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architexts ISSN 1809-6298


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O autor comenta a trajetória do grande arquiteto brasileiro, ganhador do título de Doutor Honoris Causa da Universidad Central de Las Villas, Cuba


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SEGRE, Roberto. Homenagem à Oscar Niemeyer, Doutor Honoris Causa da Universidad Central de Las Villas, Cuba. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 050.01, Vitruvius, jul. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.050/562>.

Magnífico Reitor da UFRJ, Prof. Aloísio Teixeira;
Magnífico Reitor da Universidade de Las Villas, Prof. Dr. José Saborido Loidi;
Autoridades da UFRJ, da Universidade de Las Villas e do governo cubano;
Arquiteto Oscar Niemeyer;
Prezados assistentes;

É para mim uma grande honra pronunciar estas palavras de apresentação do mestre Oscar Niemeyer, e agradeço às autoridades dos dois centros universitários pelo convite.

Na realidade me sinto igualmente comprometido com as universidades que patrocinam este ato e com Oscar. Há quarenta anos o conheço, recebendo sempre o seu fraternal apoio. Escrevi inúmeros textos sobre a sua obra tanto em Cuba como no Brasil. Como professor do Instituto Politécnico de Havana, colaborei na criação da Escola de Arquitetura na Universidade de Las Villas nos anos setenta e ajudei o atual Diretor, Roberto López – quem teve a brilhante iniciativa de outorgar este título de Doutor Honoris Causa ao Oscar –, ao desenvolvimento da ensino e pesquisa da história da arquitetura.

Em 1997, o governo cubano entregou ao Oscar, no MAC de Rio de Janeiro, a “Ordem José Martí”, a maior outorgada pelo Conselho de Estado, como reconhecimento a sua obra e a seu apoio entusiasta e persistente à Revolução, revoltado com o injusto bloqueio norte-americano. Não é por acaso que a sua amizade com o Comandante Fidel Castro vem de longa data.

Mas esta nomeação tem um significado particular: É o agradecimento de todos os estudantes, professores e arquitetos cubanos, pela sua obra baseada numa visão poética do mundo, exemplo indispensável para os profissionais criativos e inovadores que procuram uma arquitetura ao serviço das necessidades materiais, culturais e estéticas da comunidade. Agradecimento que compartilham todos os estudantes e arquitetos progressistas da América Latina, por concretizar uma expressão formal e espacial original, baseada na inovação da tecnologia do concreto armado, que identifica no mundo não somente o Brasil mas também todos os países da região.

Por quê foi a Universidade de Las Villas a que assumiu esta iniciativa em Cuba, e não uma outra das quatro escolas de arquitetura que existem no país? Porque a universidade fica no centro da ilha, na cidade de Santa Clara, cidade com uma significativa história revolucionária e arquitetônica.

Foi em Santa Clara que no dia 29 de dezembro de 1958 se definiu a derrota final da ditadura de Batista; quando a coluna do exército guerrilheiro, sob o comando do Che Guevara, travou a batalha final com os militares do governo que haviam chegado em um inútil trem blindado para evitar a tomada da cidade. E foi na Universidade de Las Villas em 1959, primeiro ano do governo revolucionário, que o Che Guevara ministrou um memorável discurso sobre as tarefas da nova universidade cubana, não mais dedicada a formar os profissionais das classes privilegiadas, mas agora aberta aos diferentes grupos sociais e raciais: aos negros, aos mulatos, aos camponeses, aos operários, antes impedidos de estudar. Ao mesmo tempo, o entusiasmo dos estudantes pela arquitetura se deve ao fato que na região central de Cuba existe uma forte tradição urbanística e arquitetônica do período colonial, caracterizada pelas edificações barrocas e neoclássicas das cidades de Cienfuegos, Trinidad, Remedios e Sancti Spiritus.

A obra de Oscar é conhecida em Cuba de longa data, sempre admirada e seguida pelos estudantes e pelos jovens arquitetos, tanto na procura de uma linguagem renovadora e expressiva baseada na transparência e leveza dos generosos espaços livres que identificam nossa modernidade latino-americana, como pela sua luta contra as injustiças sociais.

Em 1954, a revista Espacio, editada pelos estudantes de arquitetura de Havana, entre os quais colaborava José Antonio Echeverría – mártir da luta revolucionária contra a ditadura, dirigente da Federação Estudantil Universitária (FEU) –, publicou dois números sobre a arquitetura brasileira recente e uma longa entrevista com Oscar. No ano seguinte (1955), na Terceira Bienal de São Paulo, no concurso de projetos de escolas de arquitetura, os estudantes de Havana obtiveram um dos primeiros prêmios com um projeto de centro de férias para operários em Cienfuegos. Na banca participaram Niemeyer, Machado Moreira, Bratke, Kneese de Mello e Gómez Machado.

A partir de 1959, os intercâmbios entre Cuba e Brasil se intensificaram até o advento da ditadura militar em 1964. Em 1961, na sexta Bienal de São Paulo, novamente os estudantes de Havana, sob a direção do professor Fernando Salinas, voltaram a obter o primeiro prêmio no concurso de escolas de arquitetura com um projeto de escola rural pré-fabricada. As formas livres da estrutura cogumelo, lembravam algumas das propostas estruturais em concreto de Oscar. Em 1963, com a celebração do VII Congresso da União Internacional de Arquitetos (UIA) em Havana, foi organizado um concurso para o monumento à derrota dos mercenários na Praia Girón e convidaram Oscar para participar no júri internacional, mas não teve a possibilidade de assisti-lo. Neste mesmo concurso o arquiteto brasileiro Fábio Penteado obteve um dos primeiros prêmios.

No período do governo militar no Brasil, foram interrompidos os intercâmbios, e em 1984, na Primeira Bienal de Arte de Havana, o arquiteto Ricardo Ohtake organizou uma exposição da obra de Oscar, apresentada no Castelo da Força na Praça de Armas. Finalmente, no final dos anos oitenta e início dos noventa, dois projetos foram elaborados para Cuba: a nova sede da embaixada do Brasil em Havana – uma leve estrutura de concreto com os andares suspensos no ar –; e o monumento-denúncia do bloqueio norte-americano – metáfora contida num anel de aço quebrado pela bandeira cubana –, que seria colocado na frente da embaixada de Estados Unidos no Malecón; propostas que até o momento, não foram construídas.

Oscar, você recebeu, em quase um século de vida, todos os prêmios e reconhecimentos mais importantes do mundo, entre outros: o prêmio Lênin na antiga União Soviética; o Pritzker Prize – injustamente compartilhado com um arquiteto norte-americano –; a Royal Gold Medal dos arquitetos ingleses; e recentemente o Prêmio Imperial do Japão.

Você construiu nos quatro cantos do planeta centenas de obras, difundidas e elogiadas nos mais diversos livros e publicações internacionais. Esta modesta nomeação, dificilmente vai ser divulgada no sistema publicitário do jet set internacional. No entanto, tem o valor de ser um gesto profundo, verdadeiro e de coração, dos professores, estudantes e arquitetos de um povo que luta pela sua dignidade, pela sua liberdade e pelo direito de viver com o sistema político que os habitantes da ilha elegeram para o seu desenvolvimento social, econômico e cultural.

Neste sentido, é não só o reconhecimento à sua obra arquitetônica, mas também à sua condição de humanista, constantemente atento aos caminhos da cultura progressista; da sua persistente atitude política e ideológica em defesa da justiça social, dos direitos dos oprimidos, dos explorados; e de lutar pela esperança de que todos os membros da comunidade tenham acesso à cultura, à beleza, à estética do entorno cotidiano.

Oscar, você é o símbolo do empenho criativo do arquiteto socialista, artista disposto a colocar o seu ego a serviço da sociedade, mas sem fazer concessões às imposições burocráticas e tecnocráticas, que tanto prejuízo causaram à arquitetura dos países da comunidade socialista. Receba neste ato a devoção, não somente dos universitários cubanos, mas de toda a nova geração latino-americana, que admira com paixão a sua capacidade de chegar aos 96 anos, com a força e a vontade de espírito de continuar imaginando novos desenhos, novas pinturas, novos prédios, novas estruturas, todas elas imagens expressivas do desejo de liberdade e felicidade dos povos de nossa sofrida América.

nota

NE – Pronunciamento ocorrido durante o evento Acadêmico-Cultural "Oscar Niemeyer. Uma Ponte entre Ilhas e Continentes", organizado pela Reitoria da UFRJ, e que aconteceu no dia 28 de junho de 2004, no Salão Pedro Calmon da sede da UFRJ na Praia Vermelha, e foi presidido pelos Reitores da UFRJ e da Universidade de Las Villas, Cuba.

sobre o autor

Roberto Segre é Professor Titular do DPA/FAU/UFRJ e Professor Titular Consultante da FA/ISPJAE Havana

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