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architexts ISSN 1809-6298


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português
A Confederação Suiça organizou este ano um evento efêmero que propôs repensar a(s) sua(s) Identidade(s) Nacional(is). Conheça a Expo.02, na visão da arquiteta portuguesa Inês Moreira

english
The Swiss Confederation organized this year an ephemeral event that brought rethink your(s) National(s) ID(s). Meet Expo.02, in the vision of architect Portuguese Inês Moreira


how to quote

MOREIRA, Inês. Expo.02 - ImagiNation ou nação imagética. Arquitextos, São Paulo, ano 03, n. 030.04, Vitruvius, nov. 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.030/731>.

A Confederação Helvética organizou este ano um evento efêmero que, por 159 dias, propôs repensar a(s) sua(s) Identidade(s) Nacional(is). Localizada na plural e multicultural região dos 3 lagos (Biel, Neuchâtel e Morat), em 5 diferentes cantões, em 4 cidades, a Expo.02 (1) (des)centraliza-se na zona ocidental suiça, entre as Suiças Alemã e Francesa.

No contemporâneo mundo global e perante esta pluralidade local, a construção de um discurso expositivo-arquitectónico que cristalizasse uma Identidade Nacional estabilizada e unitária, seria ingénua e redutora.

Pensando que “a identidade é uma ratoeira na qual cada vez mais ratos têm de partilhar o queijo original que, numa leitura mais próxima, pode ter estado vazia desde há séculos” e, simultaneamente, “a identidade deriva da substância física, da história, do contexto, do real, e nós de certo modo não podemos imaginar que algo contemporâneo - feito por nós - possa contribuir para ela” (2), pode-se explicar a estratégia do comissariado. A expo procura não recriar os anteriores contundentes discursos nacionais, mas antes reflectir sobre um conjunto de tópicos/perguntas que abram espaço à análise/interpretação do “estado das coisas” e à procura de respostas para o futuro - “uma exposição nacional não pode providenciar respostas e receitas pré-fabricadas; se o fizesse, degeneraria num exercício vazio e compulsivo” (3).

Expos proto-Expo.02

expo Suíça

A Suíça tem uma história de 120 anos de 6 exposições nacionais (4). A primeira, em Platzspits (Zurique 1883) seguindo os exemplos das exposições/feiras de Paris e Londres, comemorava a abertura do tunel Gothard e procurava transparecer como imagem Suiça o progresso da indústria mecânica. No mesmo local, em 1893 construiu-se o Museu Nacional Suiço, peça fundamental para a cristalização de uma ideia Nacional unitária. Numa segunda Expo (Genebra 1896), apresentou-se já a nação Suíça. Foi exposta a indústria mecânica, mas a identidade foi a peça central a expor, através da criação in loco de uma “aldeia suiça” pela instituição que é hoje a agência do património nacional. Em 1914 (Berna), para além da identidade, a Expo celebrava a estabilidade económica que a agricultura, indústria, arte e exército proporcionavam. A estabilidade económica/progresso voltou a ser celebrada em 1939 (após a crise económica que em 1933 levou a adiar a exposição). Nesta expunha-se uma dupla identidade: a suiça inventiva e moderna, e a tradicional nação agrícola. Em 1964 realizou-se em Lausana a quinta exposição, explorando simultaneamente a visão industrial progressista e confiante e a visão mais crítica em que surgiam algumas dúvidas quanto ao futuro.

expo Universo recentes

Ambas Expo 92 (Sevilha) e Expo 98 (Lisboa) se instalaram em zonas de esvaziamento industrial/sector secundário e se estabeleceram como catalizadores para a instalação do sector terciário e habitacional através do desenvolvimento urbanístico. Seguindo o mesmo modelo das Olímpiadas Barcelona-92, foram entendidas como estratégia para canalização de fundos para a conversão de zonas degradadas introduzindo novos usos pós-industriais. De um modo mais imediato, a Expo 2000 de Hanover expôs produtos pós-industriais: novas tecnologias e a sociedade de consumo.

A expo.02 não é nem um núcleo centralizado catalizador de desenvolvimento, nem um parque temático conciso, mas um evento efémero disperso, uma “cidade-festival-territorial”, que para além de expor, problematiza.

Expo.02

Sob o título ImagiNation (leia-se Image-Nação), faz-se uma experiência interdisciplinar que, através de um discurso imagético, coloca questões e procura imaginar respostas para um vazio identitário. Como Koolhas, em vez de pensar sobre (as tradicionais vantagens da) Identidade perguntaríamos quais as desvantagens da Identidade e quais as vantagens/possibilidades de um vazio?

A ImagiNation explora pares conceptuais icónicos, através de imagens e da imaginação. Distribui-se por 5 áreas, Arteplages, que materializam 5 diferentes slogans através de conteúdos expositivos e, mais retoricamente, através da Arquitectura. Quatro “praias artísticas” são semi-praias-lacustres (Expopark ou áreas de Expo em terra seca) e semi-plataformas-sobre-os-lagos (Fórum ou palafitas onde se localizam arquitecturas-icónico-simbólicas). Estas paisagens artificiais (5), constituindo um forte contraste com as estereotipadas paisagens de fundo, estão fortemente articuladas com as cidades que lhes dão nome.

Yverdon-les-Bains: o Universo e Eu

Elevada sobre o lago, uma núvem de nevoeiro artificial domina a paisagem. Projecto volátil da dupla americana Diller e Scofidio, constitui-se por uma complexa estrutura metálica ovóide estirada por tirantes e apenas apoioada na água em quatro pontos, materializando uma concepção estrutural Buckminsterfulleriana. O edifício incorpora 31.400 jactos de vapor que criam uma etérea forma-miragem. A estrutura liga-se à margem através de passadiços que conduzem a uma paisagem artificial criada pelos West 8. Aqui vegetação e tecnologia multimédia combinam-se, estimulando sentidos, memórias e sonhos. Eu e meus sonhos, as minhas sensações e o meu corpo, são os temas que se propõe ler, sendo possíveis múltiplas interpretações oníricas/subjectivas em cada Universo pessoal.

Neuchâtel: natureza e artificialidade

Concebida pelo colectivo Multipack também esta Arteplage se organiza em terreno natural e artificial. O fórum consiste numa enorme plataforma sobre estacas onde três escultóricos colchões insufláveis suspensos cobrem a área de exposição. Com forma ovóide, estes elementos necessitam de ventiladores gigantes para os manter insuflados. O discurso expositivo trata a ciência e a ficção, o corpo e as tecnologias, a natureza e a hibridização homem-máquina, o que, de resto, é interessante que aconteça na pátria dos relógios, o invento que, pela quantificação do tempo, possibilitou a crescente artificialização da natureza.

Murten-Morat: instante e eternidade

Um enorme cubo de aço corten flutua na água, apenas acessível por barco. Projecto de Jean Nouvel, este elemento abstracto assemelha-se conceptual e formalmente ao monolito que em 2001 - Odisseia no Espaço havia surgido, flutuando, problematizando origem, identidade, tempo e lugar.

Nas margens foi criada uma paisagem expositiva que se hibridiza com a antiga aldeia Murten-Morat. O uso de materiais perecíveis e a ideia de disfarce/camuflagem foram as técnicas com que os novos elementos foram adicionados transformando a sua efemeridade numa coerente integração com a paisagem.

Biel-Bienne: poder e liberdade

Esta Arteplage está dominada pela linguagem urbano-progressista do fórum. As 3 icónicas torres de 40 m de Coop Himmelb(l)au: Poder, Dinheiro, Autoridade, estão ligadas por uma passerelle aos conceitos de liberdade, coragem e criatividade no Expopark. Diriamos que o tema problematizado é o homem e os seus valores.

Arteplage Mobile du Jura: significado e movimento

Barco “pirata”, concebido pelo luso-descendente Didier Fiuza Faustino para conectar por água os 4 locais anteriores, potencia a ideia de pirataria intelectual, possibilitando o acesso a todos os locais para, através do movimento, convidar à reflexão do visitante e à procura de um significado para o todo expositivo.

Estando a expo baseada num discurso imagético fragmentário, a busca de um sentido global pode ser difícil. O conjunto de temas não é de interpretação directa, por vezes pode parecer carecer de rigor conceptual.

A chave da ligação entre os temas parece residir efectivamente no título proposto: ImagiNation (a imaginação, ao contrário da memória, que é automática, consiste na associação de resíduos de memória do observador).

A enorme colecção de imagens apresentada sobre questões para as quais se espera imaginar futuras respostas, necessita que resida também alguma imaginação na formulação das próprias perguntas.

A Expo.02 aposta nas segundas leituras e na reflexão permitidas pelas possibilidades de um vazio, não de sentido, mas de resposta. Por agora.

notas

1
Expo.O2, 15 maio a 20 outubro 2002. Website oficial <www.expo.02.ch>

2
Koolhas, Rem. “Generic City”. In S,M,L,XL. Rotterdam: 010, 1995.

3
“No ready-made answers and no recipes”, por Martin Heller, diretor artístico da Expo.02, in site oficial.

4
Sobre as Exposições Nacionais Suíças: ver exposição “Expos.ch” no CCS – Centro Cultural Suíço de Milão.

5
Pós-Expo: Quanto ao futuro destas paisagens artificiais, serão desmontadas restituindo a paisagem natural. Procuram-se agora novos proprietários para os edifícios.

sobre o autor

Inês Moreira é licenciada em Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Pós-Graduada em Arquitectura e Cultura Urbana pela Universidade Politècnica da Catalunya. Desenvolve tese de Mestrado sobre relações entre Arquitectura, Corpo Humano e Novas Tecnologias, nas áreas de Teoria e Crítica da Arquitectura em Barcelona (UPC). Co-comissária do evento “Arquitectura – Prótese do Corpo”, Janeiro 2002, na Faculdade de Arquitectura U. P. e na Casa das Artes do Porto. Co-editora do catálogo com o mesmo nome. Exerce nas áreas de Arquitectura e Cultura Urbana em Barcelona e no Porto

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