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architexts ISSN 1809-6298


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Leia no artigo de José Geraldo Simões Junior a respeito do peso significativo atribuído à influência germânica na origem do urbanismo moderno e conheça aspectos que estavam presentes no debate urbanístico germânico


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SIMÕES JUNIOR, José Geraldo. A urbanística germânica (1870-1914). Internacionalização de uma prática e referência para o urbanismo brasileiro. Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 097.03, Vitruvius, jun. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.097/134>.

O resgate da importância do urbanismo germânico pela historiografia

O peso significativo atribuído à influência germânica (2) na origem do urbanismo moderno pode parecer um fato novo.

Na verdade, essa constatação é relativamente recente e surgiu nos anos de 1960 na Europa. A falência das políticas públicas urbanas então em processo e a sua ineficácia em dar respostas adequadas aos graves problemas sociais e de desigualdades que se observavam generalizadamente no âmbito da apropriação do espaço urbano, aliada ao fortalecimento dos partidos de esquerda, deram ensejo à necessidade de um debate que motivou a organização de um primeiro seminário internacional, realizado em 1963 na Itália sob o título "Os comunistas e as grandes cidades". A partir desse encontro começam a surgir estudos procurando rever as origens do urbanismo moderno, que até então estavam vinculadas ao nascimento do movimento modernista.

Cabe salientar também que nesse momento, os paradigmas do modernismo enquanto proposta de arquitetura e de urbanismo estavam sendo fortemente questionados num âmbito mais geral, dado o fracasso que tinham representado enquanto soluções de reconstrução do pós-guerra e de alternativas para o problema habitacional. A destruição, pela população do conjunto residencial de Pruitt-Igoe, no início dos anos 70 nos Estados Unidos vem simbolizar a derrota definitiva dessas premissas do CIAM enquanto fundamentos de políticas urbanas.

Esse movimento de revisão de paradigmas na historiografia do urbanismo assume papel mais relevante no cenário italiano e francês, conduzindo a novas correntes de interpretação, onde arquitetos, historiadores e urbanistas começam a realizar estudos e a fundamentar suas propostas com base na releitura dos clássicos do marxismo e da experiência urbanística ocorrida anteriormente ao surgimento do movimento moderno nos anos 30.

Tal movimento crítico dá origem então a uma nova corrente de interpretação, que na Itália passa a ser conhecida como Escola de Veneza (sediada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Veneza) e que na França vem assumir uma conotação semelhante, através do Centro de Sociologia Urbana (CSU/CNRS).

Os principais expoentes dessa nova tendência serão Giorgio Piccinato, Carlo Aymonino e Donatella Calabi (3), na Escola de Veneza, na Itália, e Manuel Castells, Christian Topalov, Edmond Préteceille, Henri Lefèvre e Jean Lojkine no CNRS- Centre National de Recherches Scientifiques, na França, que utilizarão as revistas Contrapiano e Espaces et Societés para divulgar suas idéias.

Em termos da historiografia do urbanismo, o resgate da importância do movimento urbanístico germânico surge principalmente a partir das pesquisas desenvolvidas pela Escola de Veneza.

Giorgio Piccinato, em um livro publicado em 1974, intitulado La costruzione dell'urbanistica – Germania (4) vem demonstrar que os alemães foram os precursores na fundamentação de um urbanismo enquanto campo disciplinar e científico, antecedendo-se até mesmo aos estudos elaborados pela Escola de Chicago.

Nessa obra, ele apresenta, em tradução inédita, alguns trechos de manuais redigidos há quase um século pelos pioneiros dessa nova ciência: os alemães Reinhard Baumeister (5) e Joseph Stübben (6).

Além dos manuais germânicos, havia também uma forte influência de modelos de intervenção urbana realizados em metrópoles européias e que haviam obtido grande repercussão junto aos administradores urbanos do mundo todo. Tratava-se dos projetos de remodelação e de modernização realizados nas cidades de Paris e Viena, respectivamente na época de Napoleão III (plano Haussmann) e do imperador Francisco-José (abertura da Ringstrasse).

Ainda dentro desse contexto germânico, aparece a figura de Camillo Sitte (7), um arquiteto austríaco que exerce enorme influência no cenário urbanístico europeu da época, sobretudo após a publicação, em 1889, de um estudo criticando as transformações decorrentes da implantação da Ringstrasse – uma grande avenida circular envolvendo o centro histórico de Viena.

O papel fundamental desempenhado por Sitte na historiografia do urbanismo moderno, foi recuperado então não pelas pesquisas de Piccinato – pois este se limitara aos alemães – mas sim por um casal de estudiosos americanos: George e Christiane Coliins.

Antecipando-se em quase dez anos ao enfoque assumido pelos estudos da Escola de Veneza, os Collins, já em 1965, publicam um grande compêndio sobre a vida e obra de Camillo Sitte, apresentando como pano de fundo, um panorama geral e extremamente completo sobre todo o cenário urbanístico germânico desse período de fins do século XIX. Este trabalho é intitulado Camillo Sitte: the birth of modern city-planning (8).

Mais recentemente, nos anos 80 e 90, pesquisas comparativas sobre o cenário urbanístico alemão em relação ao contexto europeu e americano, foram realizadas pelo pesquisador inglês Anthony Sutcliffe e publicadas em Towards the Planned City – Germany, Britain, the United States and France (1780-1914) e pelo americano Brian Ladd em seu livro Urban planning and civic order in Germany (9). Na Alemanha, os professores da Universidade de Aachen, Gerhard Fehl e Juan Rodríguez-Lores publicaram diversos estudos sobre o assunto (10).

Estas obras foram fundamentais para a compreensão do contexto internacional onde o urbanismo científico alemão surgiu e se difundiu. Importante também para o entendimento das propostas elaboradas no início do século XX para o Brasil, onde se constata que a influência deste ideário estava presente fortemente em alguns urbanistas paulistas.

Dentre os urbanistas atuantes em São Paulo, ressalta-se Victor da Silva Freire, Francisco Saturnino Rodrigues de Brito e Francisco Prestes Maia, nos quais a presença do ideário germânico é claramente expressa em planos e análises elaboradas, em especial aqueles intitulados respectivamente “Os melhoramentos de São Paulo”, de 1911 (11), “A planta de Santos”, de 1916 (12) e “Estudo de um Plano de Avenidas para a Cidade de São Paulo”, de 1930 (13).

No restante do Brasil, o modelo haussmanniano foi o mais adotado, sobretudo pelo espelhamento em relação à Capital Federal de então – o Rio de Janeiro – onde a abertura da Avenida Central e outras obras viárias conduzidas por Pereira Passos se constituíram na transposição direta do plano parisiense. Assim, não se registra a referência à experiência germânica no discurso de urbanistas atuantes em outras capitais brasileiras ao longo da Primeira República, período no qual em quase todas as cidades-capitais brasileiras foram realizados planos de modernização. É o que pode ser constatado ao se analisar os discursos de Jerônimo de Alencar Lima para Salvador, de Alfredo Lisboa para Recife, de Nina Ribeiro para Belém, de Moreira Maciel para Porto Alegre, de Eduardo Ribeiro para Manaus, dentre outros.

Este trabalho procurará analisar esta influência a partir do plano de Victor Freire (14) de 1911, que consideramos uma obra pioneira na aplicação dos princípios do urbanismo no Brasil, enfatizando a experiência germânica. Freire foi Diretor de Obras Municipais da Prefeitura de São Paulo durante mais de 25 anos (de 1899 a 1925) e docente da Escola Politécnica durante quase 40 anos.

O surgimento do urbanismo científico no cenário germânico

Após a guerra franco-prussiana de 1870, a Alemanha então já unificada recebe um grande montante de recursos provenientes das indenizações pagas pela França derrotada. Esse fato vem agilizar o processo de industrialização acelerada do país, trazendo como conseqüência um enorme crescimento urbano e favorecendo dessa forma o aparecimento de medidas controladoras e disciplinadoras dessa expansão das cidades.

Esses novos instrumentos foram elaborados num momento em que o Estado alemão começa a ter o seu poder político compartilhado entre a tradicional nobreza governante e uma nova classe social enriquecida, a burguesia industrial. Desta forma, o poder central continua na mão dessa nobreza, mas as câmaras municipais das cidades passam a ter o seu controle exercido majoritariamente por essa classe emergente.

A partir desse novo quadro político, as administrações municipais têm a seu dispor mais recursos e maior autonomia para poder por em prática os planos de expansão e remodelação.

Essa nova classe social dirigente via nesses planos de reforma urbana a oportunidade de afirmar seus valores e sua ideologia liberal na paisagem da cidade. Essas remodelações, baseadas agora em critérios de funcionalidade, decoro e segregação espacial, passariam a ser as premissas para a construção de uma nova fisionomia da cidade.

Mais de uma centena de planos são elaborados nesse período de fim-de-século para inúmeras cidades da Alemanha. Os concursos promovidos, os votos de associações profissionais, os manuais, as primeiras legislações específicas são fatores inerentes a esse contexto e que vêm favorecer o florescimento de um debate de cunho intelectual e científico sobre essa nascente disciplina urbanística.

Por outro lado, o isolamento que a Alemanha estava vivendo em relação à França e à sua tradição arquitetônica, (notabilizada sobretudo após as intervenções de Haussmann em Paris), vem conferir um caráter diferenciado e autônomo a esta prática urbanística germânica, fazendo com que as teorizacões dos pioneiros dessa nova ciência – Baumeister, Stübben e Sitte – ganhassem corpo enquanto constituintes de uma disciplina de grande significado na Europa de fins do século XIX.

Esses primeiros teóricos publicariam importantes manuais e estudos que hoje são considerados como os marcos de fundação dessa nova ciência. Baumeister, professor da Escola Técnica de Karlsruhe, escreve em 1876 um manual enfatizando a questão da expansão urbana e as formas de gerenciamento e intervenção por parte do poder público. Sitte, arquiteto austríaco, ganharia notoriedade ao divulgar,em 1889, um estudo crítico sobre as intervenções que estavam se realizando no centro de Viena e que haviam dado origem a uma monumental avenida circular contornando o centro histórico da cidade – a Ringstrasse. E Stübben, um dos primeiros a exercer a atividade de consultoria em urbanismo, tendo realizado mais de 40 planos para cidades européias publicaria, em 1890, um completíssimo manual relatando todos os aspectos da experiência acumulada com essa nova ciência.

A difusão do urbanismo – os congressos e exposições internacionais e as revistas especializadas

A difusão desse conhecimento especializado no cenário europeu mais amplo, começou a progredir verdadeiramente a partir do advento dos encontros e congressos internacionais, na década de 1890. Alguns anos mais tarde, ganharia projeção global com a divulgação proporcionada pelas revistas especializadas.

A questão urbana, a bem dizer, já estava presente em alguns eventos internacionais desde meados do século XIX., como por exemplo nas Exposições Universais. Alguns historiadores, como Sutcliffe, apontam a presença de Le Play na exposição parisiense de 1867 como sendo um marco, a partir do qual a divulgação de propostas de reforma urbana passam a fazer parte desse tipo de evento.

Embora essas exposições e encontros internacionais fossem uma atividade quase que quotidiana nessa época (entre 1886 e 1890 foram contabilizadas a realização de 853 congressos internacionais de caráter geral, que atingiriam o número de 2271 no período de 1900 a 1914) (15), a existência de eventos especializados na difusão de questões urbanas passaria a acontecer na Europa somente após 1898 com a realização do 1º Congresso de Arte Pública, organizado em Bruxelas pelo então burgomestre da cidade, Charles Buls.

Durante toda a primeira década, os congressos eram os únicos fóruns de encontro e debate de idéias entre a comunidade dos urbanistas. Os manuais e livros especializados eram poucos e as revistas ainda não existiam.

Para que seja possível ter uma idéia do material disponível sobre esse assunto em 1903, por exemplo, poderíamos citar: – o livro de Camillo Sitte, de 1889, e sua primeira tradução para o francês, de 1902 (16), o manual de Joseph Stübben, de 1890 (17), o de Reinhard Baumeister, de 1876 (18), o livro de Charles Buls, de 1894 (19), o de Ebenezer Howard, de 1898 (20) e o de Charles Mulford Robinson, de 1902 (21). Outros urbanistas como Raymond Unwin (22), Eugène Hénard (23), Werner Hegemann (24) e Patrick Geddes (25), só viriam lançar a público suas primeiras idéias alguns anos mais tarde.

O primeiro grande evento de divulgação urbanística foi realizado em 1903, em Dresden, intitulado “Primeira Exposição Alemã de Cidades” (Ersten deutschen Städteausstelung zu Dresden), onde foram apresentados 214 planos desenvolvidos pelas municipalidades alemãs, causando impacto nos administradores públicos de outros países que visitaram o evento, pois perceberam aí uma clara metodologia para realizar o diagnóstico, elaborar planos e conceber instrumentos normativos para suas cidades.

Após a exposição de Dresden, os congressos de urbanismo realizados na Europa se constituíram na única oportunidade de aprendizado não-livresco, de troca de experiências e de debates entre os técnicos das administrações municipais, projetistas e acadêmicos da área do urbano.

Após esse evento de 1903, o outro encontro significativo foi o VII International Congres of Archiects, realizado em Londres no ano de 1906, que contou com a presença de Charles Buls, Joseph Stübben e Raymond Unwin.

Quatro anos mais tarde, em 1910, essa mesma cidade sediou um dos mais importantes eventos do período, a Town Planning Conference, que conseguiu reunir todos os mais importantes urbanistas da época, como Rudolf Eberstadt, Albert Brinckmann (26), Augustin Rey, Louis Bonnier, Thomas Mawson, Stanley Adshead, além de Stübben, Robinson, Hénard, Geddes, Unwin e Howard.

Neste evento esteve presente o urbanista paulistano Victor da Silva Freire, que em tournée pela Europa, visitou nessa mesma viagem as exposições de Bruxelas e de Berlim.

Neste mesmo ano de 1910, a Alemanha sediou a importante Exposição Internacional de Urbanismo, em Berlim (Städtebau-Ausstelung in Berlin), onde foram apresentados os planos do concurso da Grande Berlim e também trabalhos elaborados para diversas cidades européias e americanas, como as de Budapeste, Estocolmo, Munique, Colônia, Londres, Paris, Viena, Chicago e Boston.

Este evento teve continuidade em 1912, com a Exposição Internacional de Dusseldorf (Städtebau-Ausstelung – Dusseldorf).

Por fim, o ano de 1913 viria marcar a realização dos últimos encontros significativos desse período de dominância da difusão da prática urbanística germânica, período esse que se encerra com o advento da primeira grande guerra, em 1914. Coincidentemente, todos esses encontros foram realizados na Bélgica e Holanda, dos quais o mais importante foi sem dúvida o Premier Congrès International et Exposition Comparée des Villes, onde estiveram presentes Joseph Stübben e Charles Buls.

Victor Freire esteve, com certeza, presente nos encontros realizados em 1910 e em 1913, os mais importantes dessa época.

Esses fóruns possibilitaram não somente a troca de experiências entre os administradores municipais das diversas cidades alemãs como também abriu espaço para a internacionalização dessa cultura germânica e, conseqüentemente, para o seu intercâmbio com outros países.

Um exemplo notável foi o caso do inglês Thomas Coglan Horsfall, que, impressionado com a visita que realizara às cidades alemãs, publicou em Manchester no ano de 1904 uma obra de grande repercussão, intitulada The Improvement of the Dwellings and Surroundings of the People: the Example of Germany (27).

Além desses encontros, a difusão desse novo campo científico de conhecimento passou a contar, a partir do início do século, com os periódicos especializados. Estes se constituíram no meio mais eficiente de divulgação desse debate sobre a cidade, não só para aquele público tradicional já freqüentador desses congressos, mas, sobretudo, para os administradores públicos que estavam mais distantes desse contexto europeu (que era o caso dos brasileiros).

A primeira revista especializada na matéria do urbanismo e com repercussão internacional foi lançada em 1904, simultaneamente em Viena e Berlim, intitulada Der Städtebau (A Construção Urbana). Os seus organizadores eram Camillo Sitte (que faleceria um pouco antes do lançamento do primeiro número) e Theodor Goecke.

No mesmo ano, a Inglaterra lançaria a Garden Cities and Town-Planning, uma das principais divulgadoras dos projetos de cidade-jardim. Em 1908, teria início a Städdtebauliche Vortrage, editada em Berlim, e em 1910 a Town Planning Review, publicada em Liverpool e veículo de divulgação do RIBA. Em 1914, surge o Journal of the Town Planning Institute e em 1919, a revista francesa La Vie Urbaine.

No contexto norte-americano, pode-se citar os Proceedings of the National Conference of City-Planning (1910) e a National Municipal Review (1912).

Esse período anterior à 1ª Guerra Mundial é o momento considerado por muitos autores (28), como aquele em que se dá a gênese do urbanismo enquanto campo disciplinar específico do conhecimento, enquanto uma ciência. Coincidentemente, é o momento em que se processa o predomínio da influência germânica nesse cenário. A revista Der Städtebau, por exemplo possui a sua melhor fase nessa época, desde a sua criação em 1904 até a primeira interrupção, em 1914.

Muitos dos paradigmas adotados por Victor Freire, originaram-se desse ideário. Na viagem de nove meses que realizou à Europa, em 1913 (licenciando-se da Escola Politécnica e do cargo de Secretário de Obras da Prefeitura de São Paulo) Freire participou de várias exposições e congressos, travou contato com Raymond Unwin e conheceu diversas intervenções realizadas nas cidades alemãs. O mesmo proveito foi obtido em outras viagens, realizadas em 1900, 1910, 1916 e 1924.

A relevância desses contatos foi marcante nos trabalhos que elaborou para São Paulo, especialmente em “Os Melhoramentos de São Paulo” (publicado na Revista Polytechnica, em 1911), quando realiza uma análise dos problemas da área central da cidade e propõe um plano de intervenções.

Alguns princípios da urbanística germânica

A partir da análise do conteúdo dos congressos e exposições internacionais, assim como dos manuais e das revistas especializadas, é possível elencar alguns aspectos que estavam presentes no debate urbanístico germânico no período anterior a 1920:

a – esse contexto é marcado pela a excessiva presença de engenheiros, o que vem implicar na ênfase assumida pelo urbanismo nos aspectos sanitaristas e higienistas (29).

b – no início do século XX, a experiência urbanística alemã foi exportada como um grande pacote de instrumentos de controle para as municipalidades e os urbanistas que eventualmente se detinham no estudo dessa experiência estavam preocupados mais em absorver aqueles aspectos técnicos e administrativos presentes nos projetos de reforma administrativa (cuja eficácia tanto notabilizava o urbanismo alemão) do que naqueles voltados à cidade enquanto obra de arte (30).

c – o instrumento do zoneamento surge como uma necessidade de controle e de proteção urbana, num período em que as cidades alemãs passavam por um vertiginoso crescimento e uma intensa especulação fundiária. Um de seus promotores mais entusiastas foi Baumeister. Esse zoning apresentava três categorias: a zona industrial, compreendendo as plantas fabris e as residências dos funcionários dessas industrias; a zona de negócios e de comércio varejista; e a zona exclusivamente residencial.

d – a questão da prevalência da visão viária (tão presente na obra de Baumeister e Stübben) é um fator inerente à modernidade urbana e ao grande afluxo de veículos, questões essas que Sitte não defendia. A praça de tráfego (rotatória), viria a se tornar um dos elementos basilares do planejamento das cidades.

e – outra questão que suscitava calorosos debates na época era aquela relativa ao alinhamento das fachadas das edificações ao longo das ruas (Baufluchtlinie) e dos efeitos visuais de perspectiva decorrentes deste alinhamento no traçado das ruas (Strassenfluchtlinie). Esse tema, na verdade de origem barroca, estava presente na legislação da Prússia de 1875. A este respeito, Collins comenta: “essa legislação, apesar de primitiva para os padrões do século XX, foi a indutora da adoção indiscriminada de um modelo de retilinearidade presente no planejamento viário, modelo esse que seria bastante criticado por Sitte. Segundo ele, a irregularidade das linhas das fachadas e das projeções de elementos presentes nas antigas edificações, tinham um charme em si, causando um efeito estético superior ao das uniformes fluchtlinien“ (31).

f – um outro ponto promotor de grande celeuma na época – motivo de debates em congressos e em artigos de periódicos especializados – era aquele relativo à questão do traçado das ruas: se elas deveriam ser retas ou se deveriam ser curvas (krumme oder gerade Strassen?). Por detrás desse debate situava-se um conflito que viria se explicitar posteriormente entre arquitetos e engenheiros, entre o artista e o técnico, entre os historicistas e os funcionalistas, e entre a racionalidade versus a espontaneidade na definição do desenho urbano.

g – as primeiras normas construtivas adotadas na Alemanha eram de caráter higiênico e visavam a prevenção aos incêndios. Referiam-se às edificações de uso residencial e davam especial atenção à ventilação, à insolação e ao isolamento da construção em relação às vizinhas. Dessa forma, foram introduzidos nessas normas alguns parâmetros, como altura da edificação, distância da mesma em relação às divisas do lote e da rua, profundidade do lote, recuos, cubagem de ambientes internos, procurando relacionar a área coberta com a área do lote, os recuos com a altura da edificação e diversos outros índices que são utilizados até hoje (32).

Estes princípios foram incorporados por Freire em diversas propostas e realizações para a cidade de São Paulo ao longo de sua gestão à frente da Diretoria de Obras. Podemos ressaltar os dispositivos de uniformização das linhas mestras das fachadas (baufluchtlinien) reconstruídas nas áreas de intervenção do Plano Bouvard (lei nº 1585, de 3/9/1912), assim como um zoneamento para usos induzidos e especializados na área central (lei nº 1011, de 6/7/1907), a definição de parâmetros para as zonas de expansão urbana (lei nº 2611, de 20/6/1923) e dispositivos do código de obras associados à salubridade e segurança das construções (ato nº 900, de 1916 e lei nº 2332, de 9/11/1920). A defesa pelos alinhamentos viários curvos (krumme strasse) está presente no projeto final adotado para a urbanização do vale do Anhangabaú e avenidas de conexão com bairros mais afastados do centro, numa clara aproximação com a visão sitteana, contrapondo-se assim à transposição simplificada de soluções haussmannianas, muito em voga nas capitais brasileiras – argumentação esta que seria muito útil para a crítica aos projetos de Samuel das Neves e de Alexandre Albuquerque, ambos prevendo a abertura de avenidas no centro paulistano.

Referências internacionais presentes no Plano de Victor Freire para a cidade de São Paulo, em 1911

A relevância da obra de Victor Freire reside no seu caráter diferenciado em relação às propostas urbanísticas brasileiras da época: eram estudos que se legitimavam através de um discurso com referências conceituais e metodológicas ao urbanismo científico, que estava em gestação nesses primeiros congressos europeus.

O plano intitulado “Os Melhoramentos de São Paulo”, de 1911, é um excelente exemplo para se analisar essa transferência do ideário urbanístico internacional. A recuperação da trajetória bibliográfica na qual Freire se baseou para a elaboração deste plano constitui-se em indicativo deste processo.

A indicação de urbanistas e referências constantes neste trabalho permite delinear o itinerário bibliográfico que Freire percorreu para fundamentar o seu 'Melhoramentos de São Paulo'. Basicamente foram cinco obras:

Em primeiro lugar, aparece o livro de Sitte, o mais utilizado. Freire estudou-o detidamente e extraiu daí os principais conceitos que passou a defender em relação ao sistema viário, às áreas verdes, ao Paço Municipal, etc. São desta obra os comentários a respeito dos trabalhos e planos elaborados por Baumeister, por Puetzer, por Henrici e por Theodor Fischer. As ilustrações referentes à obra desses urbanistas alemães não consta no entanto da edição austríaca de 1889. Aparece somente na primeira edição francesa de 1902 – traduzida e ampliada por Camille Martin – que foi a que Freire então utilizou para o anexo das gravuras ao final do seu trabalho. Quanto à Baumeister, Freire pode também ter incorporado princípios constantes na obra de 1876, disponível na biblioteca da Politécnica.

Em segundo lugar, o texto de Arthur Vierendeel de 1905 (33), que apresenta a concepção do tripé viário/sanitário/estético para conceituar o “ponto de vista de conjunto” na análise do urbano.

Em terceiro, a obra de Eugéne Hénard sobre as transformações de Paris, que este francês publicou entre os anos de 1903 e 1907. Pelas idéias que aí apresenta, Freire deve ter se utilizado mais dos fascículos 2 e 3 dos Études sur les transformations de Paris, ambos de 1903 e intitulados respectivamente Les alignements brisés e Les grands espaces libres (34).

Em quarto, o Esthétique des Villes de Buls, ou o paper que ele apresentou no congresso de Londres de 1906, intitulado De la disposition et du developpement des rues et des espaces libres dans les villes.

Por último, a obra do americano Charles Mulford Robinson cuja primeira edição de 1901, como o próprio Freire atesta, permite concluir que se trata do livro The improvement of towns and cities or the practical basis of civic aestthetics (35).

Além desses cinco livros, Freire também utilizou as plantas e o memorial que Bouvard elaborou para a intervenção na cidade de Buenos Aires em 1907.

É possível ainda concluir que Freire teve acesso a essa bibliografia através dos encontros internacionais de Urbanismo, que ele começou a participar por volta de 1908. No congresso de Londres, em 1910, ele teria tido contato com a obra de Robinson, de Hénard e também com a de outros urbanistas que ele utilizaria posteriormente, como Stübben, Unwin, Geddes, Augustin Rey e Howard.

A ligação com a experiência argentina e com o trabalho de Bouvard, foi um fato decorrente de sua participação no grupo portenho intitulado Museo Social.

Em relação ao importante manual de Stübben, Der Städtebau, Freire não faz referência a ele neste texto de 1911, mas utilizará intensamente este autor em textos posteriores, quando discute a salubridade a e expansão urbana. A edição mais difundida do livro de Stübben é a de 1924, que a Politécnica possui um exemplar e que foi largamente utilizada por Prestes Maia na elaboração de seu Plano de Avenidas, em 1930. No entanto, bem antes de 1924, Freire já adotava referências conceituais de Stübben, advindas certamente não de seu manual, mas de um paper que apresentou na Exposição Colombiana de Chicago em 1893 e que foi traduzida para o francês por Charles Buls, com grande difusão, intitulado La construction des villes (36).

Comentários finais

Com estas considerações constata-se, portanto, que ao longo da Primeira República, a prática urbanística brasileira, ainda seminal, incorporou o ideário germânico, sobretudo nos planos realizados em São Paulo, uma vez que no restante do país dominava o procedimento da apropriação simplista da referência parisiense.

Freire foi, certamente, um dos poucos urbanistas brasileiros que na época conseguiu usufruir as práticas e teorizações que se produziam no exterior sobre esse novo campo de conhecimento – a ciência urbana. Saturnino de Brito também teve participação relevante neste processo, mas de forma menos abrangente, uma vez que sua ótica de atuação era o saneamento e os paradigmas conceituais que adotava eram advindos da escola francesa, incorporando parte do ideário sitteano.

Desta forma, Freire foi capaz de questionar um modelo dominante e propor um novo paradigma para a nossa prática urbana – a do modelo anglo-saxão, onde não só a experiência germânica adquiria relevância (Camillo Sitte, Joseph Stübben), mas também a referência inglesa, introduzindo Raymond Unwin entre nós e trazendo a experiência das gardens-cities inglesas para as nossas cidades (com as companhias imobiliárias City Improvements), deixando como herança uma importante geração de urbanistas nos quadros da administração municipal paulista, que souberam elaborar, nas décadas seguintes, planos de intervenção bem fundamentados – como por exemplo, o Plano de Avenidas, de Prestes Maia – adquirindo assim destaque em relação à produção similar que se realizava no restante do país e mesmo em relação à América Latina.

notas

1
Artigo elaborado a partir da comunicação "A urbanística germânica e sua influência na construção dos paradigmas do urbanismo no Brasil", originalmente apresentada no VII Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, realizado em Salvador, em 2002.

2
A palavra germânica aqui deve ser entendida como aquela relativa a partes dos territórios do Segundo Império Alemão e do Império Austro-Húngaro, vigentes no período estudado (1870-1914), correspondendo hoje aos países da Alemanha e Áustria.

3
Ver CALABI, Donatella (org). Il Male Città: diagnosi e terapia. Roma, Officina Edizione, 1979.

4
PICCINATO, Giorgio. La costruzione dell'urbanistica Germania 1871-1914. Roma. Officina Edizione, 1974.

5
Reinhard Baumeister (1833-1917). Professor da Technische Hochschule Karlsruhe (Escola Técnica Superior de Karlsruhe), trabalha como engenheiro e urbanista na elaboração de planos reguladores juntamente com associações profissionais, municípios e órgãos públicos e dedica grande parte de sua intensa atividade à elaboração teórica. Escreve sobre o ensino do urbanismo e da estética urbana aos engenheiros, como em seu primeiro livro Architektonische Formenlehre für Ingenieure (1866) (O ensino da forma arquitetônica para os engenheiros) e em diversos escritos publicados pela Technische Hochschule (1878). Estabelece as bases do urbanismo enquanto ciência e é o primeiro a admitir que o urbanismo possui como condicionante principal o tráfego de veículos. É também o pioneiro na proposição de uma legislação sobre zoneamento. Discorre extensamente sobre a questão da moradia, do saneamento urbano e dos instrumentos da administração municipal. Publica diversos artigos na revista 'Der Städtebau'. Contribui na redação dos estatutos quando da criação das Associações (Vereine) de Arquitetos e Engenheiros de Berlim (1874) e de Mannheim (1906). Participa de diversos congressos e exposições internacionais, dentre os quais o de Berlim em 1910, onde apresenta os seus planos para as cidades de Altona e Mannheim. A sua obra fundamental, Stadt-Erweiterungen in Technischer,Baupolizeilicher und Wirtschaftlicher Beziehung(1876) (A expansão das cidades e sua relação com os aspectos técnicos, edílicos e econômicos) torna-se o primeiro tratado urbanístico alemão de grande difusão.Muitas das idéias expostas nesse manual podem ser percebidas na obra de Camillo Sitte –principalmente as considerações de ordem artística e aquelas que estabelecem os sistemas urbanos baseados em malhas viárias distintas: ortogonal, radial e triangular.

6
Joseph Stübben (1845-1936). Desenvolve longa e extensa atividade profissional. Como arquiteto e urbanista, trabalha nas cidades de Berlim (1864-1870), Aachen (1876-1881), Colônia (1881) e Posen (1904-1920), elaborando também inúmeros planos de extensão e remodelação para cerca de 40 cidades da Alemanha e Europa. Seu projeto mais importante é o plano de extensão para Colônia, na Alemanha. Obtém o 1º prêmio no concurso para o Plano da Grande Viena em 1892. Desempenha papel fundamental nos Congressos Internacionais de Urbanismo, sobretudo nos de Bruxelas (1898), Londres (1910), e Gand (1913). Redige inúmeros artigos nos periódicos mais importantes do período: Der Städtebau, Deutsche Bauzeitung e Zeitschrift fur Bauwesen. Seu livro mais importante é Der Städtebau (A Construção de Cidades), publicado em 1890.

7
Camillo Sitte (1843-1903). Diplomado em artes e arquitetura, é responsável, em 1883, pela organização da nova Escola Imperial de Artes Aplicadas de Viena. Em 1889 publica o livro que viria consagrá-lo internacionalmente, o Der Städtebau nach seinen künstlerischen Grundsatzen (A construção de cidades segundo seus princípios artísticos). Nessa obra, apresenta uma crítica ao projeto de imensa avenida circular construída em Viena, a Ringstrasse, símbolo da modernidade na época, marcada pela monumentalidade das construções, dos espaços públicos e pela facilidade de circulação. Sitte procura retomar o exemplo das bem resolvidas cidades medievais e antigas, onde a relação entre a volumetria dos edifícios, dos espaços livres e da escala humana era mais agradável e induzia ao pinturesco e ao inesperado. Participa também do juri de diversos concursos internacionais de urbanismo, juntamente com Baumeister e Stübben. Em 1903, pouco antes de falecer, lança juntamente com Theodor Goecke a revista Der Städtebau. O pensamento de Sitte inaugura uma corrente independente dentro dessa nova ciência, e sua argumentação referenciará muitas das concepções de caráter culturalista que serão elaboradas posteriormente. Além dos alemães Karl Henrici, Theodor Fischer, Theodor Goecke, Felix Gemzer, Cornelius Gurlitt e Albert Brinckmann, as idéias de Sitte serão predominantes nos trabalhos dos ingleses Raymond Unwin e Barry Parker, do irlandês Patrick Geddes, dos franceses Marcel Poëte, Émile Magne, Gaston Bardet e de muitos outros.

8
COLLINS, George R.; COLLINS, Christiane C. (1965). Camillo Sitte and the birth of modern city planning. New York, Random House (2ª ed., New York, Rizzoli, 1986).

9
LADD, Brian. Urban planning and civic order in Germany 1860-1914. Massachussets, Harvard University Press, 1990.

10
FEHL, Gerhard; RORIGUEZ-LORES, Juan (org.). Städtebau um die Jahrhundertwende. Köln, Deutscher Gemeindeverlag, 1980; Städtebaureform 1865-1900 (Von Licht, Luft und Ordnung in der Stadt der Gründerzeit). Hamburg, Hans Christians Verlag, 1985; Stadterweiterungen 1800-1875 (Von den Anfangen des Modernen Städtebaues in Deutschland). Hamburg, Hans Christians Verlag, 1983.

11
FREIRE JR., Victor da Silva. “Os melhoramentos de São Paulo”. Revista Polytechnica. São Paulo, V.6, n. 33, p. 91-145, fev./mar. 1911.

12
BRITO, Saturnino Rodrigues de. A planta de Santos.

13
MAIA, Francisco Prestes. Estudo de um Plano de Avenidas para a Cidade de São Paulo. São Paulo, Melhoramentos, 1930.

14
Victor da Silva Freire Junior (1869-1951) – engenheiro de origem portuguesa, diplomado pela Escola Politécnica de Lisboa em 1888 e pela École de Ponts et Chausseés de Paris em 1891, vem para o Brasil em 1895, trabalhando na Superintendência de Obras Públicas, sob a direção do eng. Rebouças, e a seguir como chefe do 3º distrito no serviço de abastecimento de águas e esgotos das cidades do interior. No governo de Campos Salles, dirigiu um dos distritos da Comissão de Saneamento do Estado, o distrito de Santos (anos de 1897 e 1898). Em fins de 1897 passa a lecionar na Escola Politécnica de São Paulo, inicialmente como professor substituto e mais tarde chegando a lente catedrático. Nos quase quarenta anos que permanece nessa Escola, ministra disciplinas vinculadas aos cursos de engenheiros-civis, de engenheiros-arquitetos e de engenheiros-industriais, como 'Estabilidade das Construções', 'Tecnologia do Construtor Mecânico', 'Mecânica Industrial, Motores Hidráulicos, Fábricas' e 'Tecnologia Civil e Mecânica – Materiais de Construção. Concomitantemente a essa atividade acadêmica, Freire exerce a função de diretor na Diretoria de Obras Municipais de São Paulo, durante um longo período de 26 anos. A partir de 1899, quando é convidado pelo prefeito Antônio Prado para ocupar esse posto, passará a desempenhar um papel fundamental na consolidação do urbanismo paulistano. O conhecimento científico aliado à prática profissional intensa e às constantes viagens à Europa para participar de congressos internacionais, qualificaram Freire como o pioneiro nesse translado da experiência urbanística internacional para a realidade brasileira. Freire foi sem dúvida o brasileiro que mais esteve presente nesses eventos internacionais anteriores à primeira Guerra Mundial, num momento em que a influência germânica era predominante nesse cenário urbanístico. Em 1900, em visita à Alemanha (Nüremberg) e França, esteve provavelmente presente na Exposição Universal de Paris e no II Congresso de Arte Pública que aí se realizava. Participou em 1910 do Congresso Internacional promovido pelo Royal Institute of British Architects (RIBA) de Londres, de diversos eventos e de uma tournée às cidades alemâs. Em 1911 visita a Exposição Internacional de Higiene da Habitação, em Dresden; e em 1913, em tornée pela Europa (quando fica licenciado durante 9 meses da Politécnica), dos seguintes eventos: 1º Congresso Internacional e Exposição Comparada de Cidades, realizado em Gand (Bégica); 4º Congresso Internacional de Saneamento e Salubridade da Habitação, em Autuérpia; do 10º Congresso Internacional de Habitações Econômicas, em Berlim, e do 3º Congresso Internacional de Estradas em Londres, além de inúmeros outros no período posterior a 1916. Para a cidade de São Paulo, Freire realizou o primeiro plano de melhoramentos para a área central (1907-1911). Foi o responsável pela elaboração das primeiras leis e estudos sobre insolação, edificação, calçamentos, transportes, concorrências públicas, etc. São relevantes nesse aspecto o Ato nº 900, de 1916, sobre insolação e salubridade das edificações, e o 1º Código de Obras da cidade, elaborado em colaboração com Heribaldo Siciliano (lei nº 2332, de 9/11/20). Em 1911, por ocasião da discussão sobre a remodelação da área central da cidade, foi o responsável pela vinda do arquiteto francês Joseph-Antoine Bouvard a São Paulo. Victor Freire participaria também com Bouvard, Cincinato Braga e outros investidores, da criação da Companhia City de São Paulo, numa operação imobiliária que se tornaria o maior empreendimento fundiário já realizado nesta cidade. Após a saída da Prefeitura (1925), passa a ocupar diversos cargos de direção em empresas e associações: foi presidente da Companhia de Pavimentação e Obras (1928-1932), da Companhia Anglo-Brasileira de Juta, da Companhia Brasil de Seguros Gerais, da Companhia Brasil de Imóveis e Construções, do Cortume Franco-Brasileiro, da Companhia City, da Sociedade Civil Liceu Franco-Brasileiro e da Associação Mútua de Beneficiência dos Engenheiros.

15
SUTCLIFFE, Anthony. Towards the Planned City – German, Britain, the United States and France. (1780-1914). New York, St. Martin Press, 1981, p. 166.

16
SITTE, Camillo (1889). Der Städebau nach seinen künstlerischen Grundsätzen. Wien, Karl Graeser. (A construção de Cidades segundo seus princípios artísticos. São Paulo, Ática, 1992).

17
STÜBBEN, Joseph (1890) Der Städtebau. (Entwerfen, Anlage und Einrichtung der Gebäude). Handbuch der Architektur. Darmstadt, Bergstrasser. (3 ed., Leipzig, Gebhardt, 1924).

18
BAUMEISTER, Reinhard. Stadt-Erweiterungen in technischer, baupolizeilischer und wirtschaftlischer Beziehung. Berlin, Ernst & Korn, 1876.

19
BULS, Charles. Esthétique des villes. Bruxelles, Bruylant Christofle, 1894.

20
Ebenezer Howard, de 1898.

21
ROBINSON, Charles Mulford (1902). The improvement of towns and cities or the practical basis of civic aestthetics . New York, 4ª ed., 1913.

22
UNWIN, Raymond (1909). Town Planning in Practice: an introduction to the art to designing cities and suburbs. London, Unwin (L' étude Pratique des Plans des Villes. Paris Librairie Centrale des Beaux Arts, 1922).

23
HÉNARD, Eugène. La costruzione della metropoli. (A cura di D. Calabi e M. Folin). Padova, Marsilio Editore, 1974.

24
HEGEMANN, Werner. Der Städtebau nach den ergebnissen der Allgemeinen Städtebau-ausstellung in Berlin nebst ainem Anhang: die Internationale Städtebau-ausstellung in Düsseldorf. Berlin, Ernst Wasmuth, 1911.

25
GEDDES, Patrick.

26
Desse urbanista, ver BRINCKMANN, A.E. (1921). Deutsche Stadtbaukunst in der Vergangenheit, Frankfurt. (2ª ed, Wiesbaden, Friedr. Vieweg & Sohn, 1985).

27
HORSFALL, Thomas Coglan. The Improvement of the Dwellings and Surroundings of the People: the Example of Germany , 1904.

28
COLLINS, George R.; COLLINS, Christiane C. Op. cit.; PICCINATO, Giorgio. Op. cit.; SUTCLIFFE, Anthony. Op. cit.

29
Idem, ibidem, p. 35.

30
Idem, ibidem, p. 100.

31
Idem, ibidem, p. 40.

32
PICCINATO, Giorgio. Op. cit., p. 127.

33
VIERENDEEL, Arthur. 1905.

34
HÉNARD, Eugène. Études sur les transformations de Paris.

35
ROBINSON, Charles Mulford. Op. cit.

36
STÜBBEN, Joseph. La Construction des Villes. Règles pratiques et esthétiques à suivre pour l'elaboration des plans des Villes. Tradução de Charles Buls. Bruxelles, Lyon-Claesen, 1895.

bibliografia complementar

GURLITT, Cornelius. Handbuch des Städtebaues. Berlin, Der Zirkel, Architekturverlag, 1920.

HOFFER, Karl Heinz. Reinhard Baumeister: 1833-1917. Begründer der Wissenchaft vom Städtebau. Karlsruhe, Universität Karlsruhe, 1977.

QUINTO JR, Luis do Piñedo. Revisão das origens do urbanismo moderno. Dissertação de mestrado. Brasília, UNB, 1988.

SIMÕES JR., José Geraldo. Anhangabaú: história e urbanismo. Tese de doutorado. São Paulo, FAUUSP, 1995.

WUTTKE, Robert (org.). Die Deutschen Städte: geschildern nach den Ergebnissen der ersten deutschen Städteausstellung zu Dresden 1903. Leipzig, Friedrich Brandstetter, 1903.

sobre o autor

José Geraldo Simões Junior, arquiteto (FAUUSP,1983), Mestre em Administração Pública (EAESP-FGV/SP, 1990) e Doutor em História Urbana (FAUUSP, 1995).Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é pesquisador do CNPq, com diversos trabalhos publicados sobre a temática do urbanismo brasileiro e ibero-americano.

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