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interview ISSN 2175-6708

abstracts

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Paulo Case, 80 anos, é um dos mais importantes arquitetos de sua geração. A ousadia formal e sua capacidade em articular coerentemente estética e funcionalidade em seus projetos arquitetônicos e urbanos são características marcantes de sua obra.

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BARBOSA, Antônio Agenor. Entrevista com o arquiteto Paulo Casé. Entrevista, São Paulo, ano 13, n. 049.02, Vitruvius, jan. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/11.049/4185>.


Park Hotel, Nova Friburgo. Arquiteto Lúcio Costa
Foto Nelson Kon


Antônio Agenor Barbosa: Então com base neste seu pensamento dito fragmentado eu faço uma proposta. Eu vou mencionar o nome de algumas pessoas e proponho que o senhor fale o que lhe venha à cabeça em relação a essas pessoas. Vamos lá? Primeiro: Lucio Costa.

Paulo Casé: Esse homem é o pai de todos. É o único intelectual da arquitetura brasileira. Eu o vi falar coisas que eu uso até hoje. Porque ele foi um meridiano. Ele falou uma coisa que é o seguinte: ele estava sempre discutindo homem x natureza. O homem é natureza. Ele é o braço racional da natureza, mas ele é natureza. E o que ele fizer é a natureza que o fez fazer e, por isto, ele está em equilíbrio. Está em equilíbrio. Então não tema o que o homem fizer; bomba atômica, não tema. Porque o homem que fez e ele vai se equilibrar com os seus feitos, faz parte da história do mundo. Então ele era um sábio que nos falava sobre estas coisas todas.

Palácio do Planalto, Brasília. Arquiteto Oscar Niemeyer
Foto Victor Hugo Mori

AAB: Oscar Niemeyer.

PC: Ah, esse é antológico! Eu escrevi várias coisas sobre ele. Mas o mais importante é que ele força a flutuar a matéria. Ele faz mágica! A curva não tem peso, a arquitetura não tem peso.

Instituto de Resseguros do Brasil, Rio de Janeiro. Escritório MMM Roberto
Foto Abilio Guerra

AAB: E os irmãos Roberto?

PC: Ah! Aí é uma coisa fantástica. Naquela época que eu estava querendo procurar emprego na Sisal Imobiliária, eles já faziam prédios fantásticos. E não é uma arquitetura de modelo, é uma arquitetura urbana. Eu, por exemplo, nunca tive, infelizmente, grandes liberdades espaciais num terreno. Eu faço a minha arquitetura toda ela condicionada em legislações urbanas, que são horríveis, e consigo com algum esforço tirar alguma qualidade da mesmice desse ambiente, dessa babaquice, da legislação ruim, porque não é só a lei ruim, mas como os caras ainda querem te julgar etc. E os irmãos Roberto tinham essa qualidade de fazer uma arquitetura urbana de altíssima qualidade aqui no Rio de Janeiro. O prédio do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) ali no Castelo é uma beleza, aquele edifício residencial ali da Rua Farani, em Botafogo, tudo muito bom. Você está entendendo. Fala a verdade, é eterno. Aquilo é atemporal.

Museu de Arte Moderna MAM, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro. Arquiteto Affonso Eduardo Reidy
Foto Nelson Kon

AAB: O Afonso Eduardo Reidy?

PC: É eu não o conheci, infelizmente. Muitos arquitetos da minha geração o conheceram. Pela obra dele deve ter sido uma pessoa fantástica. Eu tenho um ex- sócio, o Rangel, que trabalhou com ele. Sei que o Luiz Paulo Conde também trabalhou com ele e ele foi muito importante para o Conde. O Reidy, eu sei que ele puxou para ele uns ajudantes e fez deles um grupo muito bom de grandes arquitetos que trabalharam com ele.

Jardins do MAM, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro. Paisagista Roberto Burle Marx
Foto Ramón Rodriguez Llera

AAB: O Burle Marx?

PC: Esse é paisagista! Eu tenho as minhas dúvidas com relação ao trabalho dele. Eu estive na China em 93 eu fui visitar três jardins japoneses, com arquitetos japoneses. Na China, no interior daqueles palácios, e tudo no jardim tinha um significado. Tudo. A pedra que está na água, o gramado, a pedrinha. Aí eu olho trabalho do Burle Marx e, infelizmente, não vejo isso. E como eu acho que tem que ter a ideia antes, é muita colocação de conhecimento profundo que ele tinha, que respeito esse aspecto dele, mas é muito chumaço de vegetação aqui, outro chumaço ali, uma coisa excessivamente formal, pictórica demais. Falta a meu ver, nos jardins dele, a razão de ser das coisas. Eu até trabalhei com ele. Fiz dois ou três trabalhos com ele, mas ele era vedete!

AAB: César Maia, Ex-Prefeito do Rio.

PC: César Maia é uma das pessoas que mais me impressionou na minha vida, ele tem uma cabeça extraordinária. E agora ficou na moda meter o pau nele já que ele não está mais no poder. Ele é um homem que ficou 16 anos à frente da Prefeitura dessa cidade e ainda se encanta com a cidade. Agora, política é um suicídio, política é um suicídio, e quando você tem que confrontar a sua ideia com os outros pra se afirmar, não adianta, acaba. Eu por exemplo, eu tenho as minhas ideias, depois que eu recolhi as minhas críticas que achei mais importante eu peguei meu caminho e fui seguir o meu caminho. Eu não quero saber de discutir com ninguém. Mas o político ele tem que discutir com todo mundo e isso desgasta muito.

Chrysler Building, metáfora do castelo medieval. Croqui de Paulo Casé

AAB: O senhor trabalhou muito para a Prefeitura durante as gestões dele. E então, qual a principal virtude que o senhor viu no César Maia com relação a essa questão da Cidade?

PC: O trabalho. Trabalha, trabalha, um homem interessante tem uma cabeça rica pra cacete, muito inteligente. A última vez que eu estive com ele, foi junto a um hoteleiro português que ia fazer um hotel aqui, e o projeto era meu. Então ele marcou um encontro e eu fui lá. Ele tava terminando o governo. Ele já estava há dezesseis anos, ele já deveria estar em outra, mas não, de tudo ele fazia. Eu já trabalhei muito com ele e eu sempre falava: “Cesar, vamos fazer uma coisa? Vamos terminar este seu governo e vamos abrir um gabinete de conversa”. Gênero, ele é gênero tá entendendo. Eu tenho vários amigos intelectuais, completamente diferentes dele, mas ele é um gênero diferente, um homem de uma sagacidade. Eu tenho por ele um apreço. Uma vez eu escrevi na minha coluna do Jornal do Brasil, uma das primeiras colunas foi sobre o pós modernismo. Foram dois números de pós modernismo. Então escrevi sobre a arquitetura, sobre o moderno, como é que nasceu a arquitetura moderna e etc. Aí, ouça só, eu estou em casa um dia e toca o telefone: “Alô, Paulo Casé? Aqui quem fala é o Deputado Cesar Maia”. E eu falei: “Pois não, Deputado”. E ele, que é economista, me falou: “Eu acho que a economia tem muito a ver com aquilo que você escreveu no Jornal do Brasil sobre arquitetura e pós-modernidade. Você pode vir conversar comigo?”

AAB: O senhor nunca tinha falado com ele antes?

PC: Nunca. Falar com Político? Aí fui lá depois que ele me ligou e esta conversa que tive com ele me marcou. Fui lá nove horas da noite e saí duas horas da manhã de lá. Quando saí, eu pensei, não é possível esse cara deve ser um maluco. É um cara fora do normal. Aí eu disse: “Ô Cesar, eu posso marcar outra conversa com uns amigos e você”. Então fiz um grupo, Geraldinho Carneiro, Silvio Tender, uma porrada de gente interessante, tinha também o Conde. O Conde então ele conheceu o Cesar Maia lá em minha casa. Aí eu disse, “Ô Cesar, aconteceu isso, isso e isso depois daquela nossa primeira conversa e eu reuni esses amigos aqui para você falar pra eles o que você disse párea mim, porque eu estou impressionado com a sua visão da Cidade, do mundo e etc.”. E todo mundo saiu de lá também com boas impressões dele. Então é isso, pra mim o César Maia é essa história que te contei agora.

Edifício-sede da Confederação Nacional do Comércio, Brasília. Arquiteto Paulo Casé, 1997
Foto divulgação [Website do arquiteto]

AAB: O senhor falou muito aqui do arquiteto Luiz Paulo Conde, ex-prefeito do Rio. Ele é mais ou menos um arquiteto da sua geração, não é? E vocês sempre estiveram em alguns momentos muito próximos. Como é que o senhor vê a passagem do Conde da arquitetura para a política e os caminhos que ele seguiu depois aqui na Cidade já como Prefeito e etc?

PC: Foi a primeira visão urbana de um prefeito sobre a cidade nos últimos anos. Ele pensou a Cidade, fez os Programas Rio Cidade o Favela Bairro e etc.

AAB: Foi o senhor que apresentou o Luiz Paulo Conde ao César Maia?

PC: Não apresentei exatamente, mas eu que trouxe o Conde para aquela reunião com o César Maia. Eu soube depois, que ele foi quem levou o César Maia para casa, pois o Cesar morava na Barra da Tijuca e eles foram conversando e o Conde já gostava de política. Ele foi Diretor da Escola de Arquitetura só fazendo política, fazendo política. Falando com funcionário aqui com outro funcionário ali. Eu não ia fazer isso nunca tem que ter essa tendência e esse talento. E o Conde é um cara inteligente e culto. Quando teve a chance dele de ser o Secretário de Urbanismo do César Maia ele foi embora e fez realmente o negócio andar e muito. Então ele tem essa virtude de ter trazido o debate urbano para a prática cotidiana do cidadão. Que muitos não tenham entendido o que ele queria fazer aí é diferente. Também a gente não está aqui para as pessoas sempre nos entenderem. Infelizmente.

AAB: O senhor acha que tem ainda alguma coisa que queira mencionar e que ache importante ser publicado como um perfil seu?

PC: Aí seria interminável. (risos). Agora mesmo estão me chamando para falar sobre estacionamentos. Para mim qualquer tema é tema para se desenvolver o conceito em cima daquilo. Porque estão se empilhando as garagens? Primeiro que eu acho que o carro, filosoficamente, ele dá mobilidade à paisagem urbana, senão vira paisagem pura. Gente andando e carro se movendo é que faz a excitação da cidade. Mas até que ponto esse carro é um móbile? No momento que ele rompe isto para se tornar um estorvo, aí danou-se. E o que está acontecendo é que o carro virou o desejo de todas as pessoas. Todas as pessoas têm o desejo de ter um carro. E o financiamento, que faz parte desse novo mundo, cada dia mais longo, vem facilitando, e o desejo das pessoas é ter o melhor.

Nós estávamos conversando outro dia, que a vida que nós estamos levando é a busca do melhor. Cada carro, a cada dia tem mais coisas, cada dia tem mais coisas. Pura competição, que é importante a competição, e nós estamos todos no meio dessa jogada. E você vai desejar ter um, dois, três carros, mas as ruas têm uma dimensão. Eu acho e que o carro deve ser um instrumento é da despolarização. As cidades sendo criadas à distância das metrópoles. E seria a saída para a metrópole. Em vez de o cara ir para o centro da cidade trabalhar. Agora você se afasta da produção. Antes você queria estar perto da produção, agora o computador é a produção. Você tem a fábrica com você. Você trabalha aqui, você está fazendo a produção. E resolvendo todos os problemas da sua vida, o de comprar o de produzir sem se deslocar muito. Então com isso você pode diminuir os deslocamentos e o carro virar um objeto de lazer apenas.

Parque Aquático Maria Lenk, Barra da Tijua, Rio de Janeiro. Arquiteto Paulo Casé, 2007
Foto divulgação [Website do arquiteto]

AAB: E o senhor acha que a sociedade brasileira, por exemplo, está preparada para entender dessa forma?

PC: Não dá nem para criticar a sociedade, pois ela é levada a agir desta forma, a ausência de transportes coletivos seguros e de qualidade, o sistema de transporte é muito ruim. Ainda tem muita marola para correr. E a questão do computador. Você tem em casa o mundo. Agora, os riscos disto quais são? É que as mensagens todas são universalizantes. Então qual é a importância do arquiteto e do urbanista? Atrair ele para fora de casa, falar a língua dele e não ser universalizante compreende? Porque a única coisa que é verdade e que resiste à opressão da cultura é a sua vizinhança. Você falar de um jeito seu, poder conhecer as pessoas próximas em sua volta, o jeito sua da vizinhança. Então você tem que ir para a rua, a cidade tem que ter esse papel de juntar e de atrair gente. O marco completo na dimensão do homem é a cidade.

AAB: Muito obrigado pela entrevista.

PC: Também agradeço, foi muito boa.

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049.02
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049

049.01

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