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architexts ISSN 1809-6298


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Fala-se dos projetos do Mario Pani, que através de residências multifamiliares ou de condomínios de luxo, foi um pioneiro no desenvolvimento de habitação vertical na cidade do México, combatendo o seu acelerado crescimento com modelos de alta densidade


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REZA, Silvia Mejía. Mario Pani: precursor do adensamento. Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 074.04, Vitruvius, jul. 2006 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.074/337>.

O desenvolvimento da Cidade do México a leva a consolidar-se como uma área territorial de grande dimensão, o que nos convida a refletir sobre as causas que geraram este crescimento, sobre tudo em seu aspecto horizontal onde os limites deixaram de ser perceptíveis e existe uma perda da dimensão espacial do território.

A produção de habitação projetada, desenhada e construída horizontalmente foi um fator fundamental que propiciou este desdobramento. Mesmo assim, foi um modelo urbano e de habitação que utilizamos principalmente na última década e ao reconhecer as repercussões que gerou na cidade e nos habitantes, põe em questionamento sua capacidade para responder às condições atuais.

Fazendo uma recapitulação, olhando ao passado, houve contribuições que merecem ser destacadas por sua capacidade de sintetizar em modelos exeqüíveis um momento histórico determinado e porque estes modelos, por terem cumprido seus objetivos, continuariam vigentes.

O arquiteto e urbanista Mario Pani, é reconhecido por sua importante trajetória com a realização de aproximadamente 136 projetos, 66 arquitetônicos e 70 de planejamento e urbanismo, abarcando todas as classes sociais com projetos de habitação de interesse social. Através de suas residências multifamiliares ou condomínios de luxo (1), foi um pioneiro no desenvolvimento de habitação vertical por sua atinada preocupação com o acelerado crescimento que tinha que ser combatido com modelos de alta densidade. Participou no desenvolvimento de projetos habitacionais na década de quarenta, conseguindo que seus projetos tivessem um número muito maior de habitações que o esperado por seus clientes e, através de suas propostas, gerando cidade, propiciando a integração de áreas comuns e recreativas com seus projetos habitacionais.

No final do século XIX a maioria das habitações construídas eram individuais. Os materiais e as alternativas de métodos construtivos eram os convencionais e limitados ao lugar. A exceção a isto eram as vizinhanças, conjuntos habitacionais de várias habitações distribuídas ao longo de um corredor central e que se localizavam principalmente no centro da cidade. A escala no desenvolvimento de habitações se incrementou ao se generalizar os edifícios de apartamentos de aluguel na cidade do México. Estes edifícios surgiram no Porfiriato e continuaram seu auge durante os anos vinte.

Tal tendência se vê refletida na contagem de habitações de 1929, na qual se indica que das 284.954 habitações existentes, 101.024 se encontravam em edifícios, isto é, havia 2,82 habitações por edifício construído. Estes eram de características muito distintas aos que se produziram na década de cinqüenta: sua altura média era de três a quatro andares, posteriormente alcançaram uma altura maior, de até 14 andares, assim como uma maior densidade.

Devido à falta de promotores imobiliários e à crescente demanda na Cidade, no final da década de quarenta inicia a promoção de habitações de arrendamento por parte do governo. Instituições como o IMSS (Instituto Mexicano de Seguro Social) e o ISSSTE (Instituto de Segurança e Serviços Sociais dos Trabalhadores) levaram a cabo importantes projetos habitacionais que resultaram exemplos inovadores em nível urbano e construtivo. No entanto, sua produção foi baixa em unidades e seus resultados econômicos não os favoreceram, o que o converteu rapidamente num modelo obsoleto. O resultado destes programas foi a execução do Conjunto Multifamiliar Miguel Alemán, localizado na Colônia del Valle na Cidade do México, com 1080 unidades e 168 espaços comerciais.

O projeto foi desenvolvido num prédio com uma área de 40 mil m2. As expectativas iniciais do projeto eram de um conjunto que alojasse 200 casas; desta ocasião surge o primeiro modelo de Adensamento no México, desenvolvido pelo arquiteto Mario Pani, com uma proposta na qual a parcela de solo utilizada para a construção é mínima e é possível destinar uma alta porcentagem para outras atividades que ofereçam serviços aos habitantes deste conjunto vertical.

Para conseguir um conjunto muito mais denso, Pani toma como referência a densidade habitacional proposta pelo arquiteto francês Le Corbusier de 1000 hab./ha. Ajustando-se ao orçamento designado para as 200 casas, consegue construir 1080 habitações de diversas tipologias distribuídas em doze edifícios. A viabilidade do projeto foi produto do sistema construtivo de baixo custo a partir das qualidades do tipo de solo no qual se construiria.

Resulta destacável o esquema que Mario Pani utiliza para resolver a distribuição das habitações, procurando que todas fossem dotadas de luz natural e vistas adequadas, produzindo um todo generoso e eqüitativo para o usuário.

O projeto se compõe de doze edifícios: seis de doze andares e seis de três, orientados ao oriente ou poente. Destinou o térreo a comércios e pórticos de circulação enquanto o resto era ocupado por habitações. Os protótipos utilizados para os apartamentos foram variados para oferecer diversas alternativas às famílias. Entre eles havia uma distribuição em dois níveis, onde no primeiro se localizavam as áreas públicas e no segundo a área privada modulada com paredes divisórias que permitem uma flexibilidade espacial para acomodar o número de cômodos que fosse necessário. No total há 672 apartamentos de 48 m2 de superfície, 192 apartamentos nas cabeceiras e 72 nos elementos que ligam os edifícios. Cada um conta com os serviços básicos de sala de jantar, sala, dois quartos e banheiro.

Nos edifícios baixos há um total de 144 apartamentos com uma superfície de 57 m2 cada, distribuídos em um nível e estão constituídos de sala, cozinha/sala de jantar, um quarto e banheiro.

O Conjunto Miguel Alemán foi o primeiro grande conjunto “multifamiliar” no país, conjunto que até hoje segue sendo ocupado por centos de famílias. Este exemplar projeto deriva de vários conceitos, entre eles o de adensamento, de usos mistos e de uma ocupação mínima do terreno. A área total construída é de somente 20%, e o resto é destinado à área livre que se compõe de jardins, espaços comerciais como lavanderia, açougue, mercearias, etc., e áreas de serviço à comunidade como creche infantil, ambulatório médico, um centro escolar, piscina semi-olímpica com vestiários e banheiros individuais e um edifício administrativo com escritórios, correio, telégrafo e uma unidade sanitária. O conjunto proporcionava todos os serviços básicos à comunidade.

Os espaços públicos e jardins são um aporte à cidade. O modelo, caso tivesse continuidade na atualidade, teria gerado uma considerável redução de espaço construído e uma provisão de áreas verdes e espaços recreativos.

Com esta tipologia de habitação, a Cidade do México poderia ser cinco vezes menor ademais de melhorar o espaço urbano dedicando 80% de suas superfícies para espaços abertos, jardins e parques, potenciando quantitativamente as áreas verdes sobre a área construída, conseguindo uma importante vantagem econômica em custos de serviços urbanos, tempo de deslocamento e transporte. O projeto também foi precursor no uso de materiais como o tijolo e concreto martelinado (tratamento manual sobre o concreto que serve para torná-lo mais atrativo por meio de uma textura feita com martelo e cinzel, e prolonga notavelmente a durabilidade do aspecto do concreto) aparente que o manteve com baixos índices de deterioro.

Para a década de noventa, se contabilizou no censo que um 13,82% das habitações na Cidade do México eram apartamentos. A porcentagem cresce até 45,8% para o Distrito Federal e um 18,06% para Estado do México. Em 1989 existiam no Distrito Federal 251 grandes conjuntos multifamiliares (2). Ainda que os dados duros marquem cifras importantes, o desenvolvimento de conjuntos habitacionais unifamiliares por parte dos promotores a partir da década de noventa contribuiu com a expansão horizontal. O modelo vertical como o multifamiliar não é uma opção viável; os empreendedores que geraram dezenas de conjuntos habitacionais nos limites da Cidade devido às condições favoráveis que se apresentam em tais zonas, principalmente no Estado de México onde, a partir da década de setenta, o crescimento foi exponencial (veja-se o gráfico) incrementando a demanda. Como conseqüência se foi consolidando a grande metrópole com os municípios dos estados adjacentes.

Este modelo que é concebido na década de quarenta é, atualmente, a premissa para os novos empreendimentos imobiliários de alto nível em nossa cidade central e nas metrópoles do mundo onde o valor do solo nas áreas urbanizadas é muito alto. O resultado são exemplos pontuais que não são significativos pela baixa demanda do setor que atendem. O desenvolvimento deste tipo de projetos nos setores mais necessitados não é viável devido à pouca rentabilidade da habitação social que, paradoxalmente, é muito superior em demanda.

É notável o aporte do Arquiteto Mario Pani que, através de sua visão, desenvolveu um esquema apto para uma cidade com tendências urbanas crescentes. Atualmente, a vigência de sua contribuição demonstra a certeza que teve ao propor um modelo destas características.

O tempo e as condições nas que se geraram estes conjuntos multifamiliares eram distintos, no entanto, o fundamento do projeto, o adensamento e o provimento de serviços para um grande número de usuários é hoje uma condição desejável e uma das alternativas mais favoráveis para o desenvolvimento urbano, já que as cidades se converteram em espaços insustentáveis pelas distâncias e sua condição horizontal encarece a vida dos habitantes.

Somando-se ao anterior, não podemos deixar de lado o valor do solo, elemento fundamental para o desenvolvimento e concepção dos projetos. A partir de sua crescente demanda, propiciou sua mais-valia fazendo com que seu valor seja imensurável o que, cedo ou tarde, deverá fomentar o uso do espaço verticalizado como atualmente sucede freando a especulação e a dispersão territorial. Uma visão apoiada na história, na técnica e em uma profunda sensibilidade pelo lugar, mas sobre tudo por atender esses impulsos sociais que deram luz a estes projetos impossíveis, terminaram por dar a Pani e seus edifícios multifamiliares, a força de tempo e memória, toda a razão.

[Tradução de Ivana Barossi Garcia.]

notas

1
Mario Pani (México D.F. 1911-1993) Representante da arquitetura mexicana contemporânea, realizou seus estudos na Escola de Belas Artes de Paris 1934, revalidando-os na Universidade Nacional Autônoma do México onde atuou como docente. Sua prática profissional iniciou em 1934 como sócio de Enrique del Moral, José Villagrán García e Jesús García Collantes. Sua produção abarcou obras de pequena e grande escala. (casas, hospitais, escolas, unidades habitacionais e desenho urbano). Diretor Geral de projeto da Cidade Universitária, Membro honorário da AIA, 1964, e do Colégio de Arquitetos do Peru, 1942, obteve numerosos prêmios em concursos nacionais e internacionais. A obra do arquiteto Pani se sintetiza no estudo das necessidades do usuário, do espaço, da cidade e sua aberta perspectiva da evolução futura do objeto arquitetônico. Ver: DE GARAY, Graciela. Mario Pani, vida e obra. Coleção Talleres. México, UNAM, 2004; DE GARAY, Graciela. Rumores e retratos de un lugar de la modernidad. Historia oral del Multifamiliar Miguel Alemán, 1949-1999. México, Instituto Mora, UNAM, 2002; LARROSA, Manuel. Mario Pani, arquitecto de su época. México, UNAM, 1985; NOELLE, Louise. Arquitectos contemporáneos de México. Editorial Trillas, México,1989.

2
BARRAGÁN, Juan Ignacio. 100 años de vivienda en México. Historia de la vivienda en una óptica económica e social. México: Urbis Internacional, S.A. de C.V. Grafo Empaques, S.A, 1994. Capítulo V, p. 143.

sobre o autor

Silvia Mejía, arquiteta, mestre em Arquitetura pela UNAM; formada em arquitetura no ITESM Monterrey atualmente trabalha como Gerente de Pesquisa e Acompanhamento de Programas do Centro de Pesquisa e Documentação da Casa e como coordenadora do Boletim para Docomomo México.

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