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drops ISSN 2175-6716

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português
Escrito como diversão por Álvaro Rodrigues dos Santos, esse breve texto tem a pretensão de registro linguístico do uso cotidiano e popular de expressões em português vulgar – os populares palavrões, um rico acervo de expressões chulas.

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SANTOS, Álvaro Rodrigues dos. Das expressões chulas e vulgares. Drops, São Paulo, ano 16, n. 099.06, Vitruvius, dez. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/16.099/5863>.


Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzam com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o latim vulgar, será esse português vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a “vulgarização” do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.

O texto a seguir foi-me inspirado por um núcleo inicial de idéias que me chegaram por obséquio de uma querida sobrinha. Ainda que de minha autoria, esse texto já andou rodando a Internet sob pretensas várias autorias, algumas, aliás, que me honraram muito, como a do Millor (obviamente, à sua revelia). Sem dúvida, uma indicação de que possa ter algum valor. Senão literário, ao menos lingüístico. Assim, resolvi por bem divulgá-lo mais, vamos dizer, oficialmente, pois tenho-lhe, desculpem-me, com algum orgulho.

E vejam, é um texto em aberto, há outros palavrões que não estão descritos e que merecem todo o nosso respeito. Sinta-se a vontade para descrevê-los.

Abençoados palavrões

Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz idéia de maior quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática, física. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o Universo é antigo pra caralho, eu gosto dela pra caralho, entende?

No gênero do “Pra caralho”, mas no caso expressando a mais absoluta negação, está o famoso e crescentemente utilizado “Nem fodendo!”. Que “Não, não e não!” o quê! E nem tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade “Não, absolutamente não!”. O “Nem fodendo” é irretorquível, liquida o assunto. Te libera , com a consciência e o ego tranqüilos, para outras atividades de maior interesse em tua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo “Huguinho, presta atenção, filho querido, nem fodendo!”. O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa, e você fecha os olhos e volta a curtir o novo CD do Lupicínio.

Por sua vez, o “porra nenhuma!” atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano social e profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um “é PhD porra nenhuma!”, ou “ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!”. O “porra nenhuma”, como vocês vêem, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou de seu correlato “Puta-que-o-pariu!”, falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...Diante de uma notícia irritante ou que te cause algum espanto, qualquer um Puta-que-o-pariu! dito assim te coloca outra vez em teu eixo. Teus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou o safar-te de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso “vai tomar no cu!”? E sua maravilhosa e reforçadora derivação vai tomar no olho do seu cu!”. Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: “Chega! Quer saber mesmo de uma coisa? Vai tomar no olho do seu cu!”. Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

Seria tremendamente injusto, em que pesem ainda inexplicáveis e preconceituosas resistências à sua palavra-raiz, não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do PV (português vulgar): “Embucetou!”. E sua derivação mais avassaladora ainda: “Embucetou de vez!”. Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como o comentário de um vizinho para sua esposa ao sacar que no auge da violenta briga do casal da residência ao lado, chegam de súbito a amante, o filho espúrio e o cunhado bêbado com o resultado do exame de DNA: “Querida, fecha a porta que embucetou de vez!”.

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de foda-se!” que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do “foda-se!”? O ”foda-se!” aumenta nossa auto-estima, nos torna pessoas melhores. Reorganiza as coisas. Liberta. “Não quer mesmo sair comigo? Então foda-se!". “Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!” O direito ao ”foda-se!” deveria estar assegurado na constituição brasileira. Liberdade, Igualdade, Fraternidade e Foda-se.

sobre o autor

Álvaro Rodrigues dos Santos, geólogo, ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia, autor dos livros Geologia de engenharia: conceitos, método e prática, A grande barreira da Serra do Mar, Cubatão e Diálogos geológicos, consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente.

 

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