abstracts
português
Daniela C. Lima entrevista o arquiteto Sérgio Ferro, que fala sobre o tema do canteiro de obras, com ênfase na divisão do trabalho, nas relações sociais de produção nele existentes e as experiências realizadas na década de 1950 pelo grupo Arquitetura Nova
english
Daniela Colin Lee interviews the architect Sergio Ferro, a conversation about a construction site, with emphasis on the division of labor and social relations of production within it and the experiences made in the 1950s by the Grupo Nova Arquitetura
español
Daniela C. Lima entrevista al arquitecto Sérgio Ferro, sobre el tema del cantero de obras, con énfasis en la división del trabajo y en las relaciones sociales de producción existentes en él y las experiencias realizadas en la década de 50
Residência Heládio Capisano, São Paulo, 1960. Arquitetos Rodrigo Lefévre e Sérgio Ferro
Daniela Colin: Paulo Freire diz que um homem que simplesmente apreende as idéias de outro, como ocorre com os operários na divisão mão-mente do trabalho, não consegue desenvolver sua capacidade crítica em relação ao mundo e à sua própria condição. Vocês [grupo Arquitetura Nova] conseguiram fazer com que os operários compreendessem e passassem efetivamente a fazer parte desse processo de crescimento mútuo?Sérgio Ferro: Eu acho que sim. Por duas razões: primeiro alguns dos operários que trabalharam conosco fizeram casas para eles mesmos, com sistemas bem parecidos com que a gente pregava. Espontaneamente, em auto-construção e tudo. Este é o primeiro caso. O segundo, quando nós fomos presos, o Rodrigo e eu, havia um canteiro em andamento e eles mesmos continuaram o canteiro, dentro da nossa lógica, dentro dos princípios do “desenho e o canteiro”, tendo assimilado completamente as idéias, os princípios, etc. Então eu acho que eles assimilaram bem.
DC: Ainda segundo Paulo Freire, todo homem é um ser inacabado e que, por isso, não pode existir aprender sem ensinar e ensinar sem aprender. O que você aprendeu com a experiência de canteiro do Arquitetura Nova?
SF: Aprendi enormemente. Enormemente! E até hoje, em qualquer canteiro que eu acompanhe, faça, etc. há um aprendizado. Na verdade, exatamente pelos princípios que a gente tinha, que têm, ser atento ao canteiro, ao processo produtivo, às necessidades, dificuldades e problemas do trabalho, vivendo com o canteiro, vivendo no canteiro, e seguindo o canteiro, o aprendizado é constante. Exatamente em função da atenção que a gente dá às condições de produção. As condições de produção, variam, evoluem, etc. Então o aprendizado nosso é e era constante.
DC: Vocês [grupo Arquitetura Nova] usavam Paulo Freire no canteiro?
SF: O Rodrigo [Lefèvre] usava muito. O Rodrigo gostava muito do Paulo Freire.
DC: E como o Lefèvre fazia isso?
SF: Você conhece o trabalho do Rodrigo, a tese dele, né? Lá ele explica direitinho como ele utilizou o Paulo Freire e o quê do Paulo Freire foi útil para ele. O Rodrigo utilizou muito mais o Paulo do que eu.
Residência Heládio Capisano, São Paulo, 1960. Arquitetos Rodrigo Lefévre e Sérgio Ferro