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architexts ISSN 1809-6298


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Leia o artigo de Roberto Segre, sobre a arquitetura da cidade de Nova York e duas significativas exposições que lá se realizaram neste verão: "Buckminster Fuller, Starting With the Universe" e "Home Delivery. Fabricating the Modern Dwelling"


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SEGRE, Roberto. Nova York: verão 2008. O resgate do modernismo alternativo. Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 100.02, Vitruvius, set. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.100/109>.

A maçã desejada

Chegar à Nova York depois de duas décadas de ausência é encontrar ainda a imagem da cidade que impressionou Mayakovski, Dalí, Le Corbusier e Rem Koolhaas. Apesar do tempo transcorrido, pouco mudou no final do século XX. As interpretações contidas nos livros Minha descoberta da América do poeta russo; Quand les catedrales étaient blanches do Mestre francês, e Delirious New York de Koolhaas – recentemente traduzido ao português –, permanecem com plena validade, tanto em termos da sua arquitetura quanto as persistentes contradições sociais. De fato, assim como Chartres é visitada para a admiração do estilo gótico; Florença do renascentista; Roma do barroco; Paris do ecletismo; Nova York pode ser considerada como uma espécie de “museu” do modernismo e do paradigma tipológico dos arranha-céus.

A Big Apple resume dois momentos essenciais da expansão do capitalismo norte-americano. A criação da imagem “Imperial”, que se iniciou com Theodore Roosevelt e a consolidação do capital financeiro até a Crise Mundial de 1929, cujas expressões simbólicas concretizaram-se ao início do século XX com os primeiros arranha-céus – o Flatiron (1902) e o Woolworth (1911) –; culminaram nos anos trinta com os insuperáveis modelos do Rockefeller Center, o Chrysler e o Empire State Building, que identificariam a “cidade do futuro”, segundo os dramáticos desenhos de Hugh Ferris. Estabeleceram uma criativa diversidade de imagens icônicas que tanto impressionaram Koolhaas e desgostaram Le Corbusier. O segundo ciclo econômico, que levou ao mundo a ilusão do American Way of Life – depois da Segunda Guerra Mundial – e definiu o poder dos Estados Unidos no sistema capitalista internacional, esteve associado com a arquitetura do International Style, cujos arranha-céus de aço e vidro – desde os paradigmas do Lever House de SOM (e Gordon Bunshaft) (1952), e do Seagram Building de Mies van der Rohe (1958) –, mantiveram o seu vigor até o início do século XXI. É a continuidade de uma linguagem mantida nos recentes prédios do The New York Times de Renzo Piano, persistente na sua representação canônica; e na sede da Hearst Corporation de Sir. Norman Foster, que tenta sair do esquema tradicional na integração com o antigo volume Déco e a inédita expressão estrutural.

Quando a crise gerada pela Guerra do Vietnam começou, com as tensões sociais internas e a subseqüente perda da hegemonia econômica, pretendeu-se criar um novo ícone urbano – as torres de 110 andares do WTC (1973) de Minoru Yamasaki colocadas no ponto extremo de Manhattan –, cuja dimensão desproporcional quebrou a unidade do skyline urbano. O conjunto edificado configurou uma espécie de representação mistificada do capitalismo norte-americano, que Manfredo Tafuri identificou como a “montanha desencantada”. O sonho de Yamasaki, de criar na praça definida pelas torres, a “Meca” do sistema econômico mundial – como interpreta o dramaturgo português Rui Tavares na recente obra de teatro “O Arquiteto” –, não deu certo.

Superado o drama e a angustia do 11/9, a cidade recuperou a sua efervescente intensidade cultural e social, no dinamismo da vida cotidiana. Identificada historicamente como a cidade das torres, hoje esta particularidade talvez fosse mais apropriada para Xangai e para Dubai. Ainda assim, mais que a significação simbólica dos prédios, predomina a vitalidade dos seus espaços públicos. No verão, a multidão está nas ruas, nas pontes, nas praças, nos parques, nas mesas dos bares e restaurantes espalhados pelas calçadas, nos concertos e festas públicas, nos museus e teatros. O que chama a atenção é a heterogeneidade e a diversidade da população – segundo os dados contidos em The Endless City (2007), 65% dos residentes na cidade pertence às minorias étnicas –, que se movimenta, não em carros individuais, mas prioritariamente no transporte público: 55% dos habitantes o utilizam para chegar ao trabalho. Um outro atributo notável é o relacionamento entre os espaços públicos urbanos e os criados no interior dos prédios privados. Por uma parte, o sistema verde tem um uso intenso como espaço de lazer, esportivo e de sociabilidade, desde o Central Park, até o conjunto de praças que se desenvolvem no eixo da ilha de Manhattan, desde o passeio de Battery Park e o South Street Seaport na beira do Rio Hudson, até o City Hall Park, Union Square, Washington Square e Madison Square. Por outra, alem do campus da Universidade de Columbia e da Praça do Rockefeller Center, que configuram dilatadas áreas livres, os arranha-céus construídos na segunda metade do século XX criaram pequenas praças e espaços públicos que dilatam a movimentação e a recepção dos pedestres nas calçadas: entre outros citemos a Lever House, o Seagram, o Citicorp, o IBM, o ITT e o World Financial Center.

Como a dinâmica social na cidade está associada ao comércio, ao lazer, a recreação e aos serviços – que ocupam 93% da população –, as mensagens “realistas” da publicidade se superpõem sobre as formas abstratas dos edifícios, que dominam em alguns pontos da cidade: no Times Square e na 42th Street o pedestre é bombardeado por uma infinita seqüência de imagens kitsch tão caras a Robert Venturi. E a percepção de formas e espaços alterna o rigor da estética modernista com a liberdade plástica da estética pós-moderna: em um quarteirão coincidem a seriedade de Renzo Piano no The New York Times e a decoração kitsch de um absurdo prédio pós-moderno. Mas persiste hegemônica a herança do Movimento Moderno: na complexidade do contexto urbano, é absorvida a fragmentada fachada de vidro de Christian de Portzamparc, quase imperceptível ao longo da rua; e ao mesmo tempo o espaço criado por Renzo Piano na sua intervenção na Morgan Library constitui um remanso de paz e tranqüilidade.

As invenções de Buckminster Fuller

Não surpreende então que neste verão fossem apresentadas duas significativas exposições sobre os heróis do modernismo alternativo: no Whitney Museum of American Art abriu a mostra sobre Buckminster Fuller, Starting With the Universe; e no Museum of Modern Art (MOMA), o apaixonante panorama das experiências na moradia pré-fabricada ao longo do século XX: Home Delivery. Fabricating the Modern Dwelling. Na primeira desenvolveu-se um detalhado estudo da trajetória do imaginativo e visionário engenheiro (e quase arquiteto) Buckminster Fuller (1895-1983), um dos principais “gurus” para os jovens estudantes formados na década dos anos cinqüenta. Planos, fotos, vídeos e maquetes mostram a efervescência inventiva que o permitiu concretizar nos Estados Unidos a proposta de Gropius, de ter a capacidade de desenhar desde a colher até a cidade: ele imaginou uma das primeiras unidades metálicas integrais de banheiro (1936); antecipou a forma aerodinâmica do Fusca e da Kombi no carro de eficiência energética com três rodas (1933) – o Dymaxion Car –, até a proposta de um mapa plano sem deformação da Terra (1943) – The Dymaxion Air-Ocean World Map –; e um estudo antecipador sobre o aproveitamento dos recursos naturais que podia ser desenvolvido em um jogo pedagógico, o World Game (1969).

Mas o que suscitou o entusiasmo dos jovens profissionais que acreditavam na possibilidade de um relacionamento íntimo entre tecnologia avançada e desenho de vanguarda foram os projetos de casas elaborados por Fuller. Já em 1927 desenhou um modelo de casa em aço e com painéis leves – totalmente industrializada – que se concretizou em 1929 em um protótipo detalhado que nomeou Dymaxion House. Segundo o crítico inglês Reyner Banham, no se livro Theory and Design in the First Machine Age, publicado nos anos sessenta, esta foi a casa “moderna” verdadeira, e não a contemporânea Villa Savoye de Le Corbusier ainda vinculada aos sistemas distributivos e construtivos tradicionais. Caráter inovador que não foi compreendido por Philip Johnson, quando em 1932 negou a sua participação na famosa exposição no MOMA sobre The International Style: Arquitecture Since 1922. Fuller continuou elaborando alternativas de soluções econômicas durante a Segunda Guerra Mundial – a DDU, Dymaxion Deployment Units (1940) –, baseada na utilização dos silos metálicos de grãos. Mas a culminação das suas pesquisas aconteceu no projeto da Wichita House (1945) de planta circular, desenvolvida em alumínio com a tecnologia da indústria aeronáutica, e com um estudo detalhado do equipamento básico e de criativas propostas para o controle térmico, a ventilação e a insolação.

Mas a insignificante repercussão das suas propostas para a casa em série, imaginada da mesma maneira que Le Corbusier, como um produto industrial concebido com a mesma estrutura produtiva que o automóvel, acabou levando seu interesse para o desenvolvimento de estruturas metálicas leves, com uma nova interpretação das leis da estática que mudariam os sistemas tradicionais de construção em aço. Em 1945 desenvolve as primeiras experiências com peças lineares de alumínio para criar o sistema estrutural básico das leves cupulas “geodésicas”. Seus estudos culminaram no desenvolvimento de um complexo sistema estrutural denomi nado tensegrity que articulava de forma inusitada tração e compressão. Suas muitas experiências se concretizaram principalmente em gigantescos e leves domos de alumínio e plástico, cujo exemplo mais conhecido foi o Pavilhão dos Estados Unidos na Expo 67 de Montreal. Fuller, conjuntamente com Konrad Wachsmann abriram o caminho da arquitetura High Tech que se difundiu no mundo nos anos setenta: além disso, sabe-se que existiu um relacionamento pessoal de Norman Foster com Fuller.

O sonho da sweet home

Beatriz Colomina afirmou que a obsessão com o tema da casa marcou o século XX. Isto é compreensível, porque com o progressivo aumento da população mundial, e a multiplicação das camadas pobres urbanas, a necessidade de alojamento ainda hoje é um problema grave e sério não resolvido. Daí que, desde o século XIX, a produção em massa de casas preocupou arquitetos, engenheiros, políticos, economistas e reformadores sociais. Desde a criação do MOMA no início dos anos trinta, o museu adotou o tema da casa em muitas de suas exposições, promovendo também a construção de modelos na escala natural no jardim da sede em Manhattan. Em 1941 instalou-se a Dymaxion Deployment Unit de Fuller, imaginada como solução rápida as necessidades criadas pela Segunda Guerra Mundial. Uma vez finalizada esta, em 1949 foi construído o protótipo de casa pré-fabricada com teto borboleta de Marcel Breuer – que teve uma grande influência nos anos cinqüenta –, concebido para demonstrar que o Good Design arquitetônico poderia concorrer com os banais modelos de casas produzidos pela empresa Levitt. Posteriormente, em 1950 se apresentou a Exhibition House de Gregory Ain, e a casa japonesa em 1955.

A exposição Home Delivery. Fabricating the Modern Dwelling aberta de 20 de julho a 20 de outubro de 2008 no Moma´s West Lot, no midtown Manhattan, foi organizada por Barry Bergdoll, chefe do Departamento de Arquitetura e Desenho do MOMA, e pelo curador Peter Christensen. A contribuição original, além do panorama das casas pré-fabricadas, elaboradas nos séculos XIX e XX, contido no detalhado catálogo; foi a decisão de construir cinco protótipos de experiências recentes, elaboradas por arquitetos jovens em diferentes regiões do planeta. Esta amostra é a quinta e última de uma série patrocinada pela Lily Auchincloss Fund for Contemporary Architecture, que se iniciou em 1999 com a exposição organizada por Terence Riley – Un-Private House –, dedicada aos projetos e exemplos construídos de propostas contemporâneas inéditas, como as da residência em Bordeaux de Rem Koolhaas, a casa Moebius de Van Berkel & Bos, e a casa sem paredes de Shigeru Ban.

Esta exposição percorre o caminho realista da sociedade ocidental em busca de soluções para resolver a grande demanda por moradias, tanto individuais quanto coletivas, com sistemas construtivos seriados e industrializados. Impressiona o contraste entre o desenvolvimento industrial avançado dos Estados Unidos e a sua escassa incidência no tema da habitação. Ainda hoje, no século XXI, a maioria das casas que se constroem neste país, é baseada em técnicas artesanais ou na aplicação do Balloon Frame, que foi inventado por Augustine Taylor em 1833. E a imagem da casa tradicional com teto á duas águas, persistiu ao longo do século, desde a casa integral de concreto armado de Thomas Edison (1906-1919), até os catálogos de modelos do Sears Catalogue Homes (1908-1940), que culminam na segunda pós-guerra, com as casas Levitt construídas in-situ. A idéia de concretizar uma casa tradicional com componentes metálicos, proposta por Carl G. Strandlund da empresa Lustron (1948-50) não vingou, porque não conseguia ser mais barata que as artesanais. Pouca repercussão tiveram as soluções alternativas, associadas as tipologias do Movimento Moderno: as Yankee Portables de Marcel Breuer (1942-43); o detalhado estudo do General Panel System de Walter Gropius e Konrad Wachsmann (1941-1952), e a paradigmática Case Study House No. 8, desenhada por Charles & Ray Eames, baseada na utilização de componentes industriais vendidos nas lojas de ferragens. Uma última iniciativa foi desenvolvida por Paul Rudolph em 1970, resgatando o modelo da casa rolante na urbanização da Oriental Masonic Gardens. Um caminho diferente, tentando relacionar as tipologias tradicionais com as modernas, foi explorado por F.L. Wright, primeiro na American System-Built Houses (1911-17), com uma imagem assumida das Prairie Houses; e em 1936, as soluções econômicas das casas Usonian, concretizada na casa Jacobs e em quase quarenta alternativas executadas.

Não foi dada particular relevância as experiências européias, talvez pelas dificuldades que estas propostas tiveram para serem concretizadas em larga escala. Foram importantes os modelos experimentais de Walter Gropius, construídos em Weimar e Dessau – o bairro Toerten (1926-27) –, assim como a estrutura Dom-ino (1914) e a Unité de Marselha (1949-52) de Le Corbusier; no entanto, considero mais significativas, como modelo de moradia mínima, as não exibidas ou citadas Maison Laucheur (1929), genial na sua flexibilidade interna; e o reduzido espaço das unidades do conjunto habitacional Kiefhoek (1925) de J.J.P. Oud, paradigma do conceito de existenzminimum.. No pós-guerra é valorizada na exposição a obra de Jean Prouve, um dos maiores defensores na Europa no desenvolvimento de uma arquitetura industrial. A Maison Tropicale (1949-51) e a casa Meudon, são protótipos de casas construídas com peças de aço e alumínio e painéis leves, que antecipam as preocupações ecológicas atuais, nos estudos sobre a ventilação e a adaptação ao clima tropical. Nestes exemplos, se evidencia a influência que tiveram na obra de João Filgueiras Lima, “Lelé”. Por último, as contribuições dos países socialistas tampouco foram privilegiados na exposição. Além da pré-fabricação pesada dos anônimos blocos russos – os Khrushchovkas –, existiram outras iniciativas originais, como o sistema construtivo flexível IMS, desenvolvido na antiga Iugoslávia.

Particular destaque obtiveram as casas “cápsula”, ou seja, aquelas unidades integrais de metal ou de plástico, de forma fechada e com os equipamentos internos integrados na casca arquitetônica. Fuller foi um pioneiro nesta procura, com a Dymaxion House, cujo exemplo facilitou que na segunda metade do século XX, se espalharam às propostas reais e utópicas. Nos anos sessenta Peter Cook e David Green do grupo Archigram, elaboraram a Plug-in City e a cápsula da Living Pod. .Propostas teóricas que se concretizaram na Future House do finlandês Matti Suuronen (1968-78), leve casca de plástico que foi reproduzida em vários exemplares. Em Cuba, os arquitetos Hugo Dacosta e Mercedes Alvarez, desenvolveram uma cápsula de cimento amianto (1964-68), sem imaginar que este material seria proibido no futuro por ser considerado como um agente cancerígeno. Mais significativo na ilha, foi o módulo do sistema Multiflex, criado por Fernando Salinas nos anos setenta. Também se concretizaram experiências de células realizadas em aço e concreto armado. O conjunto de unidades pré-fabricadas de concreto armado do Habitat 67 em Montreal de Moshe Safdie definiu a escala urbana das células habitacionais articuladas espacialmente numa dimensão próxima da ficção científica; seguidas pelo exemplo paradigmático dos containeres metálicos da Nakagin CapsuleTower em Tókio de Kisho Kurokawa (1968-72), hoje ameaçada de ser demolida por conta das dificuldades de manutenção das unidades. Mais esotérico foi o conjunto habitacional Ramot na Jerusalém de Zvi Hecker (1972-85), baseado em octaedros que compõem as diferentes unidades dos apartamentos. Nesta seleção a Casa Bola de Eduardo Longo, construída em São Paulo (1985), deveria fazer parte.

Mas a grande contribuição da exposição é permitir aos visitantes conhecer em detalhe, externa e internamente, os cinco exemplos construídos. É possível dividir o conjunto das obras apresentadas em três grupos distintos. O primeiro, é a cápsula tradicional – um cubo de metal e plástico, de aproximadamente 3x3 m de lado, de 2.2 toneladas de peso –, que contém todo o equipamento necessário para a moradia de um casal. A Micro Compact Home, desenhada pelos arquiteto inglês Horden Cherry Lee e os alemães Haack+Höpfner, concretiza a idéia de Le Corbusier da casa como uma “máquina para viver”, pela sua precisão no detalhamento de todos os componentes internos.

Já em uma escala de conjunto urbano, de unidades integradas em articulações livres, tanto externas quanto internas, são as propostas dos arquitetos austríacos Oskar Leo Kauffmann e Albert Rüf, no SYSTEM3; e de Stephen Kieran e James Timberlake, criadores da Cellophane House. Nas duas propostas, a casa não tem uma forma pré-definida, tanto na célula como no conjunto, e a solução depende tanto da localização no terreno quando as necessidades dos usuários. Em ambos os casos um sofisticado estudo dos elementos estruturais e dos painéis permite uma livre articulação dos integrated component assemblies.

Mas sem dúvida, as propostas mais originais são as do professor Lawrence Sass, da Escola de Arquitetura do MIT, quem desenvolveu a Digitally Fabricated Housing for New Orleans; e dos australianos Jeremy Edmiston e Douglas Gauthier, autores da casa BURST*008. Os dois exemplos estão baseados na nova técnica do laser que permite cortar pranchas de madeira compensada com formas complexas e diferentes; e inclusive elaboradas in situ. Ou seja, a rigidez mantida por mais de um século pelos componentes normalizados do balloon frame, se transforma na liberdade construtiva, técnica e estética do novo sistema. Aqui se concretiza a afirmação do arquiteto alemão do século XIX, Godofredo Semper, quem afirmava, ao contrário de Vitruvio, que a cabana primitiva tinha a sua origem no tecido elaborado pelas mulheres, e não na pedra e na madeira, utilizada pelos homens. Neste sistema, se aplica o mesmo conceito que define a produção de roupa em série, com os seus infinitos modelos e tamanhos, como por exemplo, os jeans Levi´s. Assim, as peças construtivas, são elaboradas de acordo com as diferentes circunstâncias. E nas casas para Nova Orléans, o laser permite resgatar a casa tradicional – a shotgun house – e os elementos decorativos da tradição gingerbread, resgatando nas novas casas a fisionomia variável da cidade histórica perdida com a furação Katrina. Mas também, na BURST*008, a imagem tri-dimensional da casa elaborada pelo computador, é definida pela variedade de patterns de madeira, que, uma vez desenhados e cortados pela máquina, facilitam a rápida e exata construção manual com os elementos leves, facilmente manipuláveis.

Se os domos de Fuller, as células de plástico ou de aço e concreto, definiram as experiências formais e tecnológicas do século XX; as do século XXI se iniciam com estas novas possibilidades do laser e dos computadores, estabelecendo um novo relacionamento entre tecnologia, projetistas e usuários, mais do que propor abstratas tipologias universais, aproximam as soluções às necessidades e aspirações individuais. Resta descobrir como estes procedimentos avançados poderiam ser aplicados no mundo subdesenvolvido e na produção em massa de casas para as camadas mais pobres, que continuam sendo obrigadas a construir com materiais tradicionais e primários, que somente aparecem na exposição na proposta do arquiteto de origem guatemalteco Teddy Cruz – projeto “Maquiladora” –, para melhorar os conjuntos espontâneos em Tijuana, na fronteira entre México e Estados Unidos. Neste sentido, é importante lembrar dos projetos de Samuel Mockbee para os moradores pobres do Mississipi; das células protetoras nos territórios asiáticos devastados pelas guerras – o iglu construído com sacos de areia, que recebeu o Prêmio Aga-Kahn (2004), projetado pelo arquiteto do Irã Nader Khalili – ou das casas de baixo custo na África do Sul, também construídas com peças estruturais de madeira e paredes com bolsas de polietileno recheias de areia. Nesta dura realidade fica difícil imaginar a presença do laser como uma técnica construtiva aplicável no Terceiro Mundo.

sobre o autor

Roberto Segre, arquiteto e crítico de arquitetura, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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