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architexts ISSN 1809-6298


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Affonso Orciuoli, radicado em Barcelona há muitos anos, conta sua experiência pessoal e profissional na Espanha

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Affonso Orciuoli, based in Barcelona for many years, tells his personal and professional experience in Spain


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ORCIUOLI, Affonso. De São Paulo a Barcelona. Geração Migrante – Depoimento 4. Arquitextos, São Paulo, ano 03, n. 031.03, Vitruvius, dez. 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.031/725>.

A convite de Abílio Guerra, trato de transmitir aos leitores de Vitruvius uma espécie de depoimento, bastante informal, que resume aspectos da experiência de estar vivendo, trabalhando e estudando em Barcelona desde 1991.

Florianópolis

Ao acabar a faculdade de arquitetura Mackenzie resolvi ter uma experiência fora da cidade de São Paulo. Em janeiro de 1990, um mês após o término do último ano do curso, resolvi me mudar para Florianópolis, entusiasmado em começar a trabalhar como arquiteto já “formado”. O fato de não conhecer ninguém nesta cidade me obrigou a buscar trabalho de porta em porta. Em fevereiro começava a trabalhar em um escritório de arquitetura. Pouco a pouco o cotidiano de “viver na ilha” foi se transformando em uma necessidade de estar em uma cidade que tivesse mais oferta cultural. Pelo menos uma vez por mês ia a São Paulo, e comecei a descobrir que no fundo era uma pessoa cosmopolita e apreciava uma espécie de anonimato, o que era difícil em Florianópolis. A ilha me asfixiava.

Europa

Em junho de 1991, atraído em parte pelas obras olímpicas, em parte pela oferta em estudos de pós-graduação, decidi ir a Barcelona. A idéia principal era de ter uma experiência no exterior, tentar conseguir um trabalho e estar pela Europa pelo menos uns 2 anos. A escolha foi como uma espécie de zoom. Primeiro, que seria na Europa, segundo que fosse uma cidade à beira mar, e terceiro que me aportasse conhecimentos à minha profissão. Um dos fatores que me levaram a escolher Europa era o de viver dentro de um sistema em que a maioria da população fosse classe média. Minha experiência profissional no Brasil estava muito ligada a projetos para uma classe alta, que quase sempre resultavam em projetos de residências em que o gosto do cliente, bastante duvidoso, me fazia sentir mal. Muitas vezes me parecia que no Brasil a arquitetura começava de um muro para trás. Queria ver se havia algo diferente, uma arquitetura mais democrática, se pode dizer.

Comentava-se muito a presença do espaço público em Barcelona, com processos de revitalização de praças, estações de trem, parques; uma cidade em que a rua era algo a ser explorada, ao contrário do que ocorria em São Paulo. Percebi que as pessoas caminhavam, que o espaço público era algo fundamental para o próprio funcionamento da cidade. Outro fator que me atraia era poder ter acesso a edifícios históricos, à exposições das mais diversas e à informação específica no campo da arquitetura, urbanismo e design.

Barcelona

Cheguei sem saber que em Catalunha se falava outro idioma, tão pouco sabia falar castelhano. Fiquei morando no albergue da juventude, algo bem barato. Consegui um trabalho de colocar cartazes na rua. Era verão, muito calor, e eu descobrindo a cidade, colocando cartazes.

No final, este trabalho me serviu muito. Conheci a cidade, a forma de ser das pessoas, o nome das ruas, os bairros. Paralelo a esse trabalho, eu comecei a enviar currículos, mais uma vez bater de porta em porta. Atraia-me muito a aventura, o fato de não ter nenhum tipo de contato. Tudo dependia de mim.

Em setembro de 1991, três meses depois de haver chegado em Barcelona, consigo um trabalho em um escritório de arquitetura. Lembro-me que ao arquiteto dono do escritório lhe chamou a atenção o fato de eu ser estrangeiro, naquela época bastante jovem, e de ser brasileiro. Pediu-me para fazer uma prova. Isso era uma segunda-feira. Ao final da tarde me disse: volte amanhã. Assim se passou aquela semana. Na sexta-feira pela tarde me chama para conversar, e me pergunta se gostaria de trabalhar com ele. Aí fiquei mais de um ano.

O escritório se chamava Ojinaga. Os projetos eram de apartamentos e casas residenciais, às vezes alguma obra comercial e stands para feiras. O escritório era pequeno, quatro pessoas trabalhavam no depto. de projetos. Fizemos alguns trabalhos relacionados com as olimpíadas também. O ambiente do escritório era excelente, me pagavam relativamente bem, o que me permitiu começar a viajar pela Europa.

Na verdade, a adaptação não foi tão difícil. Os espanhóis têm uma forma de trabalhar mais “relaxada”, menos estressante do que havia sido minha experiência de 5 anos trabalhando com arquitetura no Brasil. Os projetos se trabalhavam com calma, perseguindo uma boa qualidade. Meu chefe me dava bastante liberdade e comecei a fazer visita de obras e a me adaptar com a forma de ser deles. Na verdade, os espanhóis têm muito que ver com os brasileiros, em sua forma de ser, mas sentia uma maior seriedade nas questões relacionadas ao trabalho. O respeito que os arquitetos têm aqui diante da sociedade não tem comparação com o Brasil.

Em 1992, no dia em que começa as Olimpíadas de Barcelona, inicio minha primeira viagem. Comprei o famoso Europass (não sei se ainda existe) e realizei uns dos propósitos da minha vinda à Europa. A viagem foi toda aventura, sem nenhum planejamento. Viajava só (coisa que até hoje costumo fazer), dormia em albergues e trens (algumas vezes cheguei a dormir em estações de trem) e sem fazer muitos roteiros. Digamos que as coisas iam acontecendo. Depois de subir ao norte fui à Itália e desde aí à Grécia. Total foram 2 meses em que tive que trocar de tênis 2 vezes.

De volta a Barcelona, depois das típicas férias espanholas de verão, começo o que logo seria meu último trabalho junto ao Ojinaga. A direção do stand Phillips, na Feira de Barcelona. Quase 3000 m2 de recinto expositivo, o que me serviu como experiência de estar trabalhando diretamente com os operários espanhóis. Lembro-me que me surpreendeu muito o nível de vida deles, e de como a obra era organizada. Percebi o capricho de como trabalhavam, do respeito do trabalho de um pelo outro. Comparava com os operários com quem havia trabalhado no Brasil.

Paralelo ao dia a dia do escritório, estava fazendo o curso de Master na UPC. Por aqueles tempos o trabalho estava sendo mais interessante que o curso, freqüentava a faculdade esporadicamente. Acabei não concluindo este curso de Master.

Em outubro de 1992, o arquiteto Gilberto Bleggi, um grande amigo, me chama para trabalhar num escritório de urbanismo. Desde a época em que estudava no Mackenzie tinha interesse em trabalhar nesta área. A oportunidade era interessante, e o salário quase que o dobro do anterior. Não tive dúvidas.

INFRAES é um escritório que trabalha com infra-estrutura urbana. Desde canalização, arruamento, muros de contenção de terras, sinalização urbana, paisagismo, mobiliário urbano, estacionamento, etc. Também fazíamos projetos de estradas, túneis e pontes. Outro fato que me interessou em trabalhar neste escritório foi o de que utilizavam computadores. Desta forma, pude recuperar uma pequena experiência, de 1989, de trabalhar com suporte informático. O escritório era grande, trabalhavam umas 20 pessoas sendo que metade deles falava em catalão, o que foi positivo para mim.

Recife

Em 1994 bate uma grande “saudade” do Brasil. Tinha interesse em conhecer um pouco melhor o “meu país”, mas que não fosse uma cidade do sudeste ou sul. Por motivos diversos acabei “caindo” no Recife. Era uma sexta-feira de Carnaval, me interessou de imediato a cidade, seu calor, tudo o que tem a ver com o trópico: comida, festas, estilo de vida, este ser calmo e tranqüilo do nordestino. Depois de 10 dias de busca de trabalho, começo a colaborar num escritório de arquitetura, que também era um diller de AutoDESK. O acesso à informática que tinham me surpreendeu. Atuavam vários profissionais do mundo CAD, que sabiam bastante. Apreendi muito e comecei a trabalhar em 3D. Conheci Pernambuco, o Sertão, a Zona da Mata, e evidentemente o litoral. A vida no Recife era muito boa, rapidamente me entrosei bem com os recifenses.

Começo de 1995. Uma vez mais, sinto que Recife se havia esgotado para mim. Decido que era hora de voltar a Barcelona, desta vez para estudar. Desço de Recife até Florianópolis de ônibus: 2 meses pela costa brasileira.

Em São Paulo passo uns três meses, preparando-me para voltar a Barcelona, junto à família. Participo de um concurso com Eduardo Orciuoli (meu tio) de casas habitacionais com sistemas de pré-fabricação. Por fim pude trabalhar em algo “popular”. O projeto é um dos vencedores do concurso, e se fariam casas-piloto.

Nova York

Decido a fazer o Master La Cultura de la Metrópolis, na UPC, em Barcelona. O curso começaria em junho de 1995, e vejo que mais da metade das aulas seriam em inglês. Vejo a necessidade de ter experiência numa cidade em um país anglo-saxão. Na primeira semana de março de 1995 chego para passar uma temporada de 3 meses em Nova York. Os objetivos era de estudar inglês, conhecer a cidade, e porque não, trabalhar em um escritório de arquitetura. Consigo um estágio em Barthos & Rhodes, um escritório muito bem estruturado, com um ambiente de trabalho que não pude voltar a experimentar. No dia seguinte em que começo a trabalhar, me convidam a fazer um projeto de reforma de um apartamento, em frente ao Central Park. No mesmo dia vou tomar as medidas do apartamento, e só chegando aí, vejo que o metro não é um metro, mas está em polegadas!!!! Total perdi uma semana para descobrir que para projetar em polegadas, há que pensar em polegadas. Como tinham computador, comecei trabalhando em metros, depois transformava para polegadas. Mas os resultados das medidas eram “estranhos”. Não teve jeito: tive que pensar mesmo em polegadas.

Durante um mês, baixo a supervisão esporádica do pessoal do escritório, faço o projeto. E quando o apresento, o pessoal do escritório vê que sei trabalhar em três dimensões. No dia seguinte, começo a dar “aulas” de 3D. Enfim, a coisa foi divertidíssima, pois com meu inglês péssimo consegui ensinar o que havia aprendido no Recife, e descobri que gostava de dar aula. Na minha última semana em Nova York, me convidam para seguir trabalhando no escritório. Agradeço o convite, e digo que viria a Barcelona fazer um curso de Master.

Durante este período consigo alugar um pequeno apartamento em Manhattan, compartindo com uma pessoa “nativa”. Durante estes 3 meses, estudava pelas manhãs, trabalhava pela tarde e conheci a cidade pela noite e fins de semana.

Barcelona

Volto a São Paulo, e em junho de 1995 volto a Barcelona. Desta vez decido não trabalhar, para poder dedicar-me em tempo integral ao Master. Paulatinamente começo a dar aulas particulares para alunos de arquitetura da UPC. Compro meu primeiro computador. Começo a colaborar com Óculum, fato que me abriu determinadas portas. Em 1996, curso o 2º ano do Master, começo a trabalhar em minha tese, que só seria apresentada em 1999.

Decido começar a trabalhar, em 1996, por minha conta. Faço pequenos projetos e sigo dando aulas particulares de informática aplicada à arquitetura. Em 1997 abro uma pequena empresa de construção, dedicada a pequenas reformas. Monto uma equipe relativamente boa, com pedreiros, eletricistas, encanadores, pintores. A coisa vai funcionando.

Em 1998, me convidam a dar um pequeno curso de VRML na ESARQ – Escola Superior d’Arquitectura, na UIC – Universitat Internacional de Catalunya. Sigo colaborando com a Óculum, e escrevo um pequeno artigo para a AU. Em 1999, ESARQ me pede para fazer parte do departamento de informática aplicada à arquitetura. Começo a dar mais aulas.

Em 1998 participo, junto com alguns ex-alunos do curso Metrópolis de um concurso para o Japão. O projeto acaba não chegando a tempo, mas no ano seguinte envio o projeto para concorrer ao prêmio do IAB, jovens arquitetos. O projeto ganha um prêmio, como “Destaque”.

Acabo optando pela “vida acadêmica”, fechando a pequena empresa de construção. A ESARQ me solicita com freqüência, e começo a gostar cada vez mais de trabalhar em um centro universitário. Participo eventualmente em alguns concursos. Assumo a direção da seção “Digital Life”, na webzine iAZ (internet architectural zone) e colaboro com WAM.

No ano 2000 curso o Doutorado Historia, Arquitectura y Diseño del Mundo Moderno y Contemporáneo, na mesma ESARQ onde leciono.

Em 2001, organizo junto à Universidade Mackenzie um intercâmbio cultural com 25 alunos da ESARQ. O ateliê se dá durante o mês de julho, e foi uma experiência riquíssima em poder estar em São Paulo acompanhado pelos alunos barceloneses. Pela primeira vez me hospedo em um hotel, na “minha cidade”. Recomendo. A visão que tive de São Paulo foi totalmente diferente. Me senti um turista. Começo a dar conferências relacionadas com meu campo de investigação, o das novas tecnologias aplicadas à arquitetura.

Em 2002 começo a dar aulas e colaboro com a organização do curso de Master “Arquiteturas Genéticas”, na mesma ESARQ. Até o momento trabalhava como professor adjunto, que significa que não havia um contrato de trabalho. Neste ano a faculdade me faz um contrato, como investigador.

Atualmente estou organizando cursos, workshops, trabalhando na minha tese de doutorado e sigo dando aulas. Durante estes quase 12 anos que vivo fora de São Paulo, ao menos uma vez por ano vou ao Brasil. Muitas vezes me dizem: Brasil está muito longe. Respondo que está há 10 horas, mesmo tempo em que demorava para ir de ônibus de Florianópolis a São Paulo.

Futuro: não tenho a menor idéia. De momento, tenho coisas interessantes a fazer por aqui. Sobretudo apresentar minha tese de doutorado. O futuro simplesmente virá.

série completa dos "Depoimentos da Geração Migrante"

GUERRA, Abilio. "Depoimentos de uma geração migrante", Arquitextos 030.00, São Paulo, Portal Vitruvius, nov 2002 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq030/arq030_00.asp>.

SPADONI, Francisco. "Geração Migrante – Depoimento 1. Kenzo Tange e uma peniche no rio Sena". Arquitextos 030.01. São Paulo, Portal Vitruvius, nov 2002 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq030/arq030_01.asp>.

LEONIDIO, Otavio. "Geração Migrante – Depoimento 2. Em Paris, chez Christian de Portzamparc". Arquitextos 030.02. São Paulo, Portal Vitruvius, nov 2002 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq030/arq030_02.asp>.

VIOLA, Assunta. "Geração Migrante – Depoimento 3. Arquitetura e criatividade: uma experiência com Massimiliano Fuksas". Arquitextos 030.03. São Paulo, Portal Viutrivus, nov 2002 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq030/arq030_03.asp>.

ORCIUOLI, Affonso. "Geração Migrante – Depoimento 4. De São Paulo a Barcelona". Arquitextos, Texto Especial 161. São Paulo, Portal Vitruvius, dez 2002 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp161.asp>.

OIWA, Oscar Satio. "Geração Migrante – Depoimento 5. Arte sem fronteira". Arquitextos, Texto Especial 162. São Paulo, Portal Vitruvius, dez 2002 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp162.asp>.

MOREIRA, Pedro. "Geração Migrante – Depoimento 6. Brasil, Inglaterra, Alemanha – 15 anos", Arquitextos, Texto Especial 163. São Paulo, Portal Vitruvius, jan 2003 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp163.asp>.

LIMA, Zeuler R. M. de A. "Geração Migrante – Depoimento 7. Migrar, verbo transitivo e intransitivo. Uma experiência nos Estados Unidos", Arquitextos, Texto Especial 164. São Paulo, Portal Vitruvius, jan 2003 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp164.asp>.

DIETZSCH, Anna Julia. "Geração Migrante – Depoimento 8. Uma dupla experiência nos Estados Unidos", Arquitextos, Texto Especial 172. São Paulo, Portal Vitruvius, mar 2003 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp172.asp>.

sobre o autor

Affonso Orciuoli, arquiteto, mestre pela Universitat Politècnica de Catalunya, professor na Escola Superior d'Arquitectura de Barcelona

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