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Texto curatorial para a exposição “Kuno Dannien: Jakobikirche Lübeck”, curadoria de Klaus Brendle e Betânia Brendle, de 07 a 16 de setembro de 2018.

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BRENDLE, Betânia. Kuno Dannien. "Tempos modernos" da arquitetura. Drops, São Paulo, ano 19, n. 131.06, Vitruvius, ago. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/19.131/7091>.



A obra de Kuno Dannien (Lübeck, 1931–) é marcada pela modernidade. Não aquela modernidade autorreferente que mutila a presença do passado através da liberdade de referências em relação ao lugar, à paisagem e ao legado arquitetônico do passado. Sua prática arquitetônica concilia princípios da Carta de Atenas (CIAM, 1933) ao recusar “copiar servilmente o passado” e “erigir o falso como princípio”, e da Carta de Veneza (1964), adotada pelo Icomos em 1965, que estabeleceu entre outros, os princípios de distinguibilidade da ação contemporânea, a mínima intervenção, a preservação da escala do sítio onde o monumento está inserido e o uso de técnicas e materiais modernos.

Dannien é um intérprete da arquitetura contemporânea de sua geração que se distanciou da onda de reconstrução historicista-estilística do segundo pós-guerra na Alemanha. Para ele, a reconstrução ou cópia de um monumento é inadmissível, pois representa a falsificação da arquitetura de nosso tempo. Sua obra não é resultado de uma prática projetual ancorada na liberdade absoluta e individualidade do Arquiteto e seus projetos de inserção em áreas de interesse patrimonial têm uma relação intrínseca com o lugar onde a nova Arquitetura será construída e conciliam o novo com a preexistência urbana e tectônica do passado. Isto é visível, entre outros, no Lübecker Dompastorat (1965): o respeito com a catedral da cidade é materializado através do cauteloso contraste formal e estrutural e na utilização dialética de novos materiais e técnicas construtivas e a preservação da escala e atmosfera do lugar.

No período compreendido entre 1945-1965, intervenções paradigmáticas na preexistência patrimonial são marcadas pela pluralidade de abordagens projetuais como as desenvolvidas por Hans Döllgast, Karljosef Schattner, Dieter Oesterlen, Gottfried Böhm, Rudolf Schwarz e na Itália, por Carlo Scarpa e o BBPR (sob a liderança de Ernesto Nathan Rogers). A contribuição italiana no campo da restauração conduzida entre outros, por Cesare Brandi e Roberto Pane, determinaria princípios teóricos como eixos condutores do projeto de intervenção na preexistência patrimonial afastando-a do empirismo e das questões de gosto pessoal.

Em paralelo, Robert Venturi e Charles Moore lançam seus primeiros projetos utilizando referências históricas contestando (desafiando?) a racionalidade construtiva e a sintaxe compositiva da Arquitetura Moderna, com o retrocesso projetual ancorado na figuração estilística e simbólica, antecipando o que Charles Jencks em 1977 consagraria como The Language of Post-Modern Architecture. Isso não impressionaria o jovem Dannien cuja arquitetura se manteria fiel aos princípios da Avantgarde, como revelam seus primeiros projetos em Lübeck na década de 1960: o Dompastorat e a Löwen-Apotheke em Lübeck (1967). Neste último, Dannien reafirma seu compromisso com o espírito de seu tempo ao intervir em um edifício de significativo valor histórico (em torno de 1230), acrescentando uma contribuição tectônica contemporânea diferenciada da antiga pela linguagem compositiva e construtiva minimalista e pelo uso da cor e dos materiais como elementos diferenciais entre o passado e o presente.

O cenário arquitetônico na década de 1970 é marcado por antagonismos extremos cuja pluralidade conceitual varia entre a visionária arquitetura high-tech de Renzo Piano e Richard Rogers, que escandaliza e encanta o mundo ao inserir o Centre Pompidou no tecido antigo de Paris, a publicação de Learning from Las Vegas e a apologia populista de Venturi sobre o ordinário, o kitsch e o ornamento, e os livros de Aldo Rossi – L’Architettura della Città – e de Rob Krier – Stadtraum in Theorie und Praxis –, que iniciam um amplo debate sobre a relação da arquitetura e desenho urbano e a continuidade da estrutura antiga da cidade.

Em paralelo, o Conselho da Europa declara 1975, o Ano Europeu do Patrimônio Arquitetônico. Neste contexto de metáforas com o passado, o projeto de um edifício residencial no Untertrave, em Lübeck (1978), ilustra o cuidado de Dannien com a recuperação da unidade perdida da imagem urbana da cidade através do preenchimento de lacunas com novas arquiteturas, que se remetem à tradição da Backsteinarchitektur (arquitetura de tijolo aparente da região norte da Alemanha) e respeita a escala e a tipologia do conjunto sem cometer “falsos históricos” como alertou Cesare Brandi em sua Teoria del Restauro, não se rendendo ao anacronismo da imitação estilística.

A primeira Bienal de Arquitetura em Veneza (1980) com a temática – La Presenza del Passato – e a legendária exposição La Strada Nuovissima, representou a consolidação da vertente historicista da Arquitetura pós-moderna, mas ao mesmo tempo provocou fortes protestos de Habermas, Jameson, Tafuri, Benevolo, Frampton, entre outros clássicos modernos. Inicia-se nessa década a realização de projetos de intervenção na preexistência arquitetônica e urbana que apelam tanto para a reconstrução estilística histórica (Römerberg – Ostzeile) como para o vocabulário pós-moderno (Saalgasse), ambos em Frankfurt am Main, seguidos por obras de Aldo Rossi, Hans Hollein, Robert Krier, no IBA de Berlin. Essa vertente é fortemente antagonizada por arquitetos como Zaha Hadid, Daniel Libeskind e Peter Eisenmann, cujos projetos em Berlim se permitem uma livre e total liberdade projetual.

Dannien, no entanto, permanece fiel ao seu compromisso com a modernidade e com a preservação da arquitetura do passado, e seus projetos, longe de serem uma exercício livre da prática arquitetônica contemporânea, são estruturados por critérios que respondem a princípios teóricos consolidados desde a Carta de Veneza / Icomos, imbuídos de cautela com os extratos tectônicos do passado, respeitando a escala e a ambiência na inserção do novo no ambiente histórico. Seus projetos para a St. Marien (1996) e Petrikirche (1997) em Lübeck refletem uma preocupação cautelosa com a preexistência sem renunciar a ser Moderno. Pelo contrário, ele se afasta do estrelismo contemporâneo comum aos arquitetos que utilizam a preexistência como um cenário de fundo para suas experiências construtivas, que de longe não podem ser chamadas de arquitetura no sentido humanístico da palavra, pois destroem aquilo que retoricamente alegam preservar.

A destruição do legado histórico e estético tem, entretanto, outro protagonista: a reconstrução nostálgica do passado que impregna a prática arquitetônica contemporânea na Alemanha e que visa reproduzir um estado idealizado de arquiteturas mutiladas ou desaparecidas. Uma tentativa bizarra de reviver o que já não existe mesmo através de uma cópia, réplica ou simulacro, como se possível fosse interferir na irreversibilidade do tempo e reproduzir ilimitadamente a obra de arte que é a arquitetura e seu entorno urbano. O epicentro do movimento que intenciona trazer de volta o estado conceitual perdido na Alemanha foi a Frauenkirche/Neumarkt Dresden (2005). Seguiram-se, muitos outros, e entre eles, a reconstrução do Berliner Schloss, os projetos do Dom-Römerberg em Frankfurt am Main e o Gründungsviertel em Lübeck.

Exceções existem e são paradigmáticas: o Docomomo-DE (2008) posicionou-se contrário ao refazimento estilístico das Bauhaus Meisterhäuser em Dessau e legitimou o design contemporâneo ancorado em princípios de legibilidade e distinguibilidade (BFM Architekten Berlin); e, o Neues Museum Berlin(David Chipperfield Architects), uma intervenção de caráter integrativo-dialético que reconectou as ruínas de volta em um conjunto arquitetônico inteiro através do design contemporâneo.

Na obra de Kuno Dannien vejo a relação intrínseca da deferência com o passado sem recorrer à imitação, cópia, mimetismo e nostalgia e a afirmação clara da contemporaneidade inspiradora e absolutamente essencial no ato de projetar a arquitetura.

notas

NE – Texto do catálogo da exposição “Kuno Dannien: Jakobikirche Lübeck”, curadoria de Klaus Brendle e Betânia Brendle, 07-16 de setembro de 2018. Organização: Labor fuer StädtebauFachbereich “Bauwesen” der Fachhochschule Lübeck. Simpósio “Nova Arquitetura em Contextos Históricos: Jakobikirche Lübeck”, 14 de setembro de 2018, às 10h. Informações e inscrições: www.fh-luebeck.de/dannien+architektur

sobre a autora

Betânia Brendle, Professora Doutora, Planungsbeuro Architektur & Anderes, Luebeck, membro do Icomos Brasil e do Docomomo Brasil e International.

Löwen-Apotheke, 1967, arquiteto Kuno Dannien
Foto Detlev Klockow / dk-graphics.de

Löwen-Apotheke, 1967, arquiteto Kuno Dannien
Foto Detlev Klockow / dk-graphics.de

Löwen-Apotheke, 1967, arquiteto Kuno Dannien
Foto Detlev Klockow / dk-graphics.de

Untertrave, 1978, arquiteto Kuno Dannien
Foto Detlev Klockow / dk-graphics.de

Untertrave, 1978, arquiteto Kuno Dannien
Foto Detlev Klockow / dk-graphics.de

St. Marien, 1996, arquiteto Kuno Dannien
Foto Detlev Klockow / dk-graphics.de

St. Marien, 1996, arquiteto Kuno Dannien
Foto Detlev Klockow / dk-graphics.de

 

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