Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Pedro Moreira, nesse artigo-homenagem, relembra dois momentos em que esteve com o amigo, arquiteto Éolo Maia, na FAU-USP, quando era estudante, e na Alemanha, quando já lá residia


how to quote

MOREIRA, Pedro. Duas lembranças de Éolo Maia. Arquitextos, São Paulo, ano 03, n. 029.08, Vitruvius, out. 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.029/743>.

O espaço sempre será pouco para relembrar um amigo. Permito-me reavivar duas memórias de Éolo, de épocas distintas.

A primeira é de meus tempos de estudante, no início dos anos 80, FAU-USP. Todos nós, Geração Coca-Cola saindo das fraldas, caíamos no mundo embalados pela Diretas Já, enroscados nos restos de Libelus e de PCs e PCsdosBs, tentando entender a absurdidade da "recondução" de Artigas, de Paulo e Maitrejean ao templo que eles haviam erigido. Morreu Artigas, de desgosto, morreu Tancredo. Nossos dilemas oscilavam entre as roupas dark e a estrelinha do PT, saída do forno. E queríamos saber o que era Arquitetura.

Mofo institucional, de direita e de esquerda, ressentimentos dos quais não queríamos ser herdeiros. Ao Merino chegavam os primeiros caixotes de livros importados. Procurávamos ar fresco, e nesse momento aparecia o livro de Éolo. Eclético, vital, cheio de projetos de cunho social feitos na raça, com cor e forma nova, nova para nós. Vinda de Minas. Capela de Santana do Pé do Morro, acenando para Lúcio Costa. Glórias ao Bispo de Mariana. Viaduto residencial de estrutura metálica (uau!), alvenaria auto-portante com materialidade romântica, janela triangular em parede amarelo-ovo e rosa-choque, barrado verde, lógico. E palestras, bolsa a tiracolo, cabelo comprido, sorriso aberto.

A segunda, quinze anos depois, aconteceu na Alemanha. Já assentado por aqui, tive em 1997 a oportunidade de convocar quatro escritórios brasileiros para um concurso internacional visando a reestruturação do Bairro Amarelo em Berlim Oriental, um conjunto habitacional de pré-fabricados de concreto com 3.200 habitações. Tarefa sensível e difícil num contexto social em flamas, depois da bancarrota do socialismo real. E era a chance de restabelecer uma presença brasileira depois do nosso isolamento do mundo. Optei por chamar colegas que, com as mais diferentes linguagens e atitudes, introduziram novas vitalidades no panorama nacional: Anne Marie Sumner, Brasil Arquitetura (ganhadores do concurso), Éolo Maia e Jô Vasconcellos, e Marcos Acayaba (que infelizmente não participou).

Se bem me lembro, foi a primeira vez que o Éolo saiu da América do Sul. O que caminhamos naqueles dias! Éolo de olho arregalado, comendo tudo o que via, mas com aquele silêncio humilde do mineiro que conhece o mundo, mas quer ver para comprovar. Em Hellersdorf, o que mais fiz foi traduzir suas perguntas às crianças do bairro sobre o lugar onde moravam, e sobre o lugar que imaginavam. Era 1º de fevereiro, um frio "dus diabo", tudo o que queríamos era um café em lugar aquecido. Éolo não havia terminado com suas entrevistas, sumiu, e conseguiu com pernas e braços pedir, num quiosque de vietnamitas, garrafinhas de vodka para todos nós. Salvou o dia. Voltou em abril com seu projeto, e os alemães, que imaginavam já ter visto tudo, tiveram que respirar fundo. Não ganhou, mas voltou para casa com mais um baú de idéias, e falando em como solucionar o problema habitacional no Brasil.

A priori, Éolo não negava nada nem ninguém. Não comprava briga, os outros é que se sentiam acuados por sua falta de falsos pudores. Deixou uma obra extensa, heterogênea, a ser investigada. E um trem de amigos.

sobre o autor

Pedro Moreira (1965), Arquiteto, formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 1987-88. Atuação profissional no Brasil, Inglaterra e Alemanha. Sócio em Nedelykov Moreira Architekten, Berlim. Supervisor de Projetos Internacionais das Oficinas da Fundação Bauhaus-Dessau (2001). Artigos publicados e Conferências no Brasil, Argentina e Alemanha

comments

029.08
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

029

029.00

Uma pequena cadeira (editorial)

Sylvio Emrich de Podestá

029.01

Éolo Maia (1942-2002)

A perda do “gambá” maior

Roberto Segre

029.02

Algumas verdades e mentiras sobre Éolo Maia

Altino Barbosa Caldeira

029.03

Liberdade patropi

Alexandre Brasil Garcia and Carlos Alberto Maciel

029.04

Antoni Gaudí: 150 anos de arquitetura inovadora

Ari Antonio da Rocha

029.05

Lucio Costa, Gregori Warchavchik e Roberto Burle Marx: síntese entre arquitetura e natureza tropical

Abilio Guerra

029.06

Casa do Arcebispo de Mariana, projeto de Éolo Maia, Jô Vasconcellos e Sylvio de Podestá

Carlos Eduardo Comas

029.07

Éolo Maia em Campo Grande MS

Elvio Araújo Garabini

029.09

Éolo Maia, um entusiasmo que se encerra

Zeca Brandão

029.10

O atípico desenho e expansão de uma cidade correntina na fronteira entre Argentina, Brasil e Uruguai

Oscar Ernesto Mari

029.11

Casa e lar: a essência da arquitetura

Jorge Marão Carnielo Miguel

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided