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drops ISSN 2175-6716

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O curador Márcio Harum apresenta a exposição “Arquipélago de instantes”, individual da artista paulistana Laura Gorski, que apresenta desenhos, fotografias e instalações na galeria Blau Projects.

how to quote

HARUM, Márcio. Arquipélago de instantes. Laura Gorski e as ilhas para o nosso mais íntimo refúgio. Drops, São Paulo, ano 18, n. 119.05, Vitruvius, ago. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.119/6653>.


Exposição Arquipélago de instantes, de Laura Gorski
Foto divulgação


O azul do mergulho profundo percebido por entre as ilhas dourado-pepita das paredes de Arquipélago de instantes, título desta mostra, remete indubitavelmente a presença de uma linha-mestra que desenha o horizonte alinhavado de todo o conjunto de obras em exibição da artista Laura Gorski.

Um dos trabalhos em exposição, Ampulheta, de 2017, como se fora um copo d’água na mão desde logo a entrada, nos guia tal qual uma pista deixada no meio do caminho para a observação de sua escala em relação à paisagem do corpo. A avistagem induzida por esta linha-objeto provoca o convívio de experiência e reação, e revela os limites de reorganização das regras do tempo das práticas de ateliê de desenho de Laura Gorski. O nanquim da cor do ouro convoca a matéria por sua suavidade e nobreza, e atribui um valor sagrado a sua própria projeção espacial de natureza meditativa. Filigrana, como uma tatuagem dourada e contínua. A água pode ser vista também como agente em evaporação, um obtuso medidor de passagem e contagem do tempo de duração da obra.

Deambulando pela área expositiva, Nível, de 2017, surge de maneira justaposta, como um índice paisagístico delineado por uma tênue linha-submersão, que se aprofunda por gradação progressiva na pureza da brancura do papel em contraste com tonalidades de um azul abissal. Os desenhos aparecem unidos por esta única linha sob aspecto de camadas mergulhadas em um azul de imaginação marítima. Esta série montada lado a lado, segundo a própria artista, reafirma a ideia de que a água invariavelmente busca o descanso, marcando enfim o seu nível de contenção.

Na instalação que dá nome a mostra, desenhos de dimensões variáveis são submersos em água, diante do valente desfazer-se de tantas horas de labuta com o desenho, um rastro da memória do gesto resiste visível, deixando com que a tinta retome as suas propriedades originais de pigmento.

Horizonte Interior, de 2017, traz à tona a linha-membrana do desenho, um trabalho que ao reunir condições fotográficas adequadas para a sua apresentação, ergue como protagonista a figura de uma banheira doméstica como base e cenário ideais para a experimentação poética.

Um grupo de onze pequenas peças escultóricas brancas manipuladas em gesso, de onde se sobressaem incrustações de minerais naturais, estão dispostas sobre uma prateleira projetada de modo a alinhar a propósito de um mesmo tracejado do horizonte à configuração destes objetos em relação aos desenhos que estão expostos ao redor.

Depois de conversações com Laura Gorski, o que talvez possa ser vislumbrado a seguir sejam estas paisagens de intimidade: o copo que contém o panorama, o corpo contém o copo; e que justamente assemelham-se por oposição a ideia anterior de que o corpo está contido além da perspectiva de uma mera relação com foco na paisagem.

Em seu estúdio, no ambiente de labor diário, Laura Gorski se dedica por prazer a manter para sua particular admiração uma bonita coleção de conchas do mar – o que devido a uma certa precisão e preciosidade das formas em dissonância complementar com a transitoriedade aquática, sem dúvida alguma lhe traz ocasionalmente uma sensação saudável de esvaziamento, paz e silêncio. Com "Repouso", sua anterior mostra individual realizada em 2016 no Centro Cultural São Paulo, a artista instalou entre outros elementos de perene fisicalidade como pedras e galhos, uma verdadeira embarcação no piso expositivo. O trabalho adquiriu assim então por si só características intuitivas de uma estação para a ativação de efeitos do estado contemplativo por parte dos visitantes. Os indícios espontâneos associados ao conteúdo artístico de Arquipélago de instantes apontam novamente para a esperada ocorrência de uma vibração posterior do residual simbólico vivido por parte do público. Para que conste, hoje em dia, o referido barco encontra-se em situação de haver sido transformado em uma escultura para frequentação no alto de uma colina na localidade de Serrinha, interior do estado de São Paulo.

Desde que o trabalho da artista vem se inserindo com potencial afirmativo no sentido mais amplo do universo de produção em artes visuais, compreendemos o tempo do desenho como uma das principais matérias de seu trabalho. Temos que acompanhar realmente de perto esta nova exposição individual de Laura Gorski, pois nos transmite tão necessariamente na atualidade a importância de sabermos encontrar ilhas para o nosso mais íntimo refúgio.

nota

NE – Texto curatorial da exposição Arquipélago de instantes, de Laura Gorski. Blau Projects, São Paulo, de 19 de agosto a 30 de setembro de 2017.

sobre o autor

Márcio Harum é crítico e curador.

Exposição Arquipélago de instantes, de Laura Gorski
Foto divulgação

Exposição Arquipélago de instantes, de Laura Gorski
Foto divulgação

 

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