Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Neste ano se festeja os 100 anos de nascimento da arquiteta Lina Bo Bardi. Liana Perez de Oliveira comenta a validez de seus ensinamentos acerca da responsabilidade social da profissão.

how to quote

OLIVEIRA, Liana Perez de. Porque falar de Lina Bo Bardi. Centenário da arquiteta. Drops, São Paulo, ano 15, n. 087.01, Vitruvius, dez. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/15.087/5353>.


Nessa sexta feira a arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi completaria seu centenário, e este é um bom momento para um debate sobre as suas ideias, suas verdades que a levam para certas tomadas de posição, às quais presenciamos materializadas em sua obra.

Lina forma uma verdadeira escola no Brasil, elaborando conceitos através de sua postura voltada para o social, assimilados ainda na Itália pós Segunda Guerra e acrescidos de intensa pesquisa com base em nossa civilização, esta encarada como o aspecto prático da cultura, a vida do homem em todos os instantes.

Em um documentário de 1972, do cineasta Walter Lima Junior – onde se evidencia um momento de crise na arquitetura, bem como na profissão do arquiteto e urbanista –, a arquiteta reitera sua posição político-social inerente à profissão pontuando a questão da educação do profissional:

“A arquitetura não é um fato avulso de uma cultura ou de uma situação político-social. Uma arquitetura falha é o resultado de uma cultura falha, de uma situação político-social falha. O arquiteto depende diretamente dessa situação político-social. O arquiteto não pode ser o homem, o artista, o criador isolado. Ele depende diretamente dessas situações político-sociais” (1).

Ao passo que a partir desse momento percebemos cada vez mais um esvaziamento crítico do arquiteto frente aos efeitos perversos da política neoliberal sobre os espaços da cidade a uma crescente imposição econômica do mercado tornando os hostis, agressivos; percebemos a importância de se investir na educação e cultura de um povo, no fortalecimento do sentido de pertencimento de um espaço e da comunidade. Recentemente, e neste sentido, vivenciamos a ascendência de movimentos populares que disputam pelo espaço das cidades e também um maior questionamento de arquitetos acerca de seu papel político-social.

Lina ainda coloca que a marginalização do arquiteto está estreitamente relacionada com a sua formação, e, assim, procura uma saída por meio de pequenas ações, observadas em seu modo de lidar com a cultura, com o espaço e, principalmente, com as pessoas. Ela empresta uma expressão de Ferreira Gullar para confirmar seu posicionamento – uma tomada de consciência:

“A cultura popular é, em suma, a tomada de consciência da realidade brasileira. Cultura popular é compreender que o problema do analfabetismo, como o da deficiência de vagas nas universidades, não está desligado da condição de miséria do camponês, nem da dominação imperialista sobre a economia do país […]. É compreender, em suma, que todos esses problemas só encontrarão solução se se realizarem profundas transformações na estrutura socioeconômica e consequentemente no sistema de poder. Cultura popular é, portanto, consciência revolucionária” (2).

Lina encara a cultura como fato do cotidiano, como um meio de resgatar os valores e dignidade da posição humana. Uma de suas posturas que expõe essa condição está na sua própria maneira de trabalhar; ela acredita que a arquitetura deve ser produto de um exercício comum de todos os envolvidos: O arquiteto, o artesão, o artista, o engenheiro. Em suas obras públicas (Solar do Unhão, Masp, Sesc Pompéia), a arquiteta transferiu seu escritório para o canteiro de obras quando muitas soluções foram construídas.

“A Lina sempre incorporou coisas de outras pessoas nas obras, o que é muito interessante. Significa que você não está sozinho fazendo projeto, está aberto a que o projeto tenha participação de outras pessoas” (3).

O resultado de sua obra é sentido ainda hoje por todos que a usufruem, como observamos nas ações que ocorrem no Masp e em seu vão livre, impregnadas de possibilidades ou o deslumbramento de muitos ao adentrar o espaço do Sesc Pompéia através de sua rua de paralelepípedos que evoca as ações coletivas urbanas ainda no período industrial.

Falar de Lina Bo Bardi nos dá a significativa oportunidade de refletirmos sobre a dimensão de nossa postura frente à cultura, a cidade e nossa condição política e social, tão imprescindível na atualidade.

notas

1
BARDI, Lina Bo. Arquitetura da transformação. Disponivel em https://www.youtube.com/watch?v=q0QHjzrEYOQ

2
GULLAR, Ferreira. Cultura posta em questão. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1965.

3
VAINER, André. Entrevista. In OLIVEIRA, Liana Paula Perez de. A capacidade de dizer não. Lina Bo Bardi e a Fábrica da Pompéia. Dissertação de mestrado. Orientador Abilio Guerra. São Paulo, FAU Mackenzie, 2007.

sobre a autora

Liana Paula Perez de Oliveira é mestre em arquitetura e urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atualmente é professora da Universidade Nove de Julho.

Sesc Pompeia, São Paulo. Arquiteta Lina Bo Bardi
Foto Abilio Guerra

Museu de Arte de São Paulo – Masp, São Paulo. Arquiteta Lina Bo Bardi
Foto Abilio Guerra

 

comments

087.01 lina 100 anos
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

087

087.02 homenagem

João Filgueiras Lima, Lelé

Genialidade e generosidade na arquitetura (1932-2014)

Sergio Jatobá

087.03 política

Cuba

O dia em que a terra parou

Gabriela Orlandi

087.04 exposição

Falso movimento

Jacopo Crivelli Visconti

087.05 fotografia

Araquém Alcântara

Coleção Ipsis de Fotografia Brasileira

Eder Chiodetto

087.06 fotografia

Nelson Kon, o fotógrafo cronista

Coleção Ipsis de Fotografia Brasileira

Eder Chiodetto

087.07 fotografia

Cristiano Mascaro, fotogenia e latências

Coleção Ipsis de Fotografia Brasileira

Eder Chiodetto

087.08 política pública

Hora de cobrar

Segurança pública ou programas sociais, educacionais, culturais e de saúde qualificados?

Luiz Fernando Janot

087.09 resposta

Bienal de Veneza

Resposta às críticas de Ana Luiza Nobre

André Corrêa do Lago

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided