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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
O processo histórico da emergência da identidade profissional e a crise atual. Formação profissional, modelos didáticos e dilemas identitários. Identidade e diferença. Os modelos integracionista e autonomista. Disciplinas e campos de forças disciplinares.

english
The emergence of professional identity historical process and the current crisis. Professional education, didactic models and identity dilemmas. Identity and difference. The integrationist and autonomist models. Disciplines and disciplinary forces fields.

español
El proceso histórico de la aparición de la identidad profesional y la crisis actual. La formación profesional, modelos didácticos y dilemas de identidad. Identidad y diferencia. Los modelos integracionista y autonomista.


how to quote

CUNHA E SILVA, Luiz Felipe da. Identidade profissional e formação do arquiteto. Dilemas contemporâneos. Arquitextos, São Paulo, ano 17, n. 201.04, Vitruvius, fev. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.201/6433.>.

O problema da dinâmica histórica da identidade profissional

De dois âmbitos se origina a identidade profissional: 1) o regulatório, onde, no Brasil, instâncias do Estado (legislativo e executivo), das entidades profissionais (CAU) e das entidades da área acadêmica (Abea) regulamentam e regulam os exercícios e conteúdos da prática e da formação profissional, de modo a obter estabilidade e ordem no mundo da trabalho; 2) o da técnica e o da linguagem, pois cada profissão tem seu próprio universo técnico e seu próprio jargão, visto que a técnica é uma forma de conhecimento e este se acumula e difunde através da linguagem.

Palavras comuns seguidamente adquirem significados muito singulares nas linguagens profissionais. Palavras como “partido” tem significado único na arquitetura. Outras, como “momento”, dividimos com profissões muito próximas, como a engenharia, neste caso. Estas últimas são um testemunho de uma situação anterior, no desenvolvimento da história das profissões, em que o campo de diferentes ofícios ainda abrigava-se sob o manto de denominações e mesmo regulações e regulamentações comuns e mais gerais.

Quando observamos os diferentes conhecimentos abordados por Vitrúvio em seu tratado ou o que foi o campo de trabalho ao qual se dedicaram Brunelleschi ou Leonardo, verificamos quantas diferentes profissões contemporâneas estariam envolvidas em tais realizações. Temos aí um testemunho de um processo histórico que retrata um caminho inexorável de complexificação e fragmentação do conhecimento.

Poderíamos dizer que o mundo do trabalho é determinado nestes dois campos: o das instituições que lhe provém de estabilidade; o do conhecimento que o desestabiliza na medida em que se complexifica em um processo autopoiético que tem vida e moto próprios. É isso que a história das profissões e das sociedades testemunha. Trata-se de uma polarização dialética entre conservação e transformação e, portanto, de um estado de constante crise, ora subterrânea e pouco perceptível, ora à flor da pele e inquietante.

A crise contemporânea

Na arquitetura, que atualmente designamos como arquitetura e urbanismo em termos institucionais e formais, creio que vivemos um momento desta natureza: de desestabilização e inquietação.

A observação da evolução da estrutura curricular da FAU da UFRJ no último século é bastante ilustrativa. Inicialmente, ela é composto por um pequeno conjunto de poucas disciplinas de caráter muito genérico e abrangente e de duração anual, quando não bianual. Gradativamente, evolui para um complexo emaranhado de disciplinas semestrais de caráter muito específico.

ESTRUTURA CURRICULAR APÓS REFORMA DE 1890

1º Ano: Mitologia / História Natural / Desenho Geométrico e Desenho Topográfico / Desenho Figurado Estudo Elementar

2º Ano: Física e Química Aplicadas às Artes / Geometria Descritiva / Arqueologia e Etnografia / Desenho Figurado

3º Ano: Histórias das Artes / Perspectiva e Sombras / Elementos de Arq. Decorativa e Desenho de Ornatos / Desenho Figurado

4º Ano: Cálculo e Mecânica, Materiais de Construção e sua Resistência, Tecnologia das Profissões Elementares / Desenho Linear, Noções de Topografia, Plantas e Desenhos Topográficos

5º Ano: História e Teoria da Arquitetura, Legislação Especial / Estereotomia Estudo Teórico e Trabalhos Gráficos / Desenho de Arquitetura, Trabalhos Práticos, Plantas e Projetos

ESTRUTURA CURRICULAR APÓS REFORMA DE 1901

1º Ano: Mitologia / Desenho Geométrico / Desenho Figurado

2º Ano: História das Artes / Geometria Descritiva Trabalhos Gráficos Correspondentes / Desenho Figurado

3º Ano: Perspectiva e Sombras, Trabalhos Gráficos Correspondentes / Elementos de Arquitetura Decorativa e Desenho Elementar de Ornatos / Desenho Figurado

4º Ano: Cálculo, Mecânica, Resistência dos Materiais / Noções de Topografia, Desenhos Topográficos

5º Ano: Materiais de Construção e suas Resistência, Tecnologia das Profissões Elementares e Estereostomia / História e Teoria da Arquitetura, sua Legislação e Higiene das Habitações

ESTRUTURA CURRICULAR APÓS REFORMA DE 1911

1º Ano: Desenho à Mão Livre e Geométrico, Exercício de Aguadas / Desenho de Ornatos e Elementos de Arquitetura / Desenho Figurado

2º Ano: Geometria Descritiva e Desenhos Relativos / Desenho de Composições Elementares de Arquitetura / Desenho Figurado

3º Ano: Perspectiva e Sombras e Desenhos Relativos / Escultura de Ornatos / Desenho Figurado e Princípios de Modelo Vivo

4º Ano: Geometria Descritiva e Suas Aplicações / Geometria Analítica e Cálculo / Noções de História Natural, Física e Química / Composição de Arquitetura, seu Desenho e Orçamento

5º Ano: Materiais de Construção, Estudo Experimental de sua Resistência e Tecnologia das Profissões Elementares / Mecânica, Resistência dos Materiais, Estabilidade das Construções, Grafostática / Topografia e Desenho Topográfico / Composição de Arquitetura seu Desenho e Orçamento

6º Ano: Construção, História da Arquitetura e Higiene dos Edifícios / Noções de Econ. Política, Direito Adm., Legislação e Jurisp. das Construções / Composição e Desenho de Arquitetura, Trabalhos Práticos Correspondentes

ESTRUTURA CURRICULAR APÓS REFORMA DE 1915

1º Ano: Desenho Geométrico e Aguadas / História das Belas Artes / Desenho Figurado

2º Ano: Noções de Hist. Natural, Física e Química Aplicadas  / Desenho de Ornatos e Elementos de Arquitetura / Geometria Descritiva, Perspectiva e Sombras / Escultura de Ornatos / Desenho Figurado

3º Ano: Geometria Descritiva Aplicada, Perspectiva / Esculturas de Ornatos / Matemática Complementar / Desenho Figurado e Princípios de Modelo Vivo

4º Ano: Geometria Descritiva Aplicada e Topografia / Construção / Composição de Arquitetura

5º Ano: Geometria Descritiva Aplicada e Topografia / História e Teoria da Arquitetura / Legislação da Construção Precedida de Noções de Econ. Política / Composição de Arquitetura

6º Ano: Composição de Arquitetura

ESTRUTURA CURRICULAR APÓS REFORMA DE 1925

1º Ano: Desenho Geométrico e Aguadas / História das Artes / Desenho Figurado

2º Ano: Noções de História Natural, Física e Química Aplicadas / Desenho de Ornatos e Elementos de Arquitetura Geometria Descritiva Aplicada, Perspectiva / Escultura de Ornatos / Desenho Figurado

3º Ano: Desenho de Composições Elementares de Arquitetura / Geometria Descritiva Aplicada, Perspectiva / Escultura de Ornatos / Matemática Complementar / Desenho Figurado e Princípios de Modelo Vivo

4º Ano: Construção / Perspectiva e Sombras e Estereotomia / Resistência dos Materiais, Grafostática, Estabilidade das Construções / Composição de Arquitetura

5º Ano: Geometria Descritiva Aplicada e Topografia / História e Filosofia da Arquitetura / Construção / Legislação da Construção Precedida de Noções de Econ. Política / Composição de Arquitetura

6º Ano: Grandes Composições de Arquitetura

ESTRUTURA CURRICULAR APÓS REFORMA DE 1931

1º Ano: Matemática Superior; Geometria Analítica, Diferencial, Integral / Geometria Descritiva, Aplicação às Sombras, Perspectiva, Estereotomia / Elementos de Construção, Tecnologia, Materiais, Orçamento / Desenho 1ª Parte / Arquitetura Analítica 1ª Parte / Modelagem 1ª Parte

2º Ano: Resistência dos Materiais, Estabilidade Construções, Grafostática 1ª Parte / Sistemas e Detalhes de Construção 1ª Parte / Materiais de Construção / Terrenos / Desenho

2ª Parte / Arquitetura Analítica 2ª Parte / Modelagem 2ª Parte

3º Ano: Resistência dos Materiais, Estabilidade Construções, Grafostática 2ª Parte / Sistemas e Detalhes de Construção 2ª Parte / História das Belas Artes / Artes Aplicadas - Tecnologia e Composição / Teoria da Arquitetura 1ª Parte / Decorativa 1ª Parte / Composição de Arquitetura Grau Mínimo

4º Ano: Teoria da Arquitetura 2ª Parte / Artes Aplicadas / Tecnologia e Composição / Estilo / Física Aplicada às Construções / Higiene da Habitação / Composição de Arquitetura Grau Médio

5º Ano: Urbanismo / Topografia / Arquitetura Paisagística / Legislação / Contratos e Administração / Economia Política / Composição de Arquitetura Grau Máximo

ESTRUTURA CURRICULAR APÓS REFORMA DE 1945

1º Ano: Matemática Superior / Geometria Descritiva / História da Arte / Estética / Desenho Artístico / Arquitetura Analítica 1ª Parte / Modelagem 1ª Parte

2º Ano: Mecânica Racional / Perspectiva e Sombras / Estereotomia / Materiais de Construção / Estudo dos Solos / Teoria da Arquitetura / Arquitetura Analítica 2ª Parte / Composição de Arquitetura 1ª Parte

3º Ano: Resistência Dos Materiais / Estabilidade das Construções / Técnica da Construção / Topografia / Física Aplicada / Composição Decorativa / Composição de Arquitetura 2ª Parte

4º Ano: Concreto Armado / Legislação / Economia Política / Higiene da Habitação / Saneamento das Cidades / Arquitetura no Brasil / Grandes Composições de Arquitetura 1ª Parte

5º Ano: Organização do Trabalho / Prática Profissional / Sistemas Estruturais / Urbanismo / Arquitetura Paisagística / Grandes Composições de Arquitetura 2ª Parte

ESTRUTURA CURRICULAR APÓS REFORMA DE 1968

1º Período: Desenho Artístico I / Plástica I / Intro. à Geometria Descritiva / História das Artes I / Desenho de Arquitetura I / Cálculos / Estudo dos Problemas Brasileiros  / Educação Física Desportiva

2º Período: Desenho Artístico II / Plástica I / Geometria Descritiva I / História das Artes II / Metodologia Visual / Cálculos / Compos. e Model. de Estruturas / Educação Física Desportiva

3º Período: Planejamento de Arquitetura I / Geometria Descritiva II / História da Arquitetura I / Estudos Sociais / Perspectiva /  Estática dos Corpos Rígidos

4º Período: Planejamento de Arquitetura II / História da Arquitetura II / Teoria da Arquitetura I / Topografia / Materiais de Construção I / Estática dos Corpos Elástics.

5º Período: Planejamento de Arquitetura III / Planejamento de Interiores I / Teoria da Arquitetura II / História da Arquitetura III / Física Aplicada I / Materiais de Construção II / Estruturas de Aço e Madeira

6º Período: Planejamento de Arquitetura Iv / Planejamento de Interiores II / Planejamento Paisagístico / Física Aplicada II / Higiena da Habitação I / Estruturas de Concreto Armado I

7º Período: Planejamento de Arquitetura V / Arquitetura no Brasil I / Higiena da Habitação II / Estudo dos Solos / Técnica da Construção I / Estruturas de Concreto Armado Ii

8º Período: Planejamento de Arquitetura VI / Arquitetura No Brasil II / Legislação e Economia Aplicadas / Análise Experimental / Técnica da Construção Ii

9º Período: Planejamento de Arquitetura VII / Planejamento Urbano e Regional I / Organização e Prática Profissional / Composições Estruturais

10º Período: Planejamento de Arquitetura VIII / Planejamento Urbano e Regional II / Estudo dos Problemas Brasileiros II

ESTRUTURA CURRICULAR APÓS REFORMA DE 1996

1º Período: Composição e Modelagem de Estruturas / Fundamentos Básicos p/ Estruturas / Geometria Descritiva I / Estudo da Forma I / Espressão Gráfica I / História da Arquitetura e da Arte I / Teoria da Arquitetura I

2º Período: Estática dos Corpos Rígidos / Informática Aplicada à Arq. e Urb. / Geometria Descritiva II / Estudo da Forma II / Expressão Gráfica II / História da Arquitetura e da Arte II / Teoria da Arquitetura II

3º Período: Estática Corpos Elásticos / Topografia / Composição de Arquitetura / Perspectiva / Urbanismo e Meio Ambiente / Expressão Gráfica III / História da Arquitetura e da Arte III / Teoria da Arquitetura III

4º Período: Saneamento Urbano / Projeto Arquitetônico I / Técnica da Construção I / Planejamento Urbano e Regional / Paisagismo I / História da Arquitetura e  da Arte Iv / Estudos Sociais

5º Período: Estrut. Concreto Armado I / Estudo dos Solos / Projeto Arquitetônico II / Técnica da Construção II / Urbanismo I / Paisagismo II / História da Arquitetura e da Arte V / Conforto Ambiental

6º Período: Estrut. Concreto Armado II / Projeto Arquitetônico III / Técnica da Construção III / Urbanismo II / Arquitetura no Brasil I / Saneamento Predial I / Saneamento Predial II

7º Período: Composições Estruturais / Projeto Arquitetônico IV / Eletrotécnica Aplicada à Arquitetura / Urbanismo III / Arquitetura No Brasil II / Conserv. e Restauro do Patrimônio Cultural

8º Período: Prática e Exercício Profissional / Projeto Arquitetônico V / Planejamento de Interiores / Urbanismo Iv  / Arquitetura no Brasil III

9º Período: Fundamentos de Trabalho Final de Graduação

10º Período: Trabalho Final de Graduação

ESTRUTURA CURRICULAR APÓS REFORMA DE 2006

1º Período: História da Arquitetura e da Arte I / História e Teoria do Urbanismo I / Desenho de Observação I / Geometria Descritiva I / Desenho de Arquitetura I / Composição da Forma Arquitetônica I / Modelagem dos Sistemas Estruturais

2º Período: Estudos Sociais / História da Arquitetura e da Arte II / História e Teoria do Urbanismo II / Desenho de Observação II / Geometria Descritiva II / Composição da Forma Arquitetônica II / Topografia Básica / Isostática

3º Período: História da Arquitetura e da Arte III / História e Teoria Do Urbanismo III / Perspectiva / Análise da Forma Urbana e da Paisagem / Projeto Arquitetonico I / Conforto Ambiental I / Resistência dos Materiais

4º Período: Atelier Integrado I / Teoria da Arquitetura I / Gráfica Digital / Projeto Paisagístico I / Projeto Arquitetônico II / Concepção Estrutural / Saneamento Predial / Processos Construtivos I

5º Período: Arquitetura No Brasil I / História da Arquitetura e da Arte IV / Projeto Arquitetônico III / Conforto Ambiental II / Processos Construtivos II / Estruturas de Concreto Armado I

6º Período: Arquitetura no Brasil II / História da Arquitetura e da Arte V / Planejamento Urbano e Regional / Análise da Forma Urbana e da Paisagem II / Projeto Arquitetônico IV / Proto de Interiores / Processos Construtivos III / Estruturas de Concreto Armado II

7º Período: Arquitetura no Brasil III / Teoria da Arquitetura II / Urbanismo e Meio Ambiente / Projeto Urbano I / Saneamento Urbano / Estruturas de Aço e Madeira / Projeto Arquitetônico Optativo

8º Período: Atelier Integrado II / Técnicas de Apresentação de Projetos / Projeto Paisagístico II / Sistemas Estruturais / Teoria da Arquitetura III / Conservação Restauro e Patrimônio

9º Período: Ética e Exercício Profissional / Gestão do Processo de Projeto / Orçamento e Gerenciamento de Obra / Projeto Executivo / Trabalho Final de Graduação I

10º Período: Trabalho Final de Graduação II

Fonte das tabelas: Projeto Memória FAU. Compilação e sistematização da Profª. Fabíola do Valle Zono a partir do cruzamento dos dados das teses de Helena Uzeda e Marcos Fávero e do trabalho de Especialização do prof. William Bittar.

Tal especificidade, no entanto, tende a atribuir-lhes grande autonomia do contexto do conhecimento, cuja síntese especifica o âmbito da prática profissional e de suas técnicas e fundamentos essenciais, a saber: aquelas e aqueles cuja síntese é o produto do processo projetual: o projeto, em suas diferentes escalas e graus de complexidade.

Tais novos conhecimentos específicos, que de tempos em tempos se agregam à grade curricular sob a forma de novas disciplinas, passam por um processo evolutivo interno ao seu próprio âmbito. Inicialmente, agregam potência ao processo projetual, informando-o de novas possibilidades decorrentes dos desenvolvimentos ocorridos nos âmbitos da técnica e da ciência. Esta potência acaba por produzir novas demandas por parte da sociedade, quer nos âmbitos dos usos e do consumo, quer naquele de toda a rede de interesses que compõe a cadeia produtiva.

Decorre daí um segundo momento, no qual a pressão destas demandas abre o espaço para o aprofundamento da pesquisa e da produção do conhecimento no âmbito específico destes novos saberes. Estes, assim, acabam por adquirir identidade disciplinar própria e formar um campo específico e relativamente autônomo do conhecimento que, muitas vezes, produz interfaces igualmente autônomas com outros campos.

Este processo encontra atualmente dois bons exemplos. Um na cada vez mais difundida aplicação das tecnologias oriundas da informática e da telemática em várias áreas de interesse da arquitetura e do urbanismo. Outro, na emergência da questão ambiental. Ambos fenômenos causaram grande impacto no campo disciplinar da arquitetura e do urbanismo. Diversas disciplinas foram agregadas aos currículos das escolas e um amplo campo de pesquisa acadêmica e prática profissional foi aberto no mundo do trabalho. Hoje, é comum encontrarmos escritórios ou profissionais dedicados exclusivamente aos serviços de análise e representação do projeto através de novas técnicas baseadas em meios informáticos. Eventualmente, dominam o campo da informática aplicada à arquitetura com maior proficiência do que o da própria arquitetura. Do mesmo modo é comum encontrarmos arquitetos integrando equipes multidisciplinares envolvidas com problemas ambientais e com a produção de seus documentos analíticos e legais (EIA-RIMA etc.). Talvez muitos dominem alguns conhecimentos que compartilhamos com a geografia e o planejamento regional com maior proficiência do que dominam os do urbanismo ou os da arquitetura.

Tal processo de complexificação do conhecimento e de suas redes, e da prática profissional com suas sobreposições, produz impactos no âmbito institucional da regulação e da regulamentação profissional. Novas atribuições legais são acrescidas constantemente às pré estabelecidas pelas leis e regulamentos. A estas novas atribuições correspondem as novas disciplinas que as produziram ao nível acadêmico que, por sua vez, são regulamentadas pelas instituições acadêmicas sob a forma de currículos mínimos, disciplinas obrigatórias, ementas obrigatórias, requisitos e pré-requisitos e demais exigências que se impõe como padrão do nível local ao nacional. E isso em que pese toda a diversidade abrigada pelo território que constitui a nação e pela sociedade que o habita.

No caso da arquitetura e do urbanismo, sobrepõe-se a este quadro todo o processo histórico que culminou com o divórcio destas das engenharias e da agronomia, com a migração destes profissionais para o CAU. Há todo um enorme campo de sobreposições e disputas sobre vastas áreas do conhecimento e da produção profissional destas categorias. A sustentação de tais disputas no âmbito das instituições profissionais repercute, no âmbito das instituições acadêmicas, na sustentação em seus currículos obrigatórios de um amplo campo disciplinar que fundamenta tais atribuições.

Tal quadro, ao meu ver, configura a crise acadêmico-profissional da arquitetura no presente momento histórico, em particular no Brasil. E tal crise é uma crise de identidade.

Alguns sintomas tornam esta crise evidente no âmbito da FAU da UFRJ: 1) a grande maioria dos estudantes não conclui o curso no prazo previsto, chegando a estende-lo em até dois anos ou mais; 2) a grande maioria dos trabalhos finais de graduação não correspondem às expectativas, particularmente no que diz respeito à síntese dos conhecimentos envolvidos; 3) a totalidade absoluta e indiscutível dos trabalhos não contempla o universo das atribuições profissionais que serão adquiridas pelo estudante ao fim do curso; 4) o âmbito daquilo que é institucionalmente aceito como objeto de um trabalho final de graduação não abriga e recusa objetos acolhidos no âmbito das atribuições profissionais.

No âmbito da sociedade, os sintomas são mais discretos, mas também mais profundos e penetrantes. Encontramos sua presença mais nos fatos do mundo do trabalho do que nas dificuldades da academia. Duas notícias que circularam recentemente nas redes sociais certamente surpreenderam os arquitetos atentos. Uma, positivamente. Outra, nem tanto. Pela primeira, ficamos sabendo que abriu-se um novo e promissor campo de atuação profissional: o de concepção, modelagem, renderização e animação do espaço virtual para as produções cinematográficas (1). Através da segunda, tomamos conhecimento de uma pesquisa realizada pelo CAU com 2.419 pessoas em todo o Brasil: 54% da população economicamente ativa já construiu ou reformou imóvel residencial ou comercial. Desse grupo, 85% fizeram o serviço por conta própria ou com pedreiros e mestres de obras, amigos e parentes. Apenas 15% contratou arquitetos ou engenheiros (2).

Evidentemente, estes números respondem mais por uma outra crise, de caráter político, que se manifesta na desequilibrada distribuição da renda e da educação no pais, bem como na inexistência de políticas públicas capazes de financiar o acesso universal aos serviços de arquitetura, como o SUS faz no caso da saúde. Mas de uma e mesmo de outra maneira, os números são sintomáticos da atual crise da arquitetura: quanto maior é o âmbito daquilo que somos qualificados acadêmica e legalmente para fazer, menor parece ficar o âmbito social de nossa intervenção naquilo que caracterizou originalmente nossa profissão.

Não creio que haja muita divergência hoje na comunidade da FAU da UFRJ quanto ao que caracterizou originalmente nosso campo acadêmico e profissional. Originalmente, ou pelo menos desde a revolução técnica produzida no renascimento por atores como Brunelleschi, nos coube o trabalho de conceber e projetar os estabelecimentos humanos da escala do edifício às da cidade e da paisagem. Segundo Giulio Carlo Argan, esta transformação técnica, do ponto de vista histórico, corresponde a “uma nova ordem hierárquica das atividades culturais: a distinção entre as artes liberais e artes mecânicas”. Para ele, determina-se uma separação clara entre uma arte de ideação , atividade do pensamento que se traduz em projetos determinados, e uma atividade executiva, que tem apenas a função de realizar materialmente estes projetos (3).

Certamente a palavra “projetar” e a expressão “estabelecimentos humanos” abrangem hoje significados mais amplos e complexos do que originalmente abrangeram. Mas também é certo que grande parte do confuso pano de fundo, no qual se dissolve a identidade da arquitetura atualmente, reside nas sobreposições e agregações que decorreram do processo histórico que descrevi anteriormente. Igualmente é certo que as maiores dificuldades que encontramos hoje para a solução desta crise se originam nos processos regulatórios e nas disputas pelos mercados profissionais e, particularmente, no modo como tais regulações padronizam e engessam as grades curriculares obrigatórias das escolas.

Alternativas em discussão

Duas perspectivas de resolução parecem se apresentar para esta crise: 1) a reafirmação da identidade, com um retorno à sua essência mais original, mas sem a simplificação de toda a complexidade que os processos de desenvolvimento da técnica, do conhecimento e das demandas sociais agregaram ao universo desta essência; 2) a aceitação, senão do fato, da tendência de que a complexidade crescente do conhecimento e de suas aplicações, bem como de suas sobreposições, não permite – ou permitirá – mais a clara definição de identidades disciplinares e profissionais ou, no mínimo, produzirá uma grande pulverização destas, com a emergência de novas redes de sobreposições.

Ambas, no entanto, guardam duas monumentais dificuldades em comum: exigem fortes doses de desprendimento; exigem algum grau de ruptura com os sistemas de regulação e regulamentação profissional, principalmente com este último.

O primeiro caminho é o que vem sendo seguido pela FAU da UFRJ em suas experiências de integração disciplinar, em particular as de atelier integrado. O segundo implicaria no fracionamento daquilo que hoje se abriga sob a identidade da arquitetura e urbanismo em diferentes novas identidades ou sub-identidades disciplinares e profissionais. Um processo dessa natureza, ao nível da pós-graduação, levou o IPUR a desvincular-se da FAU inclusive ao nível institucional, por exemplo.

Este primeiro caminho, que vem sendo seguido pela FAU da UFRJ, tem encontrado suas maiores dificuldades no curioso e quase pitoresco fato de que as estruturas político administrativas que o sustentam são próprias justamente para o segundo. Não pode haver dúvidas que, neste segundo caminho, os embriões dos novos cursos autônomos (ou semi-autônomos, inicialmente) seriam justamente os departamentos por área do conhecimento que compõem esta estrutura.

Radicalmente implementado, o primeiro caminho implica na centralidade do atelier. Salvo rudimentos e fundamentos indispensáveis, disponibilizados no início do curso, não haveriam outras disciplinas atuando autonomamente, em paralelo ao atelier. Os conhecimentos originados fora da área projetual são ministrados sob a forma de palestras, workshops e consultorias no âmbito do atelier. Um único grau é atribuído ao estudante: o do exercício do atelier. Aqui, estabelece-se o conflito com o sistema de regulamentação, pois este estabelece um currículo disciplinar no qual o estudante deve ser creditado por trabalhos específicos das disciplinas. É evidente que muitos “jeitinhos” podem ser dados para contornar muitas destas dificuldades. Nossa prática atual é o melhor testemunho disso.

Radicalmente implementado, o segundo caminho implicaria na formatação de um curso básico de aproximadamente três anos. Uma espécie de licenciatura, com atribuições profissionais limitadas a um certo âmbito escalar e de complexidade. Conteria rudimentos, fundamentos e práticas limitadas ao âmbito do que é comum aos cursos complementares, que ofereceriam um grau equivalente ao bacharelato em diferentes subáreas específicas da arquitetura ou do urbanismo.

Qualquer estudante poderia fazer quantos módulos complementares desejasse, ampliando sempre o seu acesso a novas atribuições profissionais através de diplomas específicos. No limite, tal caminho induz à formação de novas identidades profissionais e disciplinares.

A arquitetura de interiores; a de edificações e micro-urbanismo; o urbanismo; o paisagismo; a telemática aplicada à concepção, à análise e à representação; tecnologias e especificações; técnicas e tecnologias de monitoramento, controle e conservação ambiental, etc., por exemplo, poderiam compor módulos autônomos de formação e obtenção de atribuições profissionais próprias. Também este caminho conflita com o sistema regulatório por razões evidentes, além de implicar em perdas em termos de direitos adquiridos e diante das disputas que movem as instituições profissionais e acadêmicas.

O dilema didático atual

A observação no âmbito acadêmico tem demonstrado o quanto a autonomia e a independência das áreas de conhecimento tem oferecido atrito ao processo didático. Tal atrito se verifica nas dificuldades dos estudantes de realizar a síntese dos conhecimentos envolvidos no processo projetual. Isso decorre de que os conteúdos destes conhecimentos são ministrados de forma abstrata, fora deste processo.

A resposta a essa dificuldade é o atelier integrado, onde todas as disciplinas devem submeter seus conteúdos ao exercício projetual. É indiscutível a melhoria da síntese projetual que se pode observar nesse processo, na prática dos ateliês integrados de projeto. Também é claro que o entendimento de conhecimentos específicos se torna mais efetivo quando estes são ministrados no contexto de suas aplicações práticas. Mas também se verifica que há uma redução de aprofundamento, particularmente teórico, no conhecimento que é reduzido ao recorte de uma aplicação específica.

No âmbito das disciplinas técnicas, tem ocorrido a redução das práticas analíticas baseadas nas matemáticas, com a remoção do cálculo infinitesimal dos conteúdos ministrados regularmente. No âmbito das disciplinas teóricas, sua redução ao espaço do atelier implicaria no abandono de temas que lhes são próprios e cuja aplicação visa menos a capacidade projetual do arquiteto do que sua capacidade crítica. No âmbito da história, além de toda a vasta discussão sobre o problema da necessidade de uma sincronicidade equivalente entre o processo histórico e o didático, há a indiscutível necessidade do provimento do fundo histórico sobre o qual qualquer forma de arte repousa, diante da alternativa de uma história meramente aplicada e desconectada do tecido natural que esta forma com a cultura na erudição dos formandos.

Deste modo, apresenta-se o primeiro aspecto do dilema no qual se encontra atualmente a FAU da UFRJ. Pelos caminhos que chegamos ao melhor arquiteto, chegamos também àquele que é mais limitado ao âmbito do ateliê e do processo projetual e mais alijado dos fundamentos mais gerais de sua arte e das bases técnicas sobre as quais repousa sua prática.

Por outro lado, quando nos voltamos para a sociedade e para o mundo do trabalho, não podemos deixar de reconhecer que apenas uma parcela - talvez nem mesmo a maior parcela - dos arquitetos tem como objeto de suas práticas profissionais aquilo que se pode caracterizar como produção projetual no âmbito do que cabe no que chamamos de ateliê.

Paralelamente a isso, observa-se que o caminho da integração tende a padronizar o perfil do arquiteto que formamos dentro de um âmbito bastante específico a saber: o do arquiteto projetista. A cadeia disciplinar oferece poucas alternativas; o número de disciplinas eletivas é insuficiente para percursos acadêmicos que escapem do perfil básico e mesmo que fossem oferecidas em maior número, a cadeia das disciplinas obrigatórias impediria a formação de um perfil alternativo no tempo regulamentar do curso. Na verdade, mesmo dentro do perfil tradicional ocorrem fragmentações entre a escala do edifício e a da cidade, por exemplo. De tal fato, e nesse caso, decorre que não chegamos a formar nem arquitetos nem urbanistas que dominem plenamente os problemas e as especificidades destas escalas de aplicação.

Tal conjunto de constatações levanta o questionamento quanto à origem ou as causas dos problemas atuais. Só de tal diagnóstico pode emergir a terapêutica, ou a visão estratégica, capaz de encaminhar soluções adequadas. Por um lado, podemos entender que lidamos com problemas de caráter estritamente didático. Esta constatação nos levará à busca de novos modelos didáticos ou da reformulação dos atuais. Por outro, podemos entender que lidamos com uma questão de caráter histórico, ou determinado por uma nova situação produzida pelos desenvolvimentos históricos do conhecimento, da técnica e das demandas sociais. Neste caso, precisamos, antes de discutir os modelos e as melhores formas de implementá-los, buscar a compreensão do fundo histórico frente ao qual tais questões fazem figura. Só tal passo metodológico pode permitir, nesse caso, a adequada discussão da questão didática que se impõe.

Tipicidade ou diversidade

Por diferentes razões e caminhos, uma das discussões que atravessou grande parte dos séculos 19 e 20, em diversas áreas do conhecimento, foi aquela que versou sobre a possibilidade de uma essência estrutural das coisas, definida por uma origem estruturante e que estaria presente em toda a diversidade de suas manifestações. Tal discussão certamente ganha grande impulso com a obra de Darwin, A origem das espécies, que situa toda a diversidade na adaptação às condições específicas do meio.

Tal discussão ganhou grande impulso com o advento da teoria psicanalítica e das teorizações de Freud em torno daquilo que ficou conhecido como o Complexo de Édipo, uma estrutura psíquica decorrente da estrutura familiar patriarcal tradicional e comum a todos os indivíduos, em que pese todas as diferenças capazes de marcar a expressão individual dos diferentes sujeitos. Essa discussão não é em nada dissonante daquela proposta por Engels em suas teorizações sobre as origens da família, da propriedade privada e do Estado.

Tal clima do pensamento, associado aos problemas técnicos impostos pela produção industrial, impactaram o pensamento teórico sobre a arquitetura e o urbanismo, em particular na pessoa do mais importante teórico da primeira metade do século 20, Le Corbusier. Em suas reflexões sobre os problemas da produção em série, sobre o standart, sobre padrões e taylorização, sobre a casa-instrumento padrão, sobre os móveis padrão, desenvolve largas reflexões sobre o que designou como “constantes fisiológicas e sentimentais” (4) que marcariam um homem típico, cujas proporções corporais especificou em seu modulor.

Certamente, nesse âmbito histórico do pensamento, não podemos conceber senão um arquiteto típico: para uma arquitetura típica, cuja diversidade que propõe reside nos tipos arquitetônicos apropriados aos diferentes usos típicos, técnicas típicas, teorias típicas, conceitos típicos, espaços e formas típicas, a formação de um profissional típico é a resposta evidente.

No entanto, se o foco do pensamento do século passado depositou-se sobre os problemas do essencial universal comum a todos, o pensamento contemporâneo tem destacado justamente o problema da diferença como fator instituinte do sujeito individual. Trata-se de um fundo histórico distinto. Ao nível da sociedade, as estruturas familiares diversificaram-se a um ponto tal que não mais admitem a tipicidade do Complexo de Édipo. Ao nível dos indivíduos, a polimorfia das identidades, em particular as de gênero, é o traço que marca nossa época.

No âmbito da filosofia, Gilles Deleuze afirma que a diferença e a repetição tomaram o lugar do idêntico e do negativo, da identidade e da contradição, pois a diferença só implica o negativo e se deixa levar até a contradição na medida em que se continua a subordiná-la ao idêntico (5). O pensamento desenvolvido por Heidegger em torno do problema do Ser no tempo deságua no conceito fundamental do Da-Sein, o Ser situado, que encontra sua singularidade em sua circunstância, sempre tão cambiável que o leva a impossibilidade de definições universalizantes (6).

Na esfera da produção industrial, a diversificação das demandas e a complexificação do tecido social, com a formação de infinitos nichos e sub-nichos de mercado, associados à globalização da economia, sepultaram os métodos tayloristas sob os imperativos mercadológicos da customização.

No universo da arquitetura, encontra-se uma forte dicotomia entre o que é produzido amplamente pelo mercado imobiliário, que oscila entre um International Style renovado e um pós-modernismo kitsch, e o que mobiliza o imaginário da academia, onde fervilham as discussões sobre as diferentes alternativas a esse estado, mobilizadas pela produção erudita internacional, publicada nas revistas especializadas. No âmbito da sociedade, encontramos quase nenhuma repercussão dessas discussões.

Uma alternativa à dicotomia entre os modelos integracionistas e autonomistas

Nesse contexto, devemos tomar os dilemas que hoje assombram a FAU UFRJ. É nele que devemos considerar se o que buscamos é um novo modelo didático, capaz de suportar o presente, diante do desafio de formar um tipo específico de arquiteto. Nesse caso, que tipo é esse? Ou o que buscamos é criar uma rede disciplinar na qual os indivíduos, no âmbito de suas singularidades, possam exercer a construção de perfis profissionais individuais e diferenciados.

O que se apresenta é um conjunto de escolhas de caráter histórico. São caminhos diferentes. Impõem projetos e estratégias didáticas distintas, diferentes formas de organização das estruturas administrativas.

Por um lado, encontramos um modelo didático baseado na integração dos saberes em torno de uma atividade fim, que demonstra a capacidade de levar o estudante à síntese dos conhecimentos envolvidos na produção projetual. Verificamos, no entanto, que tal modelo tende a padronizar o perfil do profissional e a oferecer atrito à produção de diversidade, em uma passagem histórica que se caracteriza pela diversificação dos fins aos quais a arquitetura deve responder. Por outro, encontramos o modelo da autonomia disciplinar, mais favorável a esta produção, mas incapaz de conduzir o conhecimento abstrato ao exercício satisfatório da prática concreta da atividade fim.

Ambas as soluções tendem aos pólos da contradição. Ambas, no entanto, são aquilo com o que contamos e o fundo do qual podemos extrair aquilo que o momento histórico parece impor: diversidade com qualidade. Cabe retomar Deleuze: a diferença só implica o negativo e se deixa levar até a contradição na medida em que se continua a subordiná-la ao idêntico. Quando a subordinamos ao complexo, toda a negatividade se positiva.

Da experiência da integração dos conhecimentos em torno de um núcleo de prática, devemos extrair o que ela tem de positivo: a capacidade de síntese dos conhecimentos no processo didático. Da experiência da autonomia devemos extrair o espaço para a diversidade. Devemos porém subordinar a diversidade a um certo conjunto de pólos de conhecimento, em torno dos quais experiências e processos de integração possam ser realizados.

O problema do idêntico levantado por Deleuze diz respeito a identidades monolíticas padronizadas e tipificadas. Mas as identidades também podem ser pensadas a partir da diferença, naquilo que se abriga sob um certo campo de forças. Certamente muita diferença se abriga sob o campo de forças formado pelos âmbitos da linguagem e das técnicas que caracterizam a arquitetura. Estamos habituados a observar nossa esfera identitária pela ótica da semelhança. Precisamos observá-la por um prisma que seja capaz de revelar toda a diversidade e toda a diferença que a compõe.

Tal perspectiva impõe a percepção de que a complexidade, produzida pelos desenvolvimentos das demandas sociais e dos processos técnicos, pulverizou os fins aos quais a arquitetura deve responder em diferentes escalas e problemas. Mais do que isso, impõe o reconhecimento de que muitos meios vieram a converter-se em novos fins. E esse é o âmbito no qual podemos localizar novos núcleos de práticas em torno dos quais, em processos didáticos de integração, possa-se diversificar e ampliar a rede identitária abrigada pelo campo de forças disciplinares que configura a academia contemporaneamente.

Considerações finais

Complexidade e diversidade são os problemas que caracterizam o presente histórico no qual situa-se a academia. O reconhecimento destas características é o único fundamento sobre o qual pode repousar o encaminhamento de soluções para estes problemas. Tais soluções devem, por isso, buscar, nestas mesmas características históricas, o seu rumo e as suas metas.

Não é mais possível pensar em uma formação padrão e em um perfil padrão do profissional. O momento parece mais adequado para a reflexão sobre rotas e percursos de formação dentro de redes acadêmicas, e em perfis profissionais diversificados e multifacetados no âmbito de um mesmo campo profissional.

Talvez brevemente não possamos mais falar de nós mesmos como arquitetos urbanistas, mas como profissionais que compartilham o grande campo da arquitetura e do urbanismo. E isso não porque assim o desejemos, mas por simples imposição do processo histórico.

notas

1
SHAW, Dougal. The architects using animation skills to build film careers. Londres, BBC News, 7 ago. 2015 <www.bbc.com/news/business-33757862>; SANTOS, Sabrina. Como jovens arquitetos estão se envolvendo na indústria do cinema. ArchDaily, 4 set. 2015 <www.archdaily.com.br/br/772879/como-jovens-arquitetos-estao-se-envolvendo-na-industria-do-cinema>.

2
CAU-BR. Pesquisa CAU BR / Datafolha. O maior diagnóstico sobre arquitetura e urbanismo já feito no Brasil, 2015 <www.caubr.gov.br/pesquisa2015/index.php/como-o-brasileiro-constroi>.

3
ARGAN, Giulio Carlo. Clássico e anticlássico: o renascimento de Brunelleschi a Brueguel. São Paulo, Companhia das Letras, 1999, p. 57.

4
LE CORBUSIER. O urbanismo. São Paulo, Martins Fontes, 2000, p. 217.

5
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro, Graal, 2006, p. 15.

6
HEIDEGGER, Martin. O ser e o tempo. São Paulo, Vozes 2005.

sobre o autor

Luiz Felipe da Cunha e Silva é arquiteto (Universidade Sta. Úrsula), mestre em Saúde Pública (ENSP-Fiocruz), doutor em Psicologia (PUC-Rio), doutor em Urbanismo (ProUrb FAU UFRJ) e professor adjunto do DPA FAU UFRJ.

legenda

Fonte das tabelas
Projeto Memória FAU. Compilação e sistematização de Fabíola do Valle Zono a partir do cruzamento dos dados das teses de Helena Uzeda e Marcos Fávero e do trabalho de Especialização de William Bittar

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