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architexts ISSN 1809-6298


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O arquiteto e crítico chileno comenta a importância de uma arquitetura latino-americana ajustada às nossas condições climáticas, culturais e econômicas

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The Chilean architect and critic comments on the importance of a Latin American architecture adjusted to our climate, cultural and economic conditions


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COX, Cristián Fernández. Afirmação cultural:. Uma atitude ativa na busca da identidade na arquitetura. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 055.00, Vitruvius, dez. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.055/515/pt>.

Buscando uma atuação mais eficaz quanto à busca de uma arquitetura com identidade, acredito que seria conveniente partir de algumas hipóteses:

1

A primeira é ter consciência de que a forma de abordagem é diferente se feita por um historiador da arquitetura, historiador ou sociólogo, ou por um arquiteto de projeto. Os primeiros se concentram em fatos já sucedidos e, portanto, configurados e encerrados. Além disso, tais profissionais dispõem da visão de conjunto e da decantação dos fatos, atributos outorgados apenas pela distância no tempo. Assim, podem conceitualmente organizar o mais relevante, caracterizando a essência dos fatos acontecidos.

Para nós, arquitetos-projetistas, essa contribuição de historiadores e sociólogos é indispensável para que possamos entender a lógica interna dos fenômenos da identidade na arquitetura (e os fenômenos da arquitetura em geral). Já que não se trata de uma mera seqüência mecânica de influências das formas arquitetônicas do passado sobre as do presente, conforme se entende nas falácias da “arquitetura autônoma”, mas sim de fenômenos culturais de todos os envolvidos: os arquitetos que projetaram os edifícios, os habitantes e os que viabilizaram sua realização – afinal, os edifícios não se constroem por si mesmos.

Várias vezes ouvi essa falácia “autônoma” implícita aceitar como ponto pacífico o fato de a identidade da arquitetura mexicana contemporânea, por exemplo, ser basicamente uma continuação seqüencial da sua magnífica arquitetura pré-colombiana. Apesar de parecer lógica e até ter bons exemplos, como o belo Museu Rufino Tamayo, essa explicação é insuficiente, uma vez que a arquitetura pré-colombiana nada explica a respeito de um Barragán ou de um Legorreta. Tampouco explica a magnífica arquitetura moderna de um país como o Brasil... que nunca teve uma arquitetura pré-colombiana. Se olharmos para outro país com arquitetura pré-colombiana de alta qualidade, como o Peru, defrontamo-nos com o fato de sua arquitetura contemporânea não ter atingido a força de identidade da mexicana. A explicação da forma, somente a partir dela mesma, é insuficiente. A arquitetura “não” é autônoma.

Concluída essa introdução necessária, podemos voltar à nossa observação inicial: a abordagem do tema identidade em arquitetura por um historiador da arquitetura ou sociólogo é diferente da abordagem de um arquiteto-projetista.

Os primeiros trabalham sobre fatos já configurados, encerrados, distanciados no tempo. Ao contrário, nós, arquitetos-projetistas, a cada dia em nossa mesa de trabalho temos de propor algo para ser realizado, cada um em seu projeto e em seu caso particular: “aqui e agora”.

Que fazer então?

Pegar apressadamente algumas características da identidade "X" da arquitetura de nossos países, definidas por algum entendido e aplicá-las em nossos projetos? Evidentemente isso não teria a menor validade.

Não é válido transpor características literais da identidade arquitetônica do passado – por exemplo, os belos telhados coloniais do Chile – porque as condições técnicas atuais são, em sua grande maioria, substantivamente diferentes das condições em que tais telhados surgiram. Portanto, repeti-los hoje de forma mecânica e forçada, seria uma total transgressão do espírito, da razão de ser e do sentido que tais manifestações tiveram em seu momento.

Tampouco seria válido adotar características daquilo que se pode chamar o ser coletivo da identidade de uma nação. Não porque essa identidade não existe, mas porque, para efeitos operacionais, toda base cultural é tão completa, rica e impalpável, que qualquer tentativa de definição verbalizada pode acabar mais ofuscando que iluminando sua realidade. Assim, por exemplo, conquanto também se possa afirmar que a identidade chilena – na qualidade de filha do barroco católico sul-americano – pode ser mais colorida que uma identidade finlandesa... tal colorido poderia parecer uma falácia para quem compara, a partir de outra perspectiva, a "cinzenta personalidade chilena" com a "colorida personalidade brasileira"... ou ainda dentro do próprio Brasil, para quem compara a "comedida personalidade paulista" com a "exuberante personalidade carioca". Percebe-se, portanto, que tais características pré-definidas têm pouquíssima utilidade para o fazer arquitetura.

Por isso, quando nós arquitetos vemos a questão da identidade como a necessidade de buscar uma espécie de lista pré-definida de características "X", para logo depois encontrá-las e recuperá-las... enfrentamos uma verdadeira missão impossível: essa "recuperação" é inviável em si mesmo.

2

É inviável porque ainda que as bases idiossincráticas culturais pareçam estáveis – por exemplo, as diferenças entre alemães e italianos têm sido e continuarão sendo reconhecíveis por séculos –, costumam ser dinâmicas as manifestações concretas em que tais idiossincrasias se inserem. De tal modo que, por exemplo, embora a bossa nova continue como um tipo de samba, a influência do jazz, com o qual se fundiu, acabou por transformá-la. Neste sentido, a identidade cultural está muito longe de ser uma entidade metafisicamente invariável: “a identidade não é essência, mas história”, como afirma Otávio Paz.

Na verdade, a criatividade das manifestações culturais é sempre flutuante, pontuada por momentos brilhantes que logo se apagam, para às vezes reaparecer. Lembro-me que, da primeira vez que estive no Brasil, fiquei perdidamente apaixonado pela bossa nova. Nas noites cariocas ouvia as músicas de jovens cantores como Nara Leão, Edu Lobo, Jorge Benjor, Tom Jobim, João e Astrud Gilberto, as maravilhas musicais de Baden Powel com seu violão e sua caixinha de fósforos... Na manhã seguinte nas Praias do Arpoador, ouvia o cantarolar dessas mesmas canções pelas lindas garotas de Ipanema, pelos garçons e garçonetes do então chamado Castelinho, ou pelas babás empurrando seus bebês. Este samba com influência de jazz, que atingia toda a cidade e todas as classes sociais cariocas, essa espécie de identidade nacional da música popular brasileira, então abundante no Rio (pelo menos para meus olhos de turista), era algo mágico e inexplicável que me deixou marcas indeléveis.

Quinze ou vinte anos depois, ao regressar ao Brasil, percebi que aquela maravilha havia praticamente desaparecido. Parecia ter-se cumprido a triste profecia da canção: “pobre samba meu, foi-se misturando, se modernizando e se perdeu”. No entanto, isso não aconteceu de forma repentina: não se tratava da influência do jazz no samba, mas simplesmente a música brasileira havia sido esmagada pela música norte-americana.

O que acontecera? Será que em um período de 15 ou 20 anos, os brasileiros teriam perdido sua identidade cultural? Explicação bem mais provável, as circunstâncias e as disposições do ânimo criativo são flutuantes: vêm, vão, voltam, tornam a ir... etc.

A meus olhos estrangeiros, parecia acontecer o mesmo à arquitetura moderna brasileira. Em fases distintas dos anos 1930-1960, essa arquitetura teve momentos absolutamente brilhantes, e que nos maravilham até hoje. Hoje, porém eles parecem estar em recesso; e não é que a qualidade arquitetônica tenha desaparecido: a remodelação da Pinacoteca de São Paulo, por Paulo Mendes da Rocha, vencedor do prêmio Mies van der Rohe de 2002, parece uma obra-prima (2). No entanto, não é a mesma coisa, pois nessa obra não cintila aquela modernidade arquitetônica tão afirmativa e insolentemente brasileira que saltava aos olhos, em seus momentos de brilhantismo.

Por ora fico por aqui, deixando anotado que as manifestações da identidade cultural correspondem a disposições de ânimo ou atitudes que, por serem históricas, são inerentemente oscilantes.

3

Mudando um pouco o enfoque de nosso tema, gostaria de lembrar que, para nós ibero-americanos, as questões de identidade estão inseparavelmente ligadas às questões da modernidade.

Ora, nossa modernidade não foi criada por processos endógenos ou espontâneos, como aconteceu com as nações que se modernizaram antes, inventando suas manifestações modernas já durante o percurso. Nossa modernidade foi criada pelo saudável "efeito demonstração" dos países já modernos; sendo assim, cada vez que adotamos um modo moderno, não sabemos se aquela é uma manifestação autêntica de fato, ou se estamos simbolicamente parodiando um fetiche da modernidade que desperta nossa admiração acrítica. Durante séculos, as elites chilenas confundiram o ser moderno com ser à la francesa, e mais tarde com ser à la norte-americana. Não quero dizer não aproveitar as fantásticas lições que podemos aprender com os países desenvolvidos, que nos antecederam na modernização; ao contrário, esse é um patrimônio precioso no âmbito do "civilizatório" (4), mas que atua de forma bem diferente no âmbito cultural onde se situa a fundamentação da identidade.

Pergunto: seria moderno fazer em Santiago do Chile edifícios totalmente envidraçados sem qualquer proteção, em um entorno cuja radiação média equivale à de Marrakesh no norte da África, a 33 graus de latitude? Os efeitos negativos provocados por esses acumuladores de calor (os curtain-walls) costumam ser contrabalançados por grande gasto de energia de ar-condicionado em edifícios chamados "inteligentes", simplesmente porque administram tal gasto de forma computadorizada.

E assim, essa forma ridícula de apreender erradamente a modernidade nos leva ao supremo paradoxo: quanto mais estúpidos forem os arquitetos, mais inteligentes têm de ser os edifícios.

A partir daqui, portanto, as reflexões sobre nossa identidade cultural nos levam, antes do que esperávamos, a uma reflexão sobre a modernidade. Há algumas décadas, quando passei por esse processo, me vi compelido a revisar o tema, fazendo o que hoje chamaríamos de "reengenharia" nos conceitos de modernidade.

O que é modernidade em arquitetura? Como caracterizá-la em si mesma, em uma conceituação válida para todas as áreas de conhecimento, conforme ela mesma requer?

Das tentativas de responder a essa crucial questão, a mais sintética e abrangente que encontrei é uma resposta que, embora vinculada à antropologia religiosa, pode ser extrapolada para o conceito de modernidade em geral: a modernidade caracterizada como o desafio histórico de transitar de uma ordem recebida para uma ordem produzida (5). Assim, por exemplo:

  • No plano político, transitar do direito divino dos soberanos (ordem recebida) para a soberania popular (ordem produzida);
  • No plano filosófico, transitar de uma cosmovisão teocêntrica (ordem recebida) para uma cosmovisão antropocêntrica (ordem produzida);
  • No plano do dever, transitar de uma moral religiosamente fundada (ordem recebida) para uma ética sustentada na conveniência social: (v.gr.) o imperativo categórico de Kant (ordem produzida);
  • No plano da arquitetura, transitar de um entendimento segundo os cânones dos manuais impostos pelas academias (ordem recebida) para um entendimento como a busca das formas habitáveis mais apropriadas às potencialidades, anseios e sensibilidades de uma determinada sociedade (ordem produzida).

Esta caracterização coloca em cheque o próprio núcleo da atitude moderna: a aspiração a uma maior gama de questionamento crítico e de liberdade, e a conseqüente aspiração a uma participação mais ativa no ordenamento e melhoria do mundo... ir de uma cosmovisão de ordem recebida para uma outra, de ordem a ser produzida.

E assim, esta caracterização tão simples e potente, ordena as coisas já de início. Diante dela, fica patente, por exemplo, que copiar a fachada de vidro americana, de forma acrítica, sem previamente ter-se dela apropriado, adaptando-a à nossa realidade, é na verdade, submeter-se a uma ordem recebida: uma atitude anti-moderna.

Com esse tipo de ‘re-engenharia’ do conceito de modernidade, percebemos que ela consiste fundamentalmente em uma atitude diante da própria realidade: ser autenticamente moderno implica a atitude de pensar e agir de forma apropriada a "partir de" e "para" sua própria realidade.

Esta atitude é a que chamamos de afirmação ou assertividade cultural, que redunda em uma modernidade sempre apropriada.

4

Como favorecer o despertar desta atitude de afirmação cultural?

A afirmação cultural é uma atitude saudável, logo seu contrário, a alienação cultural, pode ser vista como uma atitude enferma. E consoante o que tenho visto e experimentado, uma boa maneira de despertar essa atitude saudável de afirmação cultural é atacar e evidenciar a atitude oposta, a da alienação. Como? Tomando consciência da patética fatuidade de nossas ridículas alienações.

Ao adotar tal enfoque, percebi que nossas alienações arquitetônicas costumam estar ligadas ao nosso anseio de ser moderno: porém um anseio mal compreendido entre os arquitetos, como o de estar na moda das manifestações de modernidade de outras sociedades mais desenvolvidas: outras sociedades, outras histórias, outras realidades. Ou seja, um anseio de pseudomodernidade “da boca para fora”, que é a raiz de nossa alienação arquitetônica. Por isso me concentrei em um tema mais tangível para encontrar manifestações concretas de nossas alienações culturais e colocá-las em evidência: evidenciar sua enfermidade para que, por contraponto, sua sanidade possa ser ressaltada.

Um bom exemplo desse contraponto pode ser apreciado na foto 1 de uma casa colonial de campo, em Lo Orrego Arriba, no vale central chileno. Originalmente, essa casa de paredes de adobe e coberta com telhas de barro era de uma arquitetura totalmente apropriada ao clima, aos usos, costumes e tecnologias disponíveis no Chile da época. Neste sentido, era uma arquitetura autenticamente apropriada... a partir de sua realidade e para ela.

Tal autenticidade foi ridiculamente desfigurada no início do século XIX, quando a casa foi pseudomodernizada com a sobreposição de um frontão de tabuado pintado, imitando um estuque neoclássico à la francesa. Tal pseudomodernização ao estilo francês é patética, como mais tarde, na protomodernidade chilena, as cópias do fetiche do concreto aparente a la Corbusier (outro modo de “estilo francês’), quando entre nós, embora ainda fôssemos uma sociedade pré-industrial – empregamos a tecnologia do concreto aparente para aplicar o anseio moderno de coerência entre estética e tecnologia... com uma tecnologia então inexistente entre nós.

Diferentemente do que ocorreu, por exemplo, na Colômbia, quando Rogelio Salmona, discípulo de Le Corbusier, em vez de copiar literalmente o fetiche moderno do concreto aparente, respondeu àquele anseio moderno de coerência entre tecnologia e estética com uma tecnologia verdadeira e concreta da Colômbia: a excelência da alvenaria de tijolos, que chegou a ser paradigmática em Bogotá: não uma ordem recebida alienante, mas uma ordem produzida a partir da própria realidade e para ela: uma arquitetura autenticamente moderna.

Com esta "reengenharia" do conceito de modernidade, é evidente que a alienante pseudomodernização a la francesa feita nas casas acima mencionadas, é a aceitação servil de uma ordem recebida; igualmente o é a cópia do concreto aparente de Corbusier no Chile pré-industrial no início do século 20; e ainda nossos atuais edifícios com "paredes de vidro": trata-se de pseudomodernidades, na verdade, atitudes antimodernas. Percebe-se claramente, portanto, que a atitude de Salmona e de outros arquitetos colombianos é que foi saudável e autenticamente moderna.

Tendo por base essa conscientização, no final dos anos 70, durante o SAL (6) de Manizales, na Colômbia, criei o conceito de modernidade apropriada à própria realidade... a partir dela e para ela. Conceito, que desde então, tem sido bem aceito na América Latina.

Diante dessa conscientização e junto com outras circunstâncias de autoconfiança em nós mesmos e em nosso futuro, temperados com uma saudável dose de humildade (realismo), atualmente no próprio Chile vem ocorrendo uma forte e saudável reação contra a alienação cultural. O país, agora maduro em sua autocrítica, permite o surgimento de ações de afirmação cultural contra aquele problema originado em nós e por nós mesmos (7).

5. Alienação e apropriação: alguns exemplos chilenos

Como se sabe, os edifícios "fachada de vidro", hoje tão populares em todo o mundo, foram feitos pela primeira vez por Mies van der Rohe em Lake Shore Drive, Chicago, no início dos anos 50. Representam uma obra-prima em relação ao anseio moderno de coerência entre tecnologia e estética. Como nos mostram as fotos 2 (construção) e 3 (fachada pronta), onde vemos a estrutura durante a construção e seu aspecto final logo após o término da obra, a coerência entre tecnologia e estética é evidente.

Exatamente o inverso é apreciado nesse outro edifício em Santiago do Chile (foto 4), cuja fachada também de vidro é bastante parecida à dos edifícios de Mies. Na imagem seguinte, da estrutura deste edifício em construção (foto 5) percebe-se a absoluta incoerência entre a pesada tecnologia de concreto, utilizada para suportar os terremotos chilenos, e a aparência estética de uma fachada feita de "aço e vidro", distanciada de nossa realidade. Em vez da afirmação cultural de tirar partido estético das características estruturais exigidas por nossa realidade sísmica, o arquiteto disfarça o edifício como "moderno", negando envergonhado de sua própria realidade... como um chimpanzé vestido de seda. Isso é o que chamamos de atitude de alienação cultural.

Ainda no Chile, temos um exemplo magnífico de coerência entre a tecnologia estrutural exigida, em caso de terremotos, para absorver os esforços horizontais e torções que eles provocam, e sua expressão estética em suas fachadas. Trata-se do edifício Manatiales, dos arquitetos Izquierdo, Lehmann, Lira e Peñafiel. Sua coerência entre tecnologia e estética é notável (fotos 6, 7 e 8). O edifício foi finalista do Prêmio Mis van der Rohe em 2002 e é um caso muito auspicioso do que estamos chamando de atitude de afirmação cultural.

Outro exemplo é o caso do edifício Montolin, projetado nos anos 80 em nosso escritório. Tal edifício, respondendo às realidades que imperam em Santiago com sua alta radiação solar (33 graus de latitude sul) tem suas fachadas diferentes, segundo a proteção solar requerida por cada orientação. A fachada norte que, no hemisfério sul, é a mais ensolarada; a fachada oeste, voltada para a rua (foto 9) e a fachada sul, que praticamente não recebe nenhuma radiação solar e tem a "fachada de vidro" quase sem proteção alguma.

A fachada norte é protegida por uma treliça que, após o término da obra, serviu de apoio a trepadeiras de folhas caducas: frondosas durante o verão quando se necessita de sombra, para quase desaparecerem no inverno, quando o calor do sol é bem-vindo. Na foto 10 pode-se observar essa cortina vegetal em pleno crescimento e na foto 11, a proteção das janelas do edifício pela sombra da parede estrutural perfurada.

6. Em síntese

Sendo a arquitetura uma manifestação a partir da natureza humana e para ela, as contribuições da sociologia, da historiografia arquitetônica e da história em geral são essenciais para entender seus fenômenos. No entanto, a tarefa dos arquitetos projetistas quanto à identidade – criar uma arquitetura apropriada a partir de cada realidade e para ela – requer enfoques diferentes daqueles dos sociólogos e dos historiadores. Fundamentalmente, uma atitude de afirmação cultural, entendida como a aceitação criativa das vantagens e carências de cada sociedade, de acordo com seus valores e peculiaridades. Uma atitude de contemporaneidade apropriada que aparece espontaneamente em algumas sociedades, e naquelas onde isso não acontece a mesma pode ser despertada pela exposição das negatividades da atitude contrária: a alienação de quem trata de parecer o que não é.

Nós, arquitetos, devemos ter sempre presente que a identidade cultural não é uma essência racional "a ser procurada e encontrada", mas sim um fenômeno vivencial que vai sendo criado no devir social: daí que quando a atitude de afirmação cultural floresce em uma sociedade, é possível que cada arquiteto, ao enfrentar sua tarefa caso a caso, vá resolvendo integralmente seu problema arquitetônico.

Parafraseando a sabedoria do Evangelho:

... Buscai, com humildade (realismo) e imaginação criadora, a apropriação e a beleza a partir de vossa realidade e para ela... e a modernidade e a identidade vos serão dadas por acréscimo...

notas

1
Este texto foi realizado como contribuição regional (Brasil/América Latina) ao projeto de pesquisa sobre Arquitetura & Identidade coordenado pelo Prof.Dr.Peter Heerle, Habitat Unit, TU Berlin, por solicitação da arquiteta Ruth Verde Zein, pesquisadora associada. Ver http://www.architecture-identity.de/research_home.htm.

2
Baseado apenas pelo que vi nas fotos e no projeto; não estou certo de minha opinião, uma vez que não estive na obra.

3
Empregando as categorias do "civilizatório" e do "cultural" de Alfred Weber.

4
Estúpido: em jargão cibernético é um ser que não modifica sua conduta diante das variações de sua realidade.

5
Esta definição é de Marcel Gauchet, citado em LECHNER, Norbert: Subjetividad y política. Fondo de Cultura Econômica, 1990, Chile.

6
SAL – Seminários de Arquitetura Latino-americana

7
E não de malvadas potências estrangeiras como nossa queixosa autocompaixão latino-americana gosta de supor.

[tradução de Anita Regina Di Marco, arquiteta e tradutora]

sobre o autor

Cristián Fernández Cox, arquiteto e crítico chileno, autor de "America Latina Nueva Arquitectura" (Gustavo Gili, 1998), foi ganhador do Prêmio Nacional de Arquitetura 1997 outorgado pelo Colégio de Arquitetos de Chile

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