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interview ISSN 2175-6708

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O arquiteto Jayme Zettel trabalhou em parceria com Lucio Costa e esteve inserido tanto no contexto da construção de Brasília como da memória da arquitetura modernista no Brasil.

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LEVY, Wilson. Entrevista com Jayme Zettel. Entrevista, São Paulo, ano 16, n. 064.03, Vitruvius, nov. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/16.064/5809>.


Vista geral dos escritórios da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (NOVACAP)
Foto Eduardo Augusto Kneese de Mello [Acervo arquigrafia]


WL: Bom Jayme, vamos conversar um pouco agora sobre a Novacap. Como era a estrutura da Novacap, do ponto de vista organizacional, jurídico, como ela se organizava?

JZ: Bom, como eu posso te dizer. Você tinha o primeiro presidente, Jairo Pinheiro, que foi quem o JK colocou lá dentro. A Novacap podia ser uma estatal, assim? É, é, porque era uma coisa do governo. Havia os diretores e, no meu caso, você tinha o Oscar. O Oscar não gostava dos títulos, mas na verdade ele era diretor de Arquitetura e Urbanismo para fazer a capital. Ele consultava o Lucio o tempo todo, a gente tinha uma informalidade formal diferente da estrutura da Novacap, porque a Novacap tinha diretoria de engenharia, diretoria de obras, diretoria de pessoal, ou seja, era essa coisa bem de firma. A gente era diferente. Isso tudo na Novacap até a gente ir pra prefeitura, porque em 1960, quando o Paulo de Tarso é nomeado com o Jânio e passa a ser o prefeito, ele pede ao Lucio para montar uma estrutura para Brasília, então, diretoria de urbanismo, mas eu assumo a diretoria de urbanismo por indicação do Lucio. Mas aí tinha o diretor de arquitetura, mas isso não queria dizer nada cá entre nós, quem mandava era o Oscar e o Lucio. Todo mês eu vinha ao RJ, conversava com ele sobre todos os problemas, e tinha o Augusto Guimarães que era uma pessoa muito interessante, engenheiro que botou a cidade no chão, pessoa importante.

WL: Como assim botou a cidade no chão?

JZ: Ora, tinha um desenho. E com esse desenho você tinha um terreno. Ele era um engenheiro com cabeça de arquiteto que tinha uma estética importante. A gente trabalhava muito com a questão de cortes. Tinham grandes mesas que eram portas com cavaletes, e a gente trabalhava em cima disso fazendo corte da cidade nessas pranchetas pra poder ajustar e articular. Outro dia alguém falou sobre a rodoviária. A passagem subterrânea da rodoviária está nove metros abaixo do nível de referência, por exemplo. Foi um acerto de movimento de terra. Uma coisa muito bonita, muito bem feita. E quando você entra em Brasília, entra pelo eixo e percebe que ele foi uma pessoa fundamental. Ele era, vamos dizer, o segundo do Lucio. Depois vinha a garotada, que éramos nós. A mão de obra.

WL: E como você viu a oportunidade de dirigir o setor de urbanismo da Novacap, como jovem arquiteto?

JZ: Eu cheguei lá – cá entre nós – porque o pessoal do Oscar já estava. Então havia uma estrutura grande formada. E ele me deu dois ou três caras pra eu montar uma estrutura do urbanismo porque o urbanismo envolvia um planejamento regional que eram as cidades satélites. Aos poucos eu fui montando. Foi difícil, mas você quando tem 30 anos acha que a vida é assim mesmo “vambora”, que a vida segue. Aí tinha uns dois ou três que ele mandou, malandrões que ele não gostava e que eu mandei embora também, e fiquei com dois ou três que também me ajudaram muito e a gente foi montando a estrutura

WL: Quem eram?

JZ: Era um menino do Ceará, Aragão, e o Ney, depois a Ruth Leal, ou seja, aos poucos fomos montando uma estrutura que faltava porque acontece que a cidade já estava desenhada. Havia todos os serviços. Evidentemente, eu não podia pensar em tudo, né? Por exemplo, igrejas. O que havia de igrejas evangélicas... Como lidar com isso? Pedir um terreno. As católicas estavam todas distribuídas de acordo com as unidades de vizinhança, sabe como funcionam, dentro do conceito inglês de urbanismo. Para tantas pessoas há habitação, comercio de tal espaço, hospital para não sei quantos, escolas e creches. Tudo tabelado. Mas, de acordo com os  números ingleses isso foi feito. Mas começou a ter: banco, loja de ferragem, e mais não sei o quê. Aí dobrou-se a cidade para cima, para poder caber – chamava-se setor de grandes áreas – para poder caber as outras coisas. Onde entra a cultura inglesa, a aliança francesa, o colégio marista? Porque o que você tinha era somente a estrutura publica das escolas do Plano, dentro desses critérios. Para tantos habitantes, deveria haver então umas tantas escolas publicas. Mas em verdade tinha gente que queria colocar o filho no São Bento, escola que também queria ir pra lá e tinha que arranjar espaço. Posto de gasolina, como distribuir? Foi uma batalha, foi para valer. Aí, para as cidades satélites eu chamei sempre os arquitetos bons. Amigos no sentido de que eram eficientes, para poder fazer o plano das cidades: Taguatinga, Sobradinho, isso tudo eram arquitetos que faziam parte desse “grupo modernista”.

WL: E como que era a liderança de Oscar e Lucio? Como isso se ramificava?

JZ: O Oscar tinha o grupo dele, o capo di tutti capi era Oscar. Mas ele sempre com muito respeito, muito tato com o Lúcio. Por exemplo, a UNB. O desenho do Lucio não tinha nada a ver com o que aconteceu. Quando a gente fundou a universidade, o Darcy pediu para que déssemos aula, pois estávamos lá em 1962, e a gente foi logo ser professor lá. Eu, Ítalo, Glauco, uma série de arquitetos. Quando chegou no desenvolvimento da universidade, o Oscar muda completamente: porque o desenho do Lucio para a universidade, era uma coisa tipo Harvard. E aí o Oscar faz o minhocão. Que é aquela coisa imensa, né? Mesmo quando a gente começou para trabalhar dentro da universidade, no SEPLAN, que era um projeto até feito pelo Lelé, que eram umas coisas pré-fabricadas, foi feito em 45 dias. E a gente foi trabalhar lá dentro do SEPLAN. Era uma coisa muito simpática que ainda tem lá, tá meio preservado.

WL: E como era a sua relação com a equipe da Novacap? Era um diálogo bacana?

JZ: Não, eles tinham a implicância com a gente e nós com eles. Porque eles ficavam falando no rádio e diziam o seguinte: “Tô com um trator aqui! Se não vier o desenho...” Então você tinha que calcular as coordenadas, e pensa bem que não tinha computador, era na mão. Primeiro, aquela que rodava, depois veio a elétrica, que facilitava. E a gente tinha que dar as coordenadas, e o pessoal do campo, da topografia, ia lá, colocava e metia máquina. Não era para principiantes. E eles ficavam furiosos “É, não vou mandar isso não. Que que há? vocês ficam aí coçando!” Sabe aquela coisa?

WL: Então essa coordenação era tensa?

JZ: Sim, era tensa. Mas era tensa porque é assim sempre, né?

WL: Então a Novacap, só para fixarmos bem, juridicamente era quase um órgão estatal.

JZ: Acho que pode-se dizer que sim. Quando veio o golpe, a primeira coisa que eles quiseram fazer foi desmanchar essa super estrutura e fazer uma coisa mais leve. Porque era algo pesado né, todo mundo era da Novacap. Aí começou então a separar. Eu por exemplo a partir desse momento, depois do golpe, fui para o Itamaraty.

WL: Mas porque? Qual era o receio dos militares com a Novacap?

JZ: Eu acho que eles achavam que era um centro comunista. Começou a caça aos comunistas, aí aparece o cara do sindicato e eu, né? Você imagina. Eu estava longe de ser, nunca fui do Partido Comunista.

WL: Pegando esse gancho do Partido Comunista: o Oscar, militante histórico. Para quem vê de fora, JK não era um comunista, mas como era esse dialogo com essas tendências?

JZ: Mas era de uma boemia! Por exemplo, o JK ia lá pro Alvorada, levava o Dirlemando Reis, o Oscar, e iam tocar violão. O Oscar era um boêmio. Essa coisa do partido, ele tinha aquelas ideias todas, mas a prioridade ABSOLUTA era a arquitetura. Acima de qualquer coisa. Ele achava uma porcaria toda, uma besteira aquela arquitetura soviética.

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