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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Os planos modernos revelam as formas de pensar a cidade em um dado momento, as intenções globais sobre sua sociedade e seu espaço


how to quote

NOVICK, Alicia. Planos versus projetos: alguns problemas constitutivos do urbanismo moderno. Buenos Aires, 1910-1936. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 057.01, Vitruvius, fev. 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.057/497/pt>.

No debate atual, muitos autores diferenciam o projeto urbano do plano urbanístico e do projeto de arquitetura (2). Os defensores do projeto urbano associam o “plano clássico” a um produto técnico de alcance global que se perfila até longo prazo, contrariamente ao projeto de arquitetura, cuja unidade leva o selo de um autor e cujo impacto é delimitado no tempo e no espaço. A noção de projeto urbano se constrói como uma dobradiça entre ambos os extremos, que se apresentam como pares polares estigmatizados. Diferentemente dos “planos”, o projeto urbano daria forma ao espaço sem tentar incidir sobre o conjunto da cidade e, em oposição aos “projetos de arquitetura”, propõe outra vinculação com o tempo (incorporando-se às largas temporalidades urbanas). Assim, o projeto urbano se apresentaria como o último baluarte do urbanismo frente à planificação “abstrata e gerencial”. Segundo outras opiniões, os “projetos urbanos” são vértices de projetos gerais para a cidade, pactuados socialmente, enquanto que para seus críticos manifestam a legitimação da especulação imobiliária frente à carência de uma arbitragem pública que garanta os equilíbrios sociais e espaciais da cidade.

As noções de “projeto” e “plano” têm suas raízes na arquitetura. Em suas origens etimológicas, que remontam ao Renascimento, aludem à geometria e à representação gráfica, e referem-se à organização de uma composição artística, no espaço e no tempo, adequando meios e fins. O objetivo da Arquitetura seria a elaboração do “projeto”, o do urbanismo, do “plano”. A distinção entre “projeto de arquitetura” e “plano” se funda na multiplicidade de atores participantes e na consideração do tempo e do espaço. Segundo Lacaze, projeto alude a um “procedimento intelectual mediante o qual se propõe uma realização, justificado de antemão por um conjunto de planos e de cálculos, pela coerência do objeto a construir e por sua adequação ao programa definido de antemão pelo contratante”. Por outro lado, o Plano de urbanismo “tende a obedecer a uma lógica diferente à do projeto, marcando uma interação complexa entre decisões públicas e escolhas efetuadas livremente por numerosos contratantes privados” (3).

Quando se origina a noção de projeto urbano? Tal como o recorda Françoise Choay, “a aparição de termos novos ou a difusão de antigas palavras sob novas acepções marcam geralmente a emergência de novas problemáticas” (4). Progettazione, urban design, projeto urbano são, portanto, conceitos forjados em um cenário histórico específico: o fim da década de sessenta, quando as propostas do Movimento Moderno deslocam-se da vanguarda para a experiência realizada. Nesta circunstância se revisam as relações entre a arquitetura e a cidade (seu contexto urbano construído, seu meio social e sua história), traduzindo-se em novos métodos de análise e formulação de propostas. As pesquisas sobre o tipo e a morfologia urbana ilustram estes novos enfoques, que formulam uma produção fragmentária e demarcada do espaço da cidade. É ilustrativa, neste sentido, a denominação que utilizam os italianos para se referir ao projeto urbano: progettazione (5). O termo tenta condensar em um só procedimento e em uma expressão unitária três dimensões do processo de projeto: o diagnóstico, a concepção do projeto e sua implementação.

Mais tarde, no final dos anos oitenta, o projeto urbano é incorporado como uma dimensão do planejamento estratégico. Esta perspectiva do planejamento substitui a idéia da gestão tecnocrática centralizada por procedimentos de gestão acordados entre os múltiplos atores urbanos que intervém na produção da cidade. Em uma dinâmica complexa – sobre a base da identificação e seleção dos múltiplos projetos sociais, espaciais e econômicos – vai se constituindo um projeto de cidade, sobre a base de cenários alternativos para o futuro, abertos e pactuados. Dentro dessa perspectiva, “o projeto urbano” pressupõe uma intervenção emblemática sob os efeitos do marketing urbano (6) ou um meio operativo para formular o plano estratégico (7).

Uma vez apresentada estas questões, é evidente que o projeto urbano – a palavra, sua definição e alcances – é um produto recente (e não é possível relacioná-lo à “composição clássica”), mesmo que alguns efeitos revival reivindiquem antigos procedimentos. Sem dúvida, a noção está atravessada por vários dos nós problemáticos que a colocam dentro dos dilemas que o Urbanismo Moderno enfrentou ao longo do século.

Em primeiro lugar, se colocam os conflitos entre a consideração do conjunto e a resolução dos problemas particulares. Tal como o mostra a literatura, desde suas origens o Urbanismo enquanto dimensão da reforma social, como política pública moderna, tentou uma ação sobre a totalidade da cidade para responder a problemas de diversas ordens (sociais, espaciais, técnicas) conciliando os interesses privados e os coletivos. Sem dúvida, as tentativas de conciliação entre o espaço global da cidade e suas partes (que se revelam também no conflito entre as idéias abstratas de planejamento e o espaço construído; entre a “criação individual” e a “estética de conjunto”) não acabam por se resolver, nem na concepção clássica – a construção do conjunto sobre a relativa autonomia dos projetos – nem nas ambições da modernidade que tentam subordinar os projetos a uma visão de conjunto.

Em segundo lugar, o diagnóstico – tributário dos métodos da ciência positiva – tentava fazer uma avaliação de todos as dimensões em jogo para propor instrumentos que antecipem a ação. Sem dúvida, a conciliação complexa entre o diagnóstico preliminar (previsões, cifras) e as formas de ação propostas (projeto, intervenção) revelam impasses, que Jean-Pierre Gaudin indicou com precisão em seus textos (8). Habitualmente o diagnóstico se efetiva a partir dos instrumentos disponíveis.

É nesse campo de tensões constitutivas que jamais se resolvem que reside uma das chaves para situar historicamente estes temas. Neste trabalho, formularemos a hipótese de que as tensões estabelecidas entre o plano e o projeto – como noções historicamente construídas – manifestam alguns dos problemas centrais do urbanismo e permitem colocar em perspectiva a recente noção de projeto urbano. Para além dos ciclos que propõe Collins (9), as oposições entre Arte Urbana e Urbanismo do Movimento Moderno, entre urbanismo “regulamentador” e “operacional”, sustentamos que em cada cenário histórico, das mais distintas perspectivas, se busca resolver esses dilemas.

Em textos anteriores, mostramos que os projetos locais que antecedem aos planos dos princípios deste século, para os quais se contrata a técnicos estrangeiros (10), constituem um campo de experimentação que, conjuntamente com uma progressiva institucionalização da Universidade e da Administração Pública, relativizava o peso das influências estrangeiras. Neste texto, o centro de interesse reside na relação que se estabelece entre as idéias globais sobre a cidade e as propostas de intervenção. Diferentemente das argumentações tradicionais que aludem ao escasso impacto dos planos na constituição do espaço urbano, nos interessa mostrar, que além de dar conta das formas de pensar e de atuar sobre a cidade em um dado momento, incidem diretamente em sua constituição.

Segundo a problemática esboçada, centraremos a análise em três cenários históricos, coincidentes com três documentos de urbanismo, cuja confecção ficou sob a responsabilidade da Municipalidade da Cidade de Buenos Aires durante as primeiras décadas deste século.

Em uma primeira parte, será examinado o Novo Plano (1907-1911) – sob responsabilidade do francês Bouvard e de um grupo de técnicos locais. Coerente com uma tradição do século XIX, tenta conciliar no traçado a estética e a racionalidade funcional, tendo como concepção geral uma idéia de cidade fechada e hierarquizada. O plano se coloca entre as determinações formais do projeto e aquelas indeterminações próprias do plano moderno.

Em uma segunda parte, nos referiremos ao Projeto Orgânico da Comissão de Estética Edilícia (1923-25). O documento, um plano de projetos, reflete as tensões entre os princípios da Arte Urbana e os alcances do diagnóstico científico.

E na terceira parte se estudará a incorporação do escritório técnico de urbanismo dentro da administração municipal (1932). A tentativa frustrada de um Plano Regulador – foi realizado um diagnóstico exaustivo que não se converteu em um documento – põe em evidência que idéias globais sobre a cidade – formalizadas ou não em planos – se dissolveram por detrás de cada um dos projetos.

1. O novo Plano, entre Projeto e Plano

Até o fim de século os problemas da obra pública se tornam particularmente complexos em Buenos Aires, que em 1880 assume a condição de Capital da República. Seus amplos limites jurídicos delimitados em 1888, incluem no território da Capital Federal amplos terrenos desurbanizados e núcleos ocupados por antigos povoados, localidades aonde o estabelecimento da comunicação é necessário. A grande cidade recebe importante fluxo imigratório, que impulsiona um crescimento demográfico sustentável. É sede também de investimentos nacionais e internacionais em infra-estruturas e serviços. Todos esses fatores, unidos à acumulação derivada das grandes exportações de produção primária, gera uma forte especulação em terras e imóveis. As obras de grande escala, os edifícios representativos do Estado Nacional e as múltiplas iniciativas individuais, que a crise dos anos noventa não consegue frear completamente, se imbricam com a complexidade de gestão suscitada pelos processos de modernização.

Com efeito, desde fins do século passado, os meios técnicos colocam a necessidade de controlar as modalidades de produção do espaço, tanto no que diz respeito às Obras Públicas como da construção privada. Nesta demanda é estratégico o papel desempenhado pelos profissionais qualificados, jovens egressos dos novos cursos que se vão constituindo na Universidade, principalmente engenheiros e higienistas. Estes tomam para si a resolução de diversos problemas do espaço urbano, à medida que vão ocupando espaços nos organismos da Administração que eles mesmos contribuem para criar (11). Em um primeiro momento a Sociedade Científica Argentina (12) se constitui no campo da reflexão. Ali se debatem os temas de infra-estrutura, os levantamentos cartográficos, o traçado do cadastro (13), os Regulamentos de Edificação (14), as técnicas construtivas (15), etc. Mais tarde, estes princípios serão postos em prática nas repartições nacionais e municipais. Por um lado, uma ampla gama de repartições se ocupa de temas de saneamento (16), enquanto o Escritório de Obras Públicas (regulamentado em 1891) reformula o Regulamento de Construções (aprovado em uma primeira versão de 1887), inicia as tarefas de levantamento cadastral (1894) e efetua tarefas de regularização (pavimentos, nivelação, alinhamentos). Mesmo assim, no âmbito municipal, as modalidades de controle urbano foram se transformando, transferindo-se das Comissões de Vizinhos para os escritórios da Administração municipal (17). Essa demanda de racionalização e “institucionalização” dos saberes sobre o urbano se nutria das múltiplas experiências européias em planos de embelezamento e extensão, veiculadas por meio da bibliografia e do intercâmbio de profissionais.

Nesse clima, depois de concluir o Plano Topográfico da Cidade em 1894, a Prefeitura designou uma Comissão para implementar o traçado definitivo de ruas, praças e avenidas, “o qual deveria ser seguido no futuro”. O Plano, que começa a valer em 1894, era imaginado como um instrumento de convergência de todas as iniciativas públicas e privadas, um instrumento a mais na ampla gama de ferramentas utilizadas na regulação do espaço urbano. Tal como se pode observar na Revista de Engenharia, em um texto que colocava a necessidade de coordenação de todas as obras públicas: “se de uma vez por todas se formulasse um plano regulador das obras concernentes a um novo traçado para o Município, visando a homogeneidade e harmonia dos projetos, se conseguiria evitar muitos desacertos administrativos, que tantos prejuízos causa aos interesses públicos”. (18)

Para sua elaboração foi convocada uma Comissão de notáveis com a finalidade de assessorar a Prefeitura na tomada de decisões. Todos eles eram funcionários e membros da Sociedade Científica: o Diretor do Escritório de Obras Públicas da MCBA, Engenheiro Carlos M. Morais (ex-presidente da Sociedade Científica Argentina), o Arquiteto Juan A. Buschiazzo (ex-diretor de Obras Públicas de Alvear e projetista da abertura da Avenida de Maio), o Engenheiro Carlos Olivera (da primeira leva local de engenheiros) e o agrimensor Eduardo Castex. O Plano de Melhorias (19), que se torna público em 1898, base do Plano de alinhamento de 1904, é um documento exclusivamente técnico que se complementava com uma ampla gama de propostas de saneamento e regularização.

A resolução justapôs dois níveis. Por um lado, uma matriz básica, a quadrícula, que permitia o controle da urbanização sobre o conjunto do município. A quadrícula, severamente questionada como morfologia pela Arte Urbana (20), é o meio que permite a homogeneização do espaço público, a liberação de terras para o mercado e assegura o papel de gerenciamento para a Municipalidade. Dito de outro modo, constitui a base que permite controlar o espaço urbanizado e a urbanizar (21). Sobreposta a tal trama, um sistema de parques e uma rede hierarquizada de grandes avenidas conectavam a extensão da cidade, as estações de Estrada de Ferro e os grandes edifícios públicos. Foi aprovado pelo Conselho Deliberativo em 21 de novembro de 1898, mas nunca foi confirmado pelo Congresso Nacional. A articulação que propôs o Plano de Melhorias do fim de século foi ainda tosca, mas marcou as dimensões sobre as quais se traçou a maioria das propostas para o Centenário.

A partir de uma idéia de cidade fechada e hierarquizada, o Plano de Melhorias propôs uma rede de parques, uma Avenida Costeira e um sistema de avenidas diagonais centrais em torno dos dois principais espaços públicos: a Praça de Maio e o do Congresso. A rede de parques e praças é iniciada pelo trabalho de Carlos Thays à frente da Direção de Parques e Passeios da Municipalidade de Buenos Aires. Este conjunto foi completado paulatinamente durante as primeiras décadas do século pelo mesmo órgão e consagrado nos anos vinte, com as contribuições de Forestier, na Comissão de Estética Edilícia (22).

A fronteira entre o território urbano e os afastados subúrbios foi assegurada por um ambicioso projeto de “rodovia de contorno”. Uma Avenida Costeira, continuada pela retificação do Riachuelo e uma rua Periférica, era a materialização dos limites estabelecidos para a Capital de 1886. Proposta pelo Departamento de Obras Públicas Municipal em 1896, reinterpretava a imagem dos boulevards europeus. Tal como afirmavam seus autores: “(o caminho da Ribeira e a Avenida de Contorno) separarão Município da Capital da província de Buenos Aires, e, finalmente, fechando este belo circuito, se terá o passeio projetado ao longo do Riachuelo e que se prolongará até Barracas. Assim, encerrada neste formoso círculo, com seus grandes parques e passeios, suas amplas avenidas, seus grandes edifícios públicos e privados e sua população, que irá sempre aumentar, atraída por este grande centro, se pode ter idéia do que será a que já é hoje primeira cidade da América” (23).

“A primeira cidade de América” era também o cenário para o desenvolvimento dos edifícios públicos que simbolizavam o Estado Nacional (24). O Congresso e as outras construções monumentais – como o Correio, os Tribunais, o Teatro Colombo, a rede de escolas públicas – relacionados entre si e com a Praça de Maio. As diagonais radiais desde a Praça de Maio e do Congresso, o monumental eixo da Avenida de Maio – primeira abertura “hausmanniana” iniciada em 1886 – e a Avenida Norte-Sul (que unia as estações de Estrada de Ferro) inauguram o esquema básico incluído no Plano de Melhorias que será objeto de controvertidos debates durante as primeiras décadas do século. Mais do que o influxo do modelo parisiense, que deixa sua marca nos debates das diagonais, interessa marcar duas questões centrais, vinculadas à problemática tratada. Em primeiro lugar, estes projetos marcam uma importante oposição entre o embelezamento do centro e a extensão, que se defende na ocasião. Em segundo lugar, abrem a participação aos arquitetos aos temas urbanos, monopolizados até esse momento pelos engenheiros e higienistas.

De fato, desde as últimas décadas do século XIX, os higienistas, os reformadores sociais e os novos partidos políticos foram deslocando suas preocupações dos “cortiços” centrais para as bordas da cidade, que, sem serviços e sem infra-estruturas, se constituíram como espaço de localização dos setores de menores recursos. Com o crescimento, a cidade lentamente se constrói como problema social. Nesse momento se polarizam as opiniões entre aqueles que priorizam o embelezamento central (com justificativas de circulação e higiene) e os que se preocupam com a melhoria dos bairros suburbanos. Por exemplo, a proposta de abertura da Avenida Norte-Sul, pensada como uma via de hierarquização e circulação, se associava com as desapropriações da Avenida de Maio e condensava múltiplas críticas: “Criar avenidas no centro da cidade, através da desapropriação de centenas de propriedades, é começar por onde se deve concluir, quando a capital está quase sem comunicação com os centros suburbanos que a rodeiam por causa dos caminhos que são uma verdadeira vergonha” (25). Estamos diante do conflito entre a necessidade de controlar problemas do crescimento e o embelezamento do centro, as duas caras tradicionais da modernização do século XIX que se tenta resolver. “Criar uma avenida grandiosa – quando não temos hospitais, nem asilos, nem mesmo todas as ruas abertas, quando temos contudo bairros populosos iluminados por querosene, quando não temos como recolher as imundícies da cidade senão empregando meios primitivos, quando nossos matadouros são um foco de infecção (...) Paris tinha tudo isso e muito mais quando começou a realizar seus projetos, nós deveríamos fazer o mesmo” (26). Nas antigas cidades européias se tende a “evacuar” e funcionalizar o centro (aos moldes hausmanniano), ou, a “proteger” os antigos centros – condensadores dos valores tradicionais, históricos – urbanizando o subúrbio à maneira do Ensanche de Barcelona ou do Ring vienense. Em Buenos Aires o conflito era duplo, porque se necessitava construir ao mesmo tempo a cidade “velha” – com edifícios e espaços públicos – e “a nova” – a urbanização dos setores mais afastados, “os bairros suburbanos” que necessitavam da intervenção pública. Planos e projetos deveriam resolver esse conflito. Nesse momento, ainda que se insinuem caminhos de convergência, os temas dos diversos profissionais são ainda tratados em esferas diferenciadas: de engenheiros e engenheiros sanitários – preocupados por assegurar as infra-estruturas –, de higienistas e reformadores – que colocam soluções para a habitação operária – e de arquitetos ocupados com traçados e embelezamento do centro.

Os textos de Camillo Sitte e mais globalmente o ideário da Arte Urbana consagram as figuras dos arquitetos como protagonistas dos planos de remodelação. O “plano de urbanismo que produz um efeito estético é uma obra de arte e não um simples assunto administrativo” (27). A partir dessa divisão ideal de tarefas, os funcionários municipais tomariam para sua responsabilidade os problemas da extensão, das comunicações e da adequação do espaço às novas atividades. De seu lado, os “artistas urbanos” assegurariam o embelezamento público por meio dos traçados, edifícios e monumentos, que desempenham um rol pedagógico no seio da comunidade. Nesse sentido, nas vésperas do Centenário, as diversas recém constituídas corporações profissionais solicitavam Concursos para a confecção de planos de embelezamento ao mesmo tempo em que criticavam a ação dos funcionários municipais (28). A Prefeitura, no contexto da preparação das obras para o Centenário da Emancipação, que estava sendo preparado para 1910, resolve contratar diretamente a Joseph Bouvard, chefe dos Trabalhos Públicos de Paris (29).

Como enfrenta os problemas de Buenos Aires o Novo Plano de 1909, realizado pelo francês Bouvard conjuntamente com uma Comissão de Técnicos?

O objetivo inicial, tal como foi enunciado no documento, era o de uma busca de coerência: “ante a diversidade de projetos que se tornaram públicos (é) de indiscutível utilidade fazer um estudo de conjunto” (30). De fato, o documento arbitrou entre as propostas em andamento. Bouvard transmitiu sua experiência na confecção do memorial descritivo, em seu domínio sobre a bibliografia e as tomadas de partido globais, que lhe permitiram apresentar de uma nova forma as propostas urbanísticas. As menções eruditas a Henard – em temas de circulação –, a Buls – em referência à estética urbana – e a Forestier – como especialista em sistemas de parques –, conferem a “fundamentação teórica” à proposta. Diferentemente do Plano de Melhorias, preocupa-se em organizar um raciocínio global, mesmo considerando que a abordagem seja ainda fragmentária e se apóie sobre os grandes projetos enquanto núcleos da composição. De fato, a Comissão do Novo Plano não teve poder para resolver a localização dos edifícios públicos, as estações de Estrada de Ferro – enunciados como problemas – nem os temas de habitação e de infra-estruturas debatidos em outros âmbitos

O projeto espacial foi apresentado em duas versões. O primeiro plano é uma síntese sobre fundo branco com as principais linhas do projeto; o segundo é um plano topográfico da cidade recoberto com a quadrícula, sobre a qual se imprimem os projetos de rede viária, praças e parques. Nos limites da Arte Urbana, em termos do tratado de Cloquet (31), “o traçado do plano de uma cidade compreende a delimitação de suas ruas e suas praças”. Simultaneamente, se desenhavam os projetos para a praça do Congresso, a esplanada aberta para a Praça de Maio, o Balneário, o traçado das praças e jardins como elementos relativamente autônomos. Em termos de Cornelius Gurlit: os objetos do arquiteto “eram as notas (fatos singulares) do ritmo da melodia urbana (o conjunto)”. Os planos, os traçados de Arte Urbana deviam relacionar “estas notas”.

A organização geral se estruturou com uma descrição crítica do existente e uma listagem das transformações a serem efetuadas nas Praças (Praças públicas, Parques e Jardins), o sistema viário (Vias Públicas a criar-se, continuar-se e implantar-se, Vias radiais ou concêntricas, oblíquas ou diagonais, Vias de Prolongamento e de união, Vias ou parte das vias atuais a implantar-se) e nos pontos de articulação (encruzilhadas, estações de Estrada de Ferro, Edifícios Públicos). A única idéia forte do partido tributária da experiência anterior do francês foi a recuperação da relação da cidade com o rio. O projeto de Avenida periférica-Avenida Costeira, apresentado pelo Departamento de Obras Públicas e elemento chave do Plano de Melhorias, foi ampliado na intenção de recuperar o rio. “As disposições adotadas até agora, e, em particular na parte mais densa da cidade, tem revelado os belos aspectos do incomparável rio que a bordeja” (32).

O diagnóstico sobre os problemas da cidade foi breve e cada dos problemas identificados na cidade existente se vinculava com um elemento compositivo disponível. Assim, a falta de higiene (o aproveitamento do ar puro, a regulação do movimento), a “utilização social” (ponto de reunião, de descanso, local agradável, lugar de festas e cerimônias); de “estética” (localização apropriada para monumento) são resolvidos com os desenhos de parques e de praças. Para resolver as questões de circulação, se efetuou uma ácida crítica sobre as mazelas da quadrícula, que “impede as comunicações diretas e a comunicação fluída entre diversos pontos”; “marca uma difícil distribuição dos edifícios”, “uma ausência de perspectivas pintorescas e atraentes”. Frente a este panorama, se propôs “um sistema” de ruas, concêntricas, radiais de forma oblíqua ou diagonais, que tendem a “descongestionar o centro comercial e financeiro” e “a melhorar sensivelmente a estética da cidade” (33).

O Novo Plano foi um produto de transição entre “um projeto” e “um plano de urbanismo”. Foi um projeto, porque se propôs levar a cabo com coerência as transformações da cidade como objeto delimitado e autores precisos. A justificativa (ainda não se trata de um diagnóstico sistemático) se efetua sobre os problemas da cidade – circulação, rentabilidade econômica, higiene, vida social – em paralelo com os instrumentos compositivos utilizados. Mas ao mesmo tempo, considerando as indeterminações no tempo, “é preciso preocupar-se com o futuro e traçar para isso, hoje, uma norma de conduta, um programa fixo no caminho do progresso”, no espaço (a trama ortogonal que se estende, se delimitam os lotes para construir para os particulares, os locais aonde os artistas devem exercer sua arte) e na gestão se considerou o papel da Administração Pública para levar a cabo a tarefa. Segundo a definição dada, o “plano” consistia em “regras gerais que vão ser seguidas de ora em diante pelas autoridades e às quais será preciso ajustar-se na execução das obras que se realizem de acordo com as circunstâncias e recursos disponíveis” (34).

De uma maneira geral, o documento se caracterizou mais por formular novos instrumentos operativos, do que apresentar propostas novidadeiras de transformação urbana. Na elaboração do Plano, os projetos passam a formar parte de um esquema sistematizado das mudanças da cidade. De fato, após isso se iniciará a construção do balneário, a criação de novas praças, se aprovarão no Congresso os projetos de avenida Norte-Sul e Avenidas diagonais (1912), etc. Ainda que o Novo Plano não seja acabado em toutes piéces, muitos dos projetos concebidos passaram a fazer parte do debate público e foram se concretizando ao longo do século.

2. Um Plano de projetos

Em 1923, o Prefeito Dr. Carlos Noel convoca uma Comissão de Estética Edilícia (CEE), com o objetivo de traçar o estudo das reformas da cidade: o volume Projeto Orgânico para a Urbanização do Município. Plano Regulador e de Reforma da Capital Federal (35), publicado dois anos depois.

Como o Novo Plano, o documento se propõe a conciliar uma ampla gama de projetos – anteriores e novos –, como uma etapa prévia para a realização de um verdadeiro plano regulador, cujos alcances são especificados no último capítulo. É o primeiro documento local que tenta seguir os princípios do Urbanismo Moderno, retomando seus temas-problema e com uma bibliografia atualizada. Tal como se lê no título, não se trata de “um plano” ainda ligado a uma imagem cartográfica, mas de um “projeto orgânico”. Este se refere ao organismo da cidade, para o qual se desenha uma proposta “moderna, racional e metódica” para sua reforma e regulação. É um documento que pontua intenções globais sobre a cidade e sua vida coletiva. A “totalidade” é, ao mesmo tempo, social, espacial, funcional e aponta para a comunidade. “O plano de uma cidade é a expressão de uma vida coletiva” e a cidade, portanto, não só deve satisfazer uma finalidade material de bem-estar comum, mas convidar a seus habitantes à realização de um alto propósito” (36).

O objetivo central da CEE é reequilibrar a estrutura urbana de Buenos Aires, transformada (e deformada) pela extensão e crescimento. Assim, prevalece a necessidade de descobrir e conservar a identidade da cidade, assegurando o sistema urbano. A idéia de “sistema” é entendida como uma relação entre as partes e o conjunto: “A ordem obtida pela classificação das funções da cidade permite ao urbanista dar a cada elemento o desenvolvimento real que merece e eles são os encarregados de construir o conjunto do Plano orgânico”. (37).

Diferentemente do Centenário, para a coordenação global na década do vinte, a necessidade de um plano responde a uma demanda que começa a ser formulada dentro dos meios técnicos e a partir das fileiras socialistas e de reformadores sociais. De fato, entre o Centenário e os anos vinte o foco dos debates se foi deslocando do embelezamento para os problemas da habitação operária. Em 1912, a Lei Sáenz Peña de sufrágio universal ampliou a participação popular, incorporando novos elementos aos partidos políticos que, após a crise dos anos 90, passam a representar novos grupos emergentes da imigração. Novos projetos relacionados com as condições de vida dos populares entraram em cena conjuntamente com a criação de múltiplas Associações que pressionavam as autoridades. Os incipientes projetos e realizações dos primeiros anos do século, a constituição da Comissão de Casas Baratas (1915), os debates do Congresso da Mutualidade (1918), da Cooperação (1919), e da Habitação (1920) organizados pelo Museu Social Argentino, traziam à tona um rol significativo de problemas espaciais e sociais da cidade. As conclusões do Congresso da Habitação de 1920, inspirados no evento homônimo realizado em Londres nesse mesmo ano, sintetizavam tais preocupações: a necessidade de traçar planos, resolver o problema da habitação e, de uma forma mais geral, controlar e racionalizar a produção do espaço urbano. Estas conclusões foram elaboradas durante uma etapa prejudicada profundamente pela crise do primeiro pós-guerra, quando os problemas de abastecimento afetavam as condições de vida na Buenos Aires.

Três anos depois, uma melhor situação financeira e a troca presidencial permitiram dar um novo impulso às grandes obras públicas, que como no Centenário, precisavam de uma linha de coerência. Em 1923, o Prefeito reuniu a Comissão de Estética Edilícia (Prefeitura, 1925). Segundo o documento inicial, foram convocados os “elementos mais autorizados dos poderes públicos encarregados de controlar a construção dos elementos nacionais, as obras públicas a se erigir na Capital Federal, que por seu intermédio vão se ajustar ao plano geral” (38). Os membros da Comissão foram selecionados entre as principais instituições públicas com competências sobre projetos: René Karman – arquiteto francês que desde 1912 é um dos chefes de Ateliê da Faculdade de Arquitetura –; o Arquiteto Carlos Morra – Presidente da Sociedade Central de Arquitetos –, Sebastián Ghigliazza, Diretor do Ministério de Obras Públicas da Nação, representante do organismo nacional, responsável pelos grandes projetos edilícios; o Arquiteto Martín Noel, Presidente da Comissão Nacional de Belas Artes; e o Engenheiro Victor Spotta, Diretor Geral do Departamento de Obras Públicas da MCBA. A secretaria foi assumida por Emilio Ravignani, historiador e Secretário da Fazenda da Municipalidade, enquanto o projeto para os espaços verdes e livres foi encomendado ao francês Jean-Claude Forestier.

Os debates entre embelezamento central versus equipamento suburbano, problema constitutivo do urbanismo, persiste. Nesse sentido, se coloca a necessidade de descentralizar a cidade, de forma indireta por meio do zoneamento e das normas, e de forma direta pelas propostas de “Bairros operários, jardins e embelezamento suburbano”, uma série de centros cívicos e um sistema de espaços verdes e livres de caráter metropolitano. O papel de Forestier consistiu em analisar os projetos de um empréstimo aprovado em 1923 para a construção da Avenida Costeira, ampliação do balneário, melhoramento de praças, parques de exercícios físicos, colônias de férias e sistemas metropolitanos de parques. O francês defendeu, pela primeira vez em Buenos Aires, a necessidade de considerar o espaço extramuros: “os numerosos povoados que circundam nossa urbe (...) vão ser contemplados com sua possível anexação ao tecido da Capital, uma vez que, situados ao longo de seu cinturão urbano, estão convocados a compartilhar seu futuro e ser no presente fontes de abastecimento e tributários dos serviços urbanos da Capital federal” (39).

Vislumbra-se, mesmo considerando o tratamento algo rudimentar, o interesse em examinar as tendências para construir as leis de evolução de Buenos Aires. O Projeto Orgânico dá conta da evolução histórica da cidade, realiza estudos estatísticos de população e edificação, de abastecimento, tratamento de resíduos e de hospitais. Não obstante, os estudos de diagnósticos incluídos apontam para duas situações em contraste. Colocam-se como justificativas das decisões de projeto adotadas ou é uma análise de caráter específico, sem vinculação com o proposto. Mencionemos, como ilustração, que a análise demográfica não se relaciona com a de zoneamento. De igual modo, o estudo da história da cidade é uma argumentação que legitima os espaços a intervir.

O centro da proposta da CEE consistiu em reunir e analisar a exeqüibilidade dos projetos a partir de premissas de gerais: “para preparar o vasto plano de obras edilícias que propõe, não se pretendeu indicar ou formular novas soluções, prescindindo do que antes se havia estudado ou proposto. Pelo contrário, decidiu-se com especial empenho colecionar antecedentes e estudos anteriores, a fim de consultar opiniões, concretizar observações e estudar as diversas soluções anteriormente propostas para resolver este importante assunto” (40). Com esse objetivo, se estuda a reestruturação geral da rede viária (Avenida Periférica, Avenida Norte-sul, Avenida Costeira), os acessos à cidade (Praças das estações ferroviárias: Praça Constituição, Praça Onze de Setembro, Praça do Retiro); os espaços cívicos (Praça do Congresso, Praça de Maio) e dos centros para a expansão (Praça da Itália, Parque Centenário), vinculando todos entre si e reorganizando o conjunto da cidade. O desenho destes locais é avaliado em seu desenho e em suas relações: “não (se) abordou o estudo definitivo de nenhum dos anteprojetos que propõe, pois se considera que esse trabalho deve ser objeto de um meditado e longo estudo, que não se enquadra dentro do caráter de um projeto geral de obras, como é o que se lhe foi encomendado preparar” (41).

Na análise e elaboração das propostas coube atuação especial a René Karman – acadêmico francês, professor de Ateliê da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Buenos Aires – que dirigiu a equipe de projetos. As referências diretas foram a City Beautiful e o manual de Civic Art de Hegemann e Peets, que estão presentes na bibliografia e conferem o embasamento teórico da proposta. As proposições de arquitetura são vinculadas à arquitetura neocolonial, tendência encabeçada por Martín Noel, o irmão do Prefeito. Existe uma tentativa de considerar as funções, a racionalidade compositiva e o respeito pelas tradições como uma busca de identidade, rechaçando os cânones estéticos da modernidade (42). Os compromissos conferidos à “estética” se vinculam ao papel pedagógico e à valorização do passado como fundamentais para a comunidade. “O ideal de um programa social superior é o que devolverá às cidades modernas sua beleza perdida. Só certos estados sociais provocaram a criação dos belos exemplos do passado” (43).

Uma tentativa de abandonar esses critérios foi proposta contemporaneamente por dois jovens arquitetos, que voltam de sua viagem iniciática à Europa. Alberto Prebisch e Ernesto Vautier, admiradores dos mestres do Movimento Moderno, apresentam em 1924 um projeto urbanístico inspirado na Cidade Industrial de Tony Garnier. Suas lâminas mostravam um conjunto zonificado, com construções de concreto armado e uma imagem geral austera. “O problema, para ser bem colocado, requer antes de tudo, afastar completamente toda consideração sentimental, o conhecimento perfeito das diferentes peças que precisam ser coordenadas para integrar o imenso mecanismo que constitui a cidade”. Cada peça deve desempenhar estritamente sua função no conjunto” (44). O projeto in toto de Prebisch e Vautier recupera uma experimentação anterior em habitação operária e introduz pela primeira vez a idéia de um plano que subordina a arquitetura ao conjunto. “A arquitetura perde todo significado como expressão individual de uma idéia estética. Contudo, se converte na fiel expressão de um sentir coletivo” (45). Os Ensaio de Estética Contemporânea, de autoria dos dois, marca a emergência de uma corrente que patrocinará as célebres conferências de Le Corbusier em 1929.

Apesar das múltiplas críticas que a literatura da época e a historiografia formulam ao documento, é importante destacar que este se concebe a si mesmo como uma etapa preliminar para a confecção de um Plano. O capítulo final propõe a necessidade de constituir uma Comissão ad-hoc para confeccionar um Plano, e de Regulamentos que assegure a coerência global da cidade (46). “O crescimento da Capital não pode, logo mais, permanecer deixada à própria sorte; uma vigilante atenção deve em todas partes como em todos os momentos, aplicar-se como uma constante vontade de subordinar todos os casos particulares ao conceito geral do conjunto da cidade”. O Plano, apresentado como uma necessidade imperativa, deveria “assegurar a unidade e defesa das idéias emitidas como a perseverança do prosseguimento de obras e projetos (...), fomentar pela propaganda o interesse público a fim de que sua obra seja apoiada por todos. Ou seja, deve realizar, em completa harmonia com a opinião pública, esta obra de caráter essencialmente coletivo”. (47)

O Projeto Orgânico recupera os projetos anteriores, coloca ênfase na composição de grandes conjuntos edilícios como referências para qualificar uma cidade que crescia. Sem dúvida, os projetos de praças e centros cívicos, as redes viárias e de espaços verdes apontam para a constituição de sistemas estruturadores da extensão e complexidade metropolitana. As propostas incluem temáticas novas (ainda que sem maiores desenvolvimentos) como habitações operárias, problemas suburbanos, resolução de temas técnicos, que as diferenciam do Novo Plano do Centenário. Não obstante, se instala o conflito entre o todo social, técnico, cultural – do qual dava conta o diagnóstico – e o caráter das soluções espaciais adotadas.

3. O Plano no projeto

Na década de trinta, as idéias do Urbanismo Moderno já estão firmemente instaladas no debate público de Buenos Aires. As experiências dos anos vinte, o Plano de 1925, os Congressos, as visitas de profissionais de prestígio como Jaussély, Le Corbusier e Hegemann, assim como a difusão realizada pelas publicações das corporações profissionais e civis contribuíram para estabelecer mediações entre os âmbitos profissionais e o grande público e a obter amplo consenso.

Depois da convocatória do Plano da Comissão de Estética Edilícia de 1925, três debates importantes no Conselho Deliberativo da Municipalidade de Buenos Aires mostram linhas de consenso nos meios legislativos. Antes de finalizar a realização do Projeto Orgânico, uma proposta de 1924 luta por uma consideração dos componentes higiênicos e técnicos, em aberta crítica aos pressupostos excessivamente “estéticos” presentes no Plano, que ainda se encontra em vias de elaboração. Em 1929 um socialista encabeça uma petição para a realização de um Plano Regulador, cujo propósito é resolver os desequilíbrios sociais na cidade. Entretanto, na terceira apresentação, ocorrida em 1932, após o restabelecimento da democracia após o golpe militar de 1930, manifesta a urgente necessidade de elaborar um Plano Regulador e de instalar um Escritório técnico.

No mesmo ano, o Município cria o Escritório do Plano de Urbanização, cuja direção fica a cargo do Engenheiro-urbanista Carlos María Della Paolera, cuja trajetória está estreitamente ligada à evolução do debate urbanístico portenho. O primeiro texto publicado por Della Paolera trata de estética urbana. Quatro anos depois, em 1920, publica na mesma revista um longo informe sobre o Plano Regulador de Paris, e nesse mesmo ano participa do Congresso da Habitação, aonde apresenta com uma proposta de regulamentação profissional. Mais tarde, durante sua estadia na França (1924-27), envia artigos para o jornal La Nación, participando à distância na difusão das idéias locais, enquanto terminava seus estudos de doutorado. Sua tese, orientada por Marcel Poète, apresenta uma evolução urbanística de Buenos Aires (48), como base para a formulação de um Plano Regulador para a cidade. Este trabalho seminal constitui as bases de sua atuação nos anos trinta, quando se torna o braço executor das estratégias modernizadoras do Prefeito de Vedia y Mitre, em um contexto de repressão política e social (a literatura denomina a este período da história argentina como “década infame”, quando um governo eleito por sufrágio fraudulento sucede ao golpe militar de 1930).

A partir do Escritório Municipal se apresenta um amplo programa de ação para a urbanização regional. Aspectos a coordenar: problemas de circulação (rede ferroviária e de estradas da aglomeração portenha), redes de cidades (a organização das localidades suburbanas em função da cidade-núcleo); de temas habitacionais (possível instalação de bairros econômicos em zonas propícias nos arredores da capital); espaços livres e verdes (criação, fora e dentro do município, de zonas e reservas de espaços para o sistema de parques regionais) e localizações industriais, etc. Sem dúvida, as conquistas são extremamente restritas. Se obras metropolitanas são realizadas (como as pontes que se comunicam com a província, sob responsabilidade do Ministério de Obras Públicas), não se consegue a desejada “coordenação metropolitana” (em Buenos Aires tais organismos nunca conseguiram se consolidar), os estudos preliminares de zonning recém tomaram corpo no Código de Edificação de 1944, enquanto os empreendimentos sociais são quase inexistentes na área da Capital.

Conceitualmente, o programa responde passo a passo às premissas instituídas pelo urbanismo “científico”, preconizadas pelos trabalhos de Agache, Gréber e Agustin Rey, autores dos tratados de maior difusão e professores do Instituto de Urbanismo, aonde Della Paolera realiza seus cursos de pós-graduação. O escritório de Urbanização tem um programa de trabalho claro, inspirado no modelo médico. Segundo a metáfora orgânica, a cidade é um “organismo vivo em um meio que reage sob a ação de agentes externos e internos”. O urbanista é o médico, que efetua o diagnóstico embasado pela história clínica – evolução urbanística – e concebe um tratamento no qual, certamente, não devem estar ausentes as considerações próprias da Estética. A meta é o organismo saudável, modelo ideal ao qual se deve chegar mediante a conjunção entre “arte” e “ciência”.

A partir dessas premissas se chega a uma metodologia de trabalho precisa, adotada pelo Escritório. Em primeiro lugar, estudar a evolução da cidade (a anatomia, que se põe em paralelo com a história clínica). Para cumprir esse objetivo são desenvolvidos exaustivamente os estudos de diagnósticos – meio geográfico, trabalhos históricos, estudos de vapores – que conformavam o corpo principal da tese de Della Paolera. Em segundo lugar, elaborar os estudos estatísticos (a fisiologia, que se refere à constituição de um programa). A análise de censos e os estudos da evolução do volume construído, das atividades econômicas e comerciais deram origem a numerosos documentos de trabalho. Como terceiro ponto, se procede às propostas espaciais – incluídas na “Arte Urbana” (a clínica médica cirúrgica, coloca a necessidade da intervenção).

O papel que cabe ao expediente urbano é introduzir a “cientificidade” – na análise dos dados e na classificação de fenômenos, para fundamentar os princípios que guiam a ação. A “arte urbana” é, segundo essa colocação, o resultado de um diagnóstico e o último passo da ampla gama de estudos prévios, mas também o lugar aonde se materializa “a intuição” que marca o desenho dos traçados e dos projetos.

Della Paolera tenta dar contornos precisos a esta particularidade e diferenciar-se de definições anteriores: “um plano é uma representação gráfica, agradavelmente colorida, na qual figuram todas as transformações projetadas para uma cidade existente ou todas as estruturas previstas para uma cidade a criar-se”, contrariamente, um plano (regulador) deve compreender a muitos “planos e toda classe de representações da cidade e de seus problemas (...) a propaganda, o ensino e a luta urbanística e deve amoldar-se à metamorfose rápida dos complexos vitais da urbe...” (49). A partir dessa acepção restritiva, o “plano regulador” seria o resultado de estudos permanentes, do expediente urbano, dos profissionais e da propaganda, enquanto “o plano”, próximo à carta geográfica, seria uma proposta formal (que engloba os planos de embelezamento e extensão do período anterior). Nesse contexto, o papel do “projeto” é uma intervenção totalmente tributária de um programa que contempla a cidade em seu conjunto.

O Escritório, apesar de propor seus programas de ação e completar uma ampla gama de estudos de diagnósticos, que são apresentados em exposições, eventos científicos e cursos universitários, não consegue elaborar um Plano Regulador oficial. Não existe sequer um único documento programático que inclua todas as propostas de ação, hierarquizadas e precisas. No final da gestão se elabora um texto (50), que tenta conferir uma coerência entre as obras propostas, mas trata-se de uma justificativa a posteriori, que deixa evidente a fragmentária ação em curso. As razões para isso podem ser múltiplas – a dimensão restrita do Escritório, seu papel subordinado aos desígnios do Prefeito... Mas sem entrar nos méritos de suas causas, que excedem a este texto (51), é pertinente analisar suas conseqüências. Os alcances do “plano ausente” se evidenciam nos debates que suscitam os mega-projetos, aonde se vislumbram os impasses entre diagnóstico e proposta, entre as idéias globais sobre a cidade e as intervenções fragmentárias.

Uma ilustração paradigmática destes problemas pode ser vista quando examinamos os projetos realizados para se escolher o traçado da Avenida 9 de Julho. Esta abertura é produto de um antigo projeto de 1895. O eixo Este-Oeste da Avenida de Maio se complementaria com um eixo Norte-Sul, um dos pontos do debate sobre as diagonais na passagem do século. Seu traçado original, que previa uma rua de 33 metros de largura, foi aprovado em janeiro de 1912 (Lei 8855), após o Novo Plano. O Plano de 1925, com sua prioridade pela descentralização dos centros cívicos, a integrava com as diagonais Norte e Sul, configurando os extremos da base do triângulo com dois marcos monumentais.

Della Paolera realiza dois projetos sucessivos (1933 e 1937), que em lugar dos 33 metros de largura propõe liberar uma quadra completa de 100 metros para criar uma “avenida parque” sem edificação. A diferença entre ambos reside em que o primeiro se organiza ao redor de uma rua de circulação rápida subterrânea, enquanto que o segundo mantém as avenidas em nível, evitando os cruzamentos com o subterrâneo existente. Em 1934 apresenta uma variante que consiste na criação de um centro de Edifícios de Governo no cruzamento com a Avenida de Maio e dos marcos monumentais, similares aos que estavam presentes no Plano de 1925. Este último projeto dialoga abertamente com outras propostas contemporâneas. Fermín Bereterbide (52) retoma em 1932 o projeto original de uma Avenida de 33 metros, flanqueada por uma faixa contínua de edifícios – habitações – de altura igual (8 andares), que articula centros cívicos. No geral este projeto revisita a proposta de Eliel Saarinen para Chicago, de 1922 (53), e a combina com edifícios de habitação. Por outro lado, Ernesto Vautier – que elaborara junto com Prebisch a “Cidade Açucareira” em 1924, reformula esta idéia (54) um ano depois, propondo um embasamento contínuo de espaços comerciais e jardins de dois pisos e concentrando a edificação em uma ou duas torres – superquadras – que eliminam a distribuição dos lotes e quadras tradicionais. Ambos projetos prescrevem uma rede viária subterrânea – solução técnica hegemônica nos anos trinta (55). Estes projetos controvertidos – aos quais poderiam se somar a “Monumentalização Funcional” de Angel Guido (57) ou a resolução dos engenheiros do Ministério de Obras Públicas – mostram a intensa experimentação urbanística da época, quando a rivalidade entre projetos vem acompanhada de uma luta pelo domínio de espaços profissionais e institucionais. Contudo, não é difícil identificar os modelos urbanos que inspiram a cada projetista. “A cidade vertical”, “as propostas habitacionais das municipalidades reformistas”, são algumas das referências. Mas não se trata somente de uma referência a modelos, usual na mimese do desenho de arquitetura. Os projetos apresentados podem ser considerados como fragmentos de idéias gerais da cidade em seu conjunto, mas que fragmentos de uma cidade imaginada em seu conjunto.

O triunfo do projeto de Della Paolera é haver conseguido impor a configuração de park-way, sem edificação (57), sem arquiteturas; um pulmão urbano oposto às versões defendidas pelos seus oponentes Beretervide e Vautier, coerente com a operação de deslocamento do centro – que desde o século passado se localizava no eixo Praça de Maio-Avenida de Maio-Congresso – até o Norte. Sua proposta será o alvo de numerosas críticas. Do ponto de vista financeiro, se objeta com a perda da potencial renda para o Município que representariam os terrenos residuais no projeto original de 30 metros. Do ponto de vista urbanístico, a idéia de uma avenida parque no centro urbano é duramente criticada pelos setores mais ortodoxos formados pelos arquitetos do Movimento Moderno. O processo de tomada de decisões que precedeu à sua abertura teve comentários tão conflitantes nos espaços de debate político que, ainda quando as obras já haviam começado, continuavam as formulações de projetos alternativos.

Mas é interessante analisar como se justificou a proposta do Escritório: “A Avenida 9 de Julho com seus 140 metros de largura parecerá exageradamente larga para quem não a considere como tramo central de penetração de uma artéria principal de tráfego regional” (58), afirmava em 1937, depositando no projeto uma frustração, a impossibilidade de constituir um organismo para a aglomeração portenha. Levar a cabo uma obra nesta escala e com a magnitude da “grande Buenos Aires”, pressupunha a necessária coordenação metropolitana. Com idêntica argumentação, o megaprojeto se vislumbra como uma resposta de zonning, aumentando os espaços livres e verdes, solucionando os prementes problemas de circulação e de estacionamento de veículos, e considerando o devir, peça chave de um Plano de Urbanismo. Todas as dimensões do urbanismo se unificavam hipoteticamente no projeto. Mas, mais que um resultado do diagnóstico preliminar (as razões prévias que indicariam a conveniência dessa obra por sobre a exeqüibilidade de outras), o diagnóstico é posterior e é utilizado enquanto justificativa do emblemático projeto dos anos trinta.

Concretamente, esta Avenida inspirada junto com a Avenida de Maio nas operações de abertura de avenidas do século XIX, será aprovada legalmente no início do século e reformulada pelos sucessivos documentos de urbanismo. Inclusive o Plano Diretor, elaborado por Kurchan e Ferrari Hardoy no ateliê parisiense de Le Corbusier, essa ville radieuse para Buenos Aires, tomará como eixo estruturante a Avenida 9 de Julho (59). A obra se iniciou em 1937 com quatro quadras e cresceu espasmodicamente até concluir-se em 1996, como parte da rede de autopistas metropolitanas, projetadas pelos governos militares. Ao longo do século, o projeto recebe o selo das idéias urbanísticas de cada cenário histórico.

4. Planos e Projetos

Se revisarmos os “casos” que apresentamos acima, é possível identificar a emergência do urbanismo moderno. No Novo Plano (1909), o Plano se define como “uma série de regras gerais para que as autoridades se ajustem na execução das obras no tempo”. No formato de um “plano de embelezamento e extensão” se limitou a resolver o traçado e a estabelecer os limites entre o público e o privado, a partir de uma idéia de cidade fechada e hierarquizada. Os focos da composição foram os projetos de espaços públicos e os edifícios representativos do Estado Nacional. A justificativa (ainda não tem a dimensão de um diagnóstico) se efetua em função dos instrumentos compositivos.

A introdução do “diagnóstico” a partir dos “métodos da ciência positiva” e o interesse em considerar todas as dimensões dos problemas da cidade, se colocam in nuce com o Urbanismo Moderno. Nesse momento, o papel atribuído aos estudos da evolução urbana e aos estudos preliminares é considerado como fundamentos do desenho. Não obstante, se instala um conflito entre o estudado e o projetado, entre a consideração do conjunto da cidade e suas partes, que acaba não se resolvendo. Dar forma, problema clássico da arquitetura, entra em colisão com as linguagens científicas implementadas nos estudos. São tais tensões, que se manifestam no Projeto Orgânico (1923-25), que se tenta anular com a proposta de cidade açucareira (1924) e, mais tarde, com o Plano Diretor elaborado por Kurchan e Ferrari-Hardoy junto com Le Corbusier em Paris (1938). Como a grande maioria das propostas do entre-guerras na América e na Europa, os planos não são realizados. Sem dúvida, suas idéias ganham materialidade através das intervenções fragmentárias. Poderia se dizer que este texto focalizado no período genético do urbanismo dá ênfase para os princípios oriundos da Arte Urbana, que se perdem na passagem do urbanismo ao planejamento, quando a idéia de cidade se estende à Região, cuja “forma” se dilui na abstração dos pressupostos do zonnig e das regulamentações. Por acaso essa lógica não persistiu nas décadas de pós-guerra?

Os planos modernos revelam as formas de pensar a cidade em um dado momento, as intenções globais sobre sua sociedade e seu espaço. Assim mesmo, as partes de planos que se concretizam são aqueles “projetos” pactuados que persistem no tempo (60). Estes sempre interagem com a cidade existente, com sus espaços indeterminados e seus tempos longos. Os tempos das concepções originais e as reinterpretações técnicas, ou seja, o tempo das decisões políticas, da memória e das práticas sociais.

Tal como mencionamos no princípio deste artigo, o “projeto urbano” é uma noção recente. Suas características respondem a um cenário histórico preciso de globalização, de ponderação de partenaires privados, quando os estados se apequenam e perdem presença na produção da cidade. Sem dúvida, neles persistem muitos dos conflitos constitutivos que historicamente foram colocados pelo urbanismo.

notas

1
Artigo publicado na Revista de Urbanismo, n. 3. Santiago do Chile, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Chile, agosto 2000. <http://revistaurbanismo.uchile.cl/n3/novick/novick.html>

2
DEVILLERS, Christian. “Le projet urbain”, Conférences Paris d Árchitectes, Pavillon de l´Arsenal, Paris, Editions du Pavillon de l´Arsenal, 1994. Cfr. también, EFRON, Jean-Pierre (direction). Les architectes et le projet. Tomes 1 et 2. Architecture, Une methodologie. Institut Français d´Architecture, Pierre Mardaga, Liège, 1992.

3
LACAZE, J.P. Les méthodes de l´urbanisme, PUF, Paris, 1993, p. 18-19.

4
“A aparição de termos novos ou a difusão de termos antigos sob novas acepções marcam geralmente a emergência de problemáticas novas que o estudo pode elucidar”. In CHOAY, Françoise. “Conclusion”, in MERLIN, P. (ed.). Morphologie urbaine et parcellaire. St. Dennis, Espaces, 1988, p. 25.

5
“É o procedimento pelo qual, mediante o uso de instrumentos específicos, se chega à predeterminação sintética, à formação e à execução de obras arquitetônicas no interior das aglomerações urbanas, se trata de um procedimento mediante o qual uma série de dados objetivos e de problemas abstratos de situações culturais e exigências sociais se diferenciam encontrando uma expressão morfologicamente orgânica e lingüisticamente unitária”. Em PORTHOGESI, Paolo. Dizionario Enciclopedico de Archittetura e Urbanistica. Roma, Instituto Editoriale Romano, 1969.

6
Tecnologías Urbanas Barcelona SA, Guía para la puesta en marcha de un Plan Estratégico, Barcelona, 1994.

7
ASCHER, François. “Projet public et réalisation privées. Le renouveau de la Planification des villes”, Les Annales de la Recherche Urbaine, nro. 51, 1993.

8
GAUDIN, Jean-Pierre. Desseins de villes. Art Urbain et Urbanisme, Paris, L´Harmattan, 1991.

9
Em referência às propostas de Camillo Sitte, Collins se perguntava: “é o modo de análise e planejamento sitteano algo dinâmico que aflora de vez em quando na história de forma cíclica ou é unicamente um fenômeno moderno a busca de uma estética urbana retrospectiva que só sobrevive no velho mundo (...)?” COLLINS, G. “Re-consideración de Camillo Sitte”, in COLLINS, G.; COLLLINS, C. Camillo Sitte y el nacimiento del urbanismo Moderno. Barcelona, Gustavo Gilli, 1980, p. 145.

10
NOVICK, Alicia. “Técnicos locales y extranjeros en la génesis del urbanismo porteño”. AREA, Revista de Investigaciones. Buenos Aires, FADU / Escuela Politécnica de Laussane. Diciembre de 1992.

11
A nível nacional se constitui em 1894 a Comissão para o Estudo e Reforma do Departamento de Engenheiros que, como corolário de seu trabalho, determina a necessidade de criar o Ministério de Obras Públicas (1989). Em 1912 se cria a empresa Obras Sanitárias da Nação. A nível municipal, em 1892 se elabora o Regulamento Geral de Repartições que delimita as competências entre dependências e sua organização interna.

12
Nos salões da Sociedade Científica Argentina se decide a criação das principais Associações que se ocupam da cidade. A Sociedade Central de Arquitetos (1901), O Museu Social Argentino (1912), etc. Os higienistas dispuseram de outros espaços, mas para os arquitetos, e sobretudo para os engenheiros, a Sociedade Científica foi o local de debate e reflexão privilegiado até o momento em que criaram suas respectivas corporações profissionais.

13
SILVA, Angel. “ El catastro, su conservación “, Anais da Sociedade Científica Argentina, n° 6. Buenos Aires, 1878. SOULANGES, Edmundo. “Método racional para el relevamiento de un plano catastral por el método de poligonación, observaciones sobre el plano catastral de la Municipalidad”. Anales de la Sociedad Científica Argentina, n° 40. Buenos Aires, 1895.

14
BELGRANO, Joaquín; ROJAS, Félix. “Estudio del informe crítico sobre el proyecto de reglamentación de construcciones para la ciudad de Buenos Aires, confeccionado por la Oficina de Ingenieros Municipales”. Anales de la Sociedad Científica Argentina, n° 21. Buenos Aires, 1886.

15
BUSCHIAZZO, Juan A.; WHITE, Guillermo; HUERGO, Luis; OTAMENDI, Rómulo; BLOT, Pablo. “Informe sobre pavimentação da cidade”. Anais Sociedade Científica Argentina, n° 27. Buenos Aires, 1889.

16
A respeito das transformações nas instituições da higiene pública, ver PAIVA, Verónica. Higienismo e cidade, Informe de avance, Bolsa de iniciação UBA. Buenos Aires, 1995.

17
No que diz respeito ao controle edilício, o Regulamento de Construções é um primeiro marco, na medida em que estabelece normas a designa responsabilidades a respeito de uma ampla gama de problemas que anteriormente estavam a cargo das Comissões Auxiliares de Vizinhos. Em 1901, se constitui a Inspeção Geral na Municipalidade. Cf. NOVICK, Alicia; NUÑEZ, Teresita. “Mapa institucional”, in De los Planes de embellecimiento a los planes estratégicos, Documento de trabalho CONAMBA, Buenos Aires, 1995.

18
“Edilidad. Mejoras de Buenos Aires”, La Ingeniería, nº 25, Año III. Buenos Aires, Centro Nacional de Ingenieros, 15 de junho de 1899.

19
MORALES, Carlos María. “Algunos datos relativos al trazado general del Municipio”, Anales de la Sociedad Científica Argentina, nº 46. Buenos Aires, 1898.

20
Sitte rechaça a quadrícula americana planejada, associando-a à “falta de programa” de países “sem passado nem história (e) que não poderiam figurar na história cultural da humanidada”. Stuben defende as vantagens higiênicas da linha reta mas a condena do ponto de vista artístico. A crítica à monotonia dos traçados retilíneos é retomada também pelo Novo Plano ao comentar a especulação selvagem que impulsiona: “Se ao menos essa obra houvesse sido concebida racionalmente, seja para favorecer o tráfego, seja para obter um efeito pintoresco e grandioso. Mas nada disso. A única preocupação que guiou os autores desse plano foi a de combinar a partilha mais favorável para a venda de terrenos.”

21
GORELIK, Adrián. “La máquina reformista: la cuadrícula, el Estado y la emergencia urbanística de Buenos Aires, 1898-1909”, Seminário Internacional Vaquerías, Documento de trabalho nº 1. Córdoba, Argentina, 1996.

22
Sobre esse tema, cf BERJMAN, Sonia. Plazas y parques de Buenos Aires: la obra de los paisajistas franceses. 1860-1930. Buenos Aires, Fondo de Cultura Económica, 1997.

23
MORALES, Carlos María. “Las mejoras edilicas de Buenos Aires. Memoria presentada al Segundo Congreso Científico Latinoamericano de Montevideo”, Anales de la Sociedad Científica Argentina, nº 51. Buenos Aires, p. 181.

24
Sobre este tema ver SHMIDT, Claudia. “Francisco Tamburini. Edificios para una capital permanente”, Cuadernos de Historia, n° 10. Buenos Aires, SCA-IAA.

25
“La Avenida de Norte a Sur”, Revista Municipal, 1895, p. 2028.

26
“Cuestiones locales. Paris-Buenos Aires”, Revista Municipal, 1895, p. 1592.

27
SITTE, Camillo. L´Art de batir les villes. L´urbanisme selon ses fondements artistiques. Paris, V. Vincent, L´Equerre, 1980. (1ª ed. 1889), p. 131.

28
Cf “Notas sobre Planes y proyectos. Buenos Aires 1907,1909,1911”, Buenos Aires. Territorio, Espacio Público y Profesionales de la Ciudad (Siglos XVIII al XX) em Série: Escritos del Instituto de Arte Americano .IAA-Secretaría de Investigaciones de FADU-UBA, 1998.

29
Sobre Bouvard em Buenos Aires ver entre outros: BERJMAN, Sonia. Op. cit.; TARTARINI, J. “El Plan Bouvard para Buenos Aires (1907-1911). Algunos antecedentes”, Anales n° 27-28, IAA-FADU-UBA, Buenos Aires, 1992. HARDOY, Jorge. “Teorías y prácticas urbanísticas en Europa entre 1850 y 1930. Su translado a América Latina”, in HARDOY, Jorge E.; MORSE, Richard M. (Comp), Repensando la ciudad de América Latina. Buenos Aires, Grupo Editor Latinoamericano, 1988.

30
Intendencia Municipal, El Nuevo Plano, Buenos Aires, 1909, p. 5.

31
CLOQUET, Louis. La construction des villes. Conférence donnée le 11-1-1904 à la Section Gantoise de l´association des Ingénieurs sorties des écoles spétiales de Gand. Mons.Duquesne-Masquillier et fils,1904. (extr. Annales de l´Association des Ingénieurs sorties des Ecoles Spéciales).

32
Intendencia Municipal, El Nuevo Plano, Buenos Aires, 1909, p.17. A abertura para o rio, que em Buenos Aires é bloqueada pela construção do porto, é defendida por Maillart em seu projeto para a Praça de Maio (1907) e retomada pelo mesmo Bouvard em sua esplanada de 1910. Esta idéia é tributária de um projeto posterior à Exposição de 1900, que Bouvard defende em Paris: “je compte amenager l´explanades des Invalides, les Champs de Mars et les berges de la Seine. Je voudrais créer, sur ces berges, des jardins et des terrases qui egayeraient un peu ce que ont de severe les remparts de pierre qui forment les quais. On n´a pas assez tiré parti de la Seine, la ligne du fleuve est d´une variété et d´un pittoresque qui permettent des jolis motifs de déco. Les jardins que j´entrevois relieraient le Trocadero au Champs de Mars”, Le Temps, 17 juin., 1904, p. 458.

33
Intendencia Municipal. El Nuevo Plano.... (op. cit.), p. 17-18.

34
Ibidem, p. 22.

35
Intendencia Municipal, Comisión de Estética Edilicia, Proyecto orgánico para la urbanización del municipio. Buenos Aires, Talleres Peuser, 1925. Sobre este plano, ver BERJMAN, Sonia. Op. cit.; GORELIK, Adrián. “ La búsqueda del centro. Ideas y dimesiones de espacio público en la gestión urbana y en las polémicas sobre la ciudad: Buenos Aires 1925-1936”, Boletín del Instituto de Historia Argentina y Americana “Dr Emilio Ravignani”, nº 9, Tercera Serie. Buenos Aires, 1994.

36
Intendencia Municipal. Comisión... (op. cit), p. 362.

37
Ibidem, p. 60.

38
Ibidem, p. 36.

39
Ibidem, p. 362.

40
Ibidem, p. 274.

41
Ibidem, p. 287.

42
A propósito dos protagonistas europeus da Arte Urbana, se efetiva uma caracterização que cabe aos membros da Comissão de Estética Edilícia: “os protagonistas desta cultura viveram a angústia da modernidade, a aceitação da mudança e a recusa dos cânones estéticos que acreditavam, reivindicação de um sentimento de pertencimento, a noção do “estilo nacional” como de um valor a defender. Um testemunho significativo do conflito profundo vivido por uma geração que oscila entre a consciência do novo, a apropriação do progresso, a salvaguarda ou a valorização do passado”. CALABI, Donatella. “Dilettantes on le devient”, in SMETS, M.; CHARLES, Buls. Bruselas, Mardaga, 1994.

43
Intendencia Municipal, Comisión... (op. cit.), p. 362.

44
VAUTIER, Ernesto; PREBISCH, Alberto. “Ensayo de Estética Contemporánea”, Revista de Arquitectura, Buenos Aires, 1924, p. 110.

45
Ibidem, p. 108.

46
Intendencia Municipal. Comisión... (op. cit.), p. 361.

47
Ibidem, p. 362.

48
DELLA PAOLERA, Carlos María. Contribution à l'étude d'un plan d'aménagement, d'embellisement et d'extension de Buenos Aires. Etude sur l'évolution de la ville. Tese apresentada em novembro de 1927 no Instituto de Urbanismo de Paris. Presidente da Banca: Marcel Poète.

49
DELLA PAOLERA, Carlos María. “El Plan Regulador de la Aglomeración Bonaerense. 1.La Capital y las zonas edificadas exteriores a su juridicción”, La Razón, 14 de abril de 1927.

50
Oficina del Plan de Urbanización, El Plan Regulador para Buenos Aires, mimeo, s-f. Também o Boletín del Honorable Concejo Deliberante, nº 39-40, 1943, apresenta uma lista completa das obras efetuadas pelo Escritório dirigido por Della Paolera.

51
Cf. NOVICK, Alicia; PICCIONI, Raúl. “Carlos María della Paolera o la amnesia del urbanismo argentino”, Anales IAA, nº 29, Buenos Aires, 1998.

52
BERETERBIDE, Fermín. “Proyecto de ejecución de la avenida transversal de Norte a Sud. Formación de los Centros Cívicos Nacional y Municipal. Avenidas a bajo nivel y playas subterráneas de estacionamiento de automóviles.” Revista de Arquitectura, Setembro de 1932.

53
A respeito do projeto de Saarinen, ver CIUCCI, G.; DAL CO, F.; MANIERI-ELIA, M.; TAFURI, M. La Ciudad Americana, de la guerra civil al New Deal. Barcelona, Gustavo Gili, 1975, p. 429.

54
VAUTIER, Ernesto. “La Reglamentación de las Construcciones en la Av. Norte-Sur. Organización del Volúmen edificado del loteo y del trazado circulatorio”, Revista de Arquitectura, junho de 1933.

55
Cabe citar como exemplo o Primeiro Congresso Internacional de Urbanismo Subterrâneo realizado em Paris, em julho de 1937.

56
GUIDO, Angel. Monumentalización funcional de la Av. 9 de Julio de Buenos Aires, Conferência pronunciada no salão de Atos do Conselho Deliberativo em 25 de abril de 1941, promovido pelos “Los Amigos de la Ciudad”.

57
Ver entre outros, “La Avenida 9 de Julio”, Revista Municipal de Engenharia, Rio de Janeiro, 1937. Dirección del Plan de Urbanización, 2da. Exposición Municipal de Urbanismo, Buenos Aires, 1939.

58
“La Avenida de Norte a Sur”, La Prensa, 5 de mayo 1937.

59
O documento elaborado em Paris em 1938 é publicado fragmentariamente nas Obras Completas de Le Corbusier e em sua totalidade como “Plano Diretor para Buenos Aires”, Versão Castelhana de Arquitectura de Hoy. Buenos Aires, Kraft, abr. 1947.

60
Segundo hipóteses recentes, na composição do plano, se junta um consenso sobre as idéias técnicas sobre cidade, mas também se “fixa” e dá forma às idéias correntes. Desde então os urbanistas são “reveladores” das intenções sobre a cidade, mas também “fixadores”. As partes do projeto que se traduzem em projetos urbanos seriam aquelas que, uma vez pactuadas, persistem estáveis no tempo. LORTIE, André (1992), “Dessins de villes et destins de plans”. Quels dess(e)ins pour les villes?. De quelques objets de planification pour l´urbanisme de l´entre-deux guerres?. Direction de la Recherche et des Affaires Scientifiques et Techniques, Paris, 1992.

sobre o autor

Alicia Novick, pesquisadora do Instituto de Arte Americana, Faculdade de Arquitetura, Desenho e Urbanismo, Universidade de Buenos Aires

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