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interview ISSN 2175-6708

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NOLL, João Francisco; ODEBRECHT, Silvia. Gottfried Böhm e sua obra no Brasil. Entrevista, São Paulo, ano 15, n. 057.02, Vitruvius, jan. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/15.057/5013>.


Batistério da Catedral de São Paulo Apóstolo, Blumenau
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]

Silvia Odebrecht: Como o senhor idealizou o conceito para a igreja em Blumenau?

Gottfried Böhm: Sua situação é especial, sobre uma área elevada no centro da cidade. Naquela época a capela batismal desempenhava um importante papel, por isso ela foi concebida no eixo central da nave, no átrio coberto frontal da igreja. Hoje em dia o batistério já não possui mais essa importância. Foi muito bom eles terem aceitado todas essas ideias. Ainda existem lá os padres e a escola?

Campanário da igreja São Paulo Apóstolo, Blumenau
Perspectiva de Gottfried Böhm [Arquivo Histórico do Museu Alemão de Arquitetura, Frankfurt]

João Francisco Noll: Sim, os padres franciscanos continuam na igreja, e a escola pertence hoje a uma rede educacional com sede em Curitiba, mantida pela Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus. Nas suas igrejas existe alguma inspiração na arquitetura gótica, ou outra arquitetura religiosa?

GB: As minhas influências derivam, é particularmente perceptível na igreja de Blumenau, de meu pai Dominikus Böhm. Nesta igreja ainda se caracteriza muito o fato de eu ser filho de meu pai. A igreja de Brusque, realizada um pouco mais tarde, já apresenta um pouco mais as minhas próprias percepções. Mas é muito complicado fazer algo bem feito quando não se faz o acompanhamento frequente, como aconteceu em Brusque, e infelizmente nem tudo ficou como deveria ter sido. No entanto, ela também possui uma situação privilegiada com sua imponente escadaria. Já a cruz infelizmente ficou muito pesada sobre a cobertura. Todo o edifício havia sido projetado bem mais leve, mais suave. De qualquer forma, que naquele tempo conseguiram construí-la com toda sua técnica em concreto, já está ótimo, pois a construtora era pequena e artesanal. Tivemos um relacionamento agradável durante a construção, pois os responsáveis queriam que tudo fosse muito bem feito. Mas a distância era grande. E nessa época eu também já tinha mais encargos aqui em Colônia. Por isso as coisas não correram tão bem como em Blumenau. Em Blumenau eu considero que a igreja apresentou um ótimo resultado. Ela carrega muito o estilo de meu pai.

SO: O senhor considera que suas obras possuem um caráter expressionista?

GB: A igreja de Brusque possui um caráter mais expressionista do que a de Blumenau.

Igreja São Luis Gonzaga, Brusque SC
Perspectiva de Gottfried Böhm [Acervo da Paróquia São Luis Gonzaga]

JFN: E quem desenhou os vitrais da igreja de Blumenau?

GB: Os vitrais fui eu quem os criou. Uma empresa vitralista no Brasil executou a obra, cujo proprietário era alemão (10). Tive contato com ele, mas nunca visitei seu atelier. Com ele também realizei uma outra obra. Quem idealizou a construção da igreja foi o padre franciscano Frei Brás Reuter. Ele esteve aqui me visitando, mas já faleceu. Era uma pessoa muito agradável.

Igreja Matriz de Brusque em construção
Foto divulgação [Acervo da Paróquia São Luis Gonzaga]

JFN: Quais são suas igrejas aqui em Colônia?

GB: Aqui em Colônia, tanto eu quanto meu pai realizamos algumas igrejas. Logo aqui perto temos uma igreja de meu pai (11). Depois a St. Gertrud (12) é projeto meu e está no outro lado da cidade. Lá perto, no norte da cidade, também está a St. Engelbert (13), em Riehl, que é de meu pai, um projeto muito interessante, sua construção foi concluída em 1932. Aqui no sul somente existe esta uma de meu pai. Depois construí mais uma em Melaten, no leste da cidade (14). Mas a minha maior e mais significativa igreja está em Neviges, mais ou menos a uma hora daqui, a “Mariendom”. Esta obra foi de grande importância para que eu recebesse o Prêmio Pritzker. Vejam, chegou meu filho Peter (15).

Igreja Matriz São Luis Gonzaga, Brusque SC
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]

Igreja Matriz São Luis Gonzaga, Brusque SC
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]

Peter Böhm: Bom dia. Muito prazer em conhecê-los. Considero a igreja de Blumenau muito especial, ela é de grande significado na vida profissional de meu pai.

GB: Sim, esta obra possui grande influência do avô Dominikus, meu pai.

PB: De qualquer forma não existem outras igrejas de meu avô parecidas com ela, com suas muitas e expressivas colunas.

GB: Gosto muito da igreja de Blumenau. Eu acredito que muito do espírito de meu pai está dentro dela, muito mais do que na de Brusque.

Maquete da igreja em Neviges, de Gottfried Böhm
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]

Interior da igreja de Neviges
Foto Paul Böhm

Elisabeth Böhm: Mas sentem-se. Fiquem à vontade.

PB: Sim, sentem-se, que eu também vou sentar rapidamente e aproveitar para tomar um café com vocês.

SO: Percebemos que seus projetos para igrejas são muito diferentes uns dos outros, em forma e conceito.

PB: Confere. Depois de Blumenau houve um tempo em que surgiram elementos mais expressionistas, em que se deu mais valor e interesse à concepção conceitual.

GB: A igreja de Brusque já está neste novo contexto.

PB: Sim, e por isso talvez pensas que há influências do avô em Blumenau.

GB: A igreja de Koblenz (16) deu referências ao meu projeto em Blumenau. São influências de meu pai.

Batistério da Igreja Santa Elisabeth, Koblenz
Foto divulgação [Kirchengemeinde St. Laurentius]

PB: Claro, mas influências do avô, todos nós da família temos.

GB: Quando estive em Blumenau, fiquei de 4 a 6 semanas realizando o projeto, com o qual já começaram a construção. De volta a Colônia, ainda fiz o detalhamento, realizado com muita limpeza projetual (17), e que depois foi enviado para lá, já que os padres queriam ter o projeto em sua íntegra.

PB: Esses projetos estão todos no arquivo do museu de Frankfurt, inclusive a perspectiva, que participou de uma grande exposição sobre as obras de meu pai. A perspectiva com o caminho inferior, a escadaria e a torre. Esta exposição Felsen aus Beton und Glas (18) ocorreu quando o seu acervo arquitetônico foi doado ao museu de Frankfurt. Eu me alegro em saber que a igreja está bem conservada e que ainda está sendo frequentada. Gostaria de um dia poder visitar Blumenau.

SO: Teremos o maior prazer em recebê-los.

Igreja de Blumenau
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]

Igreja de Blumenau
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]

notas

10
Conforme consta gravado no vitral da igreja, estes foram executados em 1957 por Lorenz Heilmair, proprietário da Arte Sul, São Paulo.

11
Trata-se da Igreja St. Maria Königin, edificada entre 1952 e 1954.

12
St. Gertrud é uma paróquia no Bairro Agnes na cidade nova de Colônia, projetada em 1960 e construída entre 1962 e 1965. Em 1967 o arquiteto Gottfried Böhm recebeu por esta obra, com suas formas assimétricas e construção em concreto aparente, o prêmio alemão de arquitetura.

13
St. Engelbert é uma igreja católica construída entre 1930 e 1932 a partir de um projeto do arquiteto Dominikus Böhm, e constitui-se na primeira igreja de Arquitetura Moderna na cidade de Colônia.

14
Trata-se da Igreja Cristo Ressuscitado, edificada entre 1963 e 1970.

15
Peter Böhm (1954) é o terceiro filho de Gottfried Böhm.

16
Gottfrid Böhm refere-se à Igreja Santa Elisabeth, em Koblenz, que concebeu em parceria com seu pai, Dominikus, um ano antes de projetar a de Blumenau.

17
No discurso de recebimento do Premio Pritzker, Gottfried Böhm também se refere à limpeza projetual: “linhas limpas, não no sentido de que essas linhas sejam como hoje muitas vezes sinônimo de geometria - até mesmo uma forma complexa pode ter linhas limpas - mas no sentido de que não se pode adicionar nada, e também não se gostaria de tirar nada”.

18
Aqui traduzido como “Rochas de concreto e vidro”.

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