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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Artigo sobre o arquiteto Luiz Sadaki Hossaka, falecido recentemente. Segundo o autor, uns dos mais importantes guardiões da memória do MASP, talvez uma das últimas testemunhas das aventuras do professor Bardi nas aquisições das obras doacervo do Museu

english
Article on the architect, Luiz Hossaka Sadako, who died recently. To the author, one of the most important guardians of MASP memory, perhaps one of the last witnesses of the adventures of Prof. Bardi in the acquisition of works in the museum collection

español
El arquitecto Luiz Sadaki Hossaka, fallecido recientemente. Según el autor, uno de los más importantes guardianes de la memoria del MASP, quizás uno de los últimos testigos de las aventuras del profesor Bardi en las obras del acervo del Museo

how to quote

FERRAZ, Marcelo. Luiz Hossaka. O Samurai do MASP. Drops, São Paulo, ano 10, n. 030.03, Vitruvius, dez. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/10.030/1820>.


O Museu de Arte de São Paulo, apesar de polêmico, anda um tanto esquecido, ou fora da rota de uma grande quantidade de visitantes formadores de opinião e apreciadores de seu acervo. Refiro-me a artistas, críticos de arte, intelectuais e estudantes universitários. É comum o comentário: “há anos que não piso no Museu”. Parece que algo se quebrou ou se perdeu por ali. O MASP foi destronado por outras instituições da cidade como o epicentro das artes, mas seu acervo fantástico e sua arquitetura desafiadora, ainda que, um tanto ofendidos, continuam lá, firmes.  Afinal, não se faz um museu como este todo dia - falo do acervo, da arquitetura, da construção de vida artística e cultural, da educação e até da crônica social.

A maioria dos personagens criadores desse  Museu raro - Chateaubriand, professor Bardi, Lina Bardi, Edmundo Monteiro, Figueiredo Ferraz e outros, já estão nos registros da história escrita.

Mas hoje quero falar aqui de uns dos mais importantes guardiões da memória do MASP, esse palco de tantas polêmicas, fofocas, feitos e façanhas inimagináveis, querelas de poder e de vaidades; quero falar do nosso querido Luiz Sadaki Hossaka.

Luiz acaba de falecer. Cabelos brancos escorridos, pele lisa de criança – ‘como uma boneca japonesa’, dizia Lina Bardi - e uma deliciosa risada franca e generosa de grande contador de casos, Luiz parecia não ter idade. Aos 81 anos, conservava o mesmo visual de décadas. Iniciado em sua maior especialidade, o MASP da rua Sete de Abril, há 62 anos, pelas mãos de Flávio Motta, Luiz cresceu, se formou e informou naquela que foi, inegavelmente, a melhor escola das artes e da arte de fazer museus do Brasil no seu tempo. Freqüentou os cursos da Escola de Arte Contemporânea do Museu, ministrados por Burle Marx, Bardi, Lina, Augusto Rodrigues, Alberto Cavalcanti e tantas outros bam-bam-bans; testemunhou os giros internacionais do acervo do MASP, necessários para firmar o nome do Museu entre os grandes museus do Ocidente - e que calaram as dúvidas sobre a autenticidade de suas obras; assistiu às sucessivas crises financeiras que quase acabaram com o Museu; acompanhou o projeto e a construção do edifício sede na avenida Paulista, hoje indiscutível marco principal da cidade de São Paulo; assistiu e resistiu ao “professore” Bardi com paciência e sabedoria orientais; ajudou Lina Bardi a criar o Museu de Arte Moderna da Bahia nos início dos anos 60, onde emprestava sua máquina de escrever ao também assistente de Lina, Glauber Rocha, para escrever o roteiro de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Viu crescer, ainda na Bahia, a Escola de Teatro de Martim Gonçalves; conviveu e conheceu de perto Assis Chateaubriand, foi assistente dileto e querido de Da. Jenny Klabin Segall na criação do Museu Lasar Segall. Enfim, em sua vida amalgamada ao MASP, Luiz esteve, discretamente, no centro dos acontecimentos das artes e da cultura nas últimas décadas.

Luiz foi também um grande fotógrafo. Fotografou tudo e todos nesses sessenta e tantos anos de dedicação ao Museu. A história do MASP está em grande parte documentada em seus filmes – muitos ainda por revelar. Dessa saga que foi a criação do Museu, Luiz contava histórias saborosas, e às vezes picantes, que poucos privilegiados puderam ouvir. Talvez ele tenha sido uma das últimas testemunhas das fantásticas aventuras do professor Bardi nas valiosas aquisições das obras do acervo do Museu. E dizia sempre aos amigos, como uma promessa: “um dia porei tudo no papel”. Infelizmente, porém, parece que isso não se cumpriu.

Que misterioso esse japonês dos cabelos longos e “brancos”, discreto e sábio na maneira de viver ou, talvez, de freqüentar o Mundo! Como “zen-Luiz”, era capaz de desfrutar com o mesmo prazer suas viagens internacionais ou seu trajeto diário a pé da Rua Martins Fontes à avenida Paulista.

Luiz Hossaka era o jovem inquieto que ainda iria fazer na Itália um curso de fotografia especializado em obras de arte, ou buscar aprender como utilizar computadores e novas tecnologias na identificação de pinturas, e outras coisas mais. A vida sempre esteve livre como uma boa estrada aberta à sua frente. Nunca trabalhou com a cronologia do tempo ocidental.

Hoje, o que queremos - além de homenagear aquele persistente Samurai de todas as guerras - é dizer: vai Luiz, tranqüilo porque o tempo não existe e sua história está feita, e é bonita. E, quem sabe, um dia retomemos nosso gosto e prazer de freqüentar o Museu que você ajudou a construir.

sobre o autor

Marcelo Ferraz é arquiteto formado pela FAU-USP em 1978, é sócio do escritório Brasil Arquitetura, onde tem realizado vários projetos com premiações no Brasil e exterior. É também sócio fundador da Marcenaria Baraúna, onde desenvolve projetos de mobiliário, desde 1986.

Marcelo Ferraz, São Paulo SP Brasil

 

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