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drops ISSN 2175-6716

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Jorge Czajkowski, importante intelectual na área da arquitetura e falecido em 2010, acaba de ser homenageado com o livro sobre a obra de Carlos Leão, publicação inspirada em exposição por ele montada em 1985.

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GUERRA, Abilio. Carlos Leão: arquitetura. Um sonho de Jorge Czajkowski que se cumpre. Drops, São Paulo, ano 16, n. 105.07, Vitruvius, jun. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/17.105/6074>.



Jorge Czajkowski (1948-2010), cara adorável, morreu moço, com pouco mais de sessenta anos (1). Tivemos uma relação bissexta, mas fraternal, e fiquei muito feliz ao vê-lo, em 2001, na plateia do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB/RJ, no bairro do Flamengo, Rio de Janeiro, por ocasião do lançamento do livro Rino Levi, arquitetura e cidade (2). Estava abatido, debilitado, já sofrendo as sequelas do problema de coração que lhe seria fatal uma década depois, mas muito contente com nossa realização.

Viveu pouco, mas realizou muito e tudo o que fez foi bem feito. Criou e editou a Arquitetura Revista, da FAU UFRJ, e participou da revista Gávea, da PUC-Rio, da qual foi membro do Conselho Editorial. Fundou em 1982 e coordenou até 1993 o Núcleo de Pesquisa e Documentação – NPD da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro – FAU UFRJ, acervo de valor inestimável para todos os que gostam da história da arquitetura e vital para pesquisadores da arquitetura brasileira. Estão lá hoje acervadas fontes primárias essenciais, cobrindo as obras de Affonso Eduardo Reidy, Irmãos Roberto, Jorge Machado Moreira, Severiano Porto e de diversos outros arquitetos importantes, dentre eles Carlos Leão (1906-1983), que acaba de ter livro lançado (3).

Com a colaboração de uma equipe pequena, mas de extrema competência – destaque para Fernando Sendyk e Maria Helena Röhe Salomon –, seu trabalho à frente do Centro de Arquitetura e Urbanismo – CAU, instituição cultural da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, é inesquecível (4). Durante o curto período de 1997 a 2000 foi responsável por mostras de extrema importância, casos de “Le Corbusier. Rio de Janeiro 1929-1936”, curadoria de Yannis Tsiomis, e “Do Cosmógrafo ao Satélite”, com coleção de mapas do Rio de Janeiro. A exposição que organizou sobre a obra de Jorge Machado Moreira foi também exibida na 3ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, de 1999, e seu catálogo, que conta com texto introdutório de Roberto Conduru, é uma das mais importantes publicações sobre a arquitetura moderna brasileira (5). No CAU também organizou e coordenou a produção e edição de quatro guias da arquitetura carioca – art déco; colonial, neoclássica e romântica; eclética; e moderna –, até hoje inigualados (6).

Durante os anos de 2009 e 2010, trocamos correspondência mais constante. Eu estava na ocasião organizando uma coletânea de artigos dispersos em revistas acadêmicas – que eu considerava “textos fundamentais” – e pedi autorização ao Jorge para republicar “A arquitetura racionalista e a tradição brasileira”, que havia saído originalmente na revista Gávea número 10, de 1993. A coletânea foi lançada em 21 de março 2010 durante as comemorações dos dez anos de vida do portal Vitruvius (7) e Jorge Czajkowski faleceu no dia 16 de outubro do mesmo ano, portanto tivemos eu e ele o prazer de compartilhar a alegria pela publicação do livrinho (8).

Jorge Czajkowski deixou ao menos uma coisa incompleta, algo natural no caso de um intelectual tão produtivo. Em 1985, organizou na Galeria da Funarte, no Rio de Janeiro, exposição sobre obra do arquiteto Carlos Leão, membro da mítica equipe que projetou ao lado de Lúcio Costa, Jorge Machado Moreira, Affonso Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer e Ernani Vasconcellos o edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde, atual Palácio Capanema. O catálogo pretendido na ocasião acabou não saindo, mas os originais do arquiteto ficaram protegidos sob a guarda do NPD, hoje sob a competente direção de Beti Martins, possibilitando que finalmente o catálogo se transformasse em livro.

Não poderia ser melhor ou mais competente a equipe que cumpriu o desafio de terminar a organização e realizar a publicação, formada por profissionais próximos ao grande intelectual: as arquitetas Claudia Pinheiro e Maria Helena Röhe Salomon, o historiador da arte Roberto Conduru (9), a designer Sula Danowski – também autora do design gráfico do catálogo da obra de Jorge Machado Moreira –, e a assistente editorial Rosalina Gouveia. A editora Ana Cecilia Impellizieri Martins, da Bazar do Tempo, não deixou escapar a oportunidade e finalizou o trabalho com uma edição impecável. Repito: impecável!

Uma boa edição de livro implica em um percurso longo e necessário, que passa pela escolha de obra de interesse, pela pesquisa das circunstâncias de sua produção, pela seleção de fontes primárias exemplares do ponto de vista histórico e qualificadas do ponto de vista estético, pela produção de textos qualificados sobre a obra, pelo desenho gráfico adequado para a apresentação final, pelo trabalho editorial de coordenar todos os esforços buscando – mesmo que seja inalcançável – a síntese perfeita. Como editor, asseguro que é muito prazeroso constatar a qualidade do trabalho de colegas e confesso até uma inveja positiva e afirmo sem constrangimento que gostaria de ter realizado eu próprio o trabalho.

Esquecido e quase no ostracismo não fosse a menção constante do seu nome nas legendas das fotos do MES, Carlos Leão foi um dos mais próximos discípulos de Lúcio Costa, pois, como poucos, buscou a síntese entre o moderno e a tradição, operando interessante arranjo entre princípios bebidos na fonte direta chamada Le Corbusier e elementos da tradição construtiva brasileira. A equidistância entre as últimas notícias de Paris e os ecos da produção vernácula cumpre de forma exemplar a dupla agenda vivida pela cultura brasileira na primeira metade do século 20: a busca das raízes da cultura nacional e o acerto do relógio civilizacional com os olhos postos nas conquistas da modernidade.

Os desenhos magníficos de Carlos Leão, reproduzidos com extrema qualidade no livro, tematizam uma arquitetura preocupada com tectônica dos materiais e a inserção do objeto artificial no contexto natural, numa espécie de evocação de um modo de vida calmo e tranquilo, prazeroso, reiterado pelos desenhos de mulheres em cenas que retratam a intimidade ao mesmo tempo hedonista e doméstica. Ou, como afirma Vera Beatriz Siqueira:

“Suas mulheres nuas e seminuas, muitas vezes de inspiração matissiana, raramente se apresentam em atitudes eróticas ou poses sexuais. Com mais frequência repousam, lânguidas, recostadas em camas, redes, cadeiras. O traço é delicado e singelo, afetuoso mesmo, abrindo mão de um erotismo mais estridente em nome de uma sensualidade íntima e doméstica” (10).

O livro Carlos Leão: arquitetura mostra-se assim uma dupla homenagem: ao grande arquiteto que se insere na primeira fase da arquitetura moderna brasileira; e a Jorge Czajkowski, intelectual completo, que cumpriu com qualidade e honradez os papeis de professor, pesquisador, editor, curador, escritor e fomentador da cultura.

notas

1
PORTAL VITRUVIUS. Falece o arquiteto Jorge Czajkowski <www.vitruvius.com.br/jornal/news/read/436>.

2
ANELLI, Renato; GUERRA, Abílio; KON, Nelson. Rino LeviArquitetura e cidade. São Paulo, Romano Guerra, 2001.

3
CZAJKOWSKI, Jorge; PINHEIRO, Claudia; CONDURU, Roberto; DANOWSKI, Sula (Orgs.). Carlos Leão: arquitetura. Rio de Janeiro, Bazar do Tempo, 2016.

4
Sobre seu trabalho à frente do Centro de Arquitetura e Urbanismo, ver: CAMPOS FILHO, Candido Malta. Jorge Czajkowski (5 agosto 1948 – 16 outubro 2010). À guisa de homenagem. Drops, São Paulo, ano 11, n. 038.02, Vitruvius, nov. 2010 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/11.038/3647>.

5
CZAJKOWSKI, Jorge (Org.). Jorge Machado Moreira. Rio de Janeiro, Centro de Arquitetura e Urbanismo, 1999.

6
Ver: SEGRE, Roberto. Guias da arquitetura carioca. Resenhas Online, São Paulo, ano 01, n. 001.22, Vitruvius, jan. 2002 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/01.001/3257>.

7
GUERRA, Abilio; ROMANO SANTOS, Silvana; CODDOU, Flávio; COTRIM CUNHA, Marcio. Vitruvius 10 anos. Arquitextos, São Paulo, ano 10, n. 119.00, Vitruvius, mar. 2010 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.119/3410>.

8
GUERRA, Abílio (Org.). Textos fundamentais sobre historia da arquitetura moderna brasileira – Parte 1. Coleção RG bolso, volume 1. São Paulo, Romano Guerra, 2010.

9
Coube a Roberto Conduru o texto de homenagem a Jorge Czajkowski publicado no portal Vitruvius por ocasião de sua morte: CONDURU, Roberto. Jorge Paul Czajkowski. Drops, São Paulo, ano 11, n. 037.04, Vitruvius, out. 2010 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/11.037/3630>.

10
SIQUEIRA, Vera Beatriz. Modernidade vernacular. A arquitetura de Carlos Leão. Resenhas Online, São Paulo, ano 16, n. 174.04, Vitruvius, jun. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/16.174/6073>.

sobre o autor

Abilio Guerra é professor de graduação e pós-graduação da FAU Mackenzie e editor, com Silvana Romano Santos, do portal Vitruvius e da Romano Guerra Editora.

Carlos Leão (Rio de Janeiro, 1906 – Rio de Janeiro, 1983)
Foto divulgação

Jorge Paul Czajkowski (Belo Horizonte, 1948 – Rio de Janeiro, 2010)
Foto divulgação

 

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