Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
A construção do barramento que deu origem à represa Billings, na década de 1920, criou uma ruptura em seu curso natural que descaracterizou a sua continuidade. A montante do barramento, uma represa; a jusante, um rio supostamente originado a partir dela.


how to quote

GONÇALVES, Newton; DOS SANTOS, Alexandre; AGUIRRE, José. Identificação da nascente que dá origem aos rios Grande e Pinheiros. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 188.07, Vitruvius, jan. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.188/5934>.

Introdução

Localizados na Região Metropolitana de São Paulo, os rios Grande (ou Jurubatuba) e Pinheiros formam um único rio, com nascente situada nos contrafortes da serra do Mar e foz no rio Tietê. A construção do barramento que deu origem à represa Billings, na década de 1920, criou uma ruptura em seu curso natural que descaracterizou a noção de continuidade desses corpos hídricos: a montante do barramento, uma represa; a jusante, um rio supostamente originado a partir dessa represa.

Este estudo teve como objetivo a identificação da nascente que dá origem aos rios Grande (ou Jurubatuba) e Pinheiros. Sua finalidade é fornecer subsídios ao Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André - COMDEPHAAPASA, na avaliação de pedido de tombamento da nascente do rio Grande como bem cultural andreense.

Dada a limitação do espaço disponível desta revista os mapas que acompanham este artigo são apresentados parcialmente.

Conceitos

Para compreensão geral do objeto de estudo são apresentados conceitos obtidos na publicação Cadernos da Mata Ciliar nº 1 (1).

Entende-se por nascente o afloramento do lençol freático que vai dar origem a uma fonte de água de acúmulo (represa), ou cursos d’água (regatos, ribeirões e rios).

As nascentes localizam-se em encostas ou depressões do terreno, ou ainda, no nível de base representado pelo curso d’água local; podem ser perenes (de fluxo contínuo), temporárias (de fluxo apenas na estação chuvosa), ou efêmeras (surgem durante a chuva, permanecendo por apenas alguns dias ou horas).

É possível dividir as nascentes em dois tipos quanto à sua formação, segundo Linsley e Franzini (1978):

  • Quando a descarga de um aqüífero se concentra em uma pequena área localizada, tem-se a nascente ou olho d’água. Esse pode ser o tipo de nascente sem acúmulo d’água inicial, comum quando o afloramento ocorre em um terreno declivoso, surgindo em um único ponto em decorrência da inclinação da camada impermeável ser menor que a da encosta. São exemplos desse tipo as nascentes de encosta e de contato.
  • Quando a superfície freática ou um aquífero artesiano intercepta a superfície do terreno e o escoamento é espraiado numa área, o afloramento tenderá a ser difuso, formando um grande número de pequenas nascentes por todo o terreno, originando as veredas.

Nesse segundo caso, se a vazão for pequena, pode apenas molhar o terreno, mas, se for grande, pode originar o tipo com acúmulo inicial, comum quando a camada impermeável fica paralela à parte mais baixa do terreno e, estando próxima a superfície, acaba por formar um lago.

São exemplos desse tipo as nascentes de fundo de vale e as originárias de rios subterrâneos.

Levantamentos iniciais

O trabalho foi iniciado com uma pesquisa, na internet, sobre alguma publicação que tratasse da descrição do método de determinação da nascente do rio principal de uma bacia hidrográfica, mas nenhuma foi localizada.

A pesquisa também não identificou a existência de regulamentação federal ou estadual a respeito do assunto.

Identificação de procedimentos

Dada a ausência de publicação ou regulamentação que trata da descrição do método de determinação da nascente do rio principal de uma bacia hidrográfica, foi solicitado o auxílio do Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo - IGC, que possui experiência no assunto e orientou sobre os procedimentos a serem adotados neste estudo.

Existem muitas formas de se determinar a nascente de um rio principal. Os critérios mais usuais para essa determinação são:

  • a nascente do rio principal ser a mais distante de sua foz;
  • a nascente do rio principal se situar em maior altitude que as demais;
  • a nascente do rio principal ser a mais distante de sua foz e se situar em maior altitude que as demais.

Entretanto, dependendo da situação, outros critérios também deverão ser considerados e estes só poderão ser constatados com a realização de trabalho de campo. São eles:

  • identificar se a nascente continua no mesmo local em que foi mapeada originalmente;
  • constatar se existe ou não água aflorando;
  • identificar qual nascente é a mais relevante em volume de água.

Por fim, além da utilização dos critérios citados acima, deve-se usar o bom senso nos estudos para que se possa chegar a um resultado satisfatório.

Pelo exposto acima, os estudos para determinação da nascente dos rios Grande e Pinheiros foram realizados adotando-se os procedimentos do IGC:

  • buscar as informações cartográficas mais antigas disponíveis;
  • identificar o curso d’água de interesse em tais mapeamentos;
  • caso não seja possível identificar o curso d’água de interesse, identificar o candidato mais provável;
  • consultar o mesmo curso d’água, sucessivamente, em mapeamento cada vez mais recente até se chegar aos mapas atuais;
  • aplicar as formas de determinação de nascentes relacionadas acima.

Estudos realizados

Mapeamento de 1906

No Estado de São Paulo os mapeamentos mais antigos utilizados para identificação do traçado original de cursos d’água são os realizados pela “Commissão Geographica e Geologica do Estado de São Paulo”, que mapeou todo o Estado desde a segunda metade do século 19 até a década de 1920.

Utilizando-se cópia de um mapa elaborado pela citada Comissão (2), de 1906, na escala 1:100.000, que contém a região de Paranapiacaba, foi possível identificar o traçado do curso do rio Grande desde sua confluência com o ribeirão Cocaia até as proximidades da estação ferroviária de Campo Grande e, a partir desse local, até a vila de Paranapiacaba, denominada na época como Alto da Serra.

Área de nascente do rio Grande, 1906 [Commissão Geographica e Geologica do Estado de São Paulo. Folha de São Paulo, 1906]

Área de nascente do rio Grande, 1906 (aproximação) [Commissão Geographica e Geologica do Estado de São Paulo. Folha de São Paulo, 1906]

Este mapa de 1906 oferece a rara visualização de parte da Região Metropolitana de São Paulo antes da construção dos reservatórios Billings e Guarapiranga. O curso do rio Grande é nítido e também é possível identificar diversos afluentes seus; vários deles com a indicação dos respectivos nomes.

Mapeamento de 1939

Após a análise do mapa de 1906 se estudou outro, elaborado pelo Instituto Geográfico e Geológico, de 1939 (3), também na escala 1:100.000. O diferencial desse segundo mapa é que ele contém somente a área do antigo Município de Santo André que, na época, abrangia toda a região do Grande ABC.

O mapa de  traz mais detalhes e atualizações cartográficas que o de 1906, dentre elas o reservatório Billings. Nele é possível constatar que o rio Grande foi textualmente indicado bem mais próximo de sua nascente, entre a vila de Paranapiacaba e a divisa municipal com Mogi das Cruzes, paralelo a uma estrada conhecida atualmente como “do Taquarussu”. É possível visualizar, inclusive, dois cursos d’água que se originam nos divisores de água entre Santo André, Santos e Mogi das Cruzes, cruzam a estrada do Taquarussu e desaguam no rio Grande.

Área de nascente do rio Grande, 1939 [Instituto Geográfico e Geológico da Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio do Est]

Deduziu-se a partir da leitura do mapa de 1939 que o curso d’água mais próximo da divisa com Mogi das Cruzes é o que conduz à nascente do rio Grande.

Mapeamento de 1972

A seguir passou-se à análise de mapa mais recente, no caso o elaborado pelo Instituto Geográfico e Geológico do Estado de São Paulo - IGG, de 1972 (4), em escala 1:50.000, folha Santos, de nomenclatura SF.23-Y-D-IV-3 e SG.23-VB-I-1.

Nesse mapeamento é possível observar que o curso d’água que conduz à nascente do rio Grande está situado no canto superior direito da folha, entre as coordenadas 369.000 e 370.000 X 7.370.000 e 7.371.000, segue na direção da divisa municipal com Mogi das Cruzes e finaliza próximo à curva de nível de altitude 960 m. Possui extensão menor do que o observado no mapa analisado no item seguinte.

Área de nascente do rio Grande, 1972 [Instituto Geográfico e Geológico de São Paulo, IGG. Folha Santos, 1972]

Mapeamento de 1984

Este mapa foi elaborado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em 1984 (5), em escala 1:50.000. Trata-se também da folha Santos, de nomenclatura SF.23-Y-D-IV-3 e SG.23-VB-I-1.

Comparando-se os mapas do IGG e do IBGE, conclui-se que o segundo tem maior detalhamento que o primeiro e indica um traçado mais extenso para o rio de interesse até uma altitude mais elevada.

É possível observar nesse mapa que o rio Grande foi textualmente indicado em local diferente do mapa de 1939. Está situado no canto superior direito da folha, entre as coordenadas 366.000 e 369.000 X 7.370.000 e 7.373.000, à esquerda de uma linha de transmissão de energia elétrica, segue na direção da divisa municipal com Mogi das Cruzes e finaliza na curva de nível de altitude 900 m.

Área de nascente do rio Grande, 1984 [Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. Folha Santos, 1984]

Analisando-se outro curso d’água nesse mesmo mapa do IBGE constata-se que ele é muito mais compatível com as referências do mapa de 1939. Também está situado no canto superior direito da folha, mas entre as coordenadas 368.000 e 370.000 X 7.370.000 e 7.372.000, segue na direção de uma tríplice divisa municipal e finaliza na curva de nível de altitude 1.075 m.

Para fins de análise o curso d´água que possui a indicação textual “rio Grande” será chamado de 1 e o segundo curso d’água será chamado de 2.

Aplicando-se os critérios para determinação da nascente do rio principal de uma bacia hidrográfica relacionados anteriormente, constata-se o que se segue.

Para o curso d’água 1

  • Sua nascente, situada aproximadamente nas coordenadas 368.450 X 7.372.650, está menos distante da foz do rio Pinheiros que a nascente do curso d’água 2;
  • Sua nascente está em altitude menor que a nascente do curso d’água 2.

Para o curso d’água 2:

  • Sua nascente, situada aproximadamente nas coordenadas 369.650 X 7.370.700, está mais distante da foz do rio Pinheiros que a nascente do curso d’água 1;
  • Sua nascente está em altitude maior que a nascente do curso d’água 1.

Da aplicação dos critérios relacionados acima se conclui que:

  • O curso d’água 2 é o rio Grande e seu traçado no mapa do IGBE, escala 1:50.000, é o que deve ser utilizado na continuidade do trabalho;
  • A informação textual “rio Grande” que consta no mapa do IBGE, escala 1:50.000, entre as coordenadas 366.000 e 369.000 X 7.370.000 e 7.373.000, à esquerda de uma linha de transmissão de energia elétrica, é incorreta.

Mapeamento de 1981

Na sequência foi analisado mapa elaborado pela Emplasa - Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S. A., de 1981 (6), em escala 1:10.000, folha Paranapiacaba, de nomenclatura SF.23-Y-D-IV-3-NE-B, com muito mais detalhes cartográficos que os anteriores.

Área de nascente do rio Grande, 1980/1981 [Emplasa. Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S. A. Folha Paranapiacaba, 1981]

Constata-se que o curso d’água analisado nos mapas de 1939, de 1972 e de 1984, entre a estrada do Taquarussu e os divisores de águas de Santo André com Santos e Mogi das Cruzes, possui ramificações que levam a 7 diferentes nascentes. Duas dessas nascentes destacam-se como candidatas a dar origem ao rio Grande.

Para fins de análise as nascentes foram numeradas de 1 a 7, no sentido horário, de cima para baixo.

Nascente nº 1

Situa-se nas coordenadas aproximadas 369.400 X 7.370.850 e na altitude 975m.

Origina curso d’água curto, com aproximadamente 90 m, considerando-se apenas o trecho até a confluência com o curso d’água originado na nascente nº 2.

Quando se observa o curso d’água a partir da nascente nº 1 até o cruzamento com a estrada do Taquarussu constata-se que seu traçado é muito semelhante àquele que consta no mapa do IGG, de 1972, em escala 1:50.000.

A nascente está muito próxima da divisa com Mogi das Cruzes e de um topo de morro cotado com 1.004 m de altitude. No mapa do IGG é possível observar esse topo de morro e outro à sua esquerda e acima. Este segundo topo de morro também consta no mapa da Emplasa e possui altitude de 996 m.

É possível concluir que o traçado do curso d’água que consta no mapa do IGG, de 1972, escala 1:50.000, conduz a esta nascente.

Nascente nº 2

Situa-se nas coordenadas aproximadas 369.420 X 7.370.770 e na altitude 1.000 m.

Origina curso d’água curto, com aproximadamente 100 m, considerando-se apenas o trecho até a confluência com o curso d’água originado na nascente nº 1.

Nascente nº 3.

Situa-se nas coordenadas aproximadas 369.620 X 7.370.640 e na altitude 1.095 m.

Está a cerca de 120 m em linha reta de um ponto cotado com 1.136 m de altitude, para onde converge uma tríplice divisa municipal entre Santo André, Santos e Mogi das Cruzes.

Quando se observa o curso d’água a partir dessa nascente até o cruzamento com a estrada do Taquarussu constata-se que seu traçado é muito semelhante àquele que consta no mapa do IBGE em escala 1:50.000.

No mapa do IBGE também é possível constatar:

  • que a extensão do curso d’água é maior do que a existente no mapa do IGG;
  • o curso do rio faz uma curva à esquerda e, em seguida, à direita, quando observado de jusante para montante, a partir da estrada do Taquarussu.

Deduz-se das observações acima que:

  • a curva à esquerda conduz à nascente nº 1 e seria o traçado do curso d’água que consta no mapa do IGG;
  • a curva à direita conduz à nascente nº 3.

Dadas suas coordenadas e altitude em que se encontra, esta é uma das candidatas a ser a nascente do rio Grande.

Nascente nº 4.

Situa-se nas coordenadas aproximadas 369.600 X 7.370.510 e na altitude 1.095 m.

Está um pouco mais distante do ponto cotado com 1.136m de altitude que a nascente nº 3, sendo mais próxima da divisa municipal entre Santo André e Santos, cerca de 80 m em linha reta.

Entretanto, dada a diferença de escala entre os mapas da Emplasa e do IBGE, quando se observa o curso d’água a partir dessa nascente até o cruzamento com a estrada do Taquarussu constata-se que seu traçado também é muito semelhante àquele que consta no mapa do IBGE em escala 1:50.000, valendo para esta nascente as mesmas constatações e deduções feitas para a nascente nº 3.

Dadas suas coordenadas e altitude em que se encontra, esta é a outra candidata a ser a nascente do rio Grande.

Nascente nº 5

Situa-se nas coordenadas aproximadas 369.480 X 7.370.400 e na altitude 1.085 m.

Origina curso d’água com aproximadamente 410 m de extensão.

Nascente nº 6

Situa-se nas coordenadas aproximadas 369.270 X 7.370.400 e na altitude 1.010 m.

Origina curso d’água com aproximadamente 340 m de extensão.

Nascente nº 7

Situa-se nas coordenadas aproximadas 369.210 X 7.370.340 e na altitude 1.020 m.

Origina curso d’água com aproximadamente 550 m de extensão.

Da análise realizada e aplicando-se os critérios para determinação da nascente do rio principal de uma bacia hidrográfica relacionados anteriormente, conclui-se que:

  • As nascentes nº 1, 2, 5, 6 e 7 estão menos distantes da foz do rio Pinheiros e em altitudes menores que as nascentes nº 3 e 4;
  • As nascentes nº 3 e 4 estão mais distantes da foz do rio Pinheiros e em altitudes maiores que as nascentes nº 1, 2, 5, 6 e 7;
  • A nascente nº 3 ou a nascente nº 4 é a que dá origem ao rio Grande.
  • Ambas as nascentes citadas no item anterior estão na mesma altitude, diferenciando-se apenas em relação à distância da foz do rio principal, que é muito pequena: a nascente nº 3 está um pouco mais para Leste que a nascente nº 4.

Trabalho de campo

Para eliminar as dúvidas sobre qual das duas nascentes é a que origina o rio Grande, foi realizada uma pequena expedição a essa área com a finalidade de identificar:

  • se ambas as nascentes continuam nas mesmas altitudes em que constam no mapa da Emplasa, em escala 1:10.000;
  • qual das nascentes está situada mais para Leste em relação à foz do rio principal;
  • se existe, ou não, água aflorando em ambas as nascentes;
  • qual das nascentes é a mais relevante em volume de água.

A análise de todos esses critérios em conjunto possibilitará determinar qual das duas nascentes é a do rio Grande.

A expedição foi realizada no dia 26 de fevereiro de 2013. Como a área onde se deu os trabalhos de campo se situa em uma Unidade de Conservação pertencente à Prefeitura de Santo André, o Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba, contou com a presença de gestores dessa Unidade de Conservação e de guias ambientais que atuam neste Parque.

Foram utilizados no trabalho de campo:

  • mapa do Sistema Cartográfico Metropolitano elaborado pela Emplasa, escala 1:10.000, folha Paranapiacaba, de 1981 e
  • aparelho GPS, marca Garmin, modelo GPSMAP 78s.

Adotaram-se nos levantamentos de campo as coordenadas geográficas mensuradas por meio do aparelho GPS e as altitudes constantes no citado mapa.

O grupo foi conduzido pela denominada Trilha da Comunidade, uma das várias existentes no Parque Nascentes. Essa trilha, além de conduzir até um local conhecido como “Comunidade”, situado no alto do morro de 1.136 m, na divisa municipal entre Santo André, Santos e Mogi das Cruzes, também conduz às duas nascentes consideradas mais prováveis a originar o rio Grande.

O percurso teve início na estrada do Taquarussu, no trecho em que o rio Grande a cruza. Seguiu-se pela estrada por cerca de 100 m e entrou-se na trilha da Comunidade propriamente dita que margeia, em grande parte, cursos d’água. Durante o percurso foram identificadas 4 confluências de rios e registrados 14 pontos de controle, com suas respectivas coordenadas, ilustradas no mapa e na fotografia aérea. O caminho percorrido pode ser inferido no citado mapa acompanhando-se a numeração crescente dos pontos de controle.

Área de nascente do Rio Grande, 1980/1981 (pontos de controle) [Emplasa. Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S. A. Folha Paranapiacaba, 1981]

Área de nascente do rio Grande, 2010 (pontos de controle) [Secretaria de gestão de recursos naturais de Paranapiacaba e parque Andreense, 2010]

A trilha inicia-se perpendicular à estrada do Taquarussu, faz uma curva à esquerda em direção à divisa com Mogi das Cruzes e, na altura do ponto de controle nº 8, faz uma curva à direita, seguindo quase paralela à divisa com Mogi das Cruzes, até o topo de morro com 1.136 m, sendo esse o trecho mais íngreme percorrido.

Justamente nesse trecho mais íngreme da trilha se localiza a nascente nº 3. Andou-se pela encosta direita do vale onde ela consta mapeada e, na altura da altitude 1.095 m, foi feito o registro do ponto de controle nº 9. Constatou-se que no percurso entre os pontos de controle nº 8 e nº 9 não havia indício de curso d’água, nascente ou umidade no solo nesse trecho da encosta. A dedução foi a de que essa nascente teria migrado para uma altitude mais baixa.

Prosseguiu-se pela trilha até o ponto mais alto do percurso, no topo de morro com 1.136 m, uma tríplice divisa municipal, onde se situam as ruínas do que foi a “Comunidade” e onde foi feito o registro do ponto de controle nº 10.

Passado esse local prosseguiu-se pela trilha em direção à nascente nº 4.

A nascente existe, se situa na mesma altitude em que consta mapeada no mapa da Emplasa em escala 1:10.000, 1.095 m e possui grande volume de água. Foi registrado o ponto de controle nº 11.

Local da nascente nº 4 [Acervo do autor]

Local da nascente nº 4 [Acervo do autor]

Alguns metros mais abaixo de seu ponto de afloramento existe uma barragem de pedras que represou parcialmente a água, formando um pequeno reservatório, de onde verte água bastante cristalina e fresca, que escoa por uma canaleta também de pedras.

Barragem [Acervo do autor]

Canaleta [Acervo do autor]

Finalizadas as medições e registros fotográficos, iniciou-se o percurso de retorno à estrada do Taquarussu, mas por outro caminho: por dentro do curso d’água originado nessa nascente, com o objetivo de chegar à confluência desse último com o curso d’água originado a partir da nascente nº 3. A confluência se situa na altitude 975 m, um desnível de 120 m em relação à nascente.

Após uma caminhada difícil por terreno íngreme e sem trilha aberta chegou-se à confluência de ambos os rios e foi feito o registro do ponto de controle nº 13.

A seguir foi iniciada a subida do curso d’água originado pela nascente nº 3, com o objetivo de localizar seu ponto de afloramento da água. Não foi preciso ir muito longe. A cerca de 10 m da confluência, em um pequeno patamar seguido de um trecho inclinado formado por rochas desmoronadas, está o afloramento do olho d’água, que flui do meio das rochas.

local atual da nascente nº 3 [Acervo do autor]

Para obter a certeza de que o afloramento era realmente ali, prosseguiu-se por mais algumas dezenas de metros por dentro do rio. No trecho percorrido seu leito é todo rochoso, seco e íngreme. O percurso é interrompido em local onde ocorreu um desmoronamento e a encosta torna-se abrupta, com quase 90º de inclinação, impedindo a continuidade do trajeto para montante.

Dada a interrupção do percurso e pelo fato de terem sido feitas as constatações pretendidas em relação às duas nascentes, retornou-se à estrada do Taquarussu, encerrando-se a expedição.

Análise das informações do trabalho de campo

Foram registrados 14 pontos de controle, relacionados na tabela abaixo.

Tendo como referência que o rio Grande se origina na nascente nº 3 ou nº 4, é feito o esclarecimento a seguir.

  • Os dois primeiros pontos de controle dispensam explicações.
  • O ponto nº 3 é a confluência do rio originado pela nascente nº 7 e o rio Grande.
  • O ponto nº 4 é o cruzamento da trilha da Comunidade com o rio Grande.
  • O ponto nº 5 é a confluência do rio originado pela nascente nº 6 com o rio Grande.
  • O ponto nº 6 é a confluência dos rios que se originam nas nascentes nº 1 e 2 e nº 3 e 4.
  • O ponto nº 7 é no local da nascente nº 2, mas ela não mais existe, pois houve um escorregamento na encosta a partir do ponto de seu afloramento que se estendeu até a confluência com o rio originado na nascente nº 1.
  • O ponto nº 8 é muito próximo do local da nascente nº 1, mas não foi constatada água fluindo no fundo do vale existente nesse trecho.
  • O ponto nº 9 é muito próximo do local da nascente nº 3, mas não foi constatada existência de curso d’água no fundo do vale, nascente ou umidade no solo nesse trecho da encosta.
  • O ponto nº 10 é no topo do morro, local onde foi construída a “Comunidade”, área atualmente recoberta por vegetação rasteira e herbácea.
  • O ponto nº 11 é o local onde aflora a nascente nº 4, área bastante encharcada e protegida por vegetação herbácea e arbórea.
  • O ponto nº 12 fica na metade do percurso entre o curso d’água originado na nascente nº 4 e a confluência do rio originado pela nascente nº 3.
  • O ponto nº 13 é a confluência dos rios originados pelas nascentes nº 3 e nº 4.
  • O ponto nº 14 é o local onde se situa a cachoeira da Água Fria, um dos atrativos turísticos do Parque Nascentes.
  • Não foi identificada a confluência do rio originado pela nascente nº 5 com o rio Grande. É possível que a trilha não passe por esse local.

Conclusões 

Após a identificação em mapa de quais são as duas prováveis nascentes que originam o rio Grande e a realização do trabalho de campo para obtenção de informações mais precisas sobre ambas, foram aplicados os critérios para determinação da nascente do rio principal de uma bacia hidrográfica relacionados anteriormente e concluiu-se o que se segue.

A nascente nº 3

  • Não continua na mesma altitude em que consta no mapa da Emplasa, escala 1:10.000, que é 1.095 m;
  • Não possui água aflorando na altitude em que consta no mapa da Emplasa;
  • Teve seu ponto de afloramento de água recuado em relação ao anterior e atualmente se situa na altitude 975 m;
  • Não é a mais relevante em volume de água;
  • Pelo fato de não continuar na mesma altitude em que consta no mapa da Emplasa, não se situa mais para Leste em relação à foz do rio Pinheiros;
  • Não é a que dá origem ao rio Grande.

A nascente nº 4

  • Continua na mesma altitude em que consta no mapa da Emplasa, escala 1:10.000, que é 1.095 m;
  • Possui água aflorando;
  • É a mais relevante em volume de água;
  • Está situada mais para Leste em relação à foz do rio Pinheiros;
  • É a mais distante da foz do rio Pinheiros;
  • Situa-se em maior altitude que as demais nascentes;
  • É a que dá origem ao rio Grande.

Considerações finais

Quanto à sua formação a nascente que dá origem aos rios Grande ou Jurubatuba e Pinheiros é de encosta: não possui acúmulo d’água inicial, o afloramento ocorre em terreno declivoso e surge em um único ponto.

A nascente está localizada:

  • No Município de Santo André - SP.
  • No interior da Unidade de Conservação Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba.
  • Na altitude de 1.095 metros em relação ao nível do mar.
  • Nas coordenadas quilométricas 369.591 X 7.370.524.
  • A cerca de 80 metros de distância da divisa municipal entre Santo André e Santos.

Por meio do software Google Earth foram feitas análises complementares relativas à foz do rio Pinheiros. As informações não foram elaboradas com a finalidade de obtenção de medições precisas, motivo pelo qual os valores apresentados são aproximados.

A foz do rio Pinheiros está situada:

  • Na altitude de 720 metros em relação ao nível do mar.
  • Nas coordenadas quilométricas 321.400 X 7.397.130.
  • A 84 km de distância, seguindo-se pelo curso do rio, da nascente do rio Grande.
  • A 55 km de distância, em linha reta, da nascente do rio Grande.
  • Em desnível de 375 m em relação à posição da nascente do rio Grande.

A fotografia abaixo foi gerada a partir do programa Google Earth e é meramente ilustrativa. Nela são ilustradas as distâncias aproximadas entre a nascente e a foz do rio, de duas formas:

  • Em linha reta.
  • De acordo com o traçado do curso d’água em sua situação atual.

traçado do curso atual do rio Grande e distância em linha reta entre a nascente e a foz [Imagem de satélite obtida no Google Earth]

notas

1
Secretaria de Estado do Meio Ambiente - SMA. Preservação e recuperação das nascentes de água e de vida. Cadernos da Mata Ciliar nº 1. 2009.

2
Commissão Geographica e Geologica do Estado de São Paulo. Folha de São Paulo, escala 1:100.000. 1906.

3
Instituto Geográfico e Geológico da Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio do Estado de São Paulo. Município de Santo André, escala 1:100.000. 1939.

4
Instituto Geográfico e Geológico de São Paulo - IGG. Folha Santos, SF.23-Y-D-IV-3 e SG.23-V-B-I-1, escala 1:50.000. 1972.

5
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Folha Santos, SF.23-Y-D-IV-3 e SG.23-V-B-I-1, escala 1:50.000. 1984.

6
Emplasa - Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S. A. Folha Paranapiacaba, SF.23-Y-D-IV-3-NE-B, escala 1:10.000. 1981.

sobre os autores

Newton José Barros Gonçalves é geógrafo, com graduação pela Universidade de São Paulo em 1987 e servidor público da Prefeitura Municipal de Santo André desde 1992.

Alexandre Henrique da Silva dos Santos é geógrafo, com graduação pela Universidade de São Paulo em 2006 e servidor público da Prefeitura Municipal de Santo André desde 2007.

José Soares Aguirre é geógrafo, com graduação pela Universidade de São Paulo em 1975 e servidor público do Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo desde 1972.

comments

188.07 geografia
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

188

188.00 patrimônio histórico

Teatro oficina: patrimônio e teatro

Os processos de tombamento junto ao Condephaat e ao Iphan

Rogerio Marcondes Machado

188.01 restauro

Viollet le Duc e o primeiro plano de restauração de Ouro Preto MG

Teoria e prática

Fernanda dos Santos Silva

188.02 política pública

Redução de riscos de desastres naturais

A construção de políticas públicas em Blumenau SC

Rafaela Vieira, Giane Roberta Jansen and Mauricio Pozzobon

188.03 paisagismo

Arquitetura e paisagismo vertical

Alternativa estética e de qualificação ambiental

Minéia Scherer and Beatriz Maria Fedrizzi

188.04 teoria

Rem Koolhaas, um viquiano

Renata Sammer

188.05 ensino

A dimensão tecnológica no projeto

Os desafios do ensino e da gestão

Eduardo Grala da Cunha

188.06 história

Arquitetura nova brasileira

Um debate sobre sistemas construtivos e desenvolvimento nacional

Ana Paula Koury

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided