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drops ISSN 2175-6716

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Após a derrota contundente sofrida pela seleção brasileira diante do esquadrão alemão na semifinal da Copa do Mundo de 2014, uma onda de indignação correu o país. Abilio Guerra propõe discutir o fenômeno a partir de uma leitura mais ampla e estrutural.

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GUERRA, Abilio. Decálogo da derrota anunciada. Drops, São Paulo, ano 15, n. 082.02, Vitruvius, jul. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/15.082/5226>.



Sobriedade é o que precisamos ter neste momento pós pior derrota da seleção brasileira. Eis alguns argumentos:

1) a seleção alemã é excepcional; na Copa passada já era a melhor do mundo, mas a juventude e a inexperiência dos seus melhores jogadores levou à tremedeira e à derrota para o mais medíocre campeão do mundo de todos os tempos, a seleção espanhola;

2) a seleção brasileira é modesta, jogou mal todos os jogos (com exceção do primeiro tempo contra a Colômbia), situação que me parece natural para uma geração de transição, com pouquíssimos jogadores à altura de nossa tradição;

3) em todas Copas que já vi sempre ouve uma discussão acalorada na mídia e dentre os torcedores sobre as injustiças dos nomes esquecidos (Falcão, por exemplo, foi ignorado por Claudio Coutinho em 1978); na convocação para esta Copa, ninguém reclamou da lista do Felipão, o que nos leva a crer que os melhores foram convocados (eu detesto o Fred, mas não me lembro de ninguém que poderia substitui-lo com vantagens);

4) a Alemanha colheu os frutos da Copa passada, quando colocou em campo Muller, Khendira, Ozil e outros moleques para pegar tarimba; enquanto isso, Dunga se recusou a levar Neymar e Ganso, quebrando a tradição brasileira de levar jogadores novinhos para ganhar experiência;

5) o futebol brasileiro é semiamador, com uma estrutura medíocre, habitada por gente da pior espécie; consegue o feito sublime de substituir um corrupto por um sujeito ligado de corpo e alma ao regime militar; nenhum dos nossos melhores jogadores joga no Brasil e estamos chegando à situação onde nenhum dos nossos craques jogou algum dia no país (os melhores vão cada vez mais cedo para os grandes centros); enquanto isso, os outros ganhadores de Copas – Alemanha, Itália, Espanha, Inglaterra e França – contam com campeonatos pujantes, cheio de emoções e excelentes jogadores dos quatro cantos do mundo; ou seja, se o Brasil ganhasse a Copa teríamos acobertada a situação caótica do futebol brasileiro;

6) ao contrário de uma ou outra seleção brasileira anterior (são poucas), não é possível dizer que os jogadores atuais são desfibrados, sem amor à seleção, sem empenho. Entendo que eles estavam muito focados e após o jogo ficaram sinceramente abatidos com a derrota. Não jogaram bem neste e nos outros jogos, mas não podem ser acusados de “vendidos”, “traidores” ou epítetos equivalentes;

7) o resultado foi atípico e não pode ser explicado apenas com a evidente má escalação do time brasileiro, as ausências de Neymar e Thiago Silva, a força do time alemão e outros elementos presentes em cena. Todos eles colaboraram de alguma maneira para a derrota, mas tenho certeza absoluta que se o jogo fosse jogado mais uma dezena de vezes não teríamos em nenhuma dessas hipotéticas partidas um resultado tão acachapante. Ocorreu uma convergência inédita de fatores diversos, de difícil repetição;

8) David Luiz, que forma com Neymar e Thiago Silva o trio de craques do time brasileiro, simplesmente se alienou do jogo a partir do terceiro gol e não aparece nas fotos dos outros gols da Alemanha; ou seja, um apagão acometeu sem exceção a todos os jogadores, a começar do melhor brasileiro em campo; faltou experiência em campo, o que poderia ter sido amenizado com a presença de ao menos um dos “velhos” (Kaká, Robinho e Ronaldinho) descartados pelo técnico.

9) o técnico de nossa seleção, Luiz Felipe Scolari, é visivelmente ultrapassado e levou um show de tática dos técnicos adversários em todos os jogos. Não conseguiu formar um time convincente, não conseguiu modificar o time na hora certa, não conseguiu reverter situações ruins e sequer conseguiu manter no segundo tempo a boa atuação do primeiro tempo contra a Colômbia; enquanto isso, em diversos jogos pudemos observar atuações sensacionais de outros técnicos, em especial da Alemanha, Argentina, Bélgica, Chile, Costa Rica e Holanda. Felipão foi irresponsável ao tentar enfrentar de igual para igual a poderosa seleção alemã (com exceção de David Luiz, todos os jogadores brasileiros em campo hoje são muito inferiores em relação ao jogador alemão que joga na sua posição). Mas temos atenuantes: o técnico foi escolhido por gente que nada entende de futebol, temos pouquíssimos técnicos no Brasil melhores do que ele, Felipão conquistou uma Copa com sete vitórias.

10) ou seja, o resultado de 7X1 é atípico, mas a vitória da seleção alemã foi incontestável. Temos problemas estruturais gravíssimos e são eles que devem ser prioridade neste momento. Ficar culpando um ou outro, eleger novos “Barbosas”, seria não aprender nada com o passado. Vamos deixar baixar a poeira, os ânimos serenarem e, com calma mas determinação, colocar a casa em ordem, focando nas mudanças da estrutura do futebol brasileiro, que precisa afastar o amadorismo, a corrupção e o autoritarismo. Precisamos dos melhores jogadores brasileiros jogando no país e aprender a vender o espetáculo ao invés de vender os artistas. Precisamos fundamentalmente de técnicos estrangeiros atualizados atuando nos clubes brasileiros, ter a coragem da seleção de basquete que trouxe o técnico argentino medalha de ouro. Eu acredito que seja possível, mas...

nota

NA – Texto originalmente publicado no Facebook.

sobre o autor

Abilio Guerra é arquiteto, professor da graduação e pós-graduação da FAU Mackenzie e editor do portal Vitruvius e da Romano Guerra Editora.

 

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