástica da proposta de Nervi, mas a considera excessiva e pouco econômica, preterindo-a à de Freyssinet, de enorme leveza e eficiência. Este viria a ser o último grande projeto estrutural de Freyssinet.

Nos anos seguintes, até a desativação de seu escritório em 1985, Vago projeta várias igrejas e conventos, o Centro Cultural Francês em Jerusalem (com Al Mansfeld,1971), ou o Masterplan e os Edifícios da Universidade de Lille (1964-74), para os quais sua segunda esposa, a artista plástica Nicole Cormier Vago, executa grandes murais. Um de seus últimos projetos é comissionado pelo Presidente egípcio Anuar el Sadat em 1980, o Santuário Ecumênico do Sinai, que ele concebe com com o israelense Al Mansfeld e o egípcio El Rimaly. O assassinato de Sadat marca o fim do projeto.

Pierre Vago foi um eterno viajante: jurado de incontáveis concursos internacionais, presente em simpósios, workshops e congressos, ele intensificou suas atividades junto à juventude desde os anos 80. Com a fundação da International Academy of Architecture em 1981, e da Bienal de Arquitetura de Sofia, dedicou-se à “quebra do gelo” entre o Ocidente e os países do Bloco Socialista. Em 1987 tornou-se Membro Honorário do World Forum of Young Architects, continuando com suas atividades até janeiro de 2002. Não tendo lecionado formalmente em escolas de Arquitetura, Pierre Vago fez do mundo seu Campus, alcançando uma enorme quantidade de jovens arquitetos, instigando-os à conquista do Lugar da Arquitetura.

bibliografia

VAGO, Pierre. Pierre Vago, une Vie Intense (Autobiografia). AAM Éditions, Archives d´Architecture Moderne, Bruxelles, 2000.

L´UIA, 1948-1998. Cinqüentenário de L´Union Internationale des Architectes, Les Editions de l´Épure, Paris, 1998.

VAGO, Pierre. “Pierre Vago, a testament of sixty years”. World Architecture, Issue n° 20, nov. 1992.

VAGO, Pierre. “United we understood”. World Architecture, Issue n° 9, 1990.

CARBAJAL DE LA CRUZ, Francisco. Les Grands Maitres de L'Architecture Contemporaine: Pierre Vago. Sexta Edición, Mexico, 1987.

International Academy of Architecture. Centre of Publishing Activity of the IAA, Sofia, 1987.

sobre os autores

Nina Nedelykov (1960), Arquiteta, formada pela Universidade Técnica de Berlim, 1983. Sócia em Nedelykov Moreira Architekten, Berlim. Vice-Presidente da Câmara de Arquitetos de Berlim e da Câmara Nacional de Arquitetos da Alemanha. Conferência no Simpósio Frank Lloyd Wright, Architect, Museum of Modern Art, New York, 1994.

Pedro Moreira (1965), Arquiteto, formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 1987-88. Atuação profissional no Brasil, Inglaterra e Alemanha. Sócio em Nedelykov Moreira Architekten, Berlim. Supervisor de Projetos Internacionais das Oficinas da  Fundação Bauhaus-Dessau (2001). Artigos publicados  e Conferências no Brasil, Argentina e Alemanha.

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