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my city ISSN 1982-9922

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ROCHA, Ricardo. O pavilhão Lucio Costa. Uma proposta. Minha Cidade, São Paulo, ano 01, n. 006.01, Vitruvius, jan. 2001 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/01.006/2099>.


Museu das Missões, Lucio Costa. Vista do acesso atual
Foto Ricardo Rocha


Museu das Missões, Lucio Costa. Vista do acesso imaginado por Lucio Costa
Foto Ricardo Rocha

Museu das Missões, Lucio Costa

Casa do zelador, croquis de Lucio Costa para a casa do zelador, proposta descartada por Rodrigo Mello Franco Andrade

Casa do zelador, croquis de Lucio Costa para a casa do zelador, proposta descartada por Rodrigo Mello Franco Andrade

 

"Se conhece algo melhor, perdoa minha candura; se não, desfruta comigo." (Horacio, Epístola I, 6)

Rebatizado em 1998 em homenagem a seu idealizador, o Museu das Missões teve suas obras concluídas em 1940 pelo arquiteto Lucas Mayerhofer. Solução exemplar de inserção de nova construção em sítio do século XVII, o edifício realiza uma perfeita integração entre o antigo e o moderno, aproveitando materiais provenientes das ruínas. Se tais características são amplamente conhecidas, a maneira pela qual a concepção original de Lucio Costa procura relacionar visitante, vestígios e ruína nunca é lembrada (ver texto De museus e ruínas).

É desnecessário argumentar em favor do entendimento de que obras paradigmáticas não podem ser preservadas (e compreendidas) mantendo-se alterações que as descaracterizam, e/ ou sem os demais elementos que compunham sua "ambiência" original. É impossível, por exemplo, imaginar a Casa Schroeder sem o mobiliário desenhado por Rietveld, ou a Casa da Rua Santa Cruz com as alterações posteriores feitas pelo próprio Warchavchik.

No caso dos museus, no entanto, a situação é mais delicada. Um grande arquiteto sempre imagina como sua obra será fruída. Ao projetar um museu, portanto, é inevitável que se depare com a questão do tipo de recepção da obra de arte que seu prédio irá proporcionar. Paralelamente à concepção e ao projeto do edifício há sempre, senão um projeto museográfico, pelo menos uma "concepção museológica", não raro polêmica como nos dois Guggenheim mais célebres. Recentemente, em um seminário sobre o tema em Porto Alegre, o diretor do Centro Cultural Hélio Oiticica, Paulo Sérgio Duarte, criticou duramente a proposta museológica de Lina para o MASP – além dos prédios do MAM-RJ e do Museu de Niterói – lembrada pelo crítico Josep Maria Montaner em sua exposição.

O caso do Museu das Missões ou Pavilhão Lucio Costa não é menos problemático. Desde a alteração da concepção original de Lucio por Paulo Thedim Barreto (1) ou de intervenções mais ou menos felizes, como os fechamentos de vidro colocados por Lucas Mayerhofer ainda em 1940; passando pela evidente inadequação de seus espaços frente às modernas técnicas museológicas de preservação, exposição, segurança e climatização; até a inevitável empatia com a sutil, e ao mesmo tempo genial, relação estabelecida entre observador, pavilhão, peças expostas e ruína; torna-se impossível, apesar ou em razão de tudo isto, esquivar-se à uma solução de compromisso a partir das possibilidades abertas pela futura construção, no local, do Centro de Documentação e Pesquisa.

Atualmente, mesmo com a chegada ao local tendo que ser feita, necessariamente, desde a Avenida José Basílio, situada no limite norte das ruínas, o acesso dá-se pelo lado oeste, fazendo com que o museu seja visualizado "erroneamente", quer dizer, ao invés da transparência dos fechamentos de vidro, a opacidade das paredes de pedra caiadas – inicialmente pensadas como fundo para as peças expostas. Além disto, uma vez que para chegar até a igreja é preciso descrever um percurso em diagonal desde o museu, não é possível tampouco visualizar as peças ali expostas em contato direto com a ruína ao fundo, primeiro porque, novamente, não se percebe a transparência do pavilhão, pois estamos praticamente de lado em relação ao eixo norte-sul, e sem perspectiva suficiente; segundo porque, mesmo que cheguemos a percebê-la estaremos olhando para o lado errado (contrário ao da igreja). Da mesma forma, os fechamentos de vidro, fixos na fachada norte e com portas de correr duplas na fachada sul, impossibilitam atravessar os espaços, de modo a deambular por entre as peças, dificultando sua apreensão tátil e, outra vez, o sentido de leitura apropriado – ruína da igreja como pano de fundo.

Seria desejável que tal estado de coisas fosse alterado, com o acesso sendo realizado diretamente pela Av. José Basílio, e com a retirada ainda dos painéis dispostos paralelamente aos panos de vidro, que diminuem a transparência do museu. Se os fechamentos envidraçados adequaram-se perfeitamente à concepção de Lucio – sendo necessário, tão somente, repetir as portas de correr na fachada norte, tornando possível a travessia dos espaços e o deambular por entre as peças - a colocação dos painéis, segundo projeto museográfico que procurava compatibilizar as pranchas informativas sugeridas pelo próprio arquiteto ao grande número de vestígios recolhidos, torna-se dispensável com a liberação dos espaços do pavilhão pela transferência da maioria das peças nele expostas para o novo Centro de Documentação e Pesquisa. (2)

Isto, nada mais que uma pálida homenagem ao mestre, seria o mínimo que poderia ser feito.

Os argumentos conceituais que fundamentam nossa proposta poderão ser lidos em outra sessão de Vitruvius: De museus e ruínas. Os liames entre o novo e o antigo, texto 008.02 de Arquitextos.

notas

1
Pode-se cogitar, até mesmo, para além da alteração na posição da casa do zelador, se a implantação atual também não seria diferente da originalmente pensada. Se Lucio sugere que o Museu deveria ocupar um dos extremos da antiga praça para servir de ponto de referência, e dar uma idéia melhor de suas dimensões, em nenhum momento, me parece, ele diz que estes extremos sejam os cantos da praça. Em A Arquitetura Jesuítica no Brasil, Lucio, ao descrever a organização das Missões, comenta: o edifício do Cabildo ocupava, geralmente, a extremidade da praça oposta à igreja. Uma vez que o cabildo localizava-se em frente à igreja no lado oposto da praça, levanta-se a hipótese de que para ele o extremo ou a extremidade da praça talvez não fosse necessariamente um de seus cantos. Com isto, viria por terra um dos argumentos a favor da proposta de Paulo Thedim Barreto, o de que com a localização da residência do zelador à sudoeste e não à noroeste o canto da praça seria acentuado sem prejuízo das visuais entre museu e igreja. A questão é que a intenção de Lucio poderia ter sido a de ocupar um "extremo" da praça e não um de seus "cantos". Ora, comparando o croquis do arquiteto com uma foto do museu fica claro que não há nesta o enquadramento da igreja que aparece naquele. Prolongando-se as linhas de fuga daquele veremos que elas se encontram num ponto que corresponde ao batistério da igreja. Só que na atual implantação o Museu se encontra um pouco mais à oeste do eixo traçado desde o batistério. Será que a implantação do museu é mesmo a correta? Se se imagina a variante que foi efetivamente construída, casa do zelador à sudoeste, ela é a mais indicada, pois o "L" da planta ajusta-se, de fato, ao canto da praça, sem que o volume da residência do zelador invada seu espaço. Mas ao se pensar na proposta de Lucio de recuperação do antigo eixo principal de acesso e naquilo que ele entendia por extremo ou extremidade da praça, provavelmente não: com a casa do zelador à noroeste, é possível trazer o museu mais para leste – sem que o volume da residência do zelador invada a praça – aproximando-o do eixo desde o batistério (que coincide com o do antigo acesso) possibilitando ainda um melhor enquadramento da igreja desde o alpendre do museu.

Mas a esta altura, já estaríamos no terreno da pura especulação, sendo completamente sem propósito (e fora da realidade) imaginar que a implantação e o prédio atuais pudessem ser alterados.

2
Sobre o projeto museográfico de 1985 e a proposta de transferência de parte dos vestígios para o Centro de Documentação e Pesquisa a ser construído, agradeço aos esclarecimentos prestados por Gládis Pippi, diretora do museu.

sobre o autor

Ricardo Rocha é arquiteto e urbanista pela UFES (Vitória - ES), mestrando em Arquitetura PROPAR UFRGS e professor do Departamento de Arquitetura da UFSM, Santa Maria RS.

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006.01 São Miguel das Missões RS Brasil
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