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architexts ISSN 1809-6298


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ARUCA ALONSO, Lohania. Cuba: sociedade e Arte Deco. Arquitextos, São Paulo, ano 02, n. 023.07, Vitruvius, abr. 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.023/793/pt>.

Na análise histórica de qualquer movimento artístico é impossível passar por cima de algumas perguntas: qual foi a sociedade em que ele foi gerado ou encontrou eco para sua implantação e multiplicação?; como os viajantes ou visitantes enxergarão os resultados daquela realidade artística inserida na trama citadina?; quem, alheio à cotidianidade do habitante, perceberá a transformação ocorrida e estimará corretamente seu impacto social?

O período da História do Arte de Cuba que coincidem com os anos Art Deco, aproximadamente entre 1925 a 1945 (duas décadas), coincide – e isto não é fruto de uma casualidade – com uma etapa de mudanças no seio da sociedade cubana.

Ainda há muito o que estudar, refletir, ponderar e concluir em torno dos primeiros 57 anos da República de Cuba, cujo primeiro centenário internacional acontece justamente em 2002. Sem dúvida, se podem assinalar alguns fatos que ajudam a compreender que tipo de sociedade foi aquela, quais eram seus protagonistas e os problemas que se colocavam com maior urgência. Isso visto dos ângulos muito diversos das classes, setores e grupos sociais que a conformavam.

Por exemplo, no dia 13 de março de 1925, sob o primeiro governo do presidente General Gerardo Machado y Morais (1924 a 1928) (2), foi ratificado pelo Congresso dos Estados Unidos o Tratado sobre a Ilha de Pinos (3). Vinte e um anos depois de concluído o documento conhecido como Tratado Hay-Quesada, acordado entre os representantes oficiais dos governos de Cuba (Gonzalo de Quesada) e dos Estados Unidos da América (John Hay) e de sua ratificação pelo Senado cubano (8 de junho de 1904), se pôs fim à questão da jurisdição da República de Cuba sobre a Ilha de Pinos. É a partir desse momento que podemos considerar – na maior parte de sua extensão – os limites oficiais do território cubano dentro dos quais se localiza sua população e sua sociedade. Ainda teríamos que excluir deste as bases navais e as minas carboníferas cedidas em terra cubana aos Estados Unidos como compensação do Tratado Hay-Quesada. Essas terras ficarão pendentes de acordos ulteriores.

A construção da rodovia central, os planos de embelezamento da capital de Cuba, a colocação de esgoto e pavimentação das cidades de Santa Clara e Camagüey, os aquedutos de Santiago de Cuba, Pinar do Río e Trinidade, a construção de edifícios públicos de alto relevo, entre eles o Capitólio Nacional, centros escolares, hospitalares, aduanas (em especial a da Ilha de Pinos) e outras obras importantes para o desenvolvimento econômico e social do país, realizadas pela Secretaria de Obras Públicas comandada pelo arquiteto Carlos Miguel de Céspedes, foram fatos positivos que começaram a assentar as bases necessárias para o incremento da vida urbana ao largo de toda a jovem República (4).

Apesar disso, a grande depressão econômica ocorrida entre 1929 e 1933 limitou extraordinariamente os objetivos iniciais dos planos de desenvolvimento urbano e concentrarão em Havana seus principais efeitos (5).

"Tua Capital, Cuba, está dividida em retângulos
como um bilhete de loteria" (6)

Durante as décadas do 30 e 40, Havana é qualificada de Monumental e se converteu, aceleradamente, na única metrópole urbana do país e de todo o Caribe. Foi a vitrine gigante de todos os progressos da Modernidade a que aspiravam, falando a grosso modo, o cubano e a cubana de então (7). Seu crescimento urbanístico e populacional se projetou de forma descomunal (8). Romperam-se definitivamente o possível equilíbrio da rede de assentamentos urbanos existentes no território nacional, e as relações entre a cidade e o campo (coberto este último, em sua maior parte, pelos latifúndios açucareiros e graneleiros).

"Havana conta suas frutas
e planta suas chaminés,
imensas canas de açucar.
Emigram os coqueiros.
Se vão o rum e a rumba
e crescem os arranha-céus" (9)

Assim captou o processo de metropolização da cidade, em constante desenvolvimento, o poeta Jorge Carrera Andrade que a visitava em 1930. De forma mais direta e incisiva Vladimir Maiacovsky, de passagem por Havana em 4 de julho de 1925, disse significativamente em uma de suas estrofes do poema Black and white:

"A um olhar, Havana se revelaparaíso, país afortunado. Flamingos sob palmeiras.Floresce o mal não interditado.Em Havana, as coisas são muito claras:brancos com dólares, negros sem um cent.Por isso Willy com sua vassoura varre as proximidades de Henry Clay and Bock Limited" (10)

O paradigma do conforto urbano propiciado pelos avanços da ciência e da tecnologia, sustentos do sistema capitalista, em pleno auge em Cuba durante a segunda metade dos anos 30 e os 40, impulsiona os serviços de água potável, drenagens, eletricidade, banheiros, elevadores, e não era só para as mansões da elite social mas também para os edifícios de apartamentos para aluguel, os hotéis, os hospitais, as instituições públicas e privadas... Este deslumbrante desenvolvimento tecnológico nas construções de Havana cria evidentes contrastes culturais, e sugere ao poeta francês vanguardista Adolf de Falgairolles a seguinte estrofe do Poema a Cuba publicado pela Revista Avance:

"Habana, me interessam as jaulas férreas superpostasde teus elevadores que sobem e descem– especulações de caixas de caudais –Mas prefiro o malabarismo musical do negroque agita essas bolas vegetaisrecheadas de pedrascomo se fosse um Cristo moreno balanceando em suas mãosos dois hemisférios do Mundo que se ignoram" (11)

As diversões encontram de igual modo expressões urbanas, de pura importação. Os cinemas, bares, iates clubes, cassinos desportivos ou de jogos, são algo mais que neologismos que deslumbram a uma sociedade de brancos ricos nacionais e estrangeiros. Realidade notada pelo poeta norteamericano Wallace Stevens em seu Discurso Acadêmico em Havana (publicado na Revista Avance, 1929):

"É a vida um cassino em um parque.Fecha a cantina. Apaga a candeia. A luz da lua não é amarelamas um branco que silencia a vila sempre fiel" (12)

A conurbação mais importante para Havana do século XX se consuma entre esta e o município de Marianao, onde os habaneros frequentavam o Gran Casino de Havana, e o Casino de la Playa. Os Jardins da Cervejaria da Tropical eram preferidos pela classe média, assim como os clubes náuticos costeiros, patrocinados pelas associações profissionais, entre outras.

Não obstante a impactante presença da cultura norte-americana, a africanidade da música e a sensualidade da cidade deslumbrou a Langston Hughes em 1930:

"A noite era quente e as pessoas, entre as quais haviam muitos negros retintos com roupas brancas, pululavam pelas avenidas. Os veículos enchiam as ruas estreitas (13), os automóveis tocavam as buzinas, tintineavam as campainhas dos bondes, e nos bares e barracas de sucos de frutas as rádios palpitavam com o repique de tambores e com os sons ondulantes das maracas que interpretavam rumbas intermináveis. A vida parecia fluida, intensa e cálida nas ruas buliciosas de Havana" (14)

Os novos emigrantes espanhóis e os que haviam chegado na nova República integrando sua sociedade de formas muito variadas, recordavam com dolor e nostalgia o poder perdido sobre sua antiga colônia. E Rafael Alberti quando visita pela primeira vez a cidade em 1935 ressalta este sentimento em alguns de seus versos de Cuba dentro de um piano:

"Havana já se perdeuteve a culpa ou dinheiro...Silenciou,silenciou o canhoneiro.Mas depois, mas ah! depoisfoi quando o simse tornou yes" (15)

Por último, a valorização ética da cidade boa e da cidade má fundada nas características contraditórias da sociedade habanera, contaminada de imigrantes e sob influências dissimiles de todo tipo, nos é transmitida por um poema de Ana María Hidalgo denominado Havana e publicado na revista Orto em 1931:

"Havana, boa e má, simples e complicadaprincípio que destrói e sistema que criapouco Buenos Aires e muito Nova YorkO Capitólio aguça sem cessar sua presença,e a alma de umpássaro canta em cada terraçoseu grande clamor!Senhor!"

notas

1
Comunicação no “II Encuentro con las Sociedades Arte Deco de Nueva York y Los Angeles, EUA”, Museu Nacional de Belas Artes, Havana, 10 a 13 de março de 2002.

2
Julio Le Riverend, 1975, p. 225-240 Cap.XVII. La dictadura de Machado. Antecedentes (1924 -1927) 3. Campaña y aspiraciones políticas. Breve biografía de Machado. Su Programa.

3
Hortensia Pichardo, Tratado sobre la Isla de Pinos celebrado entre la República de Cuba y los Estados Unidos, p. 259-260.

4
Sobre o Plan de Obras Públicas dos governos do presidente Gerardo Machado e Morales, que terminou sua vida política de forma execrável e foi destituído pela Revolução do 33 – iniciada em 12 de agosto de 1933 – foram consultados: Ramiro Guerra y Sánchez, 1957, pp. 329 a 340; Carlos del Toro, em: Juan Pérez de la Riva e outros, 1975, p. 224-237; Roberto Segre, Eliana Cárdenas, Lohania Aruca, 1981, 1ª ed., p. 151-159; 167-174; 193-200, 235-238.

5
Julio Le Riverend, 1975, Cap.XVIII " A dictadura de Machado. A crisis econômica. (1929 a 1933)" Ver: pp.248 a 250: 4. La política de Obras Públicas.

6
Adolf de Falgairolles, francés, "Poema a Cuba", trad. Eugenio Florit, "Visitó La Habana como delegado a un congreso internacional de Periodistas en 1928..." Citado por Angel Augier, 2001, p. 149.

7
Ramiro Guerra Sánchez, 1944, p. 19 a 23. " 7.- Ley de lo pasado y lo presente: ley de lo futuro."

8
De 1924 a 1959 a poblação de Havana alcanzó, no último ano referido, a cifra de 1 392 500 habitantes; de 3 000 ha de superficie urbanizada reportada em 1924 em 1959 já cubría 5 000 ha com uma densidade de 280 hab/ ha em 1959, 80 hab/ ha mais que em 1924. Datos tomados de: "Habana 1", revista Arquitectura Cuba, nº 340, 3, 1971, Año XXIV, p. (5) "A Dimensão Espacio - Tiempo da Ciudad."

9
Jorge Carrera Andrade (equatoriano), "Havana" em: Edades Poéticas (1922-1956). Dibujos de cidades Quito Editorial Casa da Cultura Ecuatoriana, 1958, p.119-120. Fechado em 1930. Citado por: Angel Augier, 2001, p. 155.

10
Vladimir Maiakovsky, Mi descubriemento de América y otros escritos. Seleção de Esteban Llorach Ramos. Havana, Editorial Gente Nueva, 1980, p. 53. Citado por Angel Augier, 2001, p. 144.

11
A. Augier, 2001, p. 149.

12
Ibidem, 2001, p. 150-152.

13
Ibidem, p. 157.

14
O autor se refere nesta linha à Havana Velha. L.A.A.

15
Ibidem, p. 158-159.

referências bibliográficas

Ramiro Guerra Sánchez, Historia Elemental de Cuba, 1957, Cultural S.A. Havana.

__________________, Filosofía de la Producción Cubana, (Agrícola e Industrial), 1944, Cultural, S.A., La Havana.

Julio Le Riverend, La República, 1975, Editorial Ciencias Sociales, Havana.

Juan Pérez de la Riva e outros, La República Neocolonial, Tomo 1, Anuario de Estudios Cubanos, tomo 1, 1975, Editorial de Ciencias Sociales, Havana.

Hortensia Pichardo, Documentos para la Historia de Cuba II, 1976, Editorial de Ciencias Sociales, Havana.

Roberto Segre, Eliana Cárdenas, Lohania Aruca, Historia de la Arquitectura y del Urbanismo: América Latina y Cuba, Ediciones ENSPES, Havana, 1981.

Angel Augier, Poesía de la Ciudad de La Habana, 2001, Ediciones Boloña, Havana.

sobre o autor

Lohania Aruca Alonso é membro da UNEAC, Vice-presidente da Seção de História da Associação de Escritores e membro da UNAICC

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