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my city ISSN 1982-9922

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PAVIANI, Aldo. Brasília: que futuro? Minha Cidade, São Paulo, ano 04, n. 047.01, Vitruvius, jun. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/04.047/2010>.


Mercado livre, Núcleo Bandeirantes (?)
Foto de autor desconhecido [Acervo do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico do DF]


Núcleo Bandeirantes (?)
Foto M. M. Fontenelle [Acervo do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico do DF]

 

Ao se delinear uma visão de futuro para a Capital, é importante saber a que tipo de futuro nos referimos. Também interessa circunscrever sua geografia urbana. Esta compõe o Distrito Federal (DF) urbano, hoje um dos aglomerados de expressão nacional. No DF, há espaços agrários somando com Brasília a totalidade do território. Esses espaços agrários, paulatinamente açambarcados para fins urbanos devem ser considerados em eventuais projetos ou programas de urbanização. No processo de urbanização, Brasília acabou se transformando no conjunto atual de núcleos disseminados no território, ou uma cidade polinucleada, induzida pelo que se considerou "planejamento urbano". Nesse território polinucleado, não se percebe a mesma perspectiva futura para o Plano Piloto e adjacências em relação aos espaços que foram recebendo população excedente, o operariado, os funcionários de baixo escalão dos governos federal e distrital, os habitantes de favelas "erradicadas".

Em pormenor, o centro da cidade, sede dos governos distrital e federal, e seus anexos, Lago Sul, Lago Norte, Setor Octogonal, Setor Sudoeste têm a marca de espaços privilegiados por abrigar a classe dirigente, setores abastados do comércio, indústria e serviços e setores bem postos do funcionalismo de ambas as esferas governamentais. Trata-se de um território bem dotado de infra-estrutura e qualidade ambiental, que demanda policiamento ostensivo em razão do incremento da violência, assaltos a residências, seqüestros relâmpago e agressões entre jovens. Aqui e ali, pressiona-se por melhoria nas vias públicas, como pontes e viadutos aí construídos, os quais deram ao Plano Piloto de Brasília a qualidade de vida urbana de primeiro mundo.

Nas demais localidades, outrora denominadas "cidades-satélites", a perspectiva é menos promissora, pois, apesar de terem se constituído a partir de projetos urbanísticos, longe estão de incorporar o "planejamento urbano" do Plano Piloto de Brasília; tanto que pesquisas entre seus moradores revelam de maneira clara um sentimento de segregação. Sentem-se excluídos da cidade de Brasília, por apresentarem carências múltiplas em termos de qualidade de vida, possibilidades de emprego nas localidades de residência, infra-estruturas como esgotamento pluvial, asfalto e iluminação pública, equipamento de lazer, hospitais e escolas locais com recursos humanos e tecnológicos, segurança pública, transporte público eficiente, etc. A percepção de exclusão é observada até mesmo nas cidades-satélites com ruas asfaltadas e transporte por metrô.

Por mais que se queira ver no futuro uma cidade una, de Cidade formada pelo centro, o Plano Piloto de Brasília e pelos demais assentamentos periferizados, não se pode ignorar a duplicidade urbana. E mais: a perspectiva é de que o quadro vá se agravar na medida que as terras para loteamentos oficiais se esgotem. Exemplo típico de agravamento da mancha urbana são os anunciados assentamentos do Catetinho e do INMET. Em ambos ocorrerá degradação ambiental, no primeiro pela proximidade de santuário ecológico; o segundo, um conjunto habitacional em terras do Instituto Nacional de Meteorologia, no coração do Plano Piloto, aumentará a superfície impermeabilizada por cimento e asfalto.

Em vista desse esboço geográfico, qual a perspectiva para Brasília e seus habitantes? Numa avaliação pessimista, teríamos o agravamento da apartação sócio-econômica, com o aumento da desigualdade social na distribuição de bens e serviços urbanos entre o centro e a periferia. Numa perspectiva otimista, passaríamos por uma mudança em direção à distribuição da qualidade de vida em todo o território, com um padrão mais igualitário de apropriação da cidade por toda a escala de construtores urbanos. Para que essa mudança ocorra, há necessidade de se descentralizar (espalhar pelas cidades satélites) todas as novas estruturas urbanas que criam novos postos de trabalho. Com essa descentralização virá a valorização dos espaços que serviram para abrigar antigos favelados, inquilinos de fundo de lotes e todos os que migraram sem condições de evoluir socialmente falando. Numa distribuição mais igualitária, serão pavimentadas as vias para uma cidade mais justa, próxima do que imaginaram inicialmente os fundadores da Capital.

[artigo originalmente publicado no jornal Correio Braziliense, 21/04/04, Caderno Especial de aniversário, p. 12]

sobre o autor

Aldo Paviani, arquiteto, é pesquisador associado do NEUR/UnB.

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