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architexts ISSN 1809-6298


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Rem Koolhaas, tal como Mies van der Rohe em sua época, construiu uma metáfora do seu tempo ao erguer o McCormick Tribune Campus Center bem no coração do Instituto Illinois de Tecnologia, cercado de edifícios miesianos


how to quote

REGO, Renato Leão. Mies-en-scène. A propósito do McCormick Tribune Campus Center, Chicago, Rem Koolhaas/OMA, 1998-2003. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 058.10, Vitruvius, mar. 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.058/494>.

“Metropolitan OMA produces an architecture that embraces aspects of the maligned metropolitan condition with enthusiasm, and which restores mythical, symbolic, literary, oneiric, critical, and popular functions to large urban centers. An architecture which accommodates and supports the particular forms of social intercourse, characteristics of metropolitan densities, an architecture that houses in the most positive way the Culture of Congestion” (Rem Koolhas) (01)

Mies van der Rohe tratou de construir uma metáfora do seu tempo (2). Rem Koolhaas fez o mesmo ao erguer o McCormick Tribune Campus Center, bem no coração do Instituto Illinois de Tecnologia, cercado de edifícios miesianos.

Pense nos estudantes que acudiam às aulas de Mies, em meados do século passado, com ternos escuros, gravata e chapéu, distintos do universitário do século XXI, na moda e nos modos. Eclético, multicolorido, descontraído, o coletivo estudantil, sem exclusividade para o alunado do IIT, é o retrato de uma sociedade da informação, da comunicação, do intercâmbio cultural, do consumo de massa. Seu cenário já não pode ser aquele da era da máquina.

Os prédios que Mies construiu no campus que ele próprio projetou em Chicago respondem à composição regida pelo princípio de ordem, consoante com a beleza apolínea. A estratégia projetual de Mies estava calcada na redução e na simplificação; a de Rem Koolhaas e seu escritório pode ser entendida, por contraste, como a da multiplicidade e adição. Aqui a ordem é outra. Agora, mais é mais.

A arquitetura de aço (negro) e vidro de Mies contrasta com a sobreposição de estampas, cores e materiais da arquitetura de Koolhaas. Os edifícios de Mies, e neste caso em especial o Crown Hall, impõem-se à paisagem com sua forma regular, destacada do chão, e criam, no interior, uma amplitude governada pelas lajes horizontais de piso e teto, pela sobriedade de materiais nobres e pela ausência harmoniosa... É como um templo, cujo espaço sagrado é sempre melhor apreciado sem a interferência do vai-vem, a aglomeração e a pressa das pessoas. O McCormick Tribune, pelo contrário, se revela com a participação da variedade, da multiplicidade, da velocidade e da presença da gente que ocupa e transita pelo edifício. Neste sentido, se aquele abstrai o mundo exterior, este o enfatiza.

Para quem chega ao campus pelo trem elevado que o atravessa, a paisagem se divide entre a regularidade formal e a homogeneidade escura e envidraçada dos blocos de Mies e o colorido (predominantemente alaranjado), o estampado, a aproximação de distintos materiais e texturas e o contorno variado do edifício de Koolhaas. Com freqüência, o trabalho deste arquiteto holandês e de sua equipe literalmente multinacional – o Office for Metropolitan Architecture (OMA) – demonstra o fascínio que sentem pelo ecletismo do universo metropolitano. Pretendem responder às questões suscitadas pelas metrópoles de uma sociedade de consumo de massa e de comunicação acelerada e focalizam uma particularidade da cena urbana: a concentração de modos de existência e de comportamentos distintos, e com isso a variedade e a pluralidade dos grandes centros.

A construção de Koolhaas também se faz de “pele e osso”, como as de Mies, mas recobre-se com materiais inusitados e efeitos chamativos, impulsionados pelo experimentalismo.

Rem Koolhaas/OMA foram finalistas, junto com Helmut Jahn, Kazuyo Sejima, Peter Einsenman e Zaha Hadid, do concurso internacional promovido em 1997 para a escolha do projeto para este centro de convivência, por assim dizer.

O edifício de OMA/Koolhaas no IIT é um daqueles edifícios-com-grife que acabam por colocar a cidade que os acolhe na rota do turismo e do interesse arquitetônico internacional (Além deste edifício, o campus universitário do IIT também conta com um alojamento de estudantes projetado por Helmut Jahn e recentemente inaugurado; Rafael Viñoly está terminando sua School of Business na Universidade de Chicago e a cidade volta a investir em arquitetura com um anfiteatro de Frank O. Ghery quase finalizado). Suas imagens ocupam as capas das revistas – especializadas ou não – e a fama não é só dos edifícios; seus projetistas enchem auditórios e, como estrelas do rock ou do esporte, movimentam milhões (3).

O programa do edifício que deveria servir como ponto de convergência para a vida acadêmica e social dos estudantes incluía: centro de boas-vindas, auditório, salas de reunião, restaurante, lanchonete, livraria, agência de correio, loja de conveniência, sala de computadores, de jogos, fotocopiadora, e outros itens mais. O terreno, no coração do campus, próximo ao Crown Hall, era cortado pela linha férrea elevada que atravessa a cidade universitária. A solução esperada era um bloco vertical, com três ou quatro pavimentos, posicionado como um escudo diante da ferrovia, para mitigar os efeitos do trem elevado. (Junto ao edifício de Koolhaas, Helmut Jahn construiu, rente à ferrovia, um bloco habitações para estudantes que adota esta solução).

Mas o projeto de OMA/Rem Koolhaas fez opção por um bloco horizontal, com mais de 10.000m2, instalado sob a via férrea elevada que é recoberta por um tubo metálico de 160m de comprimento de modo a amenizar o ruído dos trens no interior do edifício. Ao invés de evitar a via férrea, o edifício se agarra a ela, com uma inflexão na sua cobertura – um telhado borboleta – que visualmente facilita a acomodação da seção elíptica do tubo.

A edificação é um invólucro transparente, praticamente retangular, com um interior fragmentadamente multifuncional. O desenho do espaço interno se inspirou no desenho das trilhas dos estudantes que transitavam pelo o terreno vazio, sob a ferrovia. Cada item do programa assume uma conformação distinta e uma posição isolada na planta do edifício; cada um destes ‘edifícios’ está articulado para criar vizinhanças – acadêmica, comercial, 24h, de lazer, de entretenimento: são elementos urbanos em miniatura. Sem fragmentar a ‘caixa de vidro’ e com a autonomia de cada peça interna, se refaz a rede de passagens entre os dois lados da ferrovia e ainda se criam ruas, praças e ilhas urbanas ao longo delas. Deste modo, o edifício conteria a própria condição urbana.

Com a autonomia destas pequenas ‘edificações’, fragmentadas pela circulação na amplitude do edifício-invólucro, e justamente pela unidade da cobertura e a separação entre estrutura e fechamento, vamos perceber os pilares independentes: tantos os de concreto aparente que suportam a via férrea, quanto aqueles pintados de preto que sustentam o tubo, além dos apoios metálicos, com perfil I, que erguem a laje de concreto da cobertura.

Separada a estrutura da vedação, vemos quase todo o edifício é fechado com esquadrias de alumínio e painéis transparentes e opacos, coloridos ou não; episodicamente aparecem paredes de alvenaria, brancas ou negras – como lousas à espera do giz – e, no caso da empena, ela é ‘camuflada’: sobre um fundo preto estão pintados os veios carmim que estampam o muro praticamente cego. Há divisórias internas cujas faces estão estampadas com painéis fotográficos.

Prosseguem a variedade de materiais e a experiência com cores e texturas: o piso é de chapas de alumínio, na circulação, e, nas salas, de epoxy verde. O forro deixa à vista as placas drywall verdes, sem pintura ou qualquer outro acabamento, com rejuntamento de gesso aparente. Superfícies de fibra de vidro ou resina de poliéster fazem balcões, mesas, painéis, paredes – translúcidos e coloridos.

A sala de computadores, na verdade um espaço semi-enterrado na amplitude do lounge, é um beco, rampado, guarnecido com bancada e tamboretes, tudo completamente tingido de vermelho. O restaurante, também semi-enterrado no centro da planta, está mergulhado sob um jardim enclausurado que lhe dá luz; até ele se chega por uma escada ou uma rampa que se sobrepõem diagonalmente. Aí um amarelo mais cítrico faz reluzir o mobiliário.

A conformação da planta triangular dos banheiros é revestida com painéis alaranjados translúcidos e placas metálicas e a tubulação hidráulica, parcialmente exposta, acentua o caráter experimental de todo o acabamento da construção.

As cortinas que cerram o auditório possuem a estampa de uma árvore desenhada por Mies – a imagem negra sobre o tecido branco no lado interno e, no avesso, branca sobre o fundo preto.

Na entrada principal do edifício o rosto de Mies aparece estampado nos vidros da fachada: arte de um pontilhismo feito com pequenos ícones, como o das placas de trânsito, mostrando um mosaico de figuras humanas em atividade. Nas demais entradas aparece o nome do prédio escrito como que com pixels na fachada.

Na constituição da planta da edificação, o projeto de Koolhaas faz uma nova aproximação à análise modernista da função; a idéia de planta livre é aí levada aos últimos termos – como vimos na organização de ‘edifícios’ autônomos instalados na amplitude da caixa de vidro, cujos suportes se destacam do fechamento.

Deste modo, há, como não, uma reconsideração da arquitetura do Movimento Moderno, sem recuperar, evidentemente, sua idéia de ordem compositiva ou seus critérios mais estritamente racionalistas aplicados na configuração da edificação (4). Tampouco se pode deixar de sentir a influência do Venturi teórico dos anos 60. O pós-modernismo de Rem Koolhaas não é historicista ou formalmente restrospectivo, mas opera com a complexidade, o fragmento, além da citação e da ironia. E, deste modo, Koolhaas põe novamente em cena a arquitetura de Mies, mas, ao mesmo tempo em que a convoca, a contesta. Rem Koolhaas sabe armar o espetáculo.

notas

1
KOOLHAAS, R. e MAU, Bruce. S, M, L, XL. Nova York: The Monacelli Press, 1995. P.926.

2
“La arquitectura es la voluntad de una época traducida el espacio”. “Nuestros edificios utilitarios sólo pueden hacerse dignos del nombre de arquitectura si interpretan fielmente su tiempo, con su perfecta expresión funcional”. MIES VAN DER ROHE, L. Escritos, diálogos y discursos. Madri: Colegio Oficial de Aparejadores y Arquitectos Técnicos, 1982, p. 31 e 33.

3
Cf. ZABALBEASCOA, A. Arquitectos-estrella. Madri, El País Semanal, 29.02.2004.

4
“Yo admiro sinceramente sus ideas (de Mies e de Kahn); mi única crítica es que fueron fatalmente atraídos por la idea del orden, y su aparente obligación de lidiar con ella mediante la arquitectura. Su pensamiento me parece fascinante pero increible al mismo tiempo, porque si bien su discurso es completamente convincente, la necesidad de articularlo en términos puramente arquitectónicos es muy cuestionable”. Rem Koolhaas in: OMA/Rem Koolhaas – 1987/1993. El Croquis, n.53. Madrid, 1994. p. 16.

sobre o autor

Renato Leão Rego é doutor em arquitetura pela ETSA Madrid e professor adjunto da Universidade Estadual de Maringá, onde atualmente coordena o curso de Arquitetura e Urbanismo

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